Fanfics Brasil - Capítulo I ** Ao avesso(Vondy)

Fanfic: ** Ao avesso(Vondy)


Capítulo: Capítulo I

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Capítulo I


- Nunca me deixe...


Braços ao redor da cintura
dele.


- Prometa estar sempre
comigo...


- Prometo.


- Até que a morte nos
separe?


Sorriso de canto.


- Nem que a morte nos separe.


  -- - - -
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Dulce


Eu estava cega.


Nada podia se distinguir diante dos meus olhos que não fosse essa
claridade queimando a minha córnea, as minhas últimas e lutadoras células, e
era difícil saber se além de cega eu estava ficando surda. E muda. Ou mesmo
capaz de qualquer movimento. Era verdade que eu não conseguia sentir nenhuma
parte do meu corpo, mas eu estava bem certa que eu estava imóvel, sem saber por
onde começar para mexer o mísero dedinho do pé.


O que era isso? O céu? Um quarto de hospício? O meu maior pesadelo? Não,
meu maior pesadelo seria se eu estivesse em escuridão, mas eu estava obviamente
mergulhada em algum ponto bem perto do Sol porque, meu Deus, que diabos de
claridade era essa?! Estava me cegando de verdade!


Hesitantemente consegui levar uma mão até meus olhos fechados com força,
franzindo o nariz e a testa diante do ardume que fazia minha cabeça latejar. Tentei
abrir os olhos, mas foi tão difícil quanto sentir o chão que eu estava sentada
e a parede que amparava minhas costas. Ótimo, meus sentidos estavam voltando.
Tentei mais uma vez superar a claridade ofuscante e permaneci com os olhos
entreabertos o máximo de tempo possível, rezando para que esse eterno branco se
decompusesse nas malditas cores que eu tinha aprendido nas aulas de física há
tantos anos.


Maldito professor por estar tão errado! Por que a droga da maçã não
perfurou a cabeça do idiota do Newton?!


Apoiei a outra mão no chão, que me parecia bem polido e arejado – Ou
seja, eu não estava encarcerada, nem em qualquer cama com algum cara depois de
beber muito – e fiz um esforço enorme para levantar, me apoiando na parede
atrás de mim e abrindo um pouco mais os olhos para o local que finalmente –
Finalmente! – entrava em foco.


O que diabos...?


Franzi o cenho de leve, confusa com o corredor deserto em que me
encontrei. Era tudo branco. Maldita cor que tentou me cegar. Quem diabos
pintaria tudo desse branco insuportável?! O teto, as portas dos quinhentos
quartos, as paredes, até o chão, meu Deus! Ah, não. Eu estava em um hospício.
Merda...! Eu não fiz nada pra merecer uma camisa de força! Quer dizer... Eu não
me lembro de nada nem pra saber por que eu estaria cercada por loucos.


Ah, meu Deus, não!


Comecei a andar para longe desse corredor, dobrando em pelo menos duas
esquinas e quase subindo as paredes com o fato de que eu estava perdendo meus
neurônios – Eles já deviam estar bem escassos com o meu ataque de agora –
quando encontrei civilização.


- Com licença... – Arrisquei para uma mulher num balcão, receosa que nem
voz eu tivesse na altura do campeonato, mas ela estava muito concentrada nas
pranchetas que organizava. Eu estava sussurrando, claro que ela não ia me
escutar! Aumentei um pouco a voz. – Com licença, senhora. Você pode...?


Mas ela me ignorou completamente e eu fiquei calada. Que diabos de mal
educada era essa? Eu estava na frente dela e nem era como se tivessem outras
pessoas chamando-a agora! Fosse quem fosse era uma imbecil e eu já estava bem
irritada com toda essa história do hospício, então murmurei uma palavra nada
carinhosa pra ela antes de sair dali e acompanhar um homem que obviamente era
um médico. Usava um jaleco e dizia ‘Ortopedista’ no bolso. Tinha um nome
também, mas eu tinha cansado de ser educada.


- Doutor! – Chamei, apressando os passos para acompanhá-lo e ficando ao
seu lado. – O senhor pode me ajudar? Aquela enfermeira estúpida ou seja lá quem
fosse me ignorou completamente e eu- Mas que merda...! Por que está todo mundo
me ignorando aqui?! Estou invisível por acaso?!


Parei de segui-lo, furiosa e percebi que o movimento ficou bem maior. Havia
bem mais médicos, enfermeiros, e gente ferida ou passando mal. Pacientes. Não
era gente louca. Isso era um hospital. O que eu estava fazendo num hospital? E
num com gente estúpida?


- Alguém! – Exclamei no meio de toda essa gente, olhando o ziguezague de
todos. – Alguém pode me escutar aqui?!


Ninguém me deu atenção.


Tudo bem, mas que preconceito idiota era esse?! Eu ia dar mais um motivo
pra toda essa gente ser atendida pelos médicos se isso continuasse!


Recomecei minha caminhada, devagar, analisando a situação mais estranha
da minha vida. Parecia que ninguém me enxergava. Certo, então eu fiz alguma
coisa nada legal com essa gente, mas o que eu poderia ter feito pra afetar
todos e irritá-los desse jeito? Tinha uma mini população aqui e a menos que eu
fosse uma terrorista ou uma serial killer eu não sei o que eu tinha aprontado
em larga escala assim. E aparentemente eu nem tinha álibi pra me salvar, já que
a única coisa que eu lembrava era a claridade que tentou me cegar minutos
atrás.


Insisti em tentar chamar a atenção de uma mísera alma que fosse.


- Com licença, senhor.


- Ei, você!


- Merda, alguém preste atenção na idiota aqui!


- Argh...! Que inferno!


Eu tinha até esgotado minhas cotas de xingamento para todos os imbecis
que passavam por mim e me ignoravam.


Mas a esperança era a última que morria.


Um vulto passou por mim e nem pensei antes de segurar seu braço. Sua
pele era gélida e essa temperatura gerou um pequeno choque em minhas mãos, da
mesma maneira quando toquei no chão em que eu estava sentada minutos atrás.


- Você pode me ajudar? – Perguntei, apenas agora olhando o homem que eu
havia forçado a falar comigo. O que? Eu estava cansada de ser educada!


Seus olhos negros se estreitaram.


- Não, cai fora. – Ele se desvencilhou das minhas mãos e continuou o
caminho que eu interrompi. Aquilo me enfureceu.


- Qual é o seu problema, seu imbecil? Você poderia mostrar um pouco de
educação pelo menos!


- Não perca seu tempo.


- Ótimo, não vou mesmo! E eu espero que uma maca o atropele, seu
ignorante! – Falei mais alto para que ele escutasse minha almejada vingança
mesmo que ele estivesse bem distante agora.


- E eu espero que você pare de falar! – E ele sumiu ao dobrar uma
esquina, sem nem me dar tempo de xingá-lo com essa barba mal feita que eu quis
tanto fazer sumir com uma máquina zero.


- Idiota. Tomara que ele seja atropelado. – Bufei, voltando a andar
pelos corredores.


Imbecil. Estúpido. Eu estava feliz que eu realmente não fosse invisível
– Sério, eu acreditei nessa possibilidade por alguns segundos – mas eu ficaria
mais grata com um pouco de educação por aqui. Quer dizer, médicos, enfermeiros
e até pacientes, ou parentes de pacientes, sendo rudes assim?! Talvez eu fosse
mal educada desse jeito também, não consigo lembrar.


Que inferno... E por que eu não conseguia lembrar nem da minha
personalidade? Além de serial killer  eu
ainda tinha múltipla personalidade?! Meu Deus!


- Isso não pode estar acontecendo. – Murmurei para mim mesma, tentando
me acalmar, mesmo que meu cenho estivesse bem franzido. Virei-me para as
pessoas que passavam por mim, de novo. Eu não sabia mais que corredor eu
estava. – Alguém! Não, ei, você! Pode me escutar, pelo menos?! Faça um sinal
que está me ouvindo! Ou me vendo! Será que eu preciso ficar nua pra alguém me
dar atenção?!


Olhei para mim rapidamente, assustada de estar de fato sem roupas, mas
não, eu estava com um vestido vermelho de alças até os joelhos, e, sério, eu
até tinha belas curvas. E seios! Ah, meu Deus! Eu não conhecia meu próprio
corpo?! Qual era o meu problema?!


- Mas que merda! – Estanquei num ponto, punhos cerrados ao lado do meu
recém descoberto corpo. Isso estava acabando com a minha sanidade. – E por que
ninguém me escuta?!


- Talvez porque eles tenham esperanças que você cale a boca. – Fechei os
olhos, sem me atrever a olhar o idiota que eu reconhecia muito bem a voz e o
sotaque extremamente carinhoso.


- Se você veio só pra infernizar mais a minha vida-!


- Não, eu vim em nome de todos aqui pedir pra que pare de gritar, sua
mulher irritante. – Ao me virar para ele percebi seu cenho franzido, só não
tanto quanto o meu. Senti a fúria subir até minha garganta, queimando tudo no
caminho e eu estava no limite, sério. Eu não precisava mais desse engraçadinho
pra estourar meus últimos neurônios.


- Bom, eu não consigo, ACOSTUME-SE, SEU IMBECIL! – Nem hesitei em
caminhar para o lado oposto que ele aparentemente veio, e cedi à minha fúria
misturada com a minha recente indelicadeza, então fui até a primeira porta do
corredor idiota desse prédio idiota. Dane-se a privacidade do paciente
internado, dane-se o bom senso, dane-se o mundo porque eu não estava mais nem
aí. Nem se eu visse um cara com a bunda de fora ou sem o braço assim que eu
abrisse essa porta.


Mas eu até teria me acostumado com isso. Se eu tivesse aberto a
porta. Mas não, eu não consegui e não foi porque o único idiota que falava
comigo – Ou trocava palavras afiadas comigo – me interrompeu de abrir a porta
para o inferno ou o que fosse – Eu teria até aturado o inferno diante do que
aconteceu! – mas não foi isso.


A minha mão simplesmente atravessou a maçaneta.


Simples assim.


Meus olhos sem acreditar nos meus dedos passando direto pela maçaneta.


Um frio de milésimos percorrendo minha mão.


Perplexidade roubando meu ar.


Incapaz de acreditar nessa óbvia ilusão de óptica, eu estiquei os dedos
para a porta e eles sumiram nela. Atravessaram! Mas que-?! Estupefata, segui em
direção à porta e o calafrio que acometeu meus dedos estava em todo meu corpo
dessa vez e não tive tempo pra entender onde foi parar a idéia de matéria
atravessar matéria assim do nada.


Eu não tive tempo de piscar meus olhos arregalados.


Não, eu tive que me conformar com a imagem do meu corpo numa cama. O meu
corpo! Com meus braços, pernas e cabeça, e olhos fechados e máscara de oxigênio
e fios saindo de tudo que era parte do meu corpo inerte naquela cama!


- Ah, meu Deus. – Foi o sopro de oxigênio mais longo da minha vida.


Era um absurdo. Eu estava sonhando e logo eu cairia naquele buraco negro
que me faria despertar de um salto da cama. Era só eu esperar, exatamente
assim, de olhos arregalados, imóvel. Talvez eu pudesse até sufocar já que o
único sopro de vida que escapou de meus lábios foi há uma eternidade atrás e aí
eu acordaria.


Sim. Para a bela vida.


Que eu não recordava.


Franzi o cenho em atordoamento. Eu não recordava o que era a minha bela
vida. Bom, talvez ela não fosse bela e por isso eu não queria me lembrar de
nada! Não, isso era ridículo! Isso aqui não era belo e eu deveria estar
acordando! Ver o seu corpo em uma cama depois de ter atravessado uma maçaneta e
uma porta não me parecia nada belo! Nada! E eu estava certa que eu não estava
em sessão nenhuma de hipnose pra eu ter uma experiência extra-corporal ou o que
merda isso fosse!


Algo me dizia que isso era real e eu simplesmente não queria acreditar. Eu
não podia. Seria assinar meu decreto para a insanidade!


- Então o que diabos está acontecendo?


Cheguei perto da cama, analisando os cabelos longos ruivos que
descansavam no travesseiro branco, meus braços inertes ao lado de meu corpo
também inerte, minhas pernas escondidas pelo lençol que chegava até minha
cintura, minhas pálpebras fechadas tão... Serenamente... Meu peito subia e
descia num ritmo constante, mas eu respirava por um aparelho. Um dos quinhentos
aparelhos que ficavam ao lado da cama. Havia um com meus batimentos cardíacos,
minha respiração e outra coisa que não reconheci. Eram muitos gráficos numa
mesma tela! Era muita informação num só sopro de vida, pelo amor de Deus!


Tentei tocar em minha mão que descansava na cama – A mão que parecia
mais de verdade do que a minha mesmo – e eu a atravessei. Não senti nada que
não fosse o típico calafrio anterior. Isso estava ficando ainda mais ridículo.
Como eu não podia tocar em meu corpo?! Como eu estava vendo meu corpo
aqui?!


- Mas que merda de pesadelo mais estúpido é esse?! – Exclamei incrédula,
furiosa, querendo esganar e explodir tudo o que aparecesse em minha frente, mas
a única coisa que consegui quando atravessei a parede do quarto para sair dali
foi uma colisão. Eu estava tão furiosa com a idéia de estar atravessando
objetos que não esperei esbarrar em nada, então quando isso aconteceu, eu
fiquei ainda mais irritada, por mais que isso devesse ser um sinal para eu
ficar feliz.


Mas, vamos encarar, não dava pra eu ficar feliz. Nada estava dando
certo. Nem a dor que senti quando caí sentada, apoiando as mãos no chão para me
impedir de cair na loucura que me puxava cada vez com mais força para me juntar
a ela. Ela estava fazendo um ótimo trabalho. A loucura, digo. Então me juntar à
insanidade sumiu da minha mente quando fiquei furiosa ao ver quem estava
sentado um pouco à minha frente, não muito feliz com a trombada.


Era o idiota educado com a barba mal feita!


Meu Deus!


Nele eu podia esbarrar e cair para sentir essa
dor estúpida, mas tocar no meu corpo era uma tarefa bem impossível, não é?! Mas
que porra é essa?!


- O que diabos é isso que está acontecendo?! – Indaguei a ele, em níveis
extremos de incredulidade. – Por que só você me enxerga?! Por que você é o
único que eu consigo tocar e eu estou atravessando paredes?! Por que diabos o
meu corpo está ali naquela cama?! – Eu apontei para a porta de
onde vim, estupefata. Histérica.


E ansiosa para descobrir que eu acordaria na parte mais louca do meu sonho.


Mas o homem só suspirou, obviamente cansado e eu soube que a loucura
apenas continuaria. E eu roubaria a morfina daqui pra me drogar a níveis ainda
mais extremos do que da minha incredulidade.


- Porque você provavelmente está em coma, assim como eu. – Ele falou da
forma mais natural possível. Até entediado! Mas eu não ia engolir isso!


- Não...! Isso-! Se eu estivesse em coma eu não estaria aqui falando com
um idiota como você!


- Acostume-se, você é o mais novo fantasma desse hospital.


- Não...! Qual é o seu problema?! Você se diverte fazendo piadas de mal
gosto com-?!


Uma maca às pressas atravessou meu corpo e o calafrio me fez engolir as
palavras que eu ia dizer. E todos os últimos minutos que passei aqui me deram
um calafrio ainda maior assim que tudo começou a se encaixar e eu percebi que a
loucura não estava mais fazendo um bom trabalho.


- Ah, meu Deus. – Murmurei, perplexa.


Isso não era loucura coisa nenhuma... Era real...! E, céus, como eu
desejei muito estar em um manicômio.


Continua...


 





Comentem !!


MiH Uckermann XD


 



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Autor(a): mirellauckermann

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  Christopher Dulce. A mulher mais irritante que já conheci. Ou ao menos que me lembro agora. Eu posso ser tudo o que ela falou, como egoísta, egocêntrico, idiota, imbecil, mal educado, mas sinceramente eu não mereço descobrir que estou em coma e além de ter que lidar com esse absurdo ainda tenho que lidar com essa mulher ...



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:52:52



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:52:01



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:54



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:47



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:26



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:18



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:06



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:00



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:50:50



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:50:43



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