Fanfic: O safado do 105 (ADAPTADA) | Tema: Rebelde
O sábado chegou a passos lentos, e não soube dizer se foi porque as coisas no trabalho pegaram fogo ou se foi porque o Calvin sumiu (só ouvia a sua respiração quando o meu despertador tocava, anunciando mais um dia), levando consigo toda e qualquer novidade na minha vida (o cara era a única coisa que acontecia comigo, sério).
Acordei relativamente cedo, e fui à casa dos meus pais, como prometido (exigido). Mamãe já
me esperava com expectativa, achando que eu não cumpriria com a promessa. Ela também fez os meus irmãos não marcarem mais nada aos sábados, e é claro que eles detestaram isso, sobretudo o que Guilherme que, segundo a Sara, estava de namoro com uma garota do bairro.
Bom, mesmo que os meus irmãos não estivessem satisfeitos por perderem seus devidos sábados por minha causa, tentaram fazer dele um dia divertido. Começamos jogando Perfil na mesa da sala de jantar, coisa que não fazíamos há muito tempo. Até que foi legal, tivemos direito a chocolate quente e explicações inteligentes vindas do meu pai (ele sempre se achava por ser um sabe-tudo irritante).
Depois do almoço confuso, em que todo mundo emitiu suas opiniões sobre tudo de uma vez só
(sem contar com a Clarinha, que chorou o tempo todo porque não queria comer carne, e mamãe nunca deixa ninguém sem comer proteína), assistimos a dois filmes na sala de estar.
Isso, claro, depois de discutirmos sem parar sobre qual filme nós assistiríamos. Papai e Guilherme não queriam nada meloso, já a mamãe e a Sara se recusavam a ver alguma coisa com guerras ou tiros. Mantive-me neutra, porém acabei como o divisor de águas: escolhi uma ficção científica qualquer e um filme de terror macabro.
Até aí tudo bem. O negócio só começou a ficar estranho perto da hora do jantar. Acho que todo
mundo se cansou de fingir que a vovó não fazia falta. A única verdade era que fazia, e muita. Suas histórias nunca mais seriam contadas, e nem o delicioso bolo de fubá acompanharia o café da tarde. Também acho que a cadeira de balanço do terraço nunca mais seria a mesma.
Não sei dizer o que realmente mudou, mas a vinda da noite nos fez mais introspectivos. Até o
papai parou de soltar gracinhas. Mamãe já não estava tão bem desde mais cedo (o que considerei normal e fiz de tudo para respeitar), contudo piorou durante o jantar, que ajudei a preparar justamente porque ela não parecia muito sóbria.
A única fonte de animação foi a Clarinha. Como toda criança, estava alheia às aflições e também à grande perda da nossa família. Sara comentou, quando lhe perguntei às escondidas, que a minha sobrinha perguntava pela vovó às vezes, recebendo sempre a resposta de que ela estava viajando. A coitada era muito pequena para entender qualquer coisa. Achei tudo tão triste que confesso que voltei para casa me sentindo péssima.
Mesmo sabendo que, com o tempo, iríamos nos acostumar, nossa família nunca mais seria a
mesma. Eu não sabia realmente se queria me acostumar com a ausência da minha querida avó. Acho que não tenho maturidade para lidar com perdas, e talvez tenha comprovado isso quando alcancei a minha cama e chorei tudo o que tinha deixado de chorar nos últimos dias (por ela, não pelo Calvin, já que vinha chorando por ele mais do que o merecido).
Depois de uma breve pesquisa, decidi dedicar uma parte da minha parede para a minha avó,
escrevendo a seguinte frase:
“Mas lembrar-se com saudade é como se despedir de novo”.
Acreditei que o meu cérebro insistia em se despedir por causa da ausência de uma despedida
definitiva, em que se sabe que alguém vai partir e nunca mais voltar. Eu queria ter tido um adeus mais digno, porém fiquei apenas com a dor da saudade do que não aconteceu e do que devia ter acontecido.
Estava chorando copiosamente quando ouvi ruídos no quarto ao lado. Calei-me, abafando os
soluços no travesseiro. Não adiantou. Calvin conseguiu me ouvir mesmo assim.
– Dulce? – Ele sempre me chamava daquele jeito curioso e ao mesmo tempo cheio de
expectativas. Eu gostava. Meu nome soava bem saindo de sua boca.
Uma olhada no relógio me fez perceber que já era quase uma hora da manhã. Havia me
lamentado durante muito tempo.
– Dulce, você está bem? – Calvin pareceu bem preocupado.
– Não... – respondi com a voz esquisita. Meio esganiçada, eu diria.
– O que houve? Algum problema?
– Sinto falta da vovó... – choraminguei. – Sinto falta de tudo o que eu queria dizer a ela e nunca disse.
O silêncio que o Calvin faz sempre é misterioso, e sempre guarda coisas que sequer imagino.
Suas próximas palavras nunca são previsíveis, em nenhum momento, em nenhuma situação. A
imprevisibilidade tanto me angustiava quanto me atraía.
– Você, eu, tapete da mamãe e um chá de camomila. Topa?
Sorri, porém mais lágrimas escorreram pelo meu rosto.
– Você chegou agora... Está cansado.
– Não importa, Dulce. Chego aí em alguns minutos, só vou esquentar a água para o chá.
Como aquele homem podia ser tão lindo? Era descomunal demais quando comparado a todos os caras que já cruzaram o meu caminho. Nenhum deles conseguia ser tão sensível, verdadeiro e prestativo. Tudo bem que nenhum era tão cafajeste, mas, naquele instante, a safadeza do Calvin não passou de um mero e insignificante detalhe.
– Obrigada, vizinho – murmurei.
– Amigos são para essas coisas.
E companheiros de verdade também são. Sua capacidade de ser companheiro só era mais um
fator que aumentava o meu desejo de tê-lo para mim de uma vez por todas.
Vesti algo mais comportado do que a minha camisola curta de seda. Não queria problemas, por
isso me contentei com um short jeans e uma blusinha de alça. Soltei os cabelos e lavei o rosto só para não parecer tão acabada. Pus um pouco de blush só para disfarçar a palidez. Levei todos os travesseiros e um edredom para o tapete da Sra. Klein. Deixei a porta aberta. Só esperei pacientemente.
Calvin apareceu alguns minutos depois, vestindo uma bermuda branca e uma camiseta azul clara, empunhando um bule fumegante e duas canecas brancas com desenhos de smiles. Colocou-os em cima da mesa de centro e se sentou à minha frente para finalmente sorrir. Sorri de volta. Ainda sem dizer nada, Calvin ergueu uma mão e tocou a minha bochecha carinhosamente. Pronto. Ele não
precisava fazer mais nada, o meu coração já se sentia drasticamente melhor.
Seu polegar atravessou os meus lábios, e então encarou a minha boca. Passou os próprios lábios pela sua e voltou a sorrir. Meu corpo deu sinal de vida, fazendo-me perceber que estava morrendo afundada em lamentos e saudade. Ele estava me salvando aos pouquinhos, oferecendo-me sua mão para me tirar do fundo do poço.
Olhos escuros voltaram a observar os meus. Dedos quentes pararam de me tocar. Calvin se
manteve em silêncio enquanto nos servia nas canecas. O cheiro de chá invadiu a minha sala e me fez ficar ainda mais à vontade. Chá de camomila tem cheiro de lar, e o meu era exatamente ali.
Deixei uma lágrima escorrer quando ele me ofereceu uma caneca. Calvin brindou, chocando a
dele contra a minha, e tomamos o primeiro gole juntos. Estava uma delícia, com a quantidade certa de água e açúcar. Perfeito.
Reparei que ele observava o percurso de cada lágrima que sem querer eu deixava cair.
– Queria uma frase que pudesse arrancar toda dor que está sentindo, Dulce... – murmurou, e
fechei os olhos só para me deliciar com o seu timbre suave. – Mas é melhor que a sinta. É melhor que chore tudo o que precisar chorar.
Suas palavras só me fizeram chorar ainda mais, contudo não foi algo ruim. Principalmente
quando ele decidiu envolver seus braços nos meus ombros e me puxar até que o meu rosto se
afundasse em seu peito. E foi lá que chorei como uma louca, soluçando e gemendo sem pausas, consumida pela saudade e pelo sentimento de acolhimento que apenas aqueles braços me proporcionavam.
O cheiro dele tinha que ser tão bom? E aquela pele tão quente? Acredito que só parei de chorar porque ambos (cheiro e pele) estavam mexendo demais com as minhas estruturas (eu estava tão inclinada quanto a Torre de Pisa).
Calvin começou a alisar os meus cabelos com cuidado, o que também ajudou a me acalmar.
Tomamos o chá lentamente, esperando o tempo passar e levar o meu desespero para longe. A sala começou a ficar bem fria, por isso o Calvin usou um pé para fechar a porta. Devolveu as canecas vazias para a mesa de centro e puxou o edredom. Deitou-se em meio aos travesseiros, levando-me junto.
O pedido de socorro do meu corpo fez o meu cérebro entender que aquilo não daria certo. Quero dizer, Calvin, tapete, edredom, vulnerabilidade, eu... Não podia acabar bem. Ou melhor, podia acabar tão bem que acabaria mal, se é que me entende.
Afastei-me o bastante para fazer nossos corpos desgrudarem, porém continuarem próximos.
Calvin me olhou com uma expressão misteriosa. Não fez nenhum comentário sobre o meu
afastamento.
– Sabe... Acho que você devia passar um sábado comigo na casa dos meus pais – falei, sem fazer noção de onde tinha tirado aquela ideia louca.
Calvin riu um pouquinho, balançando a cabeça em negativa.
– Por quê?
Boa pergunta!
– Não sei... Só seria legal. – Seria? – A gente faz coisas de família. Há quanto tempo você não
faz coisas de família?
Calvin ficou bem sério, de repente. Sabia que estava cutucando uma ferida profunda, mas aquele momento de cumplicidade entre nós permitia qualquer coisa mais intensa, inclusive a abordagem de um assunto delicado.
– Muito tempo.
Aquiesci. Ergui uma mão só para iniciar uma sessão de carícia nos cabelos dele. Eram curtinhos e bem escuros, bons demais de tocar.
– Como foi a sua semana? – Calvin mudou de assunto na maior cara de p/au. Senti-me uma idiota por ter proposto algo tão nada a ver. Dei um vacilo feio.
– Exaustiva, e a sua?
– Idem, mas proveitosa. Acho que vou conseguir aquela promoção. Estou me adaptando bem ao cargo. – Sorriu um sorriso límpido, que foi acompanhado pelos olhos brilhantes.
Larguei seus cabelos e me virei de lado. Ele fez o mesmo, e ficamos frente a frente, mantendo
uma distância confortável (que eu estava louca para desfazer, e sentindo que não era a única) entre nós.
– Sensacional! Estou na torcida... Ah, e qualquer dia desses farei uma visita.
– É... Você está me devendo. Vou cobrar, hein?
– Pode deixar. – Pisquei um olho.
Sorrimos um para o outro, mas fomos parando mediante o silêncio se fazia constrangedor. Quero dizer, eu fiquei meio constrangida. Ele não pareceu tanto assim. Sem querer, soltei um bocejo. Meu corpo cansado estava tão relaxado naquele tapete que acabei ficando meio sonolenta. O chá deve ter ajudado um pouco também.
– Vou te deixar dormir. – Calvin meio que se levantou, porém o impedi, espalmando uma mão
no seu peitoral definido. Olhamos juntos para ela.
– Não vá – sussurrei.
Calvin segurou a mesma mão com firmeza, e um segundo foi o bastante para que resolvesse voar para cima de mim, pousando o seu corpo enorme sobre o meu. Soltei um gritinho curto de susto, mas o safado não hesitou.
– Se eu ficar, não vou ignorar o meu desejo, Dulce– disse com a voz repleta de excitação. Fez
um movimento capaz de roçar o que tinha na sua bermuda contra a minha perna. Arregalei os olhos, perdendo-me completamente. – Estou tentando respeitar a sua decisão, mas não me provoque. Não me toque assim, não me olhe assim... Não fale, não respire, não viva perto de mim, Dulce... Qualquer coisa que faça me deixa muito excitado.
Sua boca estava tão perto da minha que eu não precisava de quase nada para dar adeus aos meus planos. Aquele hálito quente contra a minha pele só piorava toda a situação.
– Calvin...
Ele fechou os olhos e prendeu os lábios. Voltou a me olhar, porém meio chateado. Sei lá, não
soube explicar direito as suas reações. Mantive-me estática, com medo até de piscar os olhos.
– Eu não acredito que você não me quer, Dulce. É difícil demais aceitar.
Senhor, era isso o que ele pensava? Que eu não o queria e por isso o evitava? Que tolice! Era
justamente o contrário; só o estava evitando por querê-lo em demasia. Meu desejo era tão grande que chegava a ser perigoso tanto para ele quanto para mim.
Pensei tanto antes de responder qualquer coisa que perdi a minha deixa. Calvin roçou seu corpo no meu, lentamente. Senti todo seu tamanho e quentura me tirando do sério. Os braços circularam o meu rosto, e continuei sem me mexer.
Força de vontade. Precisava da disciplina de alguém que está de dieta e rejeita todos os doces
oferecidos de bandeja. Suspirei, criando uma nova deixa para mim. Desta vez, aproveitei-a.
– Não se faça de desentendido, Calvin. Sabe o que está acontecendo, e sabe os motivos da minha rejeição. – Empurrei-o, utilizando minhas mãos que tremiam de nervosismo. Ele se afastou de imediato, ajoelhando-se no tapete. Sentei-me. – Não vivo como você. Não funciono assim – repeti suas mesmas palavras.
Calvin ficou ainda mais chateado, só que a irritação não foi a única coisa que pude constatar em seu olhar. Havia algo mais.
– Como você funciona? Quero entender.
– Não sou mulher para ser dividida com outras. Não me satisfaço com uma noite, nem com mil,
porque não é só sexo o que busco. Quero um homem, não uma transa.
Seus olhos se escureceram bastante. A seriedade fez seu maxilar firmar até deixar óbvio que
estava cerrando os dentes.
– Você sabe que eu só...
– Eu sei! – Adiantei-me. – Não busco o que quero em você. É por isso que somos amigos.
Calvin arfou, chacoalhando a cabeça, e depois sorriu. Desviou os olhos.
– Certo – definiu.
Levantou-se, e desta vez eu que não era doida de impedi-lo. Ainda sentada, tomei coragem para fazer a pergunta que sempre rondava entre nós:
– Tem certeza, Calvin?
Encarei-o com ar temeroso. Ele parou de tentar juntar o bule e as canecas. Olhou-me, surpreso.
– O quê?
– Você tem certeza? – perguntei de novo, olhando-o com significância.
Calvin sorriu, mas de um jeito que não convenceu ninguém. Começava a achar que aquele
sorriso constante nada mais era do que uma máscara que escondia dor, sofrimento e angústia. Ele se curvou, beijando-me a testa. Juntou as coisas e abriu a porta.
O maldito, teimoso e safado de uma figa teve a coragem de responder:
– Tenho, Dulce.
Deu de ombros antes de realmente ir, deixando-me com duas saudades para dar conta. E eu dei. Sabe por quê? Por que eu ia fazê-lo engolir cada certeza. Seu arrependimento será tão grande que vai me pedir perdão até bem depois de eu desculpá-lo (porque eu sei que vou).
Esse idiota vai pagar a própria língua, e eu irei assistir à sua rendição de camarote. Ou isso, ou
mudo o meu nome para Valeska Popozuda
Autor(a): luvondul
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 41
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aucker Postado em 17/12/2020 - 23:29:30
Como essa fic pode ter poucos comentários gente? Sério msm amei a história
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dudinhah Postado em 16/11/2018 - 01:59:46
Essa é a única web ,que eu li que não tem os outros rbds
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manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:27:20
https://m.fanfics.com.br/fanfic/55689/never-gonna-be-alone-vondy estou começando a escrever essa fanfic passem-lá
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manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:25:24
Simplesmente perfeita essa fanfic, amei d+ a história
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stellabarcelos Postado em 06/04/2016 - 14:13:33
Amei amei amei amei! Uma das histórias Hot mais incríveis que eu já li! Nunca ia esperar por isso
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luvondul Postado em 24/03/2016 - 21:42:19
Christopher Uckermann é um renomado advogado criminalista apaixonado pelo que faz. Além do sucesso inquestionável na carreira jurídica, também usufrui do impacto devastador que provoca nas mulheres a sua volta. E com a sua nova estagiária Dulce Maria não seria diferente. Recém-chegada de uma temporada fora do país, quando acompanhou o então namorado e cantor pop Dereck Mayer em turnê pelo mundo, a estudante de Direito está determinada a cumprir as horas de estágio para finalmente ganhar o diploma, nem que para isso tenha de resistir aos hipnotizantes olhos azuis do dr. Uckermann. Assim como o seu chefe, a jovem leva uma vida descompromissada, curtindo o sexo oposto sem romantismo ou grandes demonstrações de afeto. Passem lá na minha nova fic meninas ;) http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=53091&capitulo=1
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hanna_ Postado em 22/03/2016 - 15:46:44
Foi tudo muito lindo ao modo safado dele mas foi hahahah...fiquei muito feluz de acompanhar essa fic. Cada frase da Clarice q tbm falou com nós leitoras. Ansiosa para sua próxima adaptação. Obrigada vc, bjôooo ;)
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danihponnyvondyrbd Postado em 20/03/2016 - 21:13:55
O comentário abaixo e meu
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Postado em 20/03/2016 - 21:11:41
N acredito q é o ultimo (to chorando um balde de água) n pode acaber é muito boa por favor não faça isso comigo o meu coração não aguenta. Postao próximo capítulo :-):-):-)
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hanna_ Postado em 20/03/2016 - 01:06:00
Q lindos! Ah eu amei a Clarice e o Ck tbm <3 ...Tá acabando :(