Fanfic: The Reason | Tema: Romance

Eu estava de ressaca. Uma droga de ressaca que me fez passar o domingo inteiro tomando Gatorade e sopa rala que Molly fez. Minha amiga decidiu passar o dia no meu apartamento, assim eu não me suicidaria. Graças a Deus, Molly estava na minha vida, ou há essa hora eu estaria acordando do lado de um estranho. Um estranho muito gostoso, mas não valeria a pena o remorso pelo resto de minha existência.

— Não fale nada — falei quando Molly resolveu trazer a terceira sopa rala do dia.

— O que eu falaria? — Molly perguntou — Só acho que Travis não merece você.

— Aquele canalha — falei irritada.

— Da próxima vez me chama para sair com você, você sabe que não deve beber sozinha — ela falou — Apesar de que você não estava sozinha, não com aquele batom todo borrado.

— Nem me lembre de como sou burra!

— Você chamou a noite toda por Tom Grint. É o carinha que te pegou no Low’s?

— O quê? — engasguei com a sopa.

 — Tom me beija, Tom eu quero mais — ela fez uma voz aguda para me imitar e depois riu.

— Para com isso — joguei uma almofada na cara dela.

— Ai. Eu te ajudei, ingrata!

— Não quero falar sobre esse Tom Grint. Ele foi um erro!

Um erro muito bom, mas não deixava de ser um erro. Agora eu só precisava me concentrar no trabalho e, principalmente, em ignorar Travis. Sim, ele também era advogado, mais especificamente meu chefe. Conhecíamo-nos desde os 16 anos, seu pai era dono do escritório, fizemos o ensino médio e a faculdade juntos. Éramos inseparáveis, como irmãos. Íamos nos casar em três meses e ele terminou com tudo, pego me traindo no seu apartamento.

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Cheguei adiantada no escritório na segunda e minha secretária me entregou um buquê de flores e um pedido de desculpas esfarrapadas de Travis. Peguei tudo e joguei no lixo do corredor, assim ele veria a minha indiferença. Sorri e voltei para minha sala.

— Srta. Price— Cyntia, minha secretária me chamou — às 11 horas tem uma reunião com os integrantes de uma banda.

— Que banda? — franzi a sobrancelha, eu não me lembrava de ter marcado reunião.

— Só um minuto — Cyntia abriu o notebook e olhou o nome da banda —The Caries, eles estão sendo acusados de plágio e a gravadora nos procurou, por causa da fama do escritório. O Sr. Travis pediu que o caso fosse mandado para a senhorita.

—Filho da mãe — resmunguei — Ele sabe que estou tendo trabalho com o caso da RS media.

— Quer que eu desmarque?

— Não. Não mesmo. Posso aguentar isso — respondi — Já que é uma banda, reserve a sala de reuniões e providencie um café.

— Já fiz isso — ela falou.

— Ótimo, você é dez! — falei e Cyntia sorriu orgulhosa.

Passei parte da minha manhã trabalhando como louca. As 10, Cyntia me trouxe o resumo do caso da banda The Caries e eu li e anotei tudo que era necessário. Aparentemente, um espertalhão aproveitou o sucesso da banda para dizer que sua música havia sido roubada, uma fichinha para mim. Esse caso era fácil como roubar doce na loja de doces, não que eu já tenha feito isso. Faltando dez minutos para as 11, eu fui para a sala de reunião, mas tive o desgosto de encontrar com meu ex-noivo.

— Amelia — Travis falou — Não fuja de mim, eu te liguei um milhão de vezes.

— Bloqueei seu número e se você me procurar de novo entro com um pedido de proteção judicial.

— Você não pode. Esse aqui é meu escritório.

— Se você não cruzar meu caminho isso não será um problema — falei ríspida.

— Nunca vi você assim.

— Então é assim, Travis? Eu era boba demais, cai no seu papinho.

— Foi só uma vez, pelo amor de Deus, Mely! Diga que você nunca me traiu? Nas suas viagens!

— Nunca mais fale isso. Eu nunca te trai, nunca! E pensei que você também fosse fiel — falei contendo as lágrimas — Mas sabe Travis, sábado eu beijei um cara lindo e atraente, e me senti viva de novo. Percebi que não preciso de você, nunca mais!

—Uhum — ouvimos Cyntia tossiu e quatro pessoas estavam atrás dela — Desculpe senhores, a banda The Caries está aqui para a reunião.

Minha cara de horrorizada deve ter sido muito engraçada, pois eu podia jurar que vi a menina da banda sorrir para mim. Travis pediu licença e saiu, me deixando para resolver a situação. Eu estava tão atordoada que nem olhava para o rosto daquelas pessoas.

— Desculpem — falei arrumando a mesa de reunião para disfarçar o nervosismo — Cyntia, você pode... — olhei para a banda e reconheci um dos rostos, Tom Grint.

— Sim? — Cyntia falou me tirando do transe.

— Pode trazer o café para os senhores, por favor? — falei lutando para manter a perna firme. Será que ele escutou minha discussão com Travis?— Sim, senhorita — a secretária saiu e eu fiquei sozinha com a banda.

— Sentem-se.

Não tive coragem de olhar para Tom, só que isso não era opção. Eu deveria tratar meus clientes bem, mesmo que estes tenham me beijado no fim de semana.

— Meu nome é Amelia Price, vou ser a advogada de vocês — falei e apertei a mão de cada um deles, inclusive de Tom que me olhou com a mesma satisfação de quando eu o beijei.

Fez-se um silêncio até que Tom resolveu se manifestar, percebi quando alguém chutou a perna dele e ele deu um pulinho.

— Srta. Price... — ele parecia degustar meu nome —Sou Tomas Grint e esse idiota que me chutou é o Mike — o rapaz fez cara de indignado — É um prazer conhece-la, ouvimos coisas maravilhosas ao seu respeito. Espero que possa nos ajudar com o nosso probleminha.

— Obrigada — sorri e já usava minha máscara profissional — Eu sei desse problema, estão sendo acusados de plágio.

— Isso doutora — outro rapaz falou — Desculpe, meu nome é Brad sou guitarrista da banda e eu fiz os arranjos, não roubei de ninguém.

— Fique tranquilo, esses casos são comuns. Como vocês estão fazendo sucesso é comum aparecerem compositores dizendo que foram plagiados. Eu já lidei com isso antes e sempre ganhei a causa, geralmente não há provas suficientes para provar o plágio.

— Esses filhos da puta querem roubar nosso trabalho — a garota falou irritada.

— Alex! —Brad a repreendeu — Desculpe doutora. Ela não é tão desbocada assim!

Assenti. Todos eram jovens, dava para entender o comportamento... Eu também já fui assim, apesar de agora parecer uma senhora de 40 anos. 

Cyntia estava de volta com o café. Enquanto tomávamos, Tom Grint não tirava os olhos de mim. O olhar dele me fazia sentir um formigamento. Voltei a falar ou teria um ataque ali, no meio da reunião.

— Preciso que me mandem a música que está sendo acusada. Em breve devo receber a intimação do juiz, esses casos são rápidos. A mídia nem vai saber.

— Assim espero — Mike falou.

— Obrigada — Alex falou e saiu da sala, aparentemente para fumar. Brad foi atrás dela e fez um leve aceno para mim. Mike apertou minha mão e saiu.

— Você não vem cara? — ele perguntou para Tom.

— Preciso conversar com a Srta. Price. Já estou indo.

Mike aceitou e saiu. Os três que saíram pareciam adolescentes, eles aparentavam ter entre 18 e 20 anos. Olhei para Tom e eu diria que ele era apenas um pouco mais velho que os outros. O que eu estava fazendo? Agora eu saia com homens mais novos que eu?

— Pensei que não fosse te ver mais — ele falou.

— Esse é meu ambiente de trabalho, Sr. Grint — falei nervosa, Travis poderia aparecer.

— Desculpe, não quero te intimidar.

— Pois devia ir embora, isso não é adequado.

— Não acredito que você é advogada da minha banda — ele riu — E eu te conheci no fim de semana. Isso não é engraçado?

— Olha, não sei o que você quer, mas será que pode parar? Esse é meu trabalho, meu chefe pode aparecer aqui...

— O bundão é seu chefe? — Tom me ignorou e ficou rindo como se estivesse tramando um plano infalível do Cebolinha.

— O que você quer? — perguntei irritada.

—Saia comigo.

— Não.

— Por favor.

— Pra quê? — eu estava batendo o pé.

— Pra terminarmos o que começamos — ele falou com a mesma voz irresistível — E pra jantar, é claro.

— Se eu for você promete que não vai me intimidar assim no meu trabalho? — eu estava impressionada com a insistência daquele homem.

— Prometo.

— Então eu vou — falei rápido para ver se ele largava do meu pé.

— Posso te pegar aqui depois do expediente? — ele perguntou parecendo um garotão, não que ele não fosse.

— Não — respondi rápido — Me dá seu celular.

Ele pegou o aparelho e colocou na minha mão.

— Me manda o endereço do restaurante por mensagem, eu te encontro — falei digitando meu número.

— Sim Srta. Chapeuzinho — eu sorri com aquele apelido bobo. E Tom veio até mim para se despedir com um beijo no rosto, que pegou metade da minha boca — Até mais!

Eu só poderia estar louca, mas qualquer coisa era melhor do que ser pega flertando com um cliente, principalmente quando Travis queria me culpar por sua traição. Como se eu fosse a culpada por ele ter muito fogo.