Olho para a mulher nos braços dele e sinto vontade de desaparecer. O que essa criatura faz
enroscada ao pescoço dele como uma erva daninha beijando-o?
— Quem é essa mulher? — exijo com lágrimas nos olhos.
— Quem é você? — diz ela, limpando os lábios manchados de batom. Um tom ridículo de
vermelho, mais para vulgar do que sensual — Empregada nova?
Olho para ela soltando fogo pelas ventas, desejo ardentemente arrancar esse sorriso cínico de seu
rosto com minhas unhas. O fato de meu jeans surrado, camiseta confortável e sapatilhas, destoar com
seu vestido vermelho e sexy não me faz inferior a ela em nada. Até posso parecer uma colegial sem
graça, mas quem essa mulher pensa que é para julgar às pessoas pela roupa?
— Não é o que pensa Anahi — me encara Poncho com olhar de choque — Eu estava dormindo.
Pensei que fosse você.
Sinceramente, tenho vontade de estapear a cara dele. Como ele podia ser tão imbecil? E que
desculpa mais esfarrapada.
— Quem é essa mulher Poncho? — grito para ele.
Ele parece confuso e surpreendido com minha reação.
— Isso não é da sua conta — provoca-me a jovem — O que ela faz aqui querido?
— Eu não sei quem ela é — diz ele aflito, ignorando a morena ao seu lado — Não tenho ideia de
onde ela surgiu.
— Você não está falando sério não é? — diz a mulher, indignada — Perla meumeu disse que sofre de
amnésia, mas pensei que fosse outra de suas armações. Sou Milla, lembra? Estamos juntos há mais de
três anos.
Tudo a minha volta começa a girar, um zunido em meu ouvido me deixa zonza por alguns
segundos. Como assim estão juntos há mais de três anos?
— Isso é verdade? — pergunto a ele enfurecida.
— Não. Não é — ele levanta e caminha mancando entre nós duas — Posso não ter memória
agora, mas sei que não faria isso Anahi. Acredite em mim! — Poncho olha para jovem com olhar
enfurecido — Diga a verdade a ela. Não estamos juntos e nunca estivemos.
— E todos os jantares, o flat e as viagens que fizemos? O que significaram para você? —
choraminga a mulher.
Aquela mulher odiosa esteve no flat. Apesar de saber que Poncho não havia sido um monge antes de
me conhecer e que a lista de mulheres que passou em sua vida é gigantesca, o flat é um lugar especial
para mim. Imaginar que outras estiveram ali é uma coisa, ver uma delas em carne viva é doloroso.
Como se manchasse tudo que vivemos ali de alguma maneira.
— Ouça Anahi, posso até tê-la conhecido antes de você, mas eu não voltei a vê-la.
— Como sabe? — pergunto decepcionada — Recuperou a memória por acaso?
— Não é preciso... Se me ama realmente, sabe que não estou mentindo. Fale a verdade! — ele
ordena para jovem — Fale ou não respondo por mim!
Ela parece afetada por suas palavras. Com o sem memória ele é um homem intimidador quando
quer.
— Bem não éramos exatamente namorados por que era casado — responde ela aflita — Mas
saímos juntos muitas vezes. Tenho certeza que se não fosse casado ainda estaríamos juntos. Esperei
pacientemente por você Poncho. Só que você nunca se decidia, então viajei por um tempo. A última vez
em que conversamos parecia tão aéreo que decidi dar um tempo. Agora está livre e não há nada que
nos impeça de ficarmos juntos. Eu voltei por você Poncho.
Seria uma linda declaração se as coisas não fossem diferentes agora. Há outra pessoa na vida
dele. Se essa mulher acha que vai chegar aqui marcando território está muito enganada. Eu o amo e
vou lutar por ele com todas as minhas forças.
— Como entrou aqui? — questiona Poncho.
— Os seguranças estão habituados à minha presença. Além disso, meu irmão é seu sócio. Também
não se lembra?
— Não, eu não lembro. Isso não lhe dá o direito de entrar como uma gatuna e me agarrar enquanto
durmo.
— Só quis fazer uma surpresa — diz ela chorosa — Como poderia adivinhar que essa maluca iria
aparecer aqui. Acabei de voltar de viagem como disse. Não sabia que já havia arrumado uma
substituta.
— Anahi é minha noiva! — diz ele, enfatizando a palavra noiva.
— Sinto muito eu não sabia — responde ela cabisbaixa — Eu vou embora. Depois conversamos
sem interferências.
Milla passa por ele com andar derrotado e me encara com olhar assassino, tenho certeza que o
pedido de desculpas passou longe de ser sincero.
— Isso não fica assim — sussurra ela ao passar por mim.
Controlo meu desejo de arrancar cada fio de cabelo dela e tento passar por Poncho que me puxa para
seus braços, de costas para ele.
— Solte-me — falo com voz chorosa.
— Eu não tenho nada com aquela mulher — seu nariz desliza por meu pescoço. Ele é um maldito
filho da mãe. E eu sou uma idiota completa. Basta um toque e já estou mansa como um carneirinho —
Não fique brava comigo.
Sua boca desliza por meu pescoço e passa a língua no lóbulo de minha orelha. Ele sabe
exatamente onde é meu calcanhar de Aquiles.
— Por favor — ronrona em meu ouvido, mordiscando minha orelha levemente.
— Solte-me — respiro fundo e me afasto dele — As coisas não se resolvem assim Poncho —
retruco cruzando os braços.
Embora meus seios estejam denunciando o quanto estou excitada, eu não vou facilitar as coisas
para ele, não vou mesmo.
— Liam me dá um simples beijo no rosto e você faz um escândalo. Ajudo um amigo e você fica
furioso, mas suas amiguinhas...
— Eu já disse que não tive culpa — interrompe ele.
— Isso não importa. O que faria se me pegasse aos beijos com outro homem?
— Eu o mataria, com certeza!
Fico abismada com a intensidade de suas palavras. Por que tudo entre nós dois tem que ser assim,
tão intenso? Os dramas, as tragédias e os momentos de felicidade. Sempre é tudo ou nada! Fogo ou
gelo!
— Então deve saber como estou me sentindo — murmuro — Eu vou para o nosso quarto.
Deixo-o na sala com expressão amuada no rosto. E o ciúme me corroendo como cupim à madeira.
Milla é uma mulher lindíssima, assim como Perla e todas as outras que já passaram em sua vida e
olha que só tive o desprazer dessas duas, imagine as outras então. Poderei conviver com tantas mulheres ao redor dele como abelha no mel? Posso competir com mulheres tão glamorosas e
elegantes? Quando sou apenas mais uma garota simples que até pouco tempo vivia no Bronx? Minha
vida sempre foi simples. Não tenho nada a oferecer a ele. Apenas meu amor. Até quando isso será o
suficiente? Uma das poucas vantagens de ter sido cega é que antes não me incomodava com nada
daquilo.
Entro no quarto e jogo-me na cama. Todas as dúvidas pairando em minha cabeça. Como sou
estúpida. O tempo todo sentindo ciúmes de Samantha, enquanto o verdadeiro perigo está bem
próximo a nós.
Tiro os sapatos e enrolo-me debaixo das cobertas. Minha cabeça começa a latejar, fecho os olhos
apenas por uns segundos. Não sei exatamente quanto tempo depois eu caio no sono.
— Anahi — sinto a mão dele acariciar meu rosto — Ei bebê?
Desfruto de seu carinho gostoso até a realidade cair sobre mim, apunhalando meu peito.
— Sai Poncho — empurro sua mão.
— Anahi — retruca ele — Não faça isso.
— Ainda estou brava com você — respondo emburrada, olho para o relógio na cabeceira —
Droga! Estou atrasada para buscar Luma.
— Claire já fez isso — ele sorri.
— Por que não me acordou antes? — encaro-o furiosa.
— Achei que se descansasse um pouco ficaria mais calma — diz ele, receoso — Pelo visto não
adiantou. Jesus mulher! Que gênio você tem!
Agora eu sou a geniosa? Quando ele tem seus rompantes de ciúmes é natural, mas eu sou geniosa!
Vou para o banheiro ainda bufando. Pois ele veria quem é geniosa.
≈≈≈
Dois dias mais tarde, estamos no consultório do Dr. Barkley. Ele nos mostra algumas radiografias
enquanto explica sobre a evolução no quadro de Poncho.
— Como disse antes, não há nenhuma explicação neurológica que provoque a amnésia. O que me
leva a crer que seja um caso psicológico. É como se seu cérebro precisasse desse tempo.
— Então não é permanente? — Poncho pergunta ansioso.
— Pelo que vocês me dizem até aqui, não — Dr. Barkley entrega um cartão a ele — Aconselho
que procure esse especialista. É um psiquiatra muito bom.
— Quanto aos remédios, ainda preciso deles? — pergunta Poncho — Eles me deixam meio aéreo,
isso tem me causado muitos problemas.
Ele me encara com olhar aborrecido. O problema a que ele se refere, é minha teimosia e greve de
sexo. Se bem que, essa tortura tem me afetado mais do que a ele. Está sendo uma verdadeira tortura
dormir sozinha no quarto de hóspedes.
— Eu vou reduzir a quantidade — Dr. Bakley responde solicito — Até que consulte o outro
médico, indico que continue tomando-os.
Ele concorda com a cabeça mesmo estando visivelmente contrariado.
— E a minha perna?
— Já pode trocar a cadeira por muletas desde que não abuse. Em duas semanas vamos tirar o
gesso e substituir por outra imobilização mais cômoda. Sua recuperação tem sido boa. Sua noiva tem
cuidado bem de você — brinca ele — Em mais ou menos um mês estará livre, claro que, deverá
fazer algumas sessões de fisioterapia.
Ele nos dá outras orientações e saímos em seguida. Voltamos para casa em silêncio. Desejo fazer