Entro apressadamente no prédio. Se Peter está aqui, com certeza é algo urgente. Espero que dessa vez ele tenha alguma notícia. Peço
um café para Penélope e digo que ela avise a Peter que chegarei a cinco minutos. Enquanto isso eu volto essa manhã.
Ela estava linda. Não permitirei que ninguém toque em um só fio de seus cabelos. E aquela amiga? Apesar de ser uma babaca acho que
com o tempo aprenderei a gostar dela. “Com o tempo?” O que estou pensando? Em ter alguma coisa a mais com Anahi e virar amigo da
babaca da Maite? Devo estar completamente fora do prumo. Passo por Penélope ela me avisa que Peter está esperando no escritório.
— Peter, como vai? — cumprimento meu amigo assim que entro na sala. Ele alto e bem mais alto que eu e é puro musculo, graças há
anos como agente da CIA e um rigoroso treinamento. Agora tem sua própria empresa de segurança e investigação.
Peter traz consigo uma pasta e parece arrumar uns papeis dentro dela, como se estivesse conferindo-os anteriormente.
— Como vai, Alfonso? Tenho boas notícias — ele diz e abre um sorriso.
— Você a encontrou? — pergunto indicando uma cadeira para que ele se sente.
— Ainda só o garoto. Sinto muito — ele diz com pesar.
— Eles foram separados ou coisa parecida? Talvez ela tenha sido adotada? — começo minha inquisição espanhola.
Esfrego os olhos antes de me sentar, com as lembranças daquele dia que marcaram minha vida para sempre.
— Poncho, não gostaria que tivesse muitas expectativas — ele parece nervoso.
— Solta logo — digo impaciente.
— Bem, o motivo dele não aparecer... O garoto teve alguns problemas com a justiça e leva uma vida um tanto barra pesada — ele desvia
o olhar.
— Eu vou ajudá-lo. Onde ele está? — continuo.
— Nesse momento em um quarto sujo de motel — ele diz calmamente.
— Por que ele não apareceu ao encontro? — pergunto intrigado.
— Ele foi encontrar com uma pessoa antes e acabou não conseguindo chegar a tempo — Peter balança sua cabeça contrariado. —
Provavelmente algum traficante.
— Drogas? É tão ruim assim? — pergunto arqueando as sobrancelhas.
— Pelo que já vi por aí— ele balança os ombros. – Diria que é um caso perdido.
Sinto como se o mundo estivesse sendo jogado em cima dos meus ombros.
— Consiga um pedido de intervenção, Peter. Eu tenho que fazer isso. Devo isso a ela. E, além disso, nada é irreversível — digo
encarando-o.
— A culpa não é sua Poncho, tem que aceitar isso — ele diz firmemente.
— Você não estava lá! — rujo e bato na mesa — Ache a garota! É para isso que eu lhe pago!
Levanto-me e me viro para olhar a cidade através da imensa janela do meu escritório, no último andar do edifício. Nuvens escuras
encobrem o céu. O dia reflete meus pensamentos: frio, sombrio e cinzento.
— Quero que me faça mais um favor — escrevo na agenda negra em cima da mesa e entregou a ele. – Descubra tudo o que puder.
— Há algo que não me contou? — ele olha inquisitivamente.
— Isso vai depender do que descobrir — digo bruscamente.
— Neil, você é um poço sem fundos de confusão — Peter ri tentando descontrair o ambiente. – Enviarei notícias em breve. — ele diz antes
de se levantar para sair.
O telefone toca.
— Desculpe Senhor... — Penélope interrompe. — Reunião com a diretoria em vinte minutos.
— Certo. Traga-me alguma coisa para comer antes que eu vá para a reunião. Não tomei café e não terei tempo de sair para almoçar —
respondo.
Sigo para o toalete da minha sala. Antes de entrar viro para Peter.
— Assim que ele estiver limpo quero falar com ele pessoalmente — vire e entro no banheiro sem aguardar a resposta.
Entro na sala de reuniões e tudo mais é esquecido. Alguém está enviando informações sobre minha empresa e possivelmente vendendo-
as a alguém e eu pretendo descobrir. As pessoas geralmente pensam que ser CEO de uma grande corporação é apenas glamour, jatinhos,
carros de luxo, festas e mulheres, mas vai muito, além disso. Há mais compromissos e responsabilidades do que diversão.
Nenhum CEO consegue sobreviver apenas vivendo assim de luxuria. São muitas horas de trabalho, abdicando às vezes da própria
família, além dos riscos envolvidos. Apesar de eu contar com uma das melhores equipes de gestores e especialistas se eu não estiver aqui para
guiá-los, nada acontece.
Uma decisão pode gerar bilhões de dólares ou falência iminente e no mundo da tecnologia e dos negócios, onde as coisas mudam
rapidamente. E cada decisão é uma roleta russa. As empresas Durant lideram o ramo, mas nem sempre foi assim. Quando meu pai perdeu o
controle ficamos muito perto da falência. Mas não quero pensar agora sobre isso. É passado.
O resto do dia correu sem maiores problemas. Pulei de uma reunião à outra, com diretores, empresários e engenheiros. Estou me
sentindo cansado, mas há algo que me tortura e insisti em invadir meus pensamentos, aqueles olhos azuis.
Várias vezes tive que pedir para que as pessoas repetissem o que estavam dizendo. Talvez um pouco de exercício ou algumas horas de
musculação me ajudem a esvaziar a mente. Poderia fazer uma sessão de massagem e ter uma noite com aquela mulher quente, com cabelos
vermelhos espalhados sobre os lençóis. Inferno! Meu corpo já está reagindo a esses pensamentos.
Aquela maldita mulher me assombrou durante todo o resto do dia. Fui um dos últimos a sair da sala de reuniões e não porque quis dizer a
última palavra, mas por que diante do meu atual estado físico seria, no mínimo, embaraçoso.
Tenho que dar um jeito nisso. Talvez algumas de minhas “amigas” pudessem aliviar o desejo que há dentro mim. Anahi está fora de
cogitação. Ela não se enquadra no quesito amante.
Por outro lado, sinto como se estivesse a traindo. Porra! Que maldito romântico é esse que estou me transformando? Não tenho nada
com ela. E nem vou ter.
Sim. Farei isso. Vou foder alguma outra mulher e esquecer Anahi.
Pego meu celular, mas antes que eu possa verificar a agenda e escolher alguma mulher sexy na longa lista, ele toca.
— Chefe? — Dylan pigarreia. — Temos problemas.