Fanfic: Encontro Divino - Padre Fabio de Melo | Tema: homossexualidade, espiritualidade
Disse para o taxista tentar chegar rápido até o apartamento, a última coisa que queria era me atrasar. Passei o dia pensando em como a noite seria e confesso que muitas vezes senti um frio na espinha. Havíamos marcado esse jantar quatro dias atrás, logo após nosso breve – porém espetacular – encontro no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Suas exatas palavras foram “você pode passar lá no meu apartamento um dia desses, tenho certeza de que podemos estender essa conversa até os primórdios da arte renascentista”. Era uma honra conhece-lo depois de acompanhar tão de perto suas declarações na mídia e seus perfis em redes sociais e, ser convidado para um jantar em seu próprio apartamento era de tirar o fôlego. Seu conhecimento sobre arte e história e sua admiração por Leonardo da Vinci fez-me lembrar de seu rosto todas as noites daquela semana.
O prédio é de extremo bom gosto, a junção perfeita do neoclássico com o modernismo arquitetônico. Chego até o interfone e faço a chamada.
“Hey, que bom que você chegou. Pode subir.”
Mesmo sendo um homem seguro e confiante na maior parte do tempo, não pude deixar de arrumar o cabelo cinco vezes no espelho do elevador. Eu não quero a aprovação dele, eu preciso dela. Décimo segundo andar, é aqui. Bato na porta e alguns segundos depois sou recebido por aquele sorriso encantador, vestido de um belo blazer preto sob uma camisa branca.
“Fico feliz de você ter vindo”, ele diz.
“Fico mais feliz de estar aqui.”
A decoração é a síntese material de perfeito refinamento estético. Livros, pinturas e fotografias por toda parte constroem um ambiente digno de receber os maiores pensadores da Grécia Antiga. Sinto-me dentro da Biblioteca de Alexandria sendo o convidado do próprio Alexandre.
“Sinta-se à vontade, vou pegar o vinho.”, avisa logo antes de ir até a cozinha.
Sento-me no sofá e admiro por alguns momentos, na estante, a versão de luxo da Divina Comédia. Não posso resistir até a tentação de levantar para observar mais de perto. Sinto sua presença imponente logo atrás de mim.
“É realmente fantástica. A filosofia e a profundidade na escrita de Dante me fizeram sentir uma paixão que jamais tive oportunidade de consumar devido minha vocação.”
“As vezes deve ser difícil ser padre, não?” pergunto ao apanhar uma taça de vinho de sua mão. Nossas mãos se encostam e seu calor – breve, porém profundo – me lembra do sol da infância.
“Há rosas e espinhos em todos os caminhos da vida. Dei meu corpo à minha fé e dediquei minha vida a auxiliar na salvação de outras pessoas, mas devo admitir que é uma estrada bem solitária as vezes.”, seu tom de voz é baixo, como se as palavras simplesmente flutuassem pela sala.
“Mas você não está sozinho agora.” ele sorri.
Sentamos no sofá e apenas um curto espaço separa nossos corpos. Sua barba me faz querer ofegar de momentos em momentos e somos iluminados apenas pela luz da lareira que fica ao canto da sala. Talvez o dia esteja quente, ou talvez seja eu.
“Então, padre, o que acha de conversarmos sobre Primavera, de Botticelli?” indago de forma inocente.
“Eu gostaria que você me chamasse de Fábio. Tenho orgulho do meu título, porém estamos em um momento pessoal e acho que te deixarei mais à vontade assim. E... embora essa pintura seja uma das maiores obras primas que eu já tive o prazer de conhecer, sinto como se devesse te conhecer melhor.”
“Me conhecer melhor, Fabio?” o coração acelera.
“Devo admitir que não pude parar de imaginar esse momento desde que nos vimos no museu. Embora eu ame conversar sobre arte, eu quero conversar sobre você. Quero conhecer você, Lucas.”
“Você pode me perguntar qualquer coisa e, já que estamos confessando coisas, confesso que todas as vezes que lembrei de você nesses dias, eu sorri.”
Nossos corpos se aproximam, nossas pernas encostam.
“Confesso que você é a primeira pessoa que eu sinto uma conexão tão forte.”
“Confesso que sinto atração por você.”
Viramos as taças de vinho e voltamos a nos encarar, em silêncio. Sinto como se tivesse deixado paralisado. Me aproximo lentamente até que... ele se esquiva e levanta.
“Desculpe, Lucas. Mas acho que não posso fazer isso. Você me deixa confuso de tantas maneiras e sinto como se estivesse traindo meus votos aqui.” diz ofegante, cheio de pesar na voz.
“Você não está traindo nada, Fabio. Eu sei que você sente algo e pela primeira vez na vida você precisa deixar-se sentir.”
“Mas isso seria...”
“Não, Fabio.” interrompo-o chegando perto até que nossos corpos se toquem de novo. “Se deixe sentir, se deixe levar.” vou até seu ouvido esquerdo e falo baixinho, “Somos só eu e você. Nós, e o agora.”
Não há mais armadura nem proteção sob seu ser. É o que ele quer. Empurro-o contra a parede onda está pendurada uma fotografia de um homem solitário na beira de um penhasco. Seguros suas mãos com força e sinto seu ofego mais íntimo e beato. Devagar vou até sua boca enquanto ele permanece parado e, finalmente, nossos lábios encostam-se em uma faísca única da primeira vez. Seu beijo é levemente molhado e quente e sentir sua barba roçar no meu rosto faz-me sentir vivo como nunca.
“Tudo bem?” pergunto preocupado se havia ido longe demais.
“Nós e o agora, Lucas.”
Ele volta a me beijar com força e pressiono-o com mais força contra a parede. Seu corpo é quente e suas curvas chegam a ser cruéis. Sinto, de todas as formas, que eu sou tudo que ele quer.
Autor(a): lucaslincoln
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