Fanfic: O safado do 105 (ADAPTADA) | Tema: Rebelde
Sabe quando a gente vai ao shopping e compra tudo o que der na telha, sem importar o preço? É, eu sei, também nunca aconteceu comigo. Exceto naquela sexta-feira. Passei muito tempo desanimada, esperando que aquele dia jamais chegasse, contudo, quando me vi diante de um acontecimento inevitável (Calvin jamais me perdoaria se eu não me desse o trabalho de dar alguns passos até a casa ao lado), permiti-me torrar toda a minha grana com o único intuito de arrasar naquela maldita festa.
Eu sabia que ia chover vadia. E pior do que aturar vadia é aturar vadia que se veste bem (pode
ser recalque da minha parte, mas sempre nutri uma espécie de ódio mortal por putinhas metidas a patricinhas). Já era certo que eu ficaria me sentindo um peixe fora d’água, então pelo menos devia ser um peixe estiloso, que chama a atenção do aquário, fecha o trânsito e arrasa quarteirões.
As mulheres que o safado come costumam ser bonitas, mas eu acordei a fim de ir além da
beleza. Estava disposta a deixar a minha presença marcada, mesmo sabendo que ficaria por pouco tempo (pretendia ir embora no instante em que o Calvin começasse a me ignorar para dar atenção às outras convidadas). Sendo assim, fiz o possível para montar um look perfeito (baseado em todos os episódios de “Esquadrão da Moda” que já assisti).
Agradeci aos céus porque a comemoração ia começar supertarde (só o Calvin para marcar uma festa que tem seu início às onze horas da noite), pois acabei tendo tempo para ir a um salão de beleza também. Fiz questão de fazer uma espécie de penteado, que na verdade foi uma escova benfeita acompanhada por cachos grandes da metade até as pontas dos meus cabelos. Paguei por uma maquiagem mais profissional também, e, devo confessar, fiquei com cara de modelo de revista. Passei um tempão me olhando no espelho retrovisor do meu carro enquanto dirigia de volta para casa, namorando a minha própria imagem.
Meu ego tinha de estar lá em cima, pois eu ia precisar dele.
O modelito escolhido foi uma saia preta de cintura alta, com alguns botões em formato de
caveira decorando nas laterais. As caveirinhas eram todas de ouro (por isso aquela me/rda foi tão cara!), e combinaram perfeitamente com a blusinha dourada que comprei. Era de um tecido bem leve, esvoaçante, e as alças finas eram feitas de correntes também de ouro. Coloquei um brinco pequeno para não ficar tão perua, mas abusei nas pulseiras.
Completei tudo com uma meia calça preta e botas de salto agulha com cano curto. Nunca usei
um troço tão desconfortável na minha vida (até treinei um pouco andando pela minha casa, não podia arriscar cair de cara no chão, pois não era assim que eu queria ficar conhecida na festa), mas juro que foi o toque final para completar o meu estilo “a garota fantástico”.
Coloquei o perfume que só uso em festas (e em encontros casuais com o Calvin) e me senti
fechando de cadeado. Não estava nem um pouco ousada ou vulgar, muito pelo contrário, a roupa escondia tudo na medida certa. Achei que o meu diferencial seria justamente este; não precisava me exibir para ser uma mulher realmente bonita.
Eu já escutava música eletrônica no volume máximo quando fiquei pronta (bem antes disso,
até), provavelmente vinda do quintal do Sr. Klein. Fiz questão de atrasar e de sumir da visão do
Calvin; mesmo sabendo que ele tinha conseguido folga naquele dia, evitei encontrá-lo antes da festa. Nem perguntei se o coitado precisava de ajuda, todos os meus holofotes estavam mirados na minha direção.
Achei que tinha acertado em cheio quando saí de casa. Em segundos, chamei atenção de todos os que estavam circulando no jardim, homens e mulheres. Dei uma olhada geral, e reparei que, realmente, havia muito mais mulheres do que homens. A diferença chegava a ser gritante. Como o previsto, todas estavam vulgares demais, exalando perfume enjoativo. Tive vontade de vomitar durante o curto percurso até a varanda do Calvin, porém continuei mantendo a postura ereta e o olhar centrado.
A porta estava aberta. Muita gente (mulheres) circulava por ali com liberdade. Vi um grupinho
de vadias sentadas no sofá, fofocando sobre alguma coisa fútil. Riram como galinhas chocas, mas pararam quando adentrei o ambiente. Não me importei. Nunca vi ninguém mais gordo, sequer me dei o trabalho de ser educada. Procurei Calvin pela cozinha, mas só encontrei gente pegando suas bebidas à vontade enquanto gargalhavam alto.
O único rosto conhecido que encontrei até finalmente chegar ao quintal foi a Karen-quenga, que estava de papo com uma mulher alta, magra e loira. Parecia modelo de passarela, a vagabunda. Por um instante, achei-me medíocre. Meu título de garota fantástico estava comprometido com a presença daquelazinha.
Karen me localizou e riu um pouquinho, acenando de leve. Retribuí com um sorriso falso. A
Gisele Buindchën do Paraguai também se virou para dar uma conferida em mim. Deve ter gostado do que viu, pois sorriu amplamente. Certamente possuía os mesmos gostos sexuais que a Karen. Passei dois segundos de puro recalque desejando não estar naquela festa. A verdade era uma só: eu não podia competir com aquele bando de mulher vulgar. Elas eram lindas demais, com atrativos em abundância (peitos, bocas, bundas, barrigas-tanquinho de fora), enquanto eu só era uma garota de beleza comum, uma “bonitinha” que todo mundo acha parecida com alguém.
No terceiro segundo, já tinha colocado todas as minhas péssimas conclusões no lixeiro. Eu não
era uma mulher comum. Afinal, quantas daquelas vadias já estiveram na cabeceira do Calvin? Aposto que elas só ocupavam o curto espaço da cama. Alguma coisa eu significava para ele, e isso me faria especial.
Ergui a cabeça, empinei o nariz e fui andando decididamente até a mesa de madeira embaixo da palhoça. Tinha gente de todo tipo por ali, a maioria gritante estava de pé, balançando-se no ritmo da música. Tentei não procurar pelo Calvin, só para não deixar óbvio que estava meio perdida, contudo acabei o encontrando.
Para a minha surpresa, ele já tinha me localizado. Estava com um grupo repleto de quengas. As garotas que estavam por perto conversavam e gargalhavam alto demais (tocando nele de propósito), porém o Calvin parecia alheio a todas elas. A iluminação do jardim ajudou a tornar tudo surreal demais para a minha mente, principalmente depois que aquele homem decidiu andar até mim.
Não fui capaz de sorrir ou de esboçar qualquer reação, apenas o encarei. Só não me senti
estúpida porque ele fez exatamente o mesmo: manteve-se incrivelmente sério enquanto se
aproximava. Parou à minha frente, mostrando-me pela milésima vez toda a sua intimidante altura.
Calvin estava tão lindo... Mais do que o normal. Vestia uma camisa preta de botões, gola e
manga comprida. O detalhe mais lindo ficou por conta dos primeiros botões, que estavam abertos, exibindo o colar que lhe dei. Parei nele. Esqueci-me de conferir o restante de seu visual. Não ligava para mais nada, sinceramente.
Toda a fonte dos meus desejos estava bem na minha frente.
Calvin olhou para os lados, todo encabulado. Juro por Deus que ele fez isso, foi impressionante. Quando tornou a me olhar, achei que estivesse com raiva de mim por algum motivo desconhecido. A expressão era de ódio... De alguma coisa negativa. Congelei. Droga! O que eu tinha feito?
– É assim que não quer me provocar? – rosnou baixo para que ninguém lhe escutasse. Arregalei os olhos.
– Hã?
– Não se faça de desentendida, Dulce. Você apela, e depois quer se fazer de santa.
Puta merda... Eu já não estava entendendo mais nada. Procurei na minha cabeça por alguma
lembrança sobre todos os meus passos até ali, e não achei absolutamente nada pelo que o Calvin pudesse me acusar. Sequer havia falado com alguém.
– O que fiz agora? – Abri os braços, começando a me indignar. Havia torrado grana e passado
horas me arrumando para que ele viesse todo ignorante daquele jeito?
– O que significa isto? – Apontou para mim, e me senti um objeto. O “isto” foi para se referir a
mim? Sério, produção? – Está todo mundo te olhando.
Reparei ao redor. De fato, estava todo mundo me olhando mesmo. Mas só porque o Calvin
estava falando comigo, claro. As vadias tinham parado de conversar só para me olharem como se eu fosse uma tragédia que acabava de acontecer no quintal. Havia alguns poucos homens, que também olhavam para nós.
Precisei rir. Foi mais um desabafo para tentar engolir o que o Calvin estava falando.
Continuava sem entender bulhufas.
– O que é que tem? – incitei. Olhei para as minhas roupas recém-compradas. Ainda estavam com um pouco de cheiro de loja. – Não estou com os peitos de fora, como metade da sua festa está. Qual é o seu problema comigo, Calvin?
– Ultimamente, meu problema tem sido você.
Arquejei. Olhei para os lados de novo, desta vez me sentindo envergonhada. No caminho,
descobri um copo na mão do Calvin. Era isso... Podia explicar tanta estranheza. O cara devia estar bêbado já. A ausência do sorriso, as expressões severas, a voz esquisita...
Sorri. Não ia ser vítima daquela situação.
– Sou parte da solução, meu bem... – Peguei o copo em suas mãos e dei um gole grande.
Quase cuspi tudo para fora. Aquela merda estava muito forte. Acho que era whisky misturado com alguma coisa.
Engoli tudo, sentindo a minha barriga esquentar e a garganta arder.
Calvin tomou o copo da minha mão e se aproximou mais, deixando nossos rostos muito
próximos um do outro.
– Se eu pudesse, te solucionaria na minha cama.
Ai, meu Deus. Meu corpo fraquejou, e não foi pouco. As minhas pernas amoleceram
consideravelmente, e ninguém tem ideia da força que fiz para permanecer de pé.
– Mas não pode. – Ri com desdém. Não tinha muita paciência para bêbados.
Calvin grunhiu. Segurou o meu queixo, apertando-o um pouco. Pensei em me afastar, mas só
esperei que fizesse o que estava em sua mente. Ele observou a minha boca, prendeu os lábios e soltou um longo suspiro. Os olhos se ergueram até encontrar os meus. Seu toque foi se suavizando.
– Desculpa... Acho que exagerei na bebida. Posso começar de novo?
– Acho bom mesmo – murmurei. – Você bêbado se torna um ridículo.
Ele riu, mas senti ainda os resquícios da raiva atravessar seu olhar.
– Não se engane, Dulce, por mais sóbrio que eu fique, você já tirou parte da minha sanidade. Só vou recuperá-la quando estiver dentro de você de novo.
– Sinto muito, terei de interná-lo no hospício.
Desta vez Calvin riu de verdade. Acabei o acompanhando. O clima pesado do princípio foi se
desfazendo devagar, e melhorou ainda mais quando ele me deu um abraço bem apertado. Não foi nada atrevido ou qualquer coisa assim, foi só um abraço entre pessoas que se conhecem.
– Posso ou não começar de novo? – pediu.
– Comece...
Ele segurou as laterais do meu rosto. A expressão se modificou totalmente, só consegui
encontrar vislumbre. Era o que eu queria, só isso. Aquela raiva anterior não era o meu objetivo, se bem que, pensando bem, era ótimo que sentisse raiva por ser tão idiota a ponto de nos impedir de sermos um só.
– Você está linda, Dulce... – murmurou, depois passou a língua pelos lábios. Os olhos se
fecharam um pouquinho. – Está tão linda que eu desejaria ser o único a te olhar.
Olha o ciúme aí de novo, minha gente! Não importa a fatura do meu cartão de crédito, aquelas
compras tinham valido cada centavo.
– Há muitas formas de se tornar único, Calvin.
Ele me largou. Mas eu já previa.
– Dulce... – Seu olhar foi de desespero completo. Consegui ver nitidamente o medo de se
entregar, coisa que nunca tinha visto antes. Sabia que existia, sempre soube, mas ter aquela certeza me fez bem. Minha luta não era em vão. Havia um homem machucado por trás de tanta safadeza.
– Esquece. Vamos curtir a festa.
Tornou a me segurar, só que desta vez foi pelos braços.
– O que está fazendo comigo? O que quer de mim?
Desespero. O cara estava desesperado. Obviamente fazia toda aquela cena por causa da ajuda do álcool. Calvin sente algo por mim... Eu sei. Sou capaz de sentir. Desconfiei na quarta-feira, porém tive certeza exatamente naquele instante. E a festa acabou valendo a pena, pois tive duas comprovações em menos de um minuto.
Dei de ombros, chacoalhando-os.
– Nada.
Calvin me soltou rápido.
– Nada? – Minha nossa... Sempre achei muito verídico o ditado que diz: “a bebida entra e a
verdade sai”, mas não sabia que era tanto. No caso do Calvin, talvez a verdade não saísse
completamente, só que aquelas expressões não conseguiam esconder nada. Sua decepção diante do que falei foi tão grande que cresceu várias rugas em sua testa.
– Nada – assenti. – Enfim, vou pegar alguma bebida. Esse troço que você está bebendo é ruim
pra caramba...
Fui me afastando como quem não queria nada. Chega de ter um cara lindo na minha frente,
precisava me concentrar em outra coisa, do contrário quem precisaria ir a um hospício seria eu.
Pensei que o Calvin fosse impedir o meu afastamento, mas não. Ficou me olhando enquanto eu ia até uma caixa de isopor bem grande, localizada ao lado da churrasqueira apagada. Fingi que não percebi o seu olhar sobre mim.
Escolhi uma garrafinha de vodka ice. Ainda analisei o que havia de comida em cima da mesa de madeira; tinha tanta coisa bonita (também como com os olhos) que não me segurei, acabei roubando alguns bagulhos que eu nem sabia o que eram. Só sei que estavam bons. E que havia sido ele quem tinha feito.
– Dulce Saviñon... Tudo bem?
Um cara me chamou atenção. Fiquei alarmada por ele saber o meu sobrenome, e me espantei
ainda mais quando me virei e vi o corretor bem na minha frente. Um segundo foi necessário para que um filme passasse e eu me lembrasse de que aquele homem era o irmão do Calvin.
– Oi... Oi!
Ele estava sorrindo. Não consegui ver muita semelhança nos irmãos, acho que porque o formato nda boca não tinha nada a ver (não me culpem, reparei mesmo no desenho da boca do cara). Ele parecia nter uns trinta e poucos anos. Era bonitinho, mas só. Calvin com certeza era mais alto e sarado. Os cabelos pretos eram basicamente os mesmos, mas os olhos do irmão eram mais claros, meio cor-demel.
– Não se lembra do meu nome, né? Lembra de mim, pelo menos?
– Sim, sim... O corretor... Irmão do Cal... – Parei. O cara não fazia ideia de quem era o “Calvin”,
certo? Por um instante, morri de medo de saber o nome verdadeiro do meu vizinho daquele jeito. Sempre criei a ilusão de que seria em um momento especial repleto de beijos e juras eternas de amor, não diante de um acaso. – Você me vendeu o 104.
– É isso aí! Está gostando?
– Aham. Adorando.
Pena que você não me contou a verdadeira história por trás desta casa, seu idiota. Devia ter me falado. Se bem que... Certo, era para você não ter me falado mesmo. Troco pouca coisa pela minha casinha no 104 e pelas experiências sensacionais que já vivenciei nela.
– Espero que meu irmão não esteja lhe importunando. – Como eles eram diferentes! O irmão do Calvin não sabia soltar um sorriso malicioso, embora estivesse tentando. – Sou o Carlos... Mas todo mundo me chama de Júnior... Ou Juninho.
– Ah... Ok. – Ok mesmo. Acabo de descobrir o nome do meu futuro sogrinho falecido. Continuo
sendo positivista, eu sei. Carlos me deu dois beijinhos na bochecha, e eu fiquei com aquela vergonha que todo mundo sente quando acaba de trocar os tais beijinhos-cumprimento.
– Perdoe-me o atrevimento, mas você está muito bonita.
Quis enfiar a minha cabeça no chão, igual a um avestruz. Os roteiristas da minha vida deviam
estar mesmo de brincadeira. Era inacreditável que eu estivesse diante do irmão do Calvin, e que o cara estivesse tentando me flertar.
Minha primeira reação foi verificar as suas mãos. Tentei encontrar uma aliança, qualquer coisa
que pudesse me colocar na cabeça que o seu comentário havia sido inofensivo, mas não encontrei nada.
Olhei ao redor, sem graça, e vi o Calvin do outro lado do quintal, observando-nos. Sua cara daria uma foto, e eu faria questão de moldurá-la só para exibi-la em minha sala. Na moral, ele estava revoltadíssimo. Parecia indignado.
Sorri. A oportunidade fez a cadela que habitava em mim começar a latir alto.
– Obrigada... Muito gentil da sua parte. – Pisquei um olho de propósito.
Carlos fez um esforço absurdo para encontrar algum assunto interessante. Falou da festa, do
quintal, do clima daquela noite, das mulheres vulgares demais (segundo ele, era típico de seu irmão fazer uma festa com aquele tipo de frequentadores, e não me admirei), e por fim voltou a dizer que eu estava bonita, com o adicional de que era a mais linda da festa.
Fiquei toda satisfeita. Qual mulher não gosta de ser elogiada? Além de que era exatamente
aquilo que eu queria, não? Ser o destaque? Foi muito bom descobrir que alguém reconhecia o trabalho que tive para me tornar apresentável.
Só que o irmão do Calvin estava começando a me assustar. Não queria dar bola para ele, jamais quis criar expectativas em outro alguém que não fosse aquele que habitava o meu coração nos últimos tempos. Estava fazendo sem perceber, só porque sabia que atingiria o meu alvo em cheio, e isso não se faz. A apresentação despretensiosa (da minha parte, sim) se transformou em uma longa conversa, regada a ice e os diversos quitutes que preenchiam a mesa.
Tinha noção do Calvin nos observando de longe, vez ou outra. Ele tentava dar atenção as suas vadias, que estavam cada vez mais animadas (bêbadas), mas suas tentativas estavam frustradas. Não fui a única a perceber isso. Comprovei quando o Carlos saiu para ir ao banheiro e me deixou sozinha por alguns minutos.
Karen-quenga se aproximou devagar.
– Oi, Dulce...
Encarei-a com indiferença. Ainda tinha a lembrança vívida do Calvin lhe oferecendo o meu
gosto de bandeja. Que vergonha! Aquela mulher havia praticamente me chupado. E eu a detestava. Tudo nela me enchia de raiva, começando pela beleza estupenda e terminando naquele sorrisinho cínico.
– E aí?
– Hum... Posso te dizer uma coisa, querida?
Tentei permanecer indiferente, mas seu olhar sério me alarmou.
– Diz.
– Se eu fosse você, não faria isso.
– Faria o quê?
Uma parte de mim sabia do que ela estava falando, mas me fiz de desentendida mesmo assim.
– Não o provoque assim. Ele gosta de você. Não fala de outra coisa, está se tornando um chato. – Karen suspirou alto. Juntas, olhamos na direção de onde o Calvin estava. Ele conversava com o protótipo da Gisele Bündchen, parecendo muito interessado. Filho de uma p/uta! (Ops, desculpe-me, Sra. Klein) – Nunca o vi tão diferente. Está mudando... Aos poucos, mas está. E sei que é por sua causa, não sou boba.
Fiquei calada porque não sabia o que dizer. Podia me defender, mas me poupei do trabalho. E da mentira. Afinal, eu estava mesmo provocando, e de propósito. Mas eu tinha um motivo forte. Estava cansada de ser sempre trocada, sempre escanteada, sempre magoada. Era um ciclo vicioso que só me trazia depressão.
Por outro lado, as palavras da Karen-quenga me fizeram sorrir. Eu estava sofrendo, mas também conseguindo. Se o Calvin falava sobre mim com a melhor amiga, alguma coisa isso precisava significar. Algum avanço aconteceu.
– Deli odeia o irmão, Dulce. Não faz isso. É demais pra ele.
Aquiesci.
– Promete?
Karen me encarou de um jeito afetado, segurando meus ombros. Encarei-a de volta, muito séria. Ela não estava brincando.
– Não estou fazendo nada – defendi-me.
Fez uma careta.
– Por favor, Dulce. Não quero que o machuque.
Ri com desdém. O que aquela putinha sabia sobre ser machucada?
– Machucar? Caramba, você não faz ideia do que ele já me fez, Karen... Do quanto já me
machucou.
– Tenho ideia, sim. Tento aconselhá-lo, mas ele é cabeça dura. Você sabe disso. Se bem que... – ela parou, refletindo um pouco sobre o que falaria em seguida: – Não quero perdê-lo. Não é vantagem para mim que ele fique contigo. Só não quero que o machuque, somente.
Desta vez, quem fez uma careta enorme fui eu. Maldita! Claro que não estava jogando no meu
time. Ela queria ter ménages infindáveis com o Calvin e outras vadias. Não queria perder sua principal mfonte de prazer, o cara que lhe ajudava a conquistar mulheres gatas não lésbicas. Provavelmente os conselhos que Karen dava ao Calvin envolviam não dar bola para mim ou para o sentimento. Fiquei ligada na dela muito rapidamente. Quase lhe dei um tapa bem dado na cara de cachorra, só não fiz porque não era este tipo de atenção que eu queria chamar naquela festa. O problema foi conseguir me conter. Estava quase explodindo de raiva daquela nojenta.
– Qual é a sua, hein? – falei alto demais. Diminuí a voz gradativamente. – Sua tentativa de dar
uma de amiguinha é patética.
Karen-quenga bufou, meio constrangida.
– Estou tentando te ajudar, e é assim que agradece?
– Ajudar? Não subestime a minha inteligência – rosnei. – Sei muito bem o que quer: que eu saia do caminho bem depressa. Por que se deu o trabalho de vir falar comigo?
Karen riu, deixando sua máscara cair. A expressão que fez deixou óbvia suas más intenções.
– Você é muito idiota, Dulce. Deli vai continuar te machucando até você perder o respeito por
ele. E é aí que vai ter a bela ideia de machucá-lo também. Vai conseguir, se isso envolver o irmão. E então Deli nunca mais vai querer te ver, nem pintada de ouro. Ponto para mim.
Ai, que ódio! Contive a minha vontade de esbofeteá-la ali mesmo. Foi difícil, devo acrescentar.
Precisei de todo o meu autocontrole.
– Era este o seu plano? – rosnei de raiva.
– Não. É a minha previsão para o futuro. Só estava dando uma mãozinha. – Gargalhou, cínica até demais. Imaginei-a como uma vilã da novela das nove. Vadia-mor. – Nunca vai conseguir, Dulce. Não espere amor ou carinho de quem não sabe dar. Acho bom você evitar todo o estresse e partir para outra.
Minhas mãos começaram a coçar. Merda. Eu ia bater nela. Só faltava um fiozinho tênue para ser partido. Aí eu deixaria a louca perturbada tomar conta do meu ser. Mataria aquela mulher na porrada.
– Farei isso, só porque você quer – ironizei.
– Tenho pena de você. Sabe o que Deli planeja, de verdade? Nós três em uma cama. Ele sabe o quanto te acho deliciosa. Só está te conquistando... Te jogando em nossa rede. – Karen teve a audácia de tocar nos meus cabelos. – Você é difícil, mas não é impossível.
Como é que é?
Senti-me tão ultrajada, enojada e humilhada que não me contive. Era demais para mim. Aquela
louca pirada só podia estar muito fora de si para dizer um absurdo daqueles. Que maníaca!
Empurrei a Karen-quenga com a maior força que consegui reunir. Gritei alto, tomada pelo ódio,
e nem conferi se todos da festa já tinham parado para nos olhar. Provavelmente sim, porém não me importei. Nada mais importava além de quebrar a cara da filha de uma mãe.
Karen caiu de costas na grama do quintal, e me pus em cima dela em um segundo, mesmo
estando de saia. Comecei a lhe dar socos como faziam os meninos no recreio do Ensino Fundamental. Puxei os cabelos pretos da louca com força, sob seus gritos e protestos.
Senti as primeiras mãos tentando me tirar de cima dela, mas as ignorei. Continuei batendo,
espancando, deformando a cara da nojenta como nunca fiz com ninguém em toda a minha vida.
A maldita nem conseguiu se defender. Minha raiva e força eram muito maiores, ela não teve sequer uma chance.
– Infeliz! – berrei alto. Só então percebi que estava chorando de raiva. Outras mãos surgiram;
umas me pegaram por trás, outras tentavam tirar a Karen do chão. – V/adia de uma figa! P/uta dos infernos!
– Dulce... Dulce, pare... – Visualizei uma mão espalmada na minha frente. Era do Calvin. Não
era ele quem me segurava, como supus. Em vez disso, tinha se colocado entre mim e a Karen.
– Soltea...
Vamos, solte-a – falou para alguém que estava atrás de mim. A pessoa não me largou. – Solte,
Carlos, que droga!
A minha respiração ofegante e entrecortada foi a única coisa que consegui ouvir durante o tempo que o Carlos levou para me soltar. Calvin me tomou em seus braços e me guiou para o desconhecido.
Deixei-me levar, sem forças, até que me lembrei do que a Karen havia dito. Fiz de tudo para me soltar, e consegui quando chegamos até o jardim da frente.
Uma olhada me fez perceber que não tinha muita gente ali, provavelmente porque todo mundo
havia ido ao quintal conferir a briga que estava rolando. Calvin não me olhou, mas foi andando até a portinha de madeira, provavelmente porque queria mais privacidade. Parou em frente a ela.
– O que aconteceu, pelo amor de Deus? – perguntou-me, muito contrariado. – Você não é disso. Sei que não é.
– Aquela p/uta... – Apontei para a varanda da casa dele. Parei e comecei a chorar sem pausas,
soltando soluços e gemidos. Calvin permaneceu quieto, apenas me observando com seriedade.
– O que ela te disse?
Pensei um pouco. Diria a verdade? Fiz a minha escolha.
– Que você estava tentando me conquistar só para me colocar na cama junto com ela! – berrei,
desesperada. Lágrimas fartas jorraram sem pudor.
Calvin arregalou os olhos, e no mesmo instante um grupo de garotas saiu da casa dele e nos
alcançou. Karen estava junto com elas. Não pensei duas vezes, alcei vôo na direção da sujeita. Fui impedida pelo Calvin, que me segurou com força. Gritei de ódio.
– Eu não fiz nada com essa louca, Deli! – Karen-quenga tentou se defender, mas o Calvin me
abraçou forte e colocou seu corpo na minha frente, impedindo-me de avançar. Cínica! Cravei minhas unhas na nuca dele, morta de raiva. Inspirei seu cheiro só para me acalmar.
– Vá embora, Karen – Calvin mandou.
– O quê? Deli, vai acreditar nela? Estou dizendo que não fiz nada. Ela se sentiu ameaçada e me atacou.
– É mentira. Vá embora – Calvin falou com muita rigidez. Sorri de alívio, ainda chorando em
seus braços. Sua defesa me encheu de alegria.
– Não acredito nisso, Deli! – Karen ficou muito indignada, e tive vontade de rir da sua cara de
quenga (que agora estava com sangue jorrando aqui e ali). – Vai jogar fora anos de amizade?
– Calvin não respondeu nada, e a vadia bufou. – Vou levar as garotas comigo, ouviu?
Ele me abraçou com ainda mais força.
– Pode levar. Não me importo.
Ouvi alguns cochichos, provavelmente vindos das vadiazinhas, amigas da maldita. Eu não
conseguia ver nada porque o Calvin não deixava. Ainda estava agarrada ao seu corpo como se a minha vida dependesse disso.
– Dulce sabe o que você pretendia? – Karen prosseguiu. – Aposto que não.
Venenosa. Ela queria soltar veneno antes de ir?
– Vá embora, Karen...
– Do que ela está falando? – Ergui a minha cabeça para observá-lo. Calvin me encarou
nervosamente. Ih... Ali tinha coisa. E uma coisa não muito boa.
Desvencilhei-me prontamente, porque já premeditava nova tragédia (quase como a mãe Diná).
Fiquei olhando para o Calvin, e ele continuou me olhando de volta com pesar.
– Não contou quantas mulheres há na festa, Dulce? – A maldita riu um pouco, sendo
acompanhada por algumas das vadias. Olhei para elas. – Somos vinte e cinco. Vinte e seis, com você. Mas você é café com leite. Não conta.
Franzi a testa.
– Karen... Vá embora, agora! – Calvin falou, indignado. – Não há necessidade disso.
A maldita o ignorou. Estava me olhando com ódio.
– Cada mulher significa uma vela no bolo dele, Dulce. Entendeu o que ia acontecer após a festa?
Balancei a cabeça freneticamente. Tinha entendido direito? Não podia ser possível. Karen estava querendo me dizer que o Calvin ia foder todas aquelas mulheres? Que a festa se transformaria em um bacanal? Que aquela casa viraria um harém? Puta que p/ariu!
– Dulce... – Calvin tentou me alcançar, mas dei passos para trás.
Continuei olhando a maldita, que parecia se divertir muito com a minha reação. Depois de
alguns segundos, ela deu de ombros e abriu a portinha de madeira, indo embora sem olhar para trás.
Algumas garotas foram com ela.
Não havia mais ninguém no jardim.
– É verdade? – choraminguei a pergunta, sentindo o gosto amargo da derrota se instalar na
minha boca.
– Não vou negar nada. Você me conhece, sabe do que gosto.
Meu cérebro parecia prestes a explodir.
– Ia f/oder a festa inteira? – Não respondeu nada. – Ia ou não? – berrei.
– Ia!
– Argh! – gritei alto, avançando, desta vez, para cima dele. Empurrei-o com força pelo peitoral,
e Calvin deu vários passos para trás. Segurou meus braços com força antes que eu começasse a lhe socar também. – Solte-me!
– Dulce... Eu ia te fazer uma proposta...
– Que proposta, Calvin? Merda! Não aguento mais você. Cansei!
Puxei meus braços com força, e ele me largou. Tudo o que era para ter dado errado naquela
festa, acabou dando mesmo. Minha vontade era de sumir, de ir embora e nunca mais voltar, de
morrer... O que viesse primeiro.
– Ia sugerir uma troca. As vinte e cinco por você – explicou, exasperado. Seu rosto estava todo
vermelho, e não soube dizer se era de raiva ou vergonha. – Juro que as deixaria, Dulce. A verdade é que eu só queria você nesta noite.
Era só o que me faltava mesmo. Meu nome devia estar em primeiro lugar no Guiness Book. Bati o recorde de maior sequência de acontecimentos inacreditáveis que uma vida poderia atingir.
– Acha que pode me barganhar? – berrei, voltando a chorar de novo. Eu sei, sou muito patética.
– Não sei, estou desesperado. Não percebeu ainda?
Levei as mãos à cabeça e puxei meus cabelos de salão. Se ele estava desesperado, então o que eu estava? Qual estágio seria pior do que o desespero? Ainda não tinham inventado um nome ideal para definir o meu estado catatônico.
– Estou percebendo muitas coisas, inclusive o quanto fui uma otária. Sabe o que eu te diria,
Calvin? – murmurei, sem forças. Havia me esgotado de um segundo para o outro. – Que fo/desse as suas vadias.
– Provavelmente, sim. Mas eu arriscaria.
Dei de ombros. Ainda chorava, mas estava decidido: ia embora daquele lugar o mais rápido que pudesse. Peguei a bolsinha preta e minúscula que eu tinha comprado, retirando de lá as chaves do meu carro. Quando as coloquei ali, perguntei-me para quê raios precisaria dela. Naquele instante, percebi que meus poderes da mãe Diná eram mesmo reais.
Karen deixou a portinha de madeira aberta, por isso a atravessei sem dificuldades, deixando o
Calvin para trás. Ele me acompanhou.
– Para onde vai?
– Para bem longe de você. Devia ter ido para lá desde o princípio. – Não me dei o trabalho de
olhar para a cara dele.
– Dulce, você está nervosa... Não dirija assim, por favor.
Era tarde demais. Desliguei o alarme do meu carro e o circulei em segundos. Abri a porta do
motorista e entrei. Calvin não me impediu. Dei partida e saí cantando pneus, sem conseguir raciocinar sobre para onde eu iria de verdade.
Não me importava. Qualquer lugar estaria ótimo, desde que fosse bem longe daquele... safado (e este era o adjetivo mais ameno para defini-lo)
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Quem aí também está com muita raiva desse safado?
Karen Fdp
Nossa,como postei hj
Beijoooos,amanhã tem mais
Autor(a): luvondul
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Dirigi sem rumo durante muito tempo. Peguei uma BR só para me distrair (e para poder pisarfundo sem pena; quanto mais rápido, melhor). Fiquei me sentindo naquela música do Roberto Carlos, em que ele provavelmente leva chifres, pega seu carro, segue em alta velocidade e vai se lamentando, gemendo aos quatro cantos, exaltando o quanto está ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 41
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aucker Postado em 17/12/2020 - 23:29:30
Como essa fic pode ter poucos comentários gente? Sério msm amei a história
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dudinhah Postado em 16/11/2018 - 01:59:46
Essa é a única web ,que eu li que não tem os outros rbds
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manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:27:20
https://m.fanfics.com.br/fanfic/55689/never-gonna-be-alone-vondy estou começando a escrever essa fanfic passem-lá
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manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:25:24
Simplesmente perfeita essa fanfic, amei d+ a história
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stellabarcelos Postado em 06/04/2016 - 14:13:33
Amei amei amei amei! Uma das histórias Hot mais incríveis que eu já li! Nunca ia esperar por isso
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luvondul Postado em 24/03/2016 - 21:42:19
Christopher Uckermann é um renomado advogado criminalista apaixonado pelo que faz. Além do sucesso inquestionável na carreira jurídica, também usufrui do impacto devastador que provoca nas mulheres a sua volta. E com a sua nova estagiária Dulce Maria não seria diferente. Recém-chegada de uma temporada fora do país, quando acompanhou o então namorado e cantor pop Dereck Mayer em turnê pelo mundo, a estudante de Direito está determinada a cumprir as horas de estágio para finalmente ganhar o diploma, nem que para isso tenha de resistir aos hipnotizantes olhos azuis do dr. Uckermann. Assim como o seu chefe, a jovem leva uma vida descompromissada, curtindo o sexo oposto sem romantismo ou grandes demonstrações de afeto. Passem lá na minha nova fic meninas ;) http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=53091&capitulo=1
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hanna_ Postado em 22/03/2016 - 15:46:44
Foi tudo muito lindo ao modo safado dele mas foi hahahah...fiquei muito feluz de acompanhar essa fic. Cada frase da Clarice q tbm falou com nós leitoras. Ansiosa para sua próxima adaptação. Obrigada vc, bjôooo ;)
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danihponnyvondyrbd Postado em 20/03/2016 - 21:13:55
O comentário abaixo e meu
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Postado em 20/03/2016 - 21:11:41
N acredito q é o ultimo (to chorando um balde de água) n pode acaber é muito boa por favor não faça isso comigo o meu coração não aguenta. Postao próximo capítulo :-):-):-)
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hanna_ Postado em 20/03/2016 - 01:06:00
Q lindos! Ah eu amei a Clarice e o Ck tbm <3 ...Tá acabando :(