Fanfic: Castle Combe | Tema: Original
Após caminhar por menos de dez minutos, finalmente avistei a escola. Ao chegar aos portões do colégio, notei que já haviam vários alunos ali, alguns chegando de bicicleta, outros de carro e uns poucos vinham a pé, assim como eu. Não me surpreendi ao ver que todos pareciam se conhecer ali. Qualquer um que chegava já era logo cumprimentado por um amigo. Alguns riam e se abraçavam, enquanto outros apenas acenavam. Me senti um pouco constrangida, parada ali, vendo todos interagindo, enquanto eu era a única que não conhecia ninguém.
Isso até que eu o vi, encostado ao lado da entrada. Primeiro reparei em seus cabelos, que de tão loiros chegavam a ser platinados. Porém, não pude ver seus olhos, já que óculos escuros os cobriam. Ele usava uma camiseta de um cinza escuro intenso - contrastando perfeitamente com sua pele branca, calça preta e botas de combate. Ok, então ele usava óculos escuros quando não havia sol, e dispensava casacos ou jaquetas com um frio desses. Mas, assim como eu, ele não parecia conhecer ninguém, muito pelo contrário, ele olhava ao redor com a boca torcida em desprezo, como se não visse sentido naquele tipo de interação.
Só percebi que estava em um tipo de transe, encarando aquele garoto com os lábios ligeiramente separados, como que encantada, quando o sinal, de repente, tocou. Pisquei, levemente assustada com o barulho repentino, enquanto alunos passavam por mim, rindo e falando sem parar. Então forcei meus pés a segui-los, me perguntando de onde é que eles tiravam tanta animação a essa hora da manhã.
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O papel que a secretária acabara de me entregar continha, impresso, os horários das minhas aulas, número e senha do meu armário. Dividindo o meu olhar entre o folheto em minhas mãos e os armários, logo encontrei o número 214. Me dirigi a ele e coloquei a senha que aparecia no papel. Ao abrir a porta, vi que os livros que eu usaria estavam todos ali. Peguei apenas os que eu precisaria para a próxima aula, olhando em volta e notando que alguns alunos ainda andavam por ali, procurando por seus novos armários e pegando seus materiais. Do outro lado do corredor, mais à frente, o garoto que eu havia visto do lado de fora estava parado em frente ao seu armário, guardando algo dentro dele. E como se pudesse sentir meu olhar, ele se virou e olhou diretamente nos meus olhos. Só deu tempo de notar que os óculos escuros haviam sumido, e que seus olhos eram azuis - tão claros como uma lagoa cristalina - antes que eu desviasse o olhar. Voltei e terminei de pegar meus livros.
Quando fechei a porta do armário e me virei para seguir para minha classe, notei que algo havia mudado. Todos os alunos, que antes riam e conversavam por ali, haviam sumido. E como se o dia houvesse virado noite, o corredor se tornou totalmente escuro. As únicas luzes ali vinham do lado de fora, dos postes nas ruas. Antes de fazer qualquer movimento, tirei o celular da minha bolsa e liguei a lanterna. Iluminando o caminho à minha frente, andei até a primeira porta que vi e peguei na maçaneta, rodei e tentei abri-la, mas ela estava trancada. Olhei pela janela que ficava na porta e vi que as cadeiras estavam vazias, perfeitamente enfileiradas; até mesmo na mesa do professor os livros permaneciam intocados, como se as aulas ainda não houvessem começado. Como se a escola nem mesmo tivesse sido aberta.
De repente, eu ouço um barulho de batida, como se algo ou alguém estivesse se chocando contra alguma coisa. Me viro e tento, desesperadamente, encontrar um lugar para me esconder, meu coração batendo forte, e o medo correndo em minhas veias. Mas antes que eu pudesse dar um passo sequer, uma garota passa por mim, correndo e gritando por ajuda. Ela se vira e encara, com horror, o que eu presumo ser quem a persegue. Mas apesar de ter passado bem ao meu lado, ela não olha na minha direção em nenhum momento, como se eu nem estivesse ali. Sigo seu olhar e então vejo quem está atrás dela. Ou melhor, o que. Algo que parece ter a forma de um humano, mas que com certeza não é, não está correndo. Ele está parado, observando a garota se afastar, com um olhar de divertimento em seu rosto, como se presenciar seu desespero lhe agradasse mais que qualquer coisa. Cubro minha boca, em choque, ao reparar que a coisa possui três chifres em sua cabeça, e seu rosto parece maior, desproporcional ao de um humano, como se fosse deformado. Reparo em seus olhos e vejo que são totalmente escuros, tanto as córneas quanto as pupilas. Se eu acreditasse que essas coisas poderiam existir, diria que estava vendo o próprio demônio. Então eu entendo o olhar de medo no rosto daquela garota, porque eu também posso sentir o mal se desenrolando daquela coisa como um pano. E mais uma vez, apesar de eu mesma poder sentir o cheiro do meu medo, a coisa não olha nem uma vez pra mim, como se eu nem estivesse ali.
Volto meu olhar para a direção em que a garota correu, e vejo que ela subiu as escadas, em direção ao segundo andar. Sem pensar duas vezes, decido correr atrás dela, olhando uma última vez para trás, e noto que a coisa havia sumido. Me volto para a menina, meus olhos focando em seus longos cabelos negros, e percebo que ela conhece a escola muito bem. Mas é claro, porque assim como todos de Castle Combe, ela só estudou aqui, durante a vida inteira. De repente, ela abre uma porta à direita, e entra. E então, tudo acaba.
Eu pisco, e é dia novamente. Os corredores estão vazios, mas eu consigo ouvir a voz dos professores falando nas salas de aula mais à frente. Tudo parece estar de volta ao normal, a não ser pelo fato de que eu ainda estou no segundo andar, bem ao lado da porta em que a menina dos cabelos negros acabara de entrar. Noto que está escrito SALA DE MANUTENÇÃO acima. Por curiosidade, decido entrar e ver se o que acabara de acontecer fora real ou apenas uma ilusão da minha cabeça. Quando abro a porta, a visão à minha frente me faz gritar. A garota dos cabelos negros ainda está ali. Sua cabeça está jogada no canto direito do quarto, e seus olhos estão abertos em horror, como se ainda pudesse ver a besta que a atacara; porém, o resto de seu corpo não está mais ali.
E como se eu estivesse debaixo d'água, ouço as vozes à minha volta, a correria dos alunos assustados com o meu grito, e se assustando novamente ao ver a cena da garota morta à minha frente.
Sinto alguém colocar suas mãos em meus ombros e dou um pulo, olho pra trás e vejo que é o garoto dos cabelos platinados. Sei que estou em choque e atordoada, porque não consigo ver ou ouvir nada direito, mas sei que é ele, pois seus olhos azuis parecem brilhantes demais, fazendo os meus doerem.
- O que.. - E antes que eu pudesse terminar minha fala, sinto minha visão escurecer.
E então eu caio.
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Autor(a): vitoriafelinto
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
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Assim que abri as olhos, levou menos de um segundo para que eu me lembrasse dos últimos acontecimentos. Os corredores da escola subitamente escuros e vazios. A garota fugindo de algo que eu não conhecia. E então, tudo voltando ao normal novamente, a não ser pela visão de sua cabeça separada do corpo, os olhos arregalados e ass ...
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