Fanfic: Noite de Prazer | Tema: gn
Segunda-feira de manhã. Alexandre saiu de sua sala e, impaciente, parou na frente da mesa da irmã, que era também secretária executiva da empresa Nolan & Filhos.
— E o orçamento da reforma do St. Antonelli Hotel?
Carol desligou o telefone e encarou-o com igual impaciência.
— Já estou terminando de digitar, Alexandre.
Ele verificou as horas no relógio de pulso, sem disfarçar sua contrariedade. Já era quase meio-dia e Alexandre só tinha aquela tarde para analisar o orçamento para o St. Antonelli Hotel. Queria certificar-se da exatidão dos números antes de apresentar a proposta, na manhã seguinte.
— Então, termine logo. Eu precisava dele hora atrás. Carol ergueu uma sobrancelha.
— Faz apenas vinte minutos que você me deu o rascunho, Alexandre, além de meia dúzia de pedidos para serem calculados. Caso não tenha notado, Susan faltou hoje e o telefone está me deixando louca.
— Não quero saber de desculpas — ele resmungou, enquanto dois telefones tocavam ao mesmo tempo.
Carol puxou pela respiração, atendeu às duas ligações, deixando-as na espera. Depois, voltou-se de novo para o irmão.
— Tenho uma sugestão, Alexandre — disse ela com suavidade.
—Por que não veste uma saia e brinque de ser secretária só para ver se consegue administrar dez coisas ao mesmo tempo, como estou tentando fazer neste exato momento?
Em outro dia, ele teria achado divertido o sarcasmo da irmã. Naquela manhã, porém, seu humor estava péssimo e5 simples_mente, ignorou o comentário.
— O projeto St. Antonelli tem prioridade. Termine-o logo — Alexandre ordenou antes de voltar à sua sala.
— Eu vou entregar o meu pedido de demissão, isso sim... Ele fechou a porta da sala, recriminando-se por ter sido tão rude com a irmã. Carol não merecia ser vítima da sua irritabilidade e mau humor. Devia-lhe um pedido de desculpas e o faria antes do final do dia.
Sentado na poltrona de couro em sua sala, Alexandre examinou outro projeto de restauração. Sabia que apesar das reclamações, Carol não cumpriria a ameaça de deixar a empresa. Não era a primeira vez que alguma coisa ou alguém a tirava do sério, mas todos sabiam que ela era leal e correta com os negócios da família, assim como Alexandre e Alex.
Joel era o único que optara por não seguir os passos do pai, o que não surpreendera ninguém. Considerado a ovelha negra da família, jamais se submetera às expectativas ou regras de ninguém, a não ser as dele próprio. O ramo da construção nun_ca o atraíra, preferindo os riscos e os imprevistos da área de seguros.
Os toques insistentes dos telefones na outra sala só aumen_tavam seu sentimento de culpa em relação a Carol. As segun_das-feiras eram sempre muito tumultuadas, e a ausência de Susan, a recepcionista, complicava ainda mais a situação.
Mas a ansiedade de Alexandre era mesmo por conta do orçamento do St. Antonelli Hotel. Se vencesse aquela concorrência, a empre_sa Nolan & Filhos seria definitivamente consagrada no mer_cado das reformas. A essa ansiedade acrescentava-se uma dose de tensão e indignação que o atormentava desde que Giovanna desaparecera. Alexandre irritava-se com as mínimas coisas, o que con_trariava sua personalidade pragmática e ponderada.
Passara o domingo inteiro repetindo a si mesmo que Giovanna nunca lhe prometera nada além de uma única noite juntos. Mes_mo assim, não conseguia parar de pensar nela, a ponto de co_meçar a sentir-se obcecado por algo que não poderia ter. Giovanna sufocava seus pensamentos e consumia sua mente. Eram mui_tas perguntas sem respostas. Quem ela era realmente e o que a impedia de se encontrarem de novo? Giovanna mostrara-se in_transigente naquela questão, e o brilho de ansiedade que Alexandre vira nos olhos dela desmentia suas tentativas de não se ligar emocionalmente a ele.
A situação com Giovanna tinha algumas semelhanças com o que Alexandre sofrerá com Elaine. Esse era outro assunto que martelava sua mente. O caso com Elaine fora intenso desde o início, com ela perseguindo-o de um modo extremamente excitante. Pas_savam-se semanas, meses, mas Elaine fazia questão de manter os encontros no mais absoluto segredo, apesar das tentativas de Alexandre para tornar público aquele relacionamento.
Elaine sempre tinha uma desculpa para não conhecer a fa_mília dele ou para não convidá-lo a ir à casa dela. Recusara-se a dar o número do telefone de casa, e Alexandre só podia ligar para o seu celular. Além disso, Elaine estava sempre em alguma viagem de negócios, o que a impedia de vê-lo com freqüência. E quando se encontravam, era sempre nas condições e dispo_nibilidade dela.
Por mais que tentasse confiar em Elaine, Alexandre sentia que alguma coisa estava errada. Havia muitos detalhes sobre ela que não se encaixavam, sem mencionar a absoluta discrição a respeito de sua vida particular. Se ele a pressionava para obter respostas, ela o acusava de paranóico. Inevitavelmente, as dis_cussões terminavam na cama, com Elaine acalmando-o com seu fogo e paixão.
Um dia, quase por acaso, Alexandre descobrira que Elaine era casada com um advogado de Chicago. O homem era tão poderoso e influente que poderia ter acabado com ele e com a empresa da família se tivesse descoberto o relacionamento extraconjugal da esposa. Felizmente, Elaine nada revelou ao ma_rido rico sobre o garoto com quem mantivera uma aventura, uma diversão fora de seu casamento "mais-do-que-feliz", co_mo Alexandre descobrira mais tarde.
A falsidade de Elaine e sua própria credulidade tinham-no abalado demais. Sentira-se usado como um tolo, e Alexandre jurara que haveria sempre muita honestidade e franqueza entre ele e a mulher com quem, eventualmente, viesse a se envolver no futuro.
E então surgira Giovanna, intrigando-o e encantando-o de todas as formas imagináveis, mas esquiva e misteriosa o suficiente para roubar-lhe a paz de espírito. Até o último momento, Alexandre esperara que as coisas terminassem de um modo diferente.
Entretanto, Giovanna partira e ele não tinha como encontrá-la. Nenhuma pista, nenhum ponto de partida. Seu desaparecimen_to fora um modo seguro de não revelar os segredos que escon_dia. Pelo menos Alexandre tentava acreditar nisso.
Respirou fundo e soltou ruidosamente o ar pela boca. Pre_cisava manter a cabeça no lugar. Não podia jogar pelos ares as chances de vencer a concorrência do projeto do St. Antonelli Hotel por causa de uma mulher que nunca mais veria de novo. Devia concentrar-se nas coisas mais concretas, sobre as quais tinha certo controle, tais como: orçamentos, propostas, pedidos e balancetes.
Uma leve batida na porta e Alex entrou na sala com um sorriso amarelo e alguns papéis na mão.
— Carol disse para eu entrar por minha conta e risco — disse ele. — Posso?
— Claro. Algum problema? Alex entregou-lhe os papéis.
— Carol me pediu para lhe trazer o orçamento do projeto St. Antonelli — Ela preferiu não vir pessoalmente para não esfregar... Alexandre interrompeu Alex com um gesto da mão.
— Poupe-me dos detalhes, por favor.
Alex soltou uma gargalhada. Depois, lançou ao irmão um olhar crítico.
— Pelo que Carol me contou, você está uma fera desde que chegou ao escritório. O que aconteceu, Alexandre? Eu pensei que você estaria flutuando nas nuvens, muito bem-humorado, de_pois de ter conquistado a loira do bar. — Percebendo a expres_são de contrariedade do irmão, Alex franziu o cenho. — Pelo menos, nós estamos acreditando nisso.
Alexandre reclinou-se na cadeira e suspirou.
— Sim, passamos a noite juntos.
Um sorriso largo iluminou o rosto de Alex.
— Você é sortudo mesmo, hein, mano! — Ele tirou a car_teira do bolso, separou algumas notas e colocou-as sobre a mesa. — Como você acertou onde os outros falharam, parece que ganhou cem pratas.
Alexandre empurrou as notas. Ele não queria nada que pudesse vulgarizar o que partilhara com Giovanna, sobretudo uma frívola aposta.
— Não quero o seu dinheiro nem o de Joel.
A primeira reação de Alex foi de surpresa. Mas ao perceber que não se tratava de uma brincadeira, recolheu as notas e guardou-as na carteira. Depois, sentou-se.
— Tenho a impressão de que a aposta se transformou em algo mais sério entre vocês.
Alexandre soltou uma risada abafada, cínica.
— Até poderia, se ela não tivesse ido embora antes de eu acordar no domingo de manhã. Tudo que sei a respeito dela é que se chama Giovanna. E nem tenho certeza se é o seu nome ver_dadeiro ou se o inventou apenas por uma noite. Resumindo, ela não deixou a mínima possibilidade de tentar encontrá-la.
— Que droga, Alexandre! Sinto muito.
— O que aconteceu, aconteceu. Agora está acabado. Alexandre encolheu os ombros. — Foi apenas uma noite para ser lembrada.
Levantando-se, pegou a proposta do projeto St. Antonelli e foi até a planta da reforma do hotel aberta sobre a mesa-prancheta.
— Você tem quinze minutos para uma última conferência desse orçamento comigo? — ele perguntou a Alex.
—Nós já conferimos esse orçamento umas vinte vezes — o irmão respondeu num tom exasperado. — E cada vez, você jura que é a última. Os valores são os mais espremidos possível, e se cortarmos mais um centavo, correremos o risco de perder dinheiro na obra.
0 risco de perder dinheiro na obra. Alexandre estremeceu. As palavras de Alex, intencionais ou não, despertaram-lhe lem_branças desagradáveis. Havia algum tempo, acidentalmente, ele fizera a cotação de um projeto milionário muito abaixo do valor real, o que quase levou a empresa à falência.
Deixando o passado de lado, Alexandre concentrou-se no presente.
— Você sabe quanto é importante para o crescimento da nossa empresa ganharmos essa concorrência.
— Sempre batendo na mesma tecla — Alex respondeu num tom mais do que casual.
Alexandre encarou-o numa atitude defensiva.
— Que diabos você está querendo dizer?
— Ora, Alexandre. — Alex aproximou-se da prancheta e apontou a planta da reforma do hotel. — Você sabe tanto quanto eu que há razões pessoais para você querer vencer essa concor_rência. Digamos que apenas quarenta por cento dessas razões têm a ver com o crescimento da nossa empresa. Os sessenta por cento restantes são porque você acha que deve compensar o que aconteceu com o projeto do Edifício Wrigley.
O caso do Edifício Wrigley era como uma ferida que não cicatrizava, pelo menos até Alexandre não fechar um grande negócio que compensasse aquele desastre financeiro.
O erro involuntário custara caro demais, e Alexandre passara os últimos cinco anos tentando consertá-lo, aceitando trabalhos muitas vezes insignificantes para conseguir pagar o empréstimo bancário que o pai fizera para fugir da falência. Agora, o projeto do St. Antonelli Hotel era exatamente a prova de que pre_cisava para mostrar ao pai que ele poderia administrar a em_presa e fazê-la prosperar ainda mais.
Cruzando os braços, Alexandre encarou o irmão.
— Talvez seja pessoal, sim — admitiu.
— Todo mundo às vezes faz bobagens, até mesmo os me_lhores. Você se considera responsável pelo que aconteceu com o projeto Wrigley, mas papai, não. Ele nunca o culpou e jamais o culparia. Apareceram despesas extras naquele projeto que não constavam no orçamento simplesmente porque ninguém havia imaginado que surgiriam. Nem mesmo você.
Alex estava certo. Nolan Nero jamais responsabilizara o filho pelos prejuízos, mas Alexandre não se perdoava e a necessi_dade de reparar sua falha involuntária era uma questão de hon_ra. Também queria que o pai reconhecesse seus esforços para solidificar a reputação da empresa.
— Para mim, é muito importante ganhar essa concorrência, fazer tudo direitinho e dentro do orçamento — Alexandre explicou secamente. — Posso contar com você ou não?
— Claro que pode — Alex confirmou, resignado. — Então, vamos checar esses números pela última vez. Só tenho quarenta minutos. Depois, vou encontrar Dana para um almoço rápido.
— Almoço rápido, hein? — Alexandre voltou a sua mesa de trabalho e sentou-se. — É assim que chamam hoje em dia?
Sorrindo, Alex sentou-se na cadeira de frente para o irmão, esquivando-se da resposta.
Alexandre abriu a pasta com o projeto e o orçamento detalhados da reforma do St. Antonelli Hotel.
— Está tudo bem com você e Dana?
— Acho que sim. — Alex encolheu os ombros de um modo eloqüente demais para Alexandre.
— Detectei alguma hesitação?
— Não de minha parte. É ela que parece relutante em assu_mir um compromisso mais sério.
— O velho charme dos Nero não funcionou?
—Estava tudo ótimo até eu mencionar a palavra "amor".
Dana entrou em pânico e sumiu por alguns dias. A atitude dela feriu o meu ego, pois, até então, eu nunca havia falado de amor para mulher nenhuma. Dana foi a primeira. Quando nos en_contramos de novo, ela agiu como se a conversa nunca tivesse acontecido, e agora estou meio receoso de tocar outra vez no assunto. — Ele olhou para Alexandre. — Sinceramente, eu não en_tendi. Não são as mulheres que esperam que os homens con_fessem seus sentimentos e proponham compromisso sério?
— Como vou saber? — Alexandre sentia-se a última pessoa em condições de aconselhar o irmão. Afinal, ele andava meio sem sorte com as mulheres ultimamente. — Eu quebrei a cara, Alex, e acho que jamais entenderei as mulheres e o modo como o cérebro delas funciona.
— Eu também.
Eles riram, balançaram a cabeça resignados com o que con_sideravam inconstância feminina e discutiram o único assunto que ambos entendiam muito bem: orçamentos e estimativas.
Giovanna tornou a conferir a listagem do estoque de jóias da butique. Depois, olhou para as peças expostas no mostruário. O pingente em forma de coração em diamante Aaron Basha, no valor de mil dólares, não se encontrava lá. E de acordo com o relatório de vendas, também não fora vendido. Era a segunda jóia que desaparecia nos últimos três meses, além da falta do pagamento de algumas peças registradas como vendidas.
Somente os funcionários da butique tinham acesso ao mos_truário, mas Giovanna tentou não precipitar-se em suas conclusões, até ter certeza de quem era o responsável pela falta das jóias. Tremia só de pensar que algum de seus funcionários de con_fiança poderia ser o ladrão. Sempre fora muito criteriosa e exi_gente na seleção dos funcionários e não admitia ninguém sem antes fazer uma investigação completa da vida pregressa do candidato.
Os funcionários antigos eram absolutamente leais, mas nos últimos seis meses ela admitira dois novos vendedores para o período da tarde. Uma era Celeste, jovem universitária que trabalhava meio período. O outro era James, com experiência de mais de seis anos em vendas e charmoso com as mulheres, o que lhe rendia altas comissões mensais e a inveja dos demais vendedores.
Giovanna esperou todos os clientes saírem para aproximar-se de Celeste e James.
— Algum de vocês vendeu o pingente de diamante Aaron Basha que estava no mostruário?
Celeste negou com um gesto de cabeça.
— Eu não vendi.
— Eu também não — James respondeu, ajeitando os papéis com o logotipo do St. Antonelli Hotel usados para embrulhar as jóias mais delicadas. — Ele estava no mostruário ontem quan_do encerrei o meu expediente, mas hoje pela manhã já não estava mais.
Em algum momento entre o final da tarde do dia anterior e o início da manhã daquele dia, o valioso pingente de diamante desaparecera. E quem trabalhara no turno da noite anterior fora Joan, funcionária antiga, promovida a assistente da gerência havia dois anos. Giovanna sentia-se mal só de pensar que Joan po_deria ser a responsável pelo sumiço das jóias.
Voltou a sua sala e ligou para a casa da assistente. Uma conversa rápida e a confirmação de que Joan não vendera e nem guardara o pingente de diamante em outro lugar. Na ver_dade, ela notara a falta da jóia no mostruário quando iniciara o expediente na tarde do dia anterior, o que contradizia a de_claração de James.
Depois de desligar o telefone, Giovanna friccionou as têmporas, aborrecida com o ocorrido. Por mais que lhe que custasse tomar uma atitude, só havia um recurso para descobrir quem era o responsável pelo desaparecimento das mercadorias da butique-
Desligou o computador, saiu da sala e foi direto para o escritório de Evan. Ela não o via desde o dia de seu aniversário, e queria manter aquela conversa estritamente no campo de trabalho.
Bateu de leve na porta.
—Entre — Evan disse num tom distraído.
—Você tem alguns minutinhos para mim?
Ele ergueu os olhos dos documentos que estava assinando e sorriu para Giovanna.
— Para você, tenho todo o tempo do mundo. — Deixou a caneta de lado e reclinou-se na cadeira. — Está tudo bem?
Giovanna não se sentou, como normalmente fazia. Não pretendia demorar-se mais do que o necessário para conseguir a ajuda de Evan.
— Preciso que os seguranças verifiquem as fitas das câmeras instaladas na butique.
— Está faltando alguma coisa?
— Infelizmente, sim. Outra jóia. Desta vez, um pingente de diamante Aaron Basha em forma de coração, avaliado em cerca de mil dólares. — Ela entregou-lhe a pasta do inventário e uma foto da peça para a pessoa que iria examinar as fitas gravadas saber o que estava procurando.
— O ladrão está se tornando mais audacioso e os itens rou_bados, mais caros -— Evan observou, franzindo o cenho. De_pois, olhou novamente para Giovanna sem muito otimismo. — Que_ro apanhar o culpado tanto quanto você, mas lembre-se, nas duas vezes em que verificamos as fitas, não conseguimos en_contrar nenhuma evidência de que algum dos seus funcionários estava roubando.
— Eu sei, mas insisto mesmo assim. Alguém está roubando mercadorias da butique e quero descobrir quem é. Deve haver algum detalhe nessas fitas que está passando despercebido à segurança. — A voz de Giovanna soava ríspida e autoritária. — Quero câmeras ligadas vinte e quatro horas por dia na butique vigilância absoluta, sobretudo quando o mostruário de jóias for aberto. Precisamos ter certeza de que em nenhum momento alguma peça vai para o bolso ou a bolsa de quem quer que seja.
— Você está certa — Evan concordou. — Vou tomar as providências.
— Amanhã cedo, vou a San Francisco — Giovanna informou, suavizando o tom de voz. — Pretendo voltar sexta-feira. Se acontecer alguma coisa nesses três dias, avise-me, por favor.
— Claro que avisarei. — O sorriso encantador de Evan ame_nizou ainda mais o estado de espírito de Giovanna. — Nós jogamos no mesmo time.
— Eu sei disso. — Giovanna acreditava nas palavras dele. Evan estava tão envolvido pessoal e emocionalmente quanto ela na vida dos Hotéis St. Antonelli. Ela sabia também que aquele "jogan_do no mesmo time" significava muito mais do que o relacio_namento profissional deles. — Obrigada pela sua ajuda, Evan.
Antes que Giovanna se voltasse para sair da sala, ele soltou uma pergunta que a deixou gelada:
— A propósito, você se divertiu na comemoração do seu aniversário com os amigos?
O coração dela disparou, um arrepio percorreu-lhe a espi_nha, e suas pernas bambearam. Aquele era um assunto que não gostaria de conversar com Evan. Detestava mentir e temia que ele descobrisse a verdade, o que absolutamente não poderia acontecer.
Como por milagre, conseguiu sorrir e falar sem ser traída pela voz.
— Oh, sim. Foi muito divertido. Curioso, Evan inclinou levemente a cabeça.
— Aonde você foi, afinal? Direto ao paraíso, muitas vezes. O pensamento libidinoso explodiu em sua mente acelerando ainda mais as batidas de seu coração.
Em vão, tentou afastar as lembranças provocantes da noite passada ao lado de Alexandre. As imagens dançavam em sua mente como cenas de um filme repetidamente visto e revisto. Sentiu a pele queimando de paixão e desejo e não conseguiu evitar a pontada de dor que a torturava sempre que pensava em Alexandre e no que haviam vivenciado em apenas algumas horas. Arre_pendia-se de ter saído sorrateiramente da cama dele, deixan_do-o acordar sozinho... para nunca mais tornar a vê-la.
Sua cabeça sabia que teria de ser assim, que não tinha outro jeito, mas seu corpo e coração... Oh, como queriam que fosse diferente!
— Giovanna?
Ela direcionou o olhar para Evan, que a fitava com ansie_dade, como se ele pudesse ler além das suas tentativas de não mostrar-se preocupada. De repente, ocorreu-lhe que talvez Evan soubesse como ela passara a noite do sábado e que a estava testando. Ou talvez estivesse escrito em seu rosto as palavras romance ilícito.
De qualquer forma, Giovanna não revelaria nada.
— Tomamos alguns drinques no Rive Gauche — disse ela, citando um nightclub em que, tinha certeza, Evan nunca colo_caria os pés, por ser barulhento e antiquado demais para o gosto dele. Com um gesto teatral, verificou as horas no relógio de pulso. — Preciso ir. Combinei de almoçar com Rosalyn e não quero deixá-la esperando.
Giovanna saiu rapidamente da sala sem dar tempo para Evan esticar a conversa, e foi direto ao restaurante do hotel. Passando pelos hóspedes que esperavam para almoçar, dirigiu-se à mesa exclusiva da família. Rosalyn já se encontrava lá com Sophie no colo.
— Desculpe o atraso. — Giovanna beijou o rosto da sobrinha. Reconhecendo-a, a menina riu de alegria. Bastou um olhar ao rosto da irmã e notar as olheiras profundas para esquecer seus próprios problemas.
Sentou-se de frente para Rosalyn e, imediatamente, seus ins_tintos protetores afloraram. A irmã era cinco anos mais nova, e, desde seu nascimento, Giovanna trocara a coleção de bonecas Pela bonequinha de carne e osso. Ajudava a mãe a cuidar de Rosalyn e sempre insistia em empurrar o carrinho quando saíam a passeio. Havia uma afinidade muito grande e especial entre ambas, e Giovanna tinha a sensibilidade tão aguçada em re_lação à irmã que notava o menor sinal de mudança em seu temperamento sempre alegre e radiante.
— Rosalyn, você está bem?
Sua irmã encolheu os ombros e forçou um sorriso.
— Estou apenas cansada. Os dentinhos de Sophie estão apontando e ela deu para acordar no meio da noite, em vez de dormir sem interrupção, como sempre. Isso está mudando todo o nosso ritmo.
Giovanna tirou Sophie dos braços da irmã e sentou-a no banco ao seu lado.
— Parece que os bebês estabelecem seus próprios ritmos, e papai e mamãe têm que aprender a adaptar-se com as mudanças — Giovanna disse a Sophie, embora as palavras fossem dirigidas à irmã.
— Estamos tentando, mas Adam e eu... Bem, estamos ten_tando nos ajustar às mudanças que aconteceram nas nossas vidas — Rosalyn explicou em voz baixa.
Giovanna lembrou-se do modo como a irmã olhara para o marido na noite do jantar do seu aniversário, e pressentiu que eles estavam enfrentando problemas conjugais.
— Agradeço muito por ter concordado em almoçar comigo, Giovanna. Sei que você está sempre ocupada com as butiques e tudo o mais...
— Sempre tenho tempo para você, Rosalyn. Sempre.
— Obrigada. — Os olhos de Rosalyn encheram-se de lágri_mas. Piscou rapidamente, numa tentativa de afastá-las, e sorriu. — Eu queria vê-la ainda hoje, antes de você ir para San Fran_cisco. Tenho me sentido um pouco... sentimental ultimamente.
Giovanna gostaria de acreditar que tanta sensibilidade pudesse ser atribuída a alguma descompensação hormonal ou à mudan_ça de rotina por conta do nascimento de Sophie. Apesar de Sophie já ter seis meses, aquela era a primeira vez que Giovanna via a irmã tão triste. Quase deprimida.
— Tem certeza de que é só isso mesmo? — ela perguntou, dando a Rosalyn a abertura para desabafar.
— Tenho. — Rosalyn respirou fundo. — Juro.
Giovanna não acreditou, mas não insistiu. Ficaria atenta ao com_portamento da irmã por mais alguns dias, antes de aconselhá-la a procurar um médico.
— Tudo bem. Mas se precisar de alguém para conversar sobre qualquer assunto, você sabe que pode contar comigo. Estarei sempre ao seu lado.
— Eu sei, Giovanna. É isso que faz de você uma irmã muito querida e minha melhor amiga.
Sim, aquela era a vida de Giovanna St. Antonelli. Cuidar da irmã caçula e oferecer-lhe apoio emocional quando precisasse. Ser a gerente responsável e competente das butiques dos Hotéis St. Antonelli e lidar com a possibilidade de ter um ladrão entre seus funcionários. Fazer o possível para ser uma filha exemplar de quem seus pais poderiam orgulhar-se sempre, compensando-os do escândalo que quase destruíra a reputação da família e denegrira o respeitável nome St. Antonelli.
Uma vida, às vezes agitada e caótica, cheia de compromissos e obrigações pessoais que a mantinham constantemente rodea_da de amigos, da família e de funcionários dos hotéis.
Uma vida solitária e vazia.
Autor(a): GN
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A vista noturna da baía de San Francisco do 36° andar do St. Antonelli Hotel era deslumbrante. Saboreando um copo de vinho Baileys, Giovanna observava as luzes das lojas e restau_rantes ao longo do píer 39 e dos barcos que cruzavam a baía. A noite estava clara, sem nuvens, e ela desejava que seus pen_samentos fossem igualmente claros e calmos. Suspi ...
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