Chegamos à sua casa e essa eletricidade entre nós continua pulsando em volta de nós. Suas
palavras ainda ecoando em minha cabeça como um mantra.
Meu quarto, minha cama.
Pareço uma virgem prestes a ter sua primeira noite de amor. E isso nem ao menos será possível,
mas eu estou delirando em expectativa. O que há de errado comigo? O homem acabou de sair do
hospital e a última coisa que precisa é de uma mulher louca obcecada por sexo. Isso também é algo
que vem me surpreendendo a cada dia. Antes dele nunca fui muito ligada a sexo. Aliás, minhas únicas
experiências haviam sido com Brian há quase dois anos.
Brian um inquilino do prédio onde vivia no Bronx, é um bruto e egoísta. Nunca entendeu minha
necessidade de ter que tocar e sentir as coisas e pessoas a minha volta. Então, após várias tentativas
de sua parte e muitas frustrações da minha, tomei coragem e coloquei fim a relação. Sexo com ele
nunca foi bom, estava sempre preocupado com seu próprio prazer do que proporcionar isso a sua
companheira. Para ele estava fazendo um favor em ficar com uma garota cega a qual nenhum outro
homem se interessaria. Por muito tempo acreditei nisso. E como com ele, prazer era praticamente
nulo, acabei desistindo da relação. Algo que ele não havia aceitado muito bem. Acusava-me de ser
fria e sem sentimentos. Se não fosse Maite e Rodrigo me apoiando e protegendo de seus assédios e
agressões constantes, eu não quero nem imaginar o que teria acontecido comigo. Provavelmente faria
parte da estatística de mulheres presas a homens violentos devido ao medo que sentiam deles.
Depois de Brian nunca quis ter outro relacionamento. E o fato de ser cega, na maioria das vezes
assustava os homens que sempre se afastavam quando se davam conta da minha deficiência física.
Eles eram idiotas o suficiente para não perceberem que eu era totalmente independente, mas o medo
em ter que lidar com uma situação como aquela sempre falou mais alto.
Claro, havia os homens que frequentavam o clube, mas aqueles em sua maioria estavam apenas
interessados em sexo barato. Entre eles sempre havia um ou outro que acreditavam que conseguiriam
tirar proveito de uma jovem aparentemente indefesa e, muitos deles haviam aprendido da forma mais
dolorosa que de inocente e indefesa eu não tinha nada. Graças a Rodrigo que é professor de artes
marciais e defesa pessoal, Maite e eu aprendemos a nos defender muito bem.
— Chegamos Sr. Herrera — Dylan informa assim que atravessamos os portões da mansão. Ele sai
rapidamente e ajusta a cadeira de rodas.
Ajudo Poncho a sair do carro apesar de seus protestos mal humorados. Entendo seu sentimento de
impotência diante da situação. Não deve ser fácil para um homem como ele que sempre foi dono de
si mesmo ser dependente dos cuidados de outras pessoas.
Uma mulher baixinha de uniforme e cabelos grisalhos nos espera em frente à porta.
— Olá senhorita Portilla — ela sorri para mim — Sr. Herrera é bom tê-lo em casa novamente.
Os olhos da mulher estão discretamente marejados e as palavras são sinceras.
— Obrigado — responde Poncho.
— Olá. Você deve ser a Sra Jackson — cumprimento, reconhecendo sua voz amável.
— Sim Srta. Portilla. Estou muito feliz que tenha dado tudo certo em sua cirurgia. Mas entrem vou
preparar algo para vocês degustarem.
A simpática mulher se afasta para que eu entre. Pela primeira vez poderei ver como é a casa por
dentro, e pelo que vi do lado de fora parece lindíssima.
Entramos e não fiquei decepcionada com o que vi. A sala é maior que todo o apartamento que
dividia com Maite, há quatro poltronas e um jogo de sofá de couro branco, mesa de vidro, lareira e
no teto há um lustre de cristais em forma de gotas. Em um dos cantos da sala há uma escultura de
Vênus de Milo e alguns quadros pelas paredes. Há uma ampla janela com cortinas de seda azuis e
brancas. Um arco dá acesso a uma escada em curva que leva para o segundo andar e ao lado da
escada há um elevador negro e redondo. Tudo é muito elegante e sofisticado.
— Nossa! Essa casa é muito linda — respiro fundo, antes de olhar para ele — Alguma coisa
parece familiar?
— Não — responde Poncho frustrado — Nada.
Aperto seus ombros com carinho. Quero que saiba que sei o quanto está sendo difícil para ele e
que ajudarei em todo o processo.
— Vai dar tudo certo — sorrio, carinhosamente.
Empurro a cadeira de rodas em direção ao elevador que ele havia instalado para comodidade de
Anne e que neste momento o ajudará a se locomover pela casa, já que as escadas poderia ser um
grande problema com manuseio da cadeira de rodas.
Antes de chegarmos ao elevador uma mulher elegante desce as escadas. Carrega uma pequena
maleta e encara-me com olhar mordaz.
— Então você veio mesmo? — Lilian cospe as palavras em minha direção.
— Bom dia Sra. Herrera — opto pela boa educação. Essa mulher não conseguirá travar uma guerra
contra mim.
— Já estou indo embora — ignora meu cumprimento e vai em direção a Poncho — Ligue se precisar
de alguma coisa.
Lilian caminha elegantemente até a saída. Embora eu tenha antipatia por aquela mulher e mesmo
que o sentimento seja recíproco, não posso deixar de admirar sua elegância e altivez.
— Obrigada mãe — Poncho responde, sem se dar conta do significado de suas palavras — Faça uma
boa viagem.
Nós duas ficamos estáticas por alguns segundos, pelo que ele havia me contado, há muito tempo
ele não se dirige a ela assim. Desde criança ele passou a se referir a ela apenas pelo nome. Observo
pelo branco do nó em seus dedos que as palavras dele afetaram-na profundamente. Isso me causa
certa empatia. Talvez ela não fosse tão indiferente como quer demonstrar. Afinal, não é porque não
gosta de mim que nutri os mesmos sentimentos pelo filho.
— Eu ligo para saber como as coisas progridem — observo-a voltar a sua pose indiferente e sair
em seguida, sem ao menos olhar para trás.
— Pelo visto não somos muito próximos — diz ele com pesar.
Suas palavras entristecem –me. Pensar que durante muitos anos ele foi um menino e homem
perdido, sozinho e solitário faz com que sinta vontade de prendê-lo em meus braços e acalentá-lo
para sempre.
— Acho que está apenas um pouco aborrecida por não ir para Atlantic City com ela, só isso —
respondo.
Não há porque preocupá-lo com histórias amargas sobre seu relacionamento com a mãe. Ele já
terá que voltar a lidar com isso quando recuperar a memória.
— Vamos lá — conduzo a cadeira de rodas até o elevador — Vou instalá-lo no quarto e fazer a
medicação. Já está quase na hora.
— E suas coisas?
— Pedi que Dylan trouxesse ontem — murmuro — Só não sei onde estão.
— Cerifique-se de que tenham colocado em meu quarto — diz ele, num tom imperativo — Preciso
de cuidados constantes.
Cuidados constantes? Posso muito bem imaginar os tipos de cuidados a qual ele se refere. Sinto
minhas bochechas arderem novamente. Dispo-me rapidamente do casaco que havia me esquecido de
tirar quando entrei. Sinto calor.
A porta abre e nós entramos, acomodo a cadeira próxima à parede e fico de costas para ele,
aperto o botão subir e aguardamos em silêncio. Evito seu olhar, se Poncho me encarar nesse momento
saberá todos os pensamentos eróticos que invadem minha mente. Isso está ficando difícil.
Fecho os olhos. Estou angustiada. Já ouvi falar algo sobre pessoas viciadas em sexo e sempre
achei tal termo ridículo, mas nesse momento começo a reavaliar meus conceitos. Ou estou
completamente viciada nele, ou acho que estou ficando maluca. Sinto dedos deslizando de meus
joelhos até minhas coxas, fico molhada imediatamente.
— Já fez sexo em um elevador Srta. Portilla? — murmura ele em uma voz rouca.
— Não... — gemo fechando os olhos.
Suas mãos deslizam por minhas pernas em um vai e vem sensual. Minha respiração acelera e sinto
meus joelhos vacilarem.
— Poncho... — começo tentando soar coerente — Você está tornando as coisas difíceis.
O elevador já havia parado, mas continuamos ali enquanto me deixo ser levada pela sensação das
mãos dele sobre minha pele. Seus dedos longos e quentes acariciando-me, subindo e descendo pelas
minhas coxas até o ponto que pulsa desesperadamente implorando por seu toque.
— Por que eu deveria? — diz ele, roucamente — Não me lembro de você ter facilitado nada para
mim.
Sua outra mão puxa-me para mais perto dele. Seus lábios pressionam minhas nádegas sob o
vestido. Meus joelhos sedem e caio sentada em seu colo.
Um gemido alto me faz saltar de seu colo imediatamente.
— Droga de perna! — urra ele, com frustração — Maldição!
Merda! Merda! Merda! Eu havia me esquecido de sua perna engessada. Tenho vontade de me
estapear por minha atitude imprudente. O que estou fazendo? Estou aqui para cuidar dele e não para
causar mais danos.
— Machuquei você? — pergunto, preocupada — Onde doí?
— Além de meu ego? — ri e geme ao mesmo tempo.
— Droga Poncho... — começo falar, agora muito irritada — Tem que ser mais cuidadoso!
— Eu...? — sua expressão é atônita — Você está me provocando o tempo todo e eu tenho que ser
cuidadoso?
— Eu não fiz isso!
— Não? — diz, com olhar zangado, pontuando cada acusação — Beijos ardentes no hospital.
Carícias quentes dentro do carro. E agora fica se exibindo nesse vestido ridiculamente curto. Mulher,
eu sou um homem e tenho sangue nas veias!
Dito isso ele sai conduzindo a cadeira de rodas furiosamente. Entre envergonhada, atônita e ainda
muito excitada, me pergunto se realmente venho fazendo isso.
Sim, eu fiz!
Aguardo alguns minutos para que minha respiração se normalize e sigo em direção à porta onde
ele entrou. Percebo que estamos em um quarto masculino.
— É o seu quarto? — pergunto, olhando em volta.
O quarto tem um closet espelhado, uma cama Califórnia King Size com um acolchoado volumoso