Fanfic: A Verdade Sobre Aline | Tema: Amor
Eram 8hrs da manhã, dia de chuva aqui no Rio de Janeiro. À minha frente, minha professora de português declamava um texto de Simone de Beavouir: “Quando se respeita alguém não queremos forçar a sua alma sem o seu consentimento”. Srta. Machado era uma ótima professora, fazia das aulas uma peça de teatro, pois quando declamava os textos e poemas de autores ilustres, parecia que ela mesma tinha escrito e sabia exatamente como cada um se sentia na hora do desabafo.
O sinal do intervalo bateu e todos – desesperados para fugir da Srta. Machado, pois ela sempre segurava alguém pra fazer um questionário sobre o tema da aula – saíram em disparada, quase passando uns por cima dos outros. Mas eu continuei ali, a seguinte frase: “Quando se respeita alguém não queremos forçar a sua alma sem o seu consentimento” me fez pensar em tudo o que estamos vivendo. Nas pessoas forçando umas às outras a serem aquilo que tem como correto pra si. Na vovozinha dizendo que mulher tem que ser dona de casa, na sua tia impondo a forma com que você deve se vestir, no seu pai decidindo com quem você deve se relacionar, na sua mãe te ensinando como se comportar. Todos eles afirmam respeitar suas decisões, mas insistem em forçar em você uma personalidade que não é sua.
- Aline, eu estou falando com você! – disse Srta. Machado
- Ah, me desculpe. Quer fazer alguma pergunta?
- Você está aí com essa cara, parece preocupada com alguma coisa.
E naquele momento tive vontade de contar tudo a ela, molhar a camisa dela com minhas lágrimas.
- Está tudo bem, só tive uma noite mal dormida.
Não tive coragem. Mais uma vez.
Passei o dia parecendo um robô, programado pra fazer tudo exatamente igual: Entrava na sala, saia da sala, levantava a mão, ia ao banheiro, entrava na sala, saia da sala, ia pro intervalo, entrava na sala...
- Aline!
Meu coração disparou ao reconhecer a voz
- Aline! Espere! Preciso falar com você.
Parei no meio do corredor, me virei pra ter a certeza de quem era. Confirmei.
- Oi, como você tá? – perguntei, mas interessada em disfarçar meu nervosismo do que em saber a resposta de fato.
- Estou bem e você? Tenho uma notícia pra te dar.
- Eu estou bem também. Mas vamos lá. Passou na faculdade?
- HÁ! HÁ! HÁ!
Catarine era o tipo de garota que nunca pensou em faculdade. O sonho dela era ser atriz, dessas que trabalham por amor e não por dinheiro. Então falar em faculdade com ela era como contar uma piada.
- Então o que é? Conte-me logo, sabe que sou curiosa.
- Finalmente consegui meu primeiro papel. Vou me apresentar na semana que vem, gostaria que você estivesse lá.
- Uh... semana que vem? Bom, eu vou tentar ir. Ando com alguns compromissos, mas... Tentarei.
- Ah, vai tentar? – ela me olhou com aqueles olhos, de como quem perdeu a estreia do filme favorito nos cinemas – Por favor, eu quero muito que você vá.
- OK. Estarei lá. – não posso recusar ao pedido desses olhos. Ela me deu um beijo no rosto e saiu.
* * *
Cheguei exausta, e pra completar, minha mãe não estava em casa. O que isso significa? Todas as tarefas domésticas são minhas. Ótimo.
Passei o resto da tarde arrumando a bagunça que o Ted fez. Ted é o meu cachorrinho vira-lata, que apesar de bagunceiro, é o ser vivo que eu mais confio na vida. Os animais são mais sinceros que as pessoas. Fato.
Fiz a comida favorita de minha mãe: macarrão de forno. Como meu pai está viajando, arrumei somente dois lugares à mesa.
Quando minha mãe chegou, eu estava no banho, e ela tem a irritante mania de entrar no banheiro só pra me dar um beijo.
- Oi, minha filhinha! Noooossa, que peitão! – frase marcante de minha mãe, como se eu tivesse sido agraciada com um belo par de peitos.
- Oi, mãe! Já disse que meus peitos são do tamanho normal, a senhora que não tem nada e se assusta com os meus.
Amo essa intimidade que tenho com a minha mãe, somos mais amigas do que mãe e filha. Isso me deixa super à vontade, e me faz amá-la cada dia mais.
- Uuuh! Como esse macarrão está gostoso! Já pode casar!
Odeio esse tipo de frase, parece que pra sermos boas esposas a única coisa de que precisamos é de bons talentos com as tarefas de casa. Um casamento não é constituído somente por isso.
- Como foi a escola? – perguntou minha mãe na esperança de que eu fale sobre algum “gatinho”
- Foi normal. A mesma coisa de sempre. Aulas, letras, números, pessoas fingindo ser o que não são. Esses fatos da vida escolar. Nada muito extraordinário.
- Nossa, minha filha. Às vezes eu penso que fiz um mau negócio colocando você pra estudar lá.
- Não, mãe, é uma boa escola. Sou eu mesmo que não me dou muito bem com gente.
Você deve estar pensando que eu sou a NERD que fica num canto ouvindo Pink Floyd e se isolando do mundo. É totalmente o contrário. Sim, ouço Pink Floyd, sou até considerada NERD, mas não sou isolada. As pessoas me consideram até “popular”. Falo com todos, e todos me conhecem. Sempre estou envolvida em algum projeto da escola, ou alguma oficina, coisas do tipo. No entanto, não preciso de nada disso pra viver, conseguiria viver muito bem sem esses artifícios. Mas, às vezes, somos obrigadas a usá-los.
Depois do jantar, minha mãe e eu decidimos assistir um filme. Debatemos tanto sobre qual gênero que íamos assistir, que no final das contas, cada uma foi pro seu quarto descansar. Antes de dormir, entrei nas minhas redes sociais pra saber das novidades dos meus amigos distantes. Moro em Nova Iguaçu há 3 anos, e ainda não me desapeguei dos meus amigos da Ilha do Governador. Eu amo aquele lugar, odeio esse aqui.
Entrei no meu Facebook. Uma mensagem. Meu coração disparou. Poderiam ser várias pessoas, mas meu coração sentiu que era ela. Acertei.
“Espero que não tenha dito que vai na apresentação só por educação. Quero você lá de verdade. Beijos”
Catarine.
Não respondi à mensagem, nem mostrei a ela que visualizei. Deixei lá, e fui dormir.
Autor(a): rivotril
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