Fanfic: ** Ao avesso(Vondy)

Dulce

- Ele me beijou. – Eu estava tão presa em meus pensamentos, que podia jurar que essas palavras eram apenas outras duelando na multidão em minha cabeça, mas eu havia pensado alto. Percebi agora que não me importava com isso. Nem com a bela visão que o terraço do hospital proporcionava, nem com o barulho agradável do vento batendo em meus ouvidos, e menos ainda com Christian sentado ao meu lado, me fazendo companhia.

Eu estava, de fato, presa em meus pensamentos, e não conseguia me importar com mais nada que não fosse o beijo que eu ainda podia sentir em minha língua – E ficava ainda mais difícil esquecer quando isso me fazia corar até o ponto de a única coisa que eu sentia em meus ouvidos era a minha pulsação – e as horas longe do Christopher apenas me torturavam mais ainda. Imagina quando ele estivesse por perto! Eu teria que ser internada por insuficiência cardíaca!

- Eu sinto falta do ramen. – A voz viajante do Christian me mostrou que ele também estava perdido em pensamentos, mas não liguei para o que ele havia dito e fiz o pior. Olhei-o, atordoada, e continuei o meu assunto, que deveria ter morrido junto com o sumiço de Christopher de horas atrás.

- E agora, Christian? Eu não entendo o que aconteceu...

- Vocês se amam, é simples. – Ele retrucou de forma óbvia. Fiquei até surpresa que ele tivesse mesmo escutado o que eu havia dito, mas acho que essas notícias eram chocantes o bastante para o subconsciente armazená-las no mesmo milésimo.

Mas eu não gostei da resposta dele. Menos ainda do meu rubor.

- Claro que não, aquilo foi só- Nós estávamos com raiva um do outro, foi só um impulso. Ele me beijou pra me fazer calar a boca. – Encarei meus pés, frustrada. Esse era o melhor que eu podia inventar?! Não dava nem pra me convencer, droga!

- Dul, admita, você simplesmente não quer lidar com o fato de estar gostando do idiota.

- Não, Christian, você que está delirando com todo esse ramen. – Levantei, irritada com a conversa inútil, e nem percebi que ele ainda estava falando para si mesmo as dificuldades de lidar com qualquer afeto que se sentisse pelo idiota porque ninguém poderia ter qualquer afeto por ele e blábláblá. Certo, diga isso porque não foi você quem ele beijou, seu retardado.

Qual é a do Christian?! Ele deveria ter me encorajado a acreditar na minha mentira estúpida do beijo-para-me-calar-a-maldita-boca e não me deixar enlouquecer aqui com esse assunto, dizendo que era besteira, que realmente foi só um impulso e mesmo que eu quisesse – Mas eu real, profunda e totalmente não queria – que ele me beijasse de novo isso não iria acontecer e tudo voltaria aos velhos amigos do quarteto fantástico. Mas não! Vendo meu desespero, ele me olha e diz que eu e o Christopher nos amávamos! Eu vou esperar logo conselhos de quem, meu Deus!

Saindo do terraço, firme com a decisão que toda essa conversa frustrada me rendeu, a voz do Christian me impediu de dar mais um passo.

- Ei, espera aí! – Ele continuou sentado, mas me olhava de uma maneira perplexa. – Foi ele quem beijou você?!

- ...

Ele estava mesmo prestando atenção na conversa?

- Mas ele não é gay? O que está acontecendo com o mundo?!

Revirei os olhos, impaciente com o estúpido cérebro lerdo do Christian e saí dali.