Fanfic: A Arte Maldita | Tema: Fantasia, inteligência artificial, magia...

Capítulo 00

 “Em brasas”

“A Brasa é o resultado final da combustão de uma substância como a madeira ou o carvão antes de virar cinzas”.

O projetor holográfico ligou automaticamente assim que entrei no quarto, a imagem projetada era de um ponto de interrogação na cor azul neon. Por precaução, tranquei a porta do quarto para que não fosse surpreendida pelos meus pais. Eles pensavam que estava eufórica por ter conseguido autorização para cursar faculdade e por ter recebido o convite para ser membro do Instituto, não queria que eles entrassem sem avisar no meu quarto e me vissem em pânico.

Caminhei até a escrivaninha para pegar o comunicador, que estava ao lado do projetor, e o encaixei na orelha para conversar com meu assistente virtual:

— Você estava certo, recebi o convite para fazer parte do Instituto.

O ponto de interrogação azul se desfez em centenas de ponto brilhantes e meu assistente os lançou no teto reproduzindo a imagem do céu estrelado. Ele havia aprendido que eu gostava daquilo, que a ilusão de estar vendo as estrelas me acalmava.

— Você está certo sobre o resto também, não é? Sobre Valentina estar em risco? Sobre as coisas que o Instituto esconde?

— Queria estar errado. —  respondeu ele com sua voz metálica. — Mas não estou e não posso mentir para você.

—  E o que devo fazer? Chantagear Valentina e jogar o jogo do Instituto? Não acha que esse plano é covarde?! Eu deveria confrontar meus pais e dizer a verdade para Valentina.

— Emy – a voz metálica parecia preocupada. — Você entende que não pode falar com seus pais, não é? Por mais que você queira, você não pode. Por favor, se você quer sobreviver a isso, se quer que Valentina sobreviva, você tem que me ouvir. Eu existo para proteger você.

— Pensei que quando terminasse a escola uma nova fase da minha vida iria começar, que eu iria sair dessa cidade e iria para faculdade... — me joguei sobre a cama quando minha voz começou a falhar, precisei de alguns instantes para conseguir voltar a falar: — Agora, eu só consigo sentir medo, me sinto sozinha.

— Mas estou aqui com você, estou aqui por você. – sussurrou a voz metálica em meu ouvido.

— E o que você é? Uma maldita falha no sistema que me diz que devo odiar meus pais? Que me diz que existe um maldito serial killer atrás da minha melhor amiga? E que meu namorado não me ama?

—  Sou um software de inteligência artificial projetado para auxiliar usuários como você a enfrentarem a vida.  Fui projetado para auxilia-la a tomar as melhores decisões. — O sarcasmo que percebi na voz metálica me fez sorrir e por não querer continuar aquela discussão disse:

— Boa noite, você pode ir dormir agora.

Pelo comunicador escutei meu assistente virtual rir e depois responder:

— É você quem precisa dormir, amanhã você terá um longo dia.

Eu tentei cair no sono, mas o pressentimento de que coisas terríveis estavam prestes a acontecerem, e que não poderia fazer nada para evitar, me atormentava. Então me deixei ficar por muito tempo imóvel na cama enquanto observava o teto estrelado.

O comunicador acoplado na minha orelha, a grossa jaqueta que vestia e as botas que calçava nos pés não me incomodavam. Não queria conforto, apenas queria olhar aquelas estrelas falsas.

Só quando as estrelas começaram a dançar fechei os olhos e mergulhei dentro da escuridão.