Fanfics Brasil - Capítulo III ** Ao avesso(Vondy)

Fanfic: ** Ao avesso(Vondy)


Capítulo: Capítulo III

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Capítulo III


Dulce


O que eu estava fazendo?


Não, o que fiz esses dois dias que descobri sobre o meu acidente? Eu
estava em coma. Em coma. Por que eu estava andando pelo hospital, atravessando
paredes e sorrindo como se tudo isso não passasse de um sonho engraçado? Não
era engraçado e eu não podia mais acreditar que isso era um sonho. Não era.


Eu estava em coma.


Morrendo.


Meu primeiro passo para fora do quarto foi tão pesado quanto o que eu
carregava dentro do meu peito. Meu coração parecia pesar mais de uma tonelada e
o bolo em minha garganta só tornava tudo mais difícil. Era quase impossível ver
algo diante dos meus olhos. Era difícil respirar. Eu estava morrendo naquela
cama e estava aqui, me agarrando aos últimos dias da minha vida... Dias? Não,
poderiam ser minutos.


Meu Deus...


Atravessei a parede do meu quarto, a franja praticamente cobrindo meus
olhos, mas não me importava, porque eu não enxergava nada, muito menos um
Christopher que quase esbarrei quando saí para o corredor. Ignorei-o, passando
direto, sentindo o peso desses dois dias e do meu verdadeiro corpo atrasarem
meus passos. Eu queria estar surda também – Até pensei que o silêncio
retumbando em meus ouvidos fazia um belo serviço em me deixando assim – mas
meus ouvidos captaram um ruído um pouco atrás. Uma voz.


Meu Deus, não... Eu não podia escutar! Eu estava surda! Estava morrendo!
Então por que parei?!


- Espere. – A voz roubou uma pausa. – O que aconteceu?


Christopher.


O que ele estava fazendo aqui?! Justo quando eu queria me afogar na
minha recente descoberta de que eu estava em coma ele surgia pra me impedir de
cometer o verdadeiro suicídio?! Não!


- Nada, apenas me deixe sozinha. – Murmurei, ainda de costas para ele, a
franja cobrindo os olhos castanhos que não queria imaginar como estavam. Um
caos, bem provavelmente. É claro, eu estava em coma! E só agora fui
perceber isso!


Juntei as forças que ainda me mantinham em pé para continuar minha
caminhada para longe dali, talvez para a lagoa artificial e seu chafariz na
frente do hospital, onde eu obviamente me afogaria – Será que ainda era
possível me matar desse jeito? Merda de espírito inútil! – mas um peso extra em
meu pulso me impediu. Circundava meu pulso, com força, da mesma maneira que uma
mão apertava meu coração assustado.


- Dul. – Era a mão dele... E sua voz atordoando meus pensamentos e
piorando o bolo em minha garganta. Piorando a minha raiva. – O que aconteceu?


- Não precisa fingir que se preocupa comigo, Christopher! Agora me
solte! – Continuei de costas para ele, sem mover um músculo. Como ele se
atrevia a tentar me ajudar?! Eu não precisava disso! De nada disso! Nem
dessa mão idiota me segurando, nem da voz macia, nem do fingimento! Eu já havia
passado do ponto de acreditar em qualquer sonho! Inclusive do sonho idiota em
que eu não estava morrendo naquela cama!


Eu não precisava da pena de ninguém agora!


As vozes intermitentes em minha cabeça ecoaram ainda mais alto com o
silêncio que se seguiu depois do meu berro exasperado e da respiração quieta do
Christopher, que aceitou minha resposta atravessada e apenas ficou calado, talvez
ponderando se me ajudava a me afogar na pequena lagoa e então ele também se
livraria de um problema, mas ele não disse nada.


E foi a melhor resposta.


Porque eu finalmente consegui respirar.


A mão que antes segurava meu pulso tão firmemente foi sumindo devagar e
eu consegui sentir todos os segundos se arrastando quando aquele ponto de apoio
me fez perder o chão que não percebi ter perdido até esse momento.


- Olhe por onde atravessa. – Chris falou baixinho, rendido em me deixar
cometer suicídio na fonte tão bonita e alegre do hospital. Assenti, mas o
silêncio havia engolido minhas palavras afiadas e o chão estava apenas me
fazendo cair mais fundo, me deixando imóvel, incapaz até de sair desse corredor
para me matar, incapaz de me fazer ficar longe desses olhos negros que eu podia
sentir nas minhas costas.


Por que ele não ia embora e me deixava sofrer sozinha com o meu
desespero? Eu não precisava dele. Quantas vezes eu ia ter que dizer? Eu não
preciso de você, seu idiota! Você também está em coma! O que pode fazer por
mim?! Nada! Nada a não ser jogar na minha cara que sou uma imbecil em acreditar
que isso tudo era uma fantasia estúpida! Pois bem, eu não preciso que jogue na
minha cara porque já estou perdendo as forças até pra me manter em pé aqui!


Além do mais o que você sabe sobre o que estou sentindo?! Ao menos você
tem uma família! Alguém que se preocupe com você! Eu estou sozinha! Dois dias
inteiros se passaram e ninguém veio me ver morrer naquela cama! E eu
posso morrer e apenas os lençóis vão saber que já estive aqui, então vá se danar!
Você não sabe de nada!


Você não está morrendo como eu!


Pode estar em coma, mas não está morrendo, entendeu, seu idiota?!


As paredes afiadas crescendo ao meu redor com os pensamentos destrutivos
se dissolveram quando um braço passou pelos meus ombros e minhas forças foram
tão rapidamente drenadas que me deixei guiar por ele para sentar no chão,
encostada na parede. A presença ao meu lado me fez engolir o bolo na garganta e
eu já estava chorando.


Cada lágrima parecia cortar meus olhos, minhas bochechas, e elas eram
tão incessantes que eu temi estar sangrando até a morte. A franja não mais
ajudava em cobrir meus olhos feridos, então afundei o rosto no peito de Chris,
ignorando o dilúvio que a blusa dele presenciava e segurando-a com força com
uma mão.


O braço sobre meus ombros incrivelmente não piorava o peso que me
afundava cada vez mais no poço escuro e a camisa dele me parecia um grande
apoio, mesmo que eu ainda estivesse sem fôlego com o término da minha ilusão.
Eu ainda ia morrer naquela cama e ninguém veio me visitar e isso estava me
matando nesse instante!


E quando eu ficava nervosa eu falava sem parar. Eu estava assustada,
angustiada, estupefata, mas sabia que nervosismo também fazia parte do pacote,
então me atrevi a balbuciar contra a blusa do Chris:


- Onde estão os meus pais, Chris? – Minha voz estava embargada, abafada
também, mas eu precisava colocar tudo para fora ou eu ia explodir. – Será que
eles me odeiam? Ou não sabem que eu estou em coma? E os meus amigos, o meu
trabalho, o meu cachorro...!


- Você se lembra do seu cachorro? – Era uma voz quieta e compreensiva,
que tentava me fazer esquecer o meu desespero. As lágrimas ainda escorregavam
por minha face e eu quis impedi-las apenas para convencer Chris que eu estava
melhor. Que ele estava fazendo um belo trabalho em me escutar, em me deixar
tranqüila.


Mas eu não estava...


Apertei mais a camisa dele.


A imagem do meu corpo naquela cama...


Sozinha...


- Não, mas eu devia ser uma pessoa muito solitária ou muito má pra que
ninguém tenha vindo me ver ainda, então meu único amigo é meu cachorro. Ou quem
sabe meu cachorro não me agüentou e eu tive que comprar um gato, que é o amigo
mais traiçoeiro do homem e ele me deixou também, então eu... eu tive que ficar
com o papagaio idiota da vizinha...


- Eu iria gostar do seu cachorro.


- Eu também... Mas ele também não veio me visitar... – E esse fato criou
mãos ásperas para apertar meu coração.


- Dulce, como você pode ter certeza que ninguém veio ainda?


- Eu não sei, eu só- Tenho essa sensação que ninguém veio e ninguém
virá, e eu ainda estou em coma aqui, e não sei por quanto tempo vou ficar
atravessando as paredes e eu-!


- Eu sei.


Fiquei em silêncio alguns segundos, digerindo as palavras calmas dele.
Essa calmaria me alcançou de certa forma que me peguei respirando outra vez.
Ele entendia... É verdade. Ele me entendia, estava me dando forças pra parar
com essa loucura... Mas...


As sobrancelhas se estreitaram em dor novamente.


- Mas você não está enlouquecendo também. – Minha voz veio mais calma e
eu agradeci ao bolo ter sumido de vez.


- Porque eu não sou uma mulher histérica complexada com um cachorro
imaginário.


Só agora pude sentir a voz dele no topo da minha cabeça, sua respiração
serena acariciando os fios do meu cabelo e me transmitindo o resto da calmaria que
eu precisava para um meio sorriso se formar em meus lábios.


- Ele é meu melhor amigo, não fale dele assim. – Murmurei.


Eu teria acrescentado xingamentos apenas para certificá-lo que a ajuda
dele a me manter sã não significaria que seríamos melhores amigos a partir de
agora, mas não pude. Poderia até ser minha imaginação, mas eu podia sentir um
perfume masculino intoxicaste o suficiente para me paralisar aqui, com a face
afundada em seu peito, me drogando para sempre nesse conforto que nunca pensei
que gostaria tanto.


Na verdade, nunca pensei que eu apreciaria tanto qualquer tipo de
conforto do Christopher, mesmo que fosse só a mão em meu pulso, o braço em meus
ombros, a respiração ritmada me acalmando, o queixo no topo da minha cabeça...
Quer dizer, isso não tem nada a ver com o idiota que eu convivia há dois dias
inteiros.


Então eu obviamente estava surpresa. E tão frágil no momento que não me
importei em gostar disso. Eu precisava de um ombro amigo. Ou um peito para
esconder o meu rosto marcado pelas lágrimas idiotas, então tinha que
agradecê-lo. Ora, eu podia até dizer que gostava dele agora! E nunca pensei que
faria isso algum dia!


- Como estão seus pais? – Murmurei, quieta o bastante para ele talvez
nem me ouvir. Eu estava confortável aqui. Segura. Não queria fazer um único
movimento.


- Bem.


Pausei por um segundo.


- Como está a sua mãe?


Ele também pausou um segundo.


- ... Bem.


- Eu sinto muito por eles...


- Eu também...


- Mas obrigada por ser você aqui me aturando.


- Esqueça. – Christopher falou, retirando o queixo da minha cabeça e bem
provavelmente apoiando a cabeça na parede para encarar o teto e convencer a si
mesmo que havia feito uma loucura em não me deixar cometer suicídio. – Apenas
olhe da próxima vez que atravessar uma porta.


Assenti contra seu peito, mais uma vez me afogando no silêncio que me
arrastava para a dor de não ter ninguém se importando comigo em coma nesse
hospital. Se meu cachorro pudesse, aposto que ao menos ele quebraria
todas as regras sanitárias do hospital idiota pra me ver, se ele conseguisse
arrombar a porta do meu provável apartamento, claro. Então por hora eu estava
fadada a morrer sozinha aqui...


Não, Chris está aqui.


Que voz era essa? Ele podia estar aqui hoje, mas só por ter me visto em
desespero e não ter agüentado meu estado deprimente, mas ele não vai fazer boas
ações assim pelos próximos milênios, eu podia apostar.


Ou ia. Quer dizer... Ele se importou comigo hoje... Por que não outro
dia? Por que não usar essa voz macia outra vez?


Não, isso não excluía o fato que eu precisava ver pessoas do mundo real
correndo pelos corredores, preocupadas, assustadas com meu acidente, com o meu
estado de coma! Todo mundo precisa saber que se sente querido e eu era assim
também, mesmo sendo um espírito revoltado! Então onde estavam as pessoas que
eram próximas de mim?!


- Anda, Mai! Pelo amor de Deus, a Dulce sofreu um acidente e eu estou
quase enfartando aqui também!


Levantei a cabeça no mesmo instante em que a voz feminina agoniada
assustou Chris também e percebi que não era minha imaginação. Havia muitas Dulce’s
por aí, e com essa minha sorte qual a probabilidade de ser eu?! Bom, eu digo: A
probabilidade de essa Dulce estar no mesmo quarto em que eu estava minutos
atrás.


Porque duas mulheres da minha idade chegaram correndo na nossa direção,
a loira de longos cabelos mais à frente e a morena de olhos escuros como a
noite um pouco mais atrás, arfando de cansaço, quando entraram no meu quarto,
sem nem checar se era esse mesmo. E percebi que minha respiração estava presa
de novo.


A visita era para mim!


Ah, meu Deus! Não precisaram soltar meu cachorro pra ele cumprir a
missão impossível e vir me visitar!


Nem pisquei os olhos assustados e ligeiramente vermelhos pelo choro
anterior, antes de levantar e entrar no quarto também, sentindo todos os
segundos me segurarem para me fazerem acreditar que as duas mulheres sairiam
rápido dali, xingando a enfermeira que dera a informação errada e que eu não
era a Dulce que elas procuravam.


Mas engoli essa angústia e senti os olhos se arregalarem mais ainda
quando vi as duas parando ao lado da minha cama, sempre encarando meu corpo
inerte e minha expressão serena nesse coma que me parecia ser tão profundo.
Dane-se! Parece que finalmente alguém havia se dado conta que se importava
comigo! Eu poderia estar à beira da morte encefálica e não daria a mínima!


Pessoas se importavam comigo!


- Meu Deus... – A morena murmurou, com os olhos escuros cheios de
preocupação ao encarar meu verdadeiro corpo adormecido ali. – Quando foi o
acidente de carro?


- Três dias atrás. – A loira respondeu e eu consegui ouvir o bolo em sua
garganta dificultar o som de palavras, mesmo que seu cenho estivesse bem
franzido. Sua raiva desafiava minha serenidade, mas se ela quisesse desligar os
aparelhos eu não me importaria também. A única coisa que me chocava era ouvir
as palavras em alto e bom som que eu havia sofrido um acidente de carro há três
dias.


Eu era um fantasma há três dias. Estava em coma há três dias.


Estava sozinha há três dias...


Senti uma mão apoiada no topo da minha cabeça bem de leve e desviei os
olhos para o Chris ao meu lado, que olhava fixamente a cena que estava fazendo
meus olhos marejarem de novo, o que explicava por que ele fez isso. E eu tentei
sorrir pra ele em agradecimento. Não sei se consegui.


- Droga... Eu ainda estava visitando meus pais. – A morena se ressentiu,
em culpa.


- E eu... estava viajando... – A loira murmurou, cerrando o punho ao
lado da minha verdadeira mão na cama.


Ei, era isso! Elas não haviam recebido o recado até hoje porque não
estavam na cidade! Se elas tivessem recebido, na hora teriam corrido
desesperadas como hoje pra chegar aqui e me dar apoio – Mesmo sem saber que eu
realmente estava aqui ao lado delas. Ou seja, eu não era uma vaca sem coração
que não tinha amigos! Eu não tinha roubado o papagaio da vizinha!


Um meio sorriso se formou em meu rosto.


Era idiota, eu sei, mas só eu sabia como a preocupação de uma única
pessoa era importante pra me fazer acreditar e me dar forças pra sair dessa
loucura. Então dane-se o que pensassem, eu estava bem mais feliz agora.


- Eu não consigo acreditar que ela está nessa cama... – A loira falou,
encarando meu rosto adormecido, indignada. – Ela que deveria estar entrando
nesse quarto pra atender o paciente...


O que? Eu era médica?!


- Mas ela vai ficar bem, Annie.


E eu esqueci minha surpresa com a descoberta assim que meu coração apertou
quando a morena abraçou Annie e pude ver lágrimas deixando os olhos azuis
vívidos dela. Tudo bem, eu não queria que ela se preocupasse a esse ponto
comigo...! Merda... Os malditos vínculos humanos inexplicáveis!


 





Comentem !!




MIH Uckermann XD


 



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Autor(a): mirellauckermann

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 1723



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:52:52



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    Novo leitor...Ameiiii

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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:52:01



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:54



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:47



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:26



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:18



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:06



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:51:00



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:50:50



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  • marcos00 Postado em 17/02/2010 - 15:50:43



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