Fanfics Brasil - Nenhuma escolha é completamente vantajosa; sempre há o que perder O safado do 105 (ADAPTADA)

Fanfic: O safado do 105 (ADAPTADA) | Tema: Rebelde


Capítulo: Nenhuma escolha é completamente vantajosa; sempre há o que perder

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Lembro-me de, naquela fatídica noite, ter passado pelos momentos mais solitários e sufocantes
de toda a minha vida. Fui ao hospital, como prometi, constatando que os meus pais, bem como os meus irmãos, estavam completamente desestabilizados. Não espera encontrá-los lá – não estava inteirada sobre as escalas –, mas até o Guilherme não foi poupado.



O coitado não parava de chorar. Estava muito angustiado com o estado de saúde da nossa avó. Por ser o caçula e o único menino, obviamente foi tratado com muito mais mimo tanto pelos meus pais quanto pela minha vozinha querida. As coisas começaram a sair do controle quando Gui simplesmente surtou; ficou murmurando sem parar que a vovó ia morrer a qualquer instante. Ninguém entendeu, mas foi um choque. Papai, sem saber o que fazer, levou-o para a lanchonete do hospital. Gui nunca teve um comportamento emocional muito bom, desde criança.



Mamãe chorava muito, e piorava quando via seus filhos sofrendo. Sara tentava como podia
acalentá-la, mas o seu desespero também era evidente. A minha ausência havia sido sentida durante todo o dia, e me lembrar de que estava evitando a dor só fez com que ela fosse intensificada. Fiquei sentada em uma cadeira desconfortável, deixando a vida passar enquanto nenhum pensamento me acometia.



Quando um médico apareceu do nada, buscando por um representante da nossa família, mamãe se desesperou de vez. Estava quase fazendo um escândalo, querendo saber o que tinha acontecido. O médico pediu para que ficasse calma, mas só piorou. Sara, por fim, quase implorou para que eu fosse falar com ele, já que o papai tinha saído com o Gui. Por incrível que pareça, eu era a pessoa mais centrada disponível. E isso só podia ser uma piada.



Uma parte do meu cérebro não conseguiu entender por que todo mundo tinha ficado tão nervoso. Tudo bem que a minha família sempre foi louca, mas o comportamento anormal, mesmo diante de uma situação igualmente anormal, deixou-me assustada. Tomei fôlego, como quem está prestes a dar um mergulho e acompanhei o doutor.



Caminhamos por alguns corredores até chegarmos a uma sala de atendimento privado. Imaginei que ele ia propor alguma espécie de cirurgia, e que para isso seria necessária a assinatura de alguns documentos, ou algo assim. Enfim, sabia que o assunto era sério, só não fazia ideia se conseguiria ouvir tudo.



– Qual é o nome da senhorita? Sente-se... – Apontou para uma cadeira alcochoada.



– Dulce... – Observei sua barba e cabelos grisalhos. O doutor era um senhor com uma aparência bem simpática, mas o olhar permaneceu firme. Meus olhos se encheram de lágrimas, nem sei dizer por que.



– Qual é o seu grau de parentesco com a paciente?



– Neta. Sou neta. O que aconteceu, Doutor? Por favor, diga logo.



Ele reafirmou as expressões. O olhar premeditou a tragédia. Senti as lágrimas rolarem pelo meu rosto, mas prendi os lábios e tentei me controlar. A minha família estava contando comigo.



– Dulce, vou falar tudo de um jeito que entenda.



– Por favor... – Senti meus dedos congelarem de medo.



– Nesta tarde, percebemos que os antibióticos geraram um quadro de melhora na sua avó.
Estávamos positivos com a recuperação dela, mas... – Soltou um suspiro, e mais lágrimas se fizeram presentes. Não fui capaz de falar nada. – Controlamos as doses para que seus batimentos cardíacos se mantivessem constantes, porém a sepse, ou seja, a infecção, estava em um estágio muito avançado.



Levei uma mão à boca, soltando um soluço que partiu do fundo da minha alma. Eu sabia que
tinha acontecido. Contudo, a esperança é mesmo traiçoeira; teima em não nos abandonar até o ultimo segundo. Pena que aquele instante em que tudo desmorona veio depressa demais.



– Fizemos o Dulce, Raissa, mas a sua avó sofreu uma falência múltipla de órgãos. Eu sinto
muito.



Deve ter passado um filme na minha cabeça. O médico continuou me olhando, desta vez com
pena. Perdi a fala e a capacidade de me mexer. Até as lágrimas cessaram. Meu mundo inteiro
congelou apenas para tentar suportar a carga emocional jogada em minhas costas.
Pode parecer esquisito, mas coloquei a culpa de tudo em mim. Jamais devia ter saído de casa.
Não devia tê-los abandonado. Se eu ainda morasse com a minha família, teria levado a minha avó para um hospital desde o primeiro espirro. Eu sempre fui mais exigente com relação a tudo.



Balancei a cabeça afirmativamente na direção do médico. Ele avisou que nos daria um tempo,
mas que dali a alguns minutos alguém apareceria para resolver a situação dos documentos, bem como a liberação do corpo.



Voltei para a sala de espera em câmera lenta. Via tudo embaçado – não por causa das lágrimas, visto que tinham secado, era a minha mente que não conseguia registrar tudo. Meu corpo entrou em transe, uma espécie de estado que associei como sendo um pesadelo. Nada parecia real.



Voltando à sala de espera, sentei-me ao lado da Sara e da mamãe, que me aguardavam ansiosas. Minha mãe ainda quis se levantar quando me viu, mas Sara a controlou. Ambas souberam o que tinha acontecido quando meu olhar cruzou os delas. Mesmo assim, esperaram o veredito. Maldita esperança!



– Vovó está no céu agora – murmurei quase sem voz. A continuação da frase “e a culpa é minha” circulou apenas no meu cérebro. Somente eu sentiria aquela dor, era a minha responsabilidade lidar com ela.



Mamãe desabou, literalmente. Não me surpreendi. Por mais difícil que seja perder uma avó,
deve ser ainda pior perder uma mãe. Eu não queria fazer ideia disso nem tão cedo. Chamei uma enfermeira com urgência, que por sua vez chamou uma equipe. Levaram a mamãe em uma cadeira de rodas; ela estava imersa em um meio desmaio esquisito.



Pedi a Sara que a acompanhasse, alegando que avisaria o acontecido à família. A minha irmã
estava desesperada, mas pelo menos eu soube que se manteria de pé para suportar toda a rebordosa de mamãe.



Liguei para o papai. A notícia o abalou muito, porém senti que lamentou mais por nós do que
por si mesmo. Sobretudo pelo Gui que, quando soubesse, reagiria ainda pior. Depois de pelo menos umas cinco ligações – de acompanhar muitas lágrimas e desespero por parte dos meus familiares –, o meu mundo se transformou em uma espera.



Senti o frio que fazia no hospital congelar tudo de bom que existia em mim. Só conseguia pensar na última vez que vi a minha avó. Aquela visita egoísta – afinal, só fui vê-los por causa da minha solidão – havia sido a nossa despedida, e eu nem sabia. É duro demais aceitar um adeus, e pior ainda um que poderia ter sido evitado.



Eu devia ter ido visitá-la durante a semana. Devia ter lhe falado mais coisas. Tê-la tratado com
mais paciência. Devíamos ter ido a mais lugares juntas, e ela devia ter me contado mais histórias. Não importam os momentos que passei com a minha avó, nem a eternidade faria que eles fossem suficientes.



Lembrei-me de suas últimas palavras direcionadas a mim. Eu havia dado um beijo em sua testa
e murmurado o famoso “bença, vó”. Ela sorriu, como sempre, e respondeu (como sempre também):



– Deus te abençoe, minha filha.



As recordações me fizeram cair em um choro silencioso e constante. Fui envolvida pela
nostalgia completa, que se dividia com a tristeza, e depois se somavam, multiplicando a dor no meu peito. Chorei tanto que já estava cansada de fungar e tentar limpar o meu rosto com a gola da minha blusa.



Fiquei imaginando se a Clarice tinha uma frase boa o bastante para me trazer conforto. Depois
de dois segundos, decidi parar de pensar nisso. Mesmo existindo uma boa citação, não havia ninguém ali para proferi-la.



A minha família se reuniu na recepção, pelo menos três andares abaixo da sala de espera da UTI.



Sara me ligou depois de quase duas horas (que usei apenas para sentir a dor da perda), avisando-me que o corpo já havia sido liberado para o IML fazer o serviço. Meu pai e o meu tio se juntaram para organizar tudo o que seria necessário para fazer o velório. Como já era tarde, certamente as coisas se seriam resolvidas de verdade pela manhã.


Eu não queria saber ou decidir sobre nada daquilo. Perguntei se a mamãe estava bem e,
recebendo uma resposta razoável, sequer os procurei para me despedir. Desci pelo elevador, seguindo diretamente para a garagem do hospital. Fugi mesmo. Fui egoísta e, mais uma vez, abandonei as pessoas que amava. Avisei a Sara que iria para casa, mas que no dia seguinte arranjaria uma folga no trabalho para ajudar no que fosse preciso. Ela estava tão aérea que sequer ligou para o meu distanciamento.



Simplesmente fui para casa. Dirigi como uma tartaruga paraplégica até estacionar em frente
àquele jardim, que já não me era estranho. Nunca o número 104 me foi tão atraente. Pensei que não fosse capaz de chamar aquele lugar de lar, mas depois que percebi que havia trocado a companhia dos meus familiares por aquelas paredes, compreendi, pela primeira vez desde que me mudei, que ali era a minha casa.



Deitei-me no tapete consolador e chorei. Chorei alto, de um jeito que não pude fazer no hospital. A sensação de alívio trazida pelo desabafo foi muito bem-vinda. Entendi os motivos da minha escolha: eu só queria ser eu diante daquela dor. Não queria precisar me controlar, muito menos consolar alguém. Não queria a cura para aquela dor, apenas senti-la como um mal necessário.



Arrastei-me até a minha cama, tirando a roupa pelo caminho. Os soluços se intensificaram
quando afundei o meu corpo no colchão, e a cabeça na camisa do Calvin sobre o meu travesseiro. Ouvi gemidos curtos. Droga! Puta que p/ariu! Dia errado, Calvin Klein. Nada abafaria o meu choro. E, de fato, eles conseguiram ser mais intensos do que aquilo que acontecia no quarto ao lado.



– Dulce? – ouvi a voz ofegante dele.



– Com quem está falan... – uma mulher tentou dizer.



Soltei um soluço ainda mais alto.



– Shhh... – Calvin mandou a maldita calar a boca. – Dulce, o que houve?



Continuei a chorar desesperadamente. Soquei o travesseiro com raiva, sentindo que ia explodir
de dor, ódio, frustração, tudo junto e misturado.



– Dulce, fala comigo... Por favor! – Balancei a cabeça negativamente. – Eu vou aí, agora!



– Não! – gritei. – Respeite a minha dor, pelo amor de Deus! Deixe-me chorar na minha própria
casa! – A minha voz saiu esganiçada, até mesmo meio malcriada.



– Mari, preciso que vá embora – ouvi-o dizer para a vadia que estava comendo. – Eu te ligo. É
um assunto importante.



– Tá... – A chateação da mulher ficou evidente. Não me pronunciei a respeito. – Me liga mesmo, gato.



– Pode deixar...



Nojo. Vergonha. Ódio. Medo. Dor. Devia existir um nome que definisse tantos sentimentos ruins juntos, assim quem sabe eu pudesse me compreender. No entanto, a palavra que chegava mais próxima era: catástrofe.



Um acidente emocional gravíssimo acontecia dentro de mim.



– Dulce? – Ouvi batidinhas na parede, depois de alguns minutos. – Foi a sua avó?



Soltei um grito indefinido.



– Ela morreu! – decidi defini-lo, mas me arrependi. O meu berro foi capaz de me deixar ainda
mais assustada.



– Ah, meu Deus... Dulce, estou chegando aí. Abre a porta, por favor.



– Não! Por favor digo eu! Poupe-me de você.



– Dulce, eu sei como é isso. Acredite. Sei o que é perder alguém importante... Deixe-me ajudála.



Soquei o travesseiro, depois o atirei contra a parede.



– Não! Eu não preciso de você, Calvin. Eu te usei tanto quanto me usou. Fingimos que nos
conhecemos, mas somos dois desconhecidos. E eu não quero te conhecer, pois já sei tudo o que preciso saber para ter a certeza de que te quero bem longe de mim.



Calvin entrou em um silêncio profundo. Chorei e chorei em cada segundo sufocante que se
arrastou. Às vezes, parava só para ouvir a sua respiração pesada, certamente causada pela irritação que lhe provoquei de propósito. Os serem humanos têm o péssimo hábito de serem cruéis quando algo lhe dói, só para terem o prazer de fazer o outro sofrer também.



Se bem que, naquele caso, não consegui definir quem estava sendo mais cruel. Só havia uma
certeza: ali estavam duas pessoas extremamente magoadas com a vida.



– “Você pensa que nunca vai esquecer, e esquece” – sussurrou suavemente. – “Você pensa que essa dor nunca vai passar, mas passa. Você pensa que tudo é eterno, mas não é”... Vou te deixar em paz, Dulce. Fique bem.



Ouvi a porta de seu quarto batendo. Tranquei a do meu coração apenas para conseguir respirar. Joguei a chave pela janela e me preparei para uma noite longa.



A solidão, a dor e eu. Isso sim era um sanduíche de Dulce  aceitável


 


________________________________


 


Tadinha da Dul gente {#emotions_dlg.cry}


 


Post dedicado para as lindas guidylc , hanna_ e danihponnyvondyrbd



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Autor(a): luvondul

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 41



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  • aucker Postado em 17/12/2020 - 23:29:30

    Como essa fic pode ter poucos comentários gente? Sério msm amei a história

  • dudinhah Postado em 16/11/2018 - 01:59:46

    Essa é a única web ,que eu li que não tem os outros rbds

  • manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:27:20

    https://m.fanfics.com.br/fanfic/55689/never-gonna-be-alone-vondy estou começando a escrever essa fanfic passem-lá

  • manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:25:24

    Simplesmente perfeita essa fanfic, amei d+ a história

  • stellabarcelos Postado em 06/04/2016 - 14:13:33

    Amei amei amei amei! Uma das histórias Hot mais incríveis que eu já li! Nunca ia esperar por isso

  • luvondul Postado em 24/03/2016 - 21:42:19

    Christopher Uckermann é um renomado advogado criminalista apaixonado pelo que faz. Além do sucesso inquestionável na carreira jurídica, também usufrui do impacto devastador que provoca nas mulheres a sua volta. E com a sua nova estagiária Dulce Maria não seria diferente. Recém-chegada de uma temporada fora do país, quando acompanhou o então namorado e cantor pop Dereck Mayer em turnê pelo mundo, a estudante de Direito está determinada a cumprir as horas de estágio para finalmente ganhar o diploma, nem que para isso tenha de resistir aos hipnotizantes olhos azuis do dr. Uckermann. Assim como o seu chefe, a jovem leva uma vida descompromissada, curtindo o sexo oposto sem romantismo ou grandes demonstrações de afeto. Passem lá na minha nova fic meninas ;) http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=53091&capitulo=1

  • hanna_ Postado em 22/03/2016 - 15:46:44

    Foi tudo muito lindo ao modo safado dele mas foi hahahah...fiquei muito feluz de acompanhar essa fic. Cada frase da Clarice q tbm falou com nós leitoras. Ansiosa para sua próxima adaptação. Obrigada vc, bjôooo ;)

  • danihponnyvondyrbd Postado em 20/03/2016 - 21:13:55

    O comentário abaixo e meu

  • Postado em 20/03/2016 - 21:11:41

    N acredito q é o ultimo (to chorando um balde de água) n pode acaber é muito boa por favor não faça isso comigo o meu coração não aguenta. Postao próximo capítulo :-):-):-)

  • hanna_ Postado em 20/03/2016 - 01:06:00

    Q lindos! Ah eu amei a Clarice e o Ck tbm <3 ...Tá acabando :(


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