Fanfic: Noite de Prazer | Tema: gn
Assim que abriu os olhos na manhã seguinte, Giovanna viu o espaço vazio ao seu lado na cama. Instintivamente, soube que Alexandre fora embora e que ela estava sozinha na suíte do hotel que ele reservara para uma noite inesquecível. Enterrou o rosto no travesseiro, atormentada pela sensação de vazio e perda.
Agora, havia sido Alexandre quem saíra sem despedir-se. Ela merecia isso, considerando que fizera a mesma coisa antes. Depois da declaração apaixonada dele e da falta de uma res_posta definitiva dela, com certeza Alexandre preferira poupá-los de uma cena desagradável logo cedo.
Giovanna relembrou as palavras dele no momento em que estava dentro do corpo dela. O coração batia forte e os olhos de Alexandre eram só honestidade e sinceridade ao confessar seu amor:
Eu a amo, Giovanna. Quero um relacionamento verdadeiro com você, quero construir uma vida e um futuro com você. Assim como a fantasia desta noite, a escolha é sua.
Sentiu um nó na garganta e abraçou o travesseiro de Alexandre. Estava confusa, cheia de conflitos, indecisa, dividida em várias direções. A fragrância masculina ainda impregnada na fronha invadia-lhe os sentidos, a alma, lembrando-a de tudo que per_dera... um futuro sólido e seguro com Alexandre Nero.
O homem por quem se apaixonara profunda e irremedia_velmente.
Uma batida leve na porta da suíte assustou-a. Pulou da cama e vestiu o roupão do hotel. Apertando o cinto, ela correu até a porta, esperando que fosse Alexandre.
Espiou pelo olho mágico e viu a camareira. Só então deu-se por conta do horário. Outra batida. Se Giovanna não respondesse, a empregada abriria a porta, entraria na suíte e ficaria chocada ao encontrá-la ali.
— Sim?
— É a camareira. Posso arrumar o quarto?
— Sairei dentro de alguns minutos — Giovanna respondeu.
— Tudo bem. Voltarei mais tarde.
Pelo olho mágico, Giovanna viu a camareira ir para o outro quar_to. Encostou a fronte na porta e respirou fundo. Precisava sair dali e voltar à privacidade de seu apartamento. Seria uma a tarefa difícil com os empregados circulando pelos andares.
Decidiu resolver uma coisa por vez. Voltou ao quarto, ves_tiu-se e eliminou todos os vestígios de sua noite com Alexandre. Recolheu as tiras de veludo preto e considerou a possibilidade de levar a garrafa de champanhe vazia para guardar como lem_brança. Mas não queria atrair a atenção de ninguém ao atra_vessar o saguão do hotel rumo à área de acesso particular que a levaria ao seu apartamento.
Ajeitou os cabelos com os dedos e abriu a porta da suíte. Após certificar-se de que o caminho estava livre, saiu rapida_mente. Naquele exato momento, porém, a camareira abriu a porta do quarto em frente. Ao vê-la, a mulher arregalou os olhos de surpresa, e Giovanna teve um minuto de pânico, antes de recompor-se. Decidiu enfrentar a situação com toda calma e casualidade, como se ela tivesse passado o final de semana na suíte 1.483, no 14° andar.
Giovanna leu o nome da camareira no crachá e sorriu como se não tivesse nada com que se preocupar.
— Bom dia, Nancy.
A mulher inclinou a cabeça levemente e viu as fitas de veludo que Giovanna segurava. Depois, fitou-a com expressão intrigada.
— Bom dia, sita. St. Antonelli.
Giovanna enrubesceu, mas não podia fazer nada para disfarçar.
— Tenha um bom dia, Nancy.
— A senhorita também.
Giovanna atravessou o longo corredor até o hall dos elevadores, nos lábios dançava um leve sorriso. Ser surpreendida não fora tão mortificante quanto imaginara. Na verdade, sentia-se até mais livre, mais liberada, sem aquele estresse de ficar pensando nas conseqüências ou nos prováveis prejuízos a sua reputação e ao nome da família St. Antonelli. Ela era uma mulher adulta, independente, e não devia se preocupar tanto com a opinião dos outros.
Repetindo silenciosamente essas palavras, entrou no eleva_dor. O ascensorista também mostrou-se surpreso ao vê-la no elevador social em plena manhã de domingo. Seu vestido es_tava amassado; a maquiagem, sem dúvida, borrada, e os cabe_los, em desalinho pela noite de amor com Alexandre.
Giovanna atraiu mais olhares curiosos ao atravessar o saguão, desde os recepcionistas no balcão até o gerente do hotel, mas não se importou. Ela realmente não se importou! Sentia-se livre como nunca se sentira antes.
Entrou no elevador privativo e subiu para a cobertura. Ao entrar no apartamento, parou abruptamente. Era como se, de repente, a realidade e o futuro que escolhera se materializassem a sua frente para sacudi-la pelos ombros. Jogou as tiras de veludo numa poltrona e olhou para as caixas com seus objetos pessoais empilhadas junto à parede, esperando para serem des_pachadas para San Francisco, na semana seguinte.
Giovanna suspirou. Era o que realmente queria? A pergunta pi_pocava em sua mente, exigindo uma resposta. Antes de conhe_cer Alexandre, ambicionava uma nova vida de liberdade e inde_pendência, morando e trabalhando em San Francisco. Agora, porém, já não tinha tanta certeza se era isso mesmo que queria.
As dúvidas que tanto a atormentavam estavam muito claras e vibrantes em sua mente, e Giovanna não podia mais ignorá-las. Nem mesmo a voz da consciência ficou calada, a mesma voz que repetia incansavelmente que ela estava usando San Fran_cisco como um pretexto para fugir dos problemas em vez de enfrentar seus temores e inseguranças.
Acreditara que, mudando para outra cidade, o passado de_sapareceria como num passe de mágica, dando lugar a uma nova vida sem sombras e sem culpas. Não haveria mais con_venções e nem expectativas familiares, ninguém interferiria mais em suas decisões, só porque ela estava longe de casa e sozinha.
Mas quando fora mesmo a última vez que seus pais inter_feriram era sua vida? A constatação atingiu-a como um golpe no estômago. Estivera tão empenhada em agradar aos pais, em ser uma boa filha e fazer tudo o que podia para consertar o incidente com Greg que, inconscientemente, ela mesma se so_brecarregara com todas as exigências e expectativas. Acredi_tava que era isso o que os pais esperavam dela.
Como todos os pais do mundo, sua mãe e seu pai queriam apenas o melhor para a filha. E nunca lhe pediram para sacri_ficar a própria felicidade em favor do que eles queriam. Nunca. Ao contrário. Mesmo não concordando com as decisões dela, sobretudo a mudança para San Francisco, eles sempre apoia_ram suas escolhas e sempre a amaram, independente de qual_quer coisa.
Agora, Giovanna precisava acreditar que eles entenderiam a nova direção que daria à sua vida e ao seu futuro. Ela queria amor, um amor verdadeiro, com romance, intimidade e muita emo_ção. O tipo de amor eterno que transcendia o dinheiro, o status, a classe social. Um relacionamento sólido com um homem que não se impressionasse com o nome St. Antonelli e com as vanta_gens que teria casando-se com uma das herdeiras St. Antonelli.
Giovanna sabia, sem pestanejar, que encontrara tudo isso em Alexandre Nero.
O episódio com Greg tornara-a cautelosa e com medo de confiar nos homens e em suas próprias emoções. Como resul_tado, escondera tudo de Alexandre, enquanto ele se abrira e parti_lhara tudo com ela... seus sentimentos, sua família, suas espe_ranças e sonhos para o futuro. Giovanna vivera tão concentrada nas próprias inseguranças, no que ela queria e em suas necessida_des que perdera de vista o que ele queria dela em retorno.
Antes de ser honesta com Alexandre, teria de ser honesta com si mesma. Isso significava resolver pendências que a impediam de apresentar-se a Alexandre como ele merecia: uma mulher sem segredos ou culpas. Precisava enfrentar James e acabar com sua tentativa de chantagem. Conversaria também com Evan para informá-lo de que mudara de idéia a respeito de San Fran_cisco. Não omitiria o motivo.
Estava apaixonada e escolhera Alexandre.
Giovanna dirigiu-se ao endereço que constava da ficha de admis_são de James. Era um prédio de apartamentos numa área pobre da cidade. Ficou surpresa, sobretudo porque James recebia um salário decente, complementado pelas altas comissões sobre suas vendas mensais. Ele tinha condições de morar num lugar melhor. Com certeza, enfrentava graves problemas financeiros, o que explicava, mas não justificava, o furto das jóias.
Encontrou o número do apartamento e bateu na porta. Estava nervosa, mas aquele era um assunto que devia ser resolvido logo, por ela e pelo futuro que queria com Alexandre.
Bateu novamente, antes de James abrir. Um brilho de sur_presa passou pelos olhos dele, que logo se recompôs.
— O que você quer?
O tom de voz era beligerante, bem diferente daquela do funcionário gentil e agradável que encantava as clientes da boutique. Também pela aparência, não lembrava em nada o ho_mem que ela contratara meses antes. Estava com roupas desa_linhadas, barba crescida e olheiras, e parecia bem mais magro do que a última vez que o vira. Apesar de tudo, Giovanna não pôde evitar um sentimento de pena pela mudança drástica.
Não que isso tivesse importância para o motivo de se en_contrar ali.
— Acho que você sabe o que eu quero — disse ela, orgu_lhosa do tom determinado de sua voz. — Posso entrar?
James cruzou os braços.
— Não.
— Você prefere conversar aqui mesmo no corredor, onde seus vizinhos poderão ouvir? — Giovanna perguntou num tom mais autoritário.
— Eu prefiro não conversar. — Ele recuou e tentou fechar a porta.
Giovanna colocou a mão na porta, impedindo-o de fechá-la to_talmente, e encostou o cano da bota no batente. Pela pequena abertura, os olhares se encontraram.
— Será pior para você, James. Se não conversar comigo, terá de conversar com o delegado. Se a polícia vier aqui, tenho certeza de que você será preso por furto. Devo lembrá-lo de que roubou jóias da butique e que nos deve dinheiro.
James contraiu os maxilares e seu rosto ficou rubro de raiva. Giovanna percebeu que ele estava fraquejando, e ela se aproveitou disso.
— Você ignorou os meus telefonemas, mas eu não desisti. Tudo o que quero é conversar, James.
Seguiu-se um longo silêncio e, finalmente, ele abriu a porta. Giovanna respirou fundo e entrou.
— Se você veio buscar o dinheiro, esqueça. Eu não tenho — James foi logo avisando.
— Você tem uma semana para consegui-lo.
— Ou o quê? — ele a desafiou.
— Ou daremos queixa por furto.
— Você dá queixa e eu revelo informações interessantes a seu respeito.
Céus, ele sabia mesmo! Giovanna sentiu um aperto no peito, mas não se intimidou. Estava ali para isso. Para James saber que não cederia às chantagens dele, independente das informações que dizia ter sobre ela.
Giovanna recusava-se a ser usada novamente.
— O que você acha que sabe a meu respeito que possa valer os dólares que nos deve?
— Tudo sobre o seu caso secreto com Alexandre Nero. Ela o fitou com incredulidade.
— O que você sabe sobre isso?
— Mais do que imagina. Tudo começou na noite em que você foi ao Nick's Sports Bar e descaradamente abordou Alexandre e saiu do bar com ele. — James sorriu com sarcasmo. — Veja você, naquela noite eu estava lá com um amigo, que também trabalha no St. Antonelli Hotel, e admito que foi um choque vê-la saindo com um desconhecido.
Estarrecida, Giovanna não conseguiu falar nada.
— Então, as coisas ficaram bem mais interessantes — James prosseguiu, todo convencido. — Depois que você me demitiu, meu amigo me contou que o seu amante estava trabalhando na reforma do hotel. Foi muito bom ter alguém lá de dentro mes_mo, informando-me de todos os lances desse seu romance ilí_cito, apenas para o caso de eu precisar de uma forcinha. — James aproximou-se de uma mesa e examinou uma pilha de cartas e papéis, até separar um envelope pardo. De dentro dele, tirou algumas fotografias e entregou-as a Giovanna. — Como você mesma pode comprovar, tenho tudo muito bem documentado.
Relutante, Giovanna olhou as fotografias, em sua maioria tiradas de longe. Algumas eram do dia que Alexandre entrara na butique para conversar com ela; outras, dos dois no carro de Giovanna, nas noites que haviam saído juntos; e outra registrando o abraço apaixonado num estacionamento. Havia outras fotografias, mas ela já vira o suficiente.
— Ontem, recebi um telefonema do meu amigo, e ele me contou que você e Alexandre passaram a noite numa suíte do hotel
Seu pai sabe que você está transando com um trabalhador braçal?
Giovanna comprimiu os lábios, reconhecendo que, mais uma vez, seus pais seriam atingidos. Embora as fotografias não revelas_sem nada de anormal ou indecente, como as que Greg batera anos antes, não deixavam de ser uma prova de que ela estava tendo um caso secreto com Alexandre Nero.
Giovanna respirou fundo, obrigando-se a não perder a calma. Pensando no forte sentimento que nutria por Alexandre, tomou uma decisão. Alexandre dava-lhe forças para enfrentar o problema com coragem, sem medo.
— Faça o que você quiser com essas fotografias. Eu não vou me render às suas ameaças.
A indiferença de Giovanna pegou-o de surpresa.
— Então, você pode chamar a polícia. Preso ou não, eu não tenho todo aquele dinheiro.
Ela jogou de lado as fotografias. Ainda queria conversar com James, tentar entrar num acordo.
— Então, entregue-me alguma coisa como pagamento. Por uma questão de honra, digamos.
— Não tenho nada — disse ele com os dentes cerrados, num tom de frustração e raiva.
Giovanna fitou-o. James era um homem atormentado por alguma coisa mais além da dívida.
— O que está acontecendo, James? Você está encrencado?
— Por que quer saber?
— Eu estou vendo um homem muito diferente daquele que trabalhou para mim. E começo a me perguntar se você não roubou aquelas mercadorias levado pelo desespero.
Foi apenas um palpite, mas Giovanna logo percebeu que acertara no alvo.
— Sim, estou desesperado! — ele esbravejou. — Estou de_sesperado para ajudar minha irmã para que ela tenha a chance de levar uma vida normal!
— Como assim?
— Esqueça. — James suspirou e tentou afastar-se, mas Giovanna o segurou pelo braço.
— Não, não vou esquecer. O que há de errado com sua irmã?
— Vou lhe mostrar. — Ele pegou dois porta-retratos que se encontravam na mesa de canto. — Isto é Carrie, minha irmã. — James mostrou a fotografia de uma jovem bonita, sorridente, parecendo feliz. Em seguida ele exibiu a outra foto da mesma garota, agora vestindo camisola de hospital, sentada numa ca_deira de rodas, com uma das pernas enfaixada.
A tristeza e o desânimo nos olhos da moça emocionaram Giovanna.
— O que aconteceu?
— Ela sofreu um acidente de carro e a perna esquerda foi praticamente destroçada, quase impossível de ser reparada.
— Oh, meu Deus!
— Carrie só tem dezoito anos, nossos pais já morreram e só temos um ao outro. — A raiva de James amenizara-se pelo amor à irmã. — Infelizmente, ela não tem convênio médico e cada centavo que eu tenho é para pagar as contas médicas e para tentar juntar dinheiro suficiente para garantir a fisiotera_pia. É o que fará a diferença entre Carrie andar de novo sozinha ou ficar presa às muletas ou a um bengala pelo resto da vida.
— Oh, James, por que você não me contou antes? Ele forçou um sorriso.
— Porque isso não muda o fato de eu ter roubado as jóias da butique, ou que devo mais dinheiro do que alguém possa imaginar. Além disso, eu não quero a sua piedade.
— E a minha compaixão? Você acha que eu não entenderia? Talvez nós dois juntos poderíamos encontrar uma solução. Um empréstimo ou uma doação para ajudar sua irmã.
James lançou-lhe um olhar cético.
— Não estou acostumado com tanta preocupação. Giovanna contemplou-o com um sorriso suave.
— Você nunca me deu chance.
Ele puxou pela respiração e depois fitou-a com um brilho de esperança nos olhos.
— Você me daria uma chance agora?
Giovanna podia imaginar como estava sendo difícil para o orgu_lho de James pedir-lhe ajuda, e ela se dispunha a dar-lhe a segunda chance. Sem hesitar, concordou.
— Sim, eu daria. Ele suspirou aliviado.
— Então, eu agradecerei o que puder fazer por mim e por Carrie.
Giovanna começaria oferecendo-lhe o emprego de volta.
— O que acha de voltar a trabalhar na butique? Você passará por um novo período de experiência, claro.
— Você faria isso por mim? — James perguntou, atônito com a generosidade e o perdão de Giovanna.
Ela riu.
— Já fiz. Agora, é pegar ou largar.
— Eu aceito. Obrigado.
— E quanto a sua irmã, diga-lhe que ela terá todo o trata_mento de fisioterapia que for preciso até a perna ficar comple_tamente curada. E tenho certeza de que isso acontecerá muito em breve. Não lhe faltará nada.
Os olhos de James encheram-se de lágrimas, e Giovanna podia imaginar seu alívio por ter resolvido os problemas médicos da irmã.
— Giovanna... obrigado. — A gratidão dele era sincera, como o era seu pedido de desculpas. — Sinto muito por tudo.
— O medo e o desespero podem levar as pessoas a come_terem loucuras. — Giovanna foi até a porta e abriu-a. Antes de sair, voltou-se para James. — Ah, diga ao seu amigo do hotel que as informações dele e as fotos não valem um tostão furado. — Ela sorriu. — Se depender de mim, o meu relacionamento com Alexandre se tornará público muito em breve.
Giovanna andava nervosamente pelo escritório da butique. Olhou para o relógio. Fazia quinze minutos que deixara uma mensa_gem de voz no celular de Evan, pedindo-lhe para ir até o es_critório dela com urgência. Cada minuto que passava parecia uma eternidade, e Giovanna queria acabar logo com aquela conver_sa. Depois, iria à procura de Alexandre para falar com ele também.
O expediente da segunda-feira estava quase terminando, e Giovanna vira a caminhonete de Alexandre estacionada na área reservada para a empresa Nolan & Filhos. Mas não o vira desde que ela voltara da casa de James.
Mais cinco minutos se passaram antes de Evan finalmente chegar.
— Desculpe a demora — ele disse, entrando no escritório de Giovanna. — Eu estava falando com seu pai.
Ela sorriu.
— Parece que ele tem passado muito mais tempo aqui no hotel, não é mesmo?
Evan encolheu os ombros, evitando o olhar dela.
— Ele gosta de acompanhar o serviço de reforma e descobrir outras reformas que pretende fazer no hotel.
A resposta foi simples e convincente, mas alguma coisa nos modos de Evan deixou-a curiosa sobre o assunto que ele e o pai dela tinham discutido. Evan estava estranhamente distraído.
Por fim, ele a encarou com a postura do executivo que Giovanna conhecia bem.
— O que aconteceu, Giovanna?
— Eu quero conversar com você sobre alguns assuntos. Evan colocou as mãos nos bolsos da calça.
— Está tudo bem?
— Sim. — Melhor do quer nunca, Giovanna pensou, mas não falou. — Eu tomei algumas decisões e, como presidente da companhia, quero que você seja o primeiro a saber, e por mim mesma.
— Certo.
Giovanna sentou-se de lado na beirada da mesa.
— Fui até a casa de James esta manhã.
Evan ergueu as sobrancelhas.
— Você não deveria ter ido sozinha.
— Eu sei. Mas fui.
— Como foram as coisas por lá?
— Não como eu esperava. — Giovanna contou toda a conversa com James. Os motivos que o levaram a furtar as jóias, sua dificuldade para pagar a dívida e as condições físicas da irmã dele. Depois de relatar tudo, ela fez uma breve pausa, prepa_rando-se para a reação de Evan. — Eu dei a James seu emprego de volta.
— Você fez o quê?
— Eu dei a James... — Giovanna começou com firmeza, mas Evan a interrompeu:
— Não! De jeito nenhum! Eu não acredito que você tenha feito uma loucura dessas! — Ele balançou a cabeça num gesto de incredulidade. — Ora, Giovanna, apesar dos problemas que Ja_mes causou, você ainda se arrisca a readmiti-lo?
Evan reprovava sua generosidade, porém Giovanna confiava em James, e ela não voltaria atrás em sua decisão.
— Eu descobri que vale a pena correr alguns riscos, Evan. James é um bom rapaz que cometeu um erro por desespero e merece uma segunda chance. Vou cuidar pessoalmente das contas hospitalares da irmã dele e assumo total responsabili_dade pela volta de James à butique. Se acontecer alguma coisa, ele terá de se entender comigo.
Evan não parecia convencido.
— Como pretende ficar de olho nele quando você não esti_ver mais aqui?
A pergunta puxou outro assunto que Giovanna teria de esclarecer.
— Eu continuarei aqui em Chicago, supervisionando a bu_tique. Não vou mais para San Francisco.
Evan abriu a boca e tornou a fechá-la. Sentou-se na cadeira atrás dele e fitou-a, visivelmente preocupado.
— Você está se sentindo bem, Giovanna? Ela riu.
— Nunca estive melhor.
— Acho que devo acreditar em você — ele resmungou ainda incrédulo. — Posso perguntar por que desistiu de se mudar para San Francisco?
— Eu ia fazer essa mudança por todas as razões erradas.
— Eu sempre soube disso. Giovanna ergueu as sobrancelhas.
— É mesmo?
— Nunca acreditei que a sua decisão de transferir-se para San Francisco fosse por motivos profissionais, mas sim por problemas pessoais. — A expressão dele revelava seu lado mais sério. — Sei que estes últimos anos têm sido muito difí_ceis para você em muitos sentidos, e cheguei mesmo a pensar que, talvez, uma das razões para querer mudar de cidade seria o nosso relacionamento que não deu certo.
Evan era mais perceptivo do que ela imaginara.
— Essa era uma das razões — Giovanna admitiu, querendo ser honesta com ele. — Sei que meus pais gostam muito de você e que ficaram decepcionados quando terminamos o namoro. Mas a verdade é que eu não o amo.
— Eu sei, embora seja difícil de aceitar. Você não pode viver sua vida por ninguém, só por você mesma.
Evan a conhecia realmente muito bem.
— Você entendeu — ela murmurou.
— Claro que entendi. — Ele se levantou, pegou as mãos dela e apertou-as afetuosamente. — Eu gosto de você, Giovanna, e quero que seja muito feliz.
— Eu estou feliz. Muito feliz.
Soltando-lhe as mãos, Evan inclinou levemente a cabeça.
— Sua felicidade tem a ver com Alexandre Nero? Giovanna arregalou os olhos de surpresa.
— Você sabia?
— Foi apenas um palpite. — Ele riu. — Pressenti que havia alguma coisa entre vocês. Percebi o modo como vocês se olham quando pensam que ninguém está observando. Você está apai_xonada por ele, não está?
— Estou.
— Então, vou lhe contar uma coisa. Neste momento, seu pai está conversando com Alexandre no meu escritório. Chegou aos ouvidos do gerente do hotel um comentário de que' você foi vista saindo da suíte 1.483 ontem de manhã, e que a reserva estava em nome de Alexandre Nero. Bem, o gerente falou comigo e eu decidi contar a seu pai antes que ele soubesse por outras pessoas.
Giovanna encolheu-se.
— E...
— Bem, seu pai, logicamente, ficou muito preocupado com as intenções de Alexandre em relação a você e decidiu conversar com ele e descobrir o que está acontecendo entre vocês.
— Oh, não! — Ela imaginava Alexandre sendo submetido a um interrogatório por seu pai. Charles St. Antonelli sabia ser intran_sigente quando o assunto envolvia suas filhas. Giovanna temia tam_bém que aquela conversa pudesse prejudicar a relação de tra_balho entre Alexandre e o pai dela e futuros negócios com a Nolan & Filhos.
Giovanna olhou para Evan.
— Preciso ir.
— Sim, você precisa. — Ele se inclinou e beijou-a de leve no rosto. — Alexandre é um bom rapaz, Giovanna, e tem muita sorte por havê-la conquistado. Desejo tudo de bom para vocês.
— Se ele sobreviver a meu pai.
— Não se preocupe — disse Evan, rindo. — Vocês dois sobreviverão.
Alexandre foi chamado para uma reunião com Charles St. Antonelli. Pela expressão dele, Alexandre logo percebeu que o assunto era sério.
— Algum problema com o nosso trabalho? — ele perguntou.
— O trabalho está ótimo. — Sentado na cadeira de Evan, Charles cruzou as mãos na superfície da mesa e encarou Alexandre. — Vou direto ao assunto. O que está acontecendo entre você e minha filha?
Alexandre olhou-o estupefato. Ele não tinha a menor idéia do que o homem sabia sobre o seu relacionamento com Giovanna. Ou a quê, exatamente, estava se referindo. Decidiu ser cauteloso.
— Não entendi muito bem o que o senhor está querendo dizer.
— Ora, não se faça de bobo comigo, Alexandre — Charles res_pondeu num tom grave e áspero. — Descobri que você passou a noite com ela numa das suítes do hotel. O que eu quero saber é se foi de comum acordo.
Alexandre ofendeu-se. Como Charles St. Antonelli podia insinuar que ele seria capaz de magoar Giovanna de alguma forma? Mas logo se lembrou de que Greg não agira de comum acordo ao tirar as fotografias de Giovanna e compreendeu a atitude protetora de Charles.
Alexandre também compreendeu que não poderia mentir para aquele homem, mesmo que isso prejudicasse os negócios entre a Nolan & Filhos e o hotel. Giovanna significava muito mais para ele.
— Sim, foi de comum acordo. Giovanna e eu estamos nos en_contrando há um mês. — Depois, ele pigarreou e decidiu ir fundo. — Estou apaixonado pela sua filha, senhor.
Embora um tanto atônito com a confissão, Charles não se exaltou como Alexandre temia.
— Bem, essa notícia é totalmente inesperada, mas muito bem-vinda. Eu não tinha a menor idéia de que vocês estavam envolvidos, e não entendo por que Giovanna guardou esse segredo de mim e da mãe dela. Tenho observado você nestas últimas semanas por conta da reforma do hotel e posso dizer que você merece minha filha. E mais, meu rapaz, você tem a minha permissão para continuar a vê-la.
Vindo de Charles St. Antonelli, um homem que Alexandre aprendera a respeitar, o cumprimento e a aprovação tinham um signifi_cado todo especial.
— Obrigado. Eu agradeço a confiança, mas não creio que continuaremos o namoro depois que Giovanna se mudar para San Francisco.
— Ela não está apaixonada por você? A porta foi aberta e Giovanna entrou intempestivamente na sala, a tempo de ouvir a pergunta do pai. Alexandre achava que cabia a ela responder, não a ele. E estava curioso para ouvir o que Giovanna tinha a dizer.
Ela olhou para o pai e depois para Alexandre.
— Estou muito apaixonada por você, sim. Alexandre captou a verdade da declaração na voz dela, viu a emoção brilhando nos olhos verdes. Sentia-se o homem mais feliz do mundo, mesmo sem saber o que isso significava em relação ao futuro deles.
—Você deveria ter contado para mim e sua mãe que está namorando esse rapaz. — Aparentemente, Charles não se opu_nha à união deles. Pelo contrário, parecia até bem contente.
— Desculpe, papai. Prometo explicar tudo mais tarde, mas agora eu gostaria de conversar a sós com Alexandre.
Charles entendeu e levantou-se.
— Tudo bem. Já estou indo.
— Não, papai. Você fica. — Giovanna pegou na mão de Alexandre. — Nós saímos.
Ela levou-o direto para o elevador. Assim que as portas se fecharam, Giovanna o enlaçou pelo pescoço e o beijou apaixona_damente. Segundos depois, o elevador chegava à cobertura. As portas se abriram, mas Alexandre a impediu de descer. Quando as portas se fecharam de novo, ele avisou:
— Não vamos a lugar nenhum enquanto você não me contar o que está acontecendo.
Giovanna sorriu, um sorriso bonito, radiante, cheio de confiança.
— Eu tinha algumas pendências para resolver antes de dar o próximo passo com você. E somente na manhã de domingo, depois de passarmos a noite juntos, foi que as coisas se encai_xaram na minha cabeça.
— O quê, por exemplo?
— Passei estes anos todos sendo prática, conservadora, esforçando-me para ser uma filha responsável porque eu tinha medo de correr riscos, sobretudo com os homens. Tudo porque me enganei com Greg. Mas na noite em que o conheci no Nick' s, tudo mudou. Você me fez sentir ousada, aventureira e viva. E desde então venho lutando contra os meus sentimentos por você.
No elevador fechado, Alexandre permanecia em silêncio, ouvin_do, esperando Giovanna continuar sua confissão.
— Mas em algum momento, os meus sentimentos, de tão fortes, começaram a me assustar. Você foi o único homem que viu minhas inseguranças e me entendeu como ninguém, sem me julgar pelos meus erros ou pelo meu modo de vida. Você é forte como uma rocha, confiável e sensual. — Ela pousou a mão no peito dele e sentiu as batidas aceleradas do coração.
— Giovanna...
— Espere. Eu ainda não terminei. — Ela respirou fundo e continuou: — Eu tenho sido muito egoísta, enquanto você ar_riscou tudo por mim. Como hoje, com meu pai. Você foi ho_nesto a nosso respeito, mesmo sabendo que isso poderia lhe custar muito, pessoal e profissionalmente.
Alexandre encolheu os ombros.
— Ele merecia saber a verdade.
— Tem razão. Não foi justo meu pai descobrir tudo por intermédio do gerente do hotel. Eu deveria ter tido a coragem de lhe contar sobre nós há muito tempo, e peço desculpas por isso.
— Seus pais esperam uma explicação.
— Eu sei, e nós dois juntos explicaremos tudo. — Roçando os lábios nos dele, ela murmurou: — Eu o amo, Alexandre Nero. Muito mais do que julgava possível.
Alexandre pressionou um botão no painel e as portas do elevador se abriram de novo.
— Você vai entrar agora? — Giovanna perguntou ansiosamente. Ele assentiu com um gesto de cabeça e seguiu-a pelo hall até a sala de visitas. Viu as caixas empilhadas, prontas para a mudança de Giovanna, e seu coração se apertou. Mesmo depois de dizer que o amava, ela não mencionara se pretendia continuar em Chicago.
— Parece que você está pronta para ir embora — Alexandre co_mentou no tom mais impessoal possível.
— Estou.
Ele tentou não demonstrar sua decepção, mesmo sentindo um nó na garganta.
— Você está mesmo decidida?
— Decididíssima! Mas não para San Francisco.
— Para onde, então? Nova York? — Alexandre arriscou. Afinal, havia um St. Antonelli Hotel naquela cidade.
— Não. Estou saindo deste apartamento de cobertura. O alívio foi tanto que Alexandre sentiu as pernas trêmulas.
— Então, você vai continuar em Chicago?
— Sim. Tudo o que eu quero está aqui, inclusive você. Foi muito conveniente morar neste apartamento, mas agora quero encontrar um lugar meu e abrir minhas asas.
Giovanna estava abraçando sua tão sonhada independência, po_rém Alexandre não resistiu à tentação de lhe perguntar:
— Quer morar comigo?
Ela piscou de surpresa. Depois, um sorriso esperançoso ilu_minou-lhe o rosto.
— Você quer viver em pecado?
— Claro que não! Case-se comigo e tudo ficará legalizado.
— Por acaso, você está me pedindo em casamento, Alexandre Nero?
Ele suspirou, pensando numa maneira de oficializar aquele pedido tão importante. De repente, ajoelhou-se diante dela, se_gurou-lhe a mão esquerda e olhou para aquela mulher bonita que já era parte do seu coração, da sua alma, da sua vida. A mulher com quem queria viver o resto de sua vida.
— Eu a amo, Giovanna St. Antonelli. Aceita se casar comigo?
— Oh, meu Deus, pensei que você nunca me pediria!
— Isso é um sim?
— Sim, sim, sim! Quero fazer parte da sua vida. Sua família, minha família... e um dia, nossa família.
Ainda ajoelhado, Alexandre encostou a cabeça nas pernas dela.
— Obrigado, meu Deus! — ele agradeceu. Giovanna enterrou os dedos nos cabelos de Alexandre.
— Sabe que eu gosto de você assim ajoelhado na minha frente? — ela murmurou com voz enrouquecida. — Fico ima_ginando tantas coisas...
— Você é uma mulher muito atrevida!
— Está se queixando?
— Claro que não! Farei tudo o que você quiser. — Ele se levantou já excitado. — Especialmente neste momento.
Giovanna pegou as tiras de veludo que largara na poltrona e pis_cou para Alexandre.
— Quer viver uma grande aventura comigo esta noite? — ela o provocou.
Era tudo o que Alexandre mais queria.
— O que acha de vivermos essa aventura todos os dias para o resto das nossas vidas?
Giovanna riu, sedutora.
— Oh, penso que estamos definitivamente combinados nes_se sentido!
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Uma Noite de Prazer – Janelle Denison
Autor(a): GN
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