Fanfics Brasil - 6 Capítulo ❤ Um Porto Seguro ❤

Fanfic: ❤ Um Porto Seguro ❤ | Tema: Ponny ❤


Capítulo: 6 Capítulo

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6


ENQUANTO ANAHI FAZIA COMPRAS, Alfonso tentava se ocupar, observando-a com o canto do olho. Ele organizou os objetos que estavam sobre o balcão, deu uma olhada no monitor para ver como João Pedro estava, examinou o desenho de Anahi e voltou a organizar as coisas que estavam sobre o balcão, tentando fazer parecer que estava ocupado.


Ela havia mudado nas últimas semanas, com um leve bronzeado típico do início do verão, e sua pele tinha um brilho rejuvenescido. Também parecia menos insegura quando estava perto dele, e o que aconteceu hoje foi um dos melhores exemplos. Não, aquela conversa cintilante não havia despertado qualquer chama entre os dois, mas era um começo, não era?


Mas o começo do quê?


Desde o início, Alfonso sentira que Anahi tinha problemas, e sua resposta instintiva fora querer ajudar. E, é claro, ela era bonita, apesar do corte de cabelo que não combinava com seu rosto e das roupas que não valorizavam seu corpo. Mas fora a maneira como ela confortou Sophia no dia em que João Pedro caiu na água que tocou verdadeiramente seu coração. E mais do que isso, a reação de Sophia às atitudes de Anahi. Ela buscou a proteção de Anahi como uma criança busca o colo da mãe.


Aquilo fez com que sentisse um nó na garganta, lembrando-o de que ele sentia falta de ter uma esposa com a mesma intensidade que seus filhos sentiam falta de ter uma mãe. Alfonso sabia que eles estavam sofrendo, e ele tentava compensar da melhor maneira que podia. Mesmo assim, só percebeu que a tristeza era apenas uma parte daquilo que eles sentiam quando viu Anahi e Sophia juntas. A solidão dos seus filhos era um reflexo da sua.


Ele ficou preocupado por não ter percebido aquilo antes.


Anahi ainda representava um certo mistério para ele. Havia um elemento que faltava, algo que vinha lhe incomodando. Ele a observava, perguntando-se quem ela realmente era e o que a trouxera até Southport.


Ela estava em frente a um dos refrigeradores, algo que nunca havia feito antes, estudando os produtos que estavam atrás da porta de vidro. Anahi tinha uma expressão séria no rosto, como se estivesse debatendo o que comprar. Alfonso percebeu que os dedos da mão direita dela estavam se movimentando ao redor do anular da mão esquerda, dedilhando um anel que não estava ali. O gesto lhe trouxe algo familiar e que havia sido esquecido há bastante tempo.


Era um hábito, um tique que ele percebeu durante os anos em que passou trabalhando no DIC e que às vezes observava em mulheres cujos rostos estavam desfigurados ou tinham hematomas aparentes. Elas costumavam se sentar de frente para ele, compulsivamente tocando sua aliança de casamento, como se fosse algemas que as prendiam aos maridos. Geralmente, elas negavam que os maridos as haviam agredido e, nas raras ocasiões em que admitiam a verdade, insistiam também que não fora culpa deles. Diziam que haviam provocado a raiva dos maridos. Diziam que haviam queimado o jantar, que não haviam lavado as roupas ou que eles haviam bebido. E sempre, sempre, as mesmas mulheres juravam que era a primeira vez que aquilo lhes acontecia e que não queriam prestar queixa porque a carreira dos maridos seria arruinada. Todos sabiam que o exército agia com rigor contra maridos agressivos.


As coisas eram diferentes com algumas delas, pelo menos no começo. Algumas insistiam em prestar queixa. Ele começava a montar seu relatório e as ouvia questionarem por que a burocracia e a papelada eram mais importantes do que prender um homem que batia em sua esposa. Ou mais importante do que fazer cumprir a lei. Ele redigia o relatório assim mesmo e lia para elas suas próprias palavras antes de pedir que assinassem o documento. Às vezes, era naquele momento que elas perdiam a coragem e ele notava a mulher aterrorizada que estava por baixo da superfície enraivecida. Muitas acabavam não assinando o relatório, e mesmo aquelas que o faziam mudavam de opinião rapidamente quando seus maridos eram intimados para serem questionados. Aqueles casos seguiam adiante, independente do que a esposa dissesse. E depois, quando elas não compareciam para testemunhar, poucas punições eram efetivamente cumpridas. Alfonso acabou compreendendo que apenas aquelas que insistiam em manter as queixas em caráter oficial conseguiam realmente se livrar dos abusos, porque a vida que elas levavam era como uma prisão, mesmo que a maioria daquelas mulheres não admitisse.


Ainda assim, havia outra maneira de escapar do horror das suas vidas, embora, durante toda a sua carreira, Alfonso só conhecesse um único caso de uma mulher que chegasse a fazer aquilo. Ele havia entrevistado a mulher uma vez e ela executou a mesma rotina da maioria das outras, negando as agressões e culpando a si mesma pelo que acontecera. Entretanto, cerca de dois meses depois, ele soube que ela havia fugido. Não havia voltado para sua família nem ido para a casa de algum amigo, mas se escondera em alguma outra parte do mundo, um lugar onde nem mesmo seu marido conseguiria encontrá-la. O marido, perdido em meio à fúria que o tinha dominado depois da fuga da esposa, havia explodido após uma noite de bebedeira e agredira um dos guardas da base onde servia, deixando-o coberto de sangue. Ele foi enviado a Leavenworth2, e Alfonso se lembrava de ter sorrido com satisfação quando ouviu o desfecho do caso. E, quando se lembrou da esposa daquele homem, ele sorriu novamente, pensando: “Bem feito”.


Agora, ao observar Anahi dedilhando uma aliança que não estava mais em seu dedo, ele sentiu que seus antigos instintos de investigação voltavam a funcionar. Houve um marido, pensou ele; o marido dela era o elemento que faltava. Talvez ela ainda fosse casada, ou talvez não fosse. Mesmo assim, Alfonso tinha um pressentimento inegável de que Anahi ainda sentia medo dele.


 


*****


 


O CÉU EXPLODIU ENQUANTO ela estava pegando um pacote de biscoitos. Relâmpagos cortaram o céu e alguns segundos depois um trovão ressoou pelos ares, antes de finalmente se reduzir a um ruído baixo e constante. João Pedro veio correndo para dentro da loja antes que a chuva começasse a cair, trazendo sua caixa de iscas e anzóis e a varinha de pesca. Seu rosto estava vermelho e ele estava arfando como um corredor que havia atravessado a linha de chegada.


— Oi, papai.


Alfonso olhou para João Pedro. — Conseguiu pescar alguma coisa?


— Só aquele bagre. O mesmo que eu sempre pesco.


— Vá descansar. Daqui a pouco iremos almoçar.


João Pedro voltou para o depósito e Alfonso o ouviu subindo os degraus para a casa.


Do lado de fora, a chuva começou a cair com força e as rajadas de vento faziam a água bater contra as janelas. Os galhos das árvores se dobravam por causa do vento, curvando-se a uma força superior. O céu escuro reluzia com os relâmpagos e um trovão rugiu no ar, forte o bastante para fazer as janelas tremerem. Do outro lado da loja, Alfonso viu Anahi gemer, com o rosto contorcido em uma expressão de surpresa e terror. Ele imaginou se era daquele jeito que seu marido a via antigamente.


A porta da loja se abriu e um homem entrou correndo, respingando água nas tábuas do piso. Ele agitou as mangas para se livrar da umidade e cumprimentou Alfonso antes de ir em direção à área da chapa e da churrasqueira.


Anahi se virou para a prateleira que tinha os biscoitos. Alfonso não tinha uma variedade muito grande em estoque, apenas os pacotes tradicionais de Ritz e Saltines, os únicos que os clientes compravam regularmente. Ela pegou um pacote de Ritz.


Depois de pegar os produtos que geralmente costumava comprar, os levou à caixa registradora. Quando Alfonso terminou de calcular o valor das compras e de colocá-las nas sacolas plásticas, apontou para a sacola que havia colocado no balcão quando Anahi havia chegado.


— Não esqueça seus legumes.


Ela olhou para o total na caixa registradora. — Tem certeza que está me cobrando o preço certo?


— É claro que tenho.


— O total não é maior do que o que costumo pagar pelas minhas compras.


— Dei um desconto de cortesia, pela apresentação do produto.


Ela fez uma expressão séria, sem saber se acreditava no que ele dizia, até finalmente colocar a mão dentro da sacola. Ela pegou um tomate e o trouxe até o nariz.


— O cheiro é ótimo.


— Eu comi alguns desses ontem à noite. São ótimos com uma pitada de sal e os pepinos não precisam de nenhum condimento.


Ela concordou com a cabeça, mas seu olhar estava fixo na porta. O vento estava jogando a água da chuva contra ela em rajadas furiosas. A porta se abriu com um rangido e a água lutava para entrar na loja. O mundo além do vidro não passava de um borrão.


As pessoas estavam relaxando ao redor da churrasqueira. Alfonso podia ouvi-las resmungando consigo mesmas, falando algo sobre esperar a tempestade passar.


Anahi tomou fôlego e pegou suas sacolas.


— Senhorita Anahi! — gritou Sophia, quase como se estivesse em pânico. Ela se levantou, agitando a folha de papel que havia colorido, já destacada do livro. — Você quase esqueceu seu desenho.


Anahi estendeu a mão para pegar o desenho, abrindo um sorriso enquanto estudava a imagem. Alfonso sentiu-se como — pelo menos por um instante — se todo o resto do mundo não tivesse mais qualquer importância.


— Está lindo. Mal posso esperar para colocá-lo na porta da minha geladeira.


— Vou colorir outro para você levar, da próxima vez que vier aqui.


— Eu adoraria — disse Anahi.


Sophia sorriu antes de voltar a se sentar em sua mesa. Anahi enrolou o desenho, certificando-se de que não o amassaria, e o colocou cuidadosamente na sacola de compras. Raios e trovões voltaram a rugir, quase simultaneamente desta vez. A chuva martelava o chão e o estacionamento parecia um mar de poças. O céu estava mais escuro do que o céu da madrugada.


— Você sabe o quanto essa tempestade vai durar? — perguntou ela.


— Ouvi no noticiário que ela iria durar o dia todo — respondeu Alfonso.


Ela voltou a olhar pelo vidro da porta. Enquanto decidia o que fazer, dedilhou novamente o anel que não estava mais em seu dedo. Em meio ao silêncio, Sophia puxou a camisa de seu pai.


— Você podia levar a senhorita Anahi para casa — disse ela. — Ela não tem carro e está chovendo muito.


Alfonso olhou para Anahi, sabendo que ela ouvira o que Sophia havia dito. — Quer uma carona até sua casa?


Anahi balançou a cabeça. — Não precisa se incomodar, está tudo bem.


— Mas e o seu desenho? Ele vai ficar todo molhado — disse Sophia.


Quando Anahi não respondeu ao argumento da menina, Alfonso saiu de trás da caixa registradora. — Vamos lá — disse ele, fazendo um movimento com a cabeça em direção à porta. — Não há motivos para ficar encharcada. Meu carro está nos fundos.


— Não quero incomodar...


— Não é incômodo algum — disse Alfonso, apalpando o bolso para apanhar as chaves do carro antes de pegar as sacolas de compras de Anahi.


— Deixe que eu as levo — disse ele, levantando-as. — Sophia, meu bem, pode subir e dizer a João que estarei de volta em dez minutos?


— Claro, papai.


— Roger? Dê uma olhada nas crianças e na loja por um momento, por favor.


— Sem problemas — disse ele, com um aceno.


Alfonso apontou para os fundos da loja. — Vamos?


 


*****


 


ELES SAÍRAM EM DISPARADA em direção ao jipe, empunhando guarda-chuvas que se curvavam com a força da ventania e do aguaceiro que teimava em cair. Os relâmpagos continuavam a riscar o céu, iluminando as nuvens. Quando se acomodaram nos assentos, Anahi passou a mão no vidro para desembaçá-lo.


— Não achei que o tempo fosse ficar desse jeito quando saí de casa.


— Ninguém imagina, até que a tempestade começa. Muitas vezes falam que “o céu vai cair” na previsão do tempo, mas quando uma chuva realmente forte cai, as pessoas estão desprevenidas. Se não for tão ruim quanto a televisão previu, nós reclamamos. Se for pior do que esperávamos, nós reclamamos. Se for tão ruim quanto esperávamos, aproveitamos para reclamar, também, porque as previsões geralmente são erradas e não havia como saber que elas estariam certas desta vez. É apenas mais uma razão para que as pessoas reclamem.


— Como aquelas pessoas na área da churrasqueira?


Ele assentiu, abrindo um sorriso. — Mas elas são boas pessoas. Em sua maioria, são trabalhadoras, honestas e gentis. Qualquer um dos que estavam ali poderia cuidar da loja para mim se eu pedisse a eles e tenho certeza de que não faltaria nem um centavo no fechamento do caixa. É assim que as coisas são nessa cidade. No fundo, as pessoas sabem que, em uma cidade pequena como esta, todos precisamos uns dos outros. É ótimo saber disso. E olhe que eu demorei um pouco para me acostumar com a ideia.


— Você não é daqui?


— Não. Minha esposa era. Eu nasci em Spokane. Quando me mudei para cá, me lembro de pensar que nunca conseguiria morar em um lugar como este. Afinal, é uma cidade pequena no sul dos Estados Unidos, um lugar que não se importa com o que o resto do mundo pensa. Demora um pouco para se acostumar. Mesmo assim, depois de um tempo, você começa a sentir um certo carinho pelo lugar. Esta cidade me ajuda a manter minha atenção naquilo que é importante


Anahi perguntou com uma voz suave: — E o que é importante?


Ele deu de ombros. — Depende de cada um, não é mesmo? Mas, neste momento da minha vida, o que importa são meus filhos. Esta cidade é o lar deles, e depois do que eles passaram, eles precisam de estabilidade. Sophia precisa de um lugar para colorir seus desenhos e vestir suas bonecas. João Pedro precisa de um lugar para pescar, e os dois precisam saber que estou por perto sempre que for necessário. Esta cidade e a loja tornam tudo isso possível. E, neste momento, é exatamente o que eu quero. É o que eu preciso.


Ele ficou em silêncio, sentindo-se culpado por ter falado tanto. — Ah, deixe-me perguntar... Para onde exatamente devo ir?


— Continue indo reto e entre em uma estrada de cascalhos. Fica logo depois da curva.


— A estrada de cascalhos que ladeia a fazenda?


Anahi fez que sim com a cabeça. — Essa mesma.


— Nem sabia que aquela estrada levava a algum lugar — disse ele, franzindo a testa. — É uma boa caminhada. Imagino que sejam quase três quilômetros.


— Não é tão ruim assim — retrucou ela.


— Talvez, quando o tempo está bom. Mas em um dia como hoje, você teria que voltar para casa nadando. Não há a menor condição de caminhar nesta chuva. E o desenho de Sophia ficaria arruinado.


Ele notou um rápido sorriso quando mencionou o nome de Sophia, mas Anahi não disse nada.


— Alguém comentou que você trabalha no Ivan’s — disse Alfonso.


Anahi assentiu. — Sim, desde março.


— E o que está achando?


— Não é ruim. É apenas um emprego, mas o dono do restaurante me trata bem.


— Ivan?


— Você o conhece?


— Todos conhecem Ivan. Você sabia que todos os anos, quando chega o outono, ele se veste como um general do exército confederado para celebrar a famosa Batalha de Southport? Quando o general Sherman queimou a cidade? É ótimo ver a encenação dele... Exceto pelo fato de que nunca houve uma Batalha de Southport durante a Guerra Civil. Southport nem tinha esse nome naquela época, o lugar era chamado de Smithville. E Sherman nunca esteve a menos de 150 quilômetros daqui.


— É mesmo? — perguntou Anahi.


— Não me entenda mal. Eu gosto do Ivan, ele é uma ótima pessoa, além de o restaurante ser um dos lugares mais tradicionais da cidade. Kristen e Josh adoram os bolinhos de chuva com canela que eles servem e Ivan sempre nos recebe muito bem quando vamos lá. Mas já me apanhei imaginando qual é a motivação dele. Sua família veio da Rússia, na década de 1950. Ele foi a primeira pessoa da família que nasceu em solo americano. Provavelmente nenhum dos parentes dele chegou a ouvir falar da Guerra Civil. Mas Ivan vai passar, como sempre faz, um final de semana inteiro apontando sua espada e gritando ordens para os soldados, bem no meio da rua, em frente ao tribunal.


— Por que nunca ouvi falar nisso?


— Porque não é algo sobre o qual as pessoas da cidade gostam de falar. É meio... excêntrico, sabe? Até mesmo as pessoas daqui, aquelas que realmente gostam dele, tentam ignorá-lo. Eles verão que Ivan está brandindo sua espada no meio da cidade e vão dar meiavolta, dizendo coisas como “Você percebeu como os crisântemos ao lado do tribunal estão bonitos?”.


Pela primeira vez desde que entrou no carro, Anahi sorriu. — Não sei se acredito em você.


— Não tem problema. Se você estiver por aqui em outubro, vai ver com seus próprios olhos. Mas eu insisto, não me entenda mal. Ele é um bom homem e o restaurante é ótimo. Depois de passarmos o dia na praia, nós quase sempre vamos até lá para comer alguma coisa. Da próxima vez que estivermos lá, vamos perguntar por você.


Ela hesitou. — Tudo bem


— Ela gosta de você — disse Alfonso Sophia.


— Eu também gosto dela. Ela é muito alegre e tem uma personalidade linda.


— Vou dizer isso a ela. Obrigado.


— Quantos anos ela tem?


— Cinco. Quando o outono chegar e ela começar a ir para a escola, eu não sei o que vou fazer. A loja vai ficar muito silenciosa.


— Você vai sentir falta dela — observou Katie.


Alfonso assentiu. — Vou sim, e muito. Eu sei que ela vai gostar de ir à escola, mas gosto de tê-la por perto.


Enquanto ele falava, a chuva continuava a castigar as janelas do carro. O céu se iluminava em meio aos relâmpagos e clarões, como se estivesse iluminado por várias lâmpadas estroboscópicas, acompanhado por um ribombar constante.


Anahi esperou, sabendo que, de algum modo, ela quebraria o silêncio.


— Por quanto tempo você foi casado? — perguntou ela, finalmente


— Cinco anos. E namoramos um ano antes disso. Eu a conheci quando estava na base de Fort Briggs.


— Você serviu no exército?


— Sim, durante 10 anos. Foi uma boa experiência e não me arrependo de ter servido. Ao mesmo tempo em que não me arrependo de ter me desligado das forças armadas.


Anahi apontou para a beira da estrada. — A entrada para minha rua fica logo adiante — disse ela.


Alfonso entrou na ruela e diminuiu a velocidade. O leito de cascalhos da rua ficou encharcado durante a tempestade e a água respingava até a altura do para-brisa. Enquanto ele se concentrava em guiar o carro em meio às imensas poças que haviam se formado, Alfonso percebeu, repentinamente, que aquela era a primeira vez que ele estava sozinho em um carro com uma mulher ao seu lado desde que sua esposa havia morrido.


— Em qual delas você mora? — perguntou ele, apertando os olhos para enxergar o contorno das duas cabanas.


— A da direita — disse ela


Ele estacionou o mais próximo da entrada da casa que conseguiu.


— Vou levar suas compras até a porta.


— Você não precisa fazer isso.


— Ah, você não sabe como meus pais me criaram — disse ele, saindo do carro antes que ela pudesse reclamar. Alfonso pegou as sacolas e correu para a varanda. Quando ele as deixou no chão e começou a agitar os braços para se secar, Anahi estava correndo em sua direção, segurando com firmeza o guarda-chuva que ele havia lhe emprestado.


— Obrigada — disse ela em voz alta, tentando suplantar o barulho da tempestade.


Quando ela lhe devolveu o guarda-chuva, ele balançou a cabeça negativamente. — Fique com ele por algum tempo. Ou para sempre.


Não tem importância. Você caminha bastante, então vai precisar dele.


— Eu posso pagar por ele... — começou ela.


— Não se preocupe.


— Mas é um produto da loja.


— Como eu disse, não se preocupe com isso. Mas, se você não acha correto, traga o dinheiro da próxima vez que for à loja.


— Poncho, eu estou falando sério e...


Ele não a deixou terminar de falar. — Você é uma boa cliente e eu gosto de ajudar meus clientes.


Ela demorou um momento para responder. — Obrigada — disse ela finalmente. Seus olhos, que agora haviam assumido um tom verde-escuro, estavam fixos nos dele. — E obrigada por me trazer até em casa também.


Ele abriu um sorriso. — Sempre que precisar.


 


*****


 


O QUE FAZER COM AS CRIANÇAS. Aquela era a pergunta recorrente e impossível de responder, que ele precisava enfrentar a cada fim de semana; como de costume, não tinha a menor ideia do que fazer com os filhos naquele fim de semana.


Com a tempestade caindo furiosamente, sem qualquer sinal de que fosse perder a força, qualquer atividade ao ar livre estava fora de questão. Ele poderia levá-los ao cinema, mas não havia nenhum filme em cartaz que pudesse interessar a ambos. Alfonso poderia simplesmente deixá-los se divertirem sozinhos por algum tempo. Sabia que muitos pais faziam aquilo. No entanto, seus filhos ainda eram pequenos, jovens demais para serem deixados totalmente sozinhos.Além disso, eles já ficavam sozinhos por um bom tempo, improvisando maneiras de se entreter, porque Alfonso precisava passar várias horas por dias cuidando da loja. Ele ponderava as opções que tinha enquanto fazia sanduíches de queijo quente, mas logo percebeu que sua mente insistia em pensar em Anahi.Embora ela estivesse obviamente se esforçando para passar despercebida, ele sabia que aquilo era algo quase impossível em uma cidade como Southport. Ela era bonita demais para se misturar com as pessoas dali, e quando as pessoas percebessem que ela não tinha carro e que sempre ia a pé para qualquer lugar que precisasse, seria inevitável que começassem a falar sobre isso. E perguntas sobre seu passado não tardariam a surgir.


Ele não queria que isso acontecesse. Não por razões egoístas, mas porque ela tinha o direito de levar a vida do jeito que quisesse, especialmente por ter sido esse o motivo que a trouxera a Southport. Uma vida normal, de prazeres simples. O tipo de vida que a maior parte das pessoas nem percebia que existia: poder ir a qualquer lugar que ela quisesse, a qualquer hora e morar em uma casa onde ela se sentisse segura. Mas ela também precisava de um meio de transporte.


— Ei, crianças — disse ele, colocando os sanduíches em dois pratos. — Tive uma ideia. Vamos fazer algo para a senhorita Anahi.


— Vamos! — concordou Sophia.


João, sempre tranquilo, concordou com um movimento de cabeça.


 


 



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Autor(a): Elly_Belly

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 2



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  • izabelaSpaniColungaPortillaHer Postado em 26/02/2016 - 19:03:25

    oi, postaaaaaaaaa mais!

  • francielle_oliveira Postado em 22/02/2016 - 15:35:33

    olá posta mais!


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