Fanfics Brasil - Um passo para a desistência, meio passo para a felicidade O safado do 105 (ADAPTADA)

Fanfic: O safado do 105 (ADAPTADA) | Tema: Rebelde


Capítulo: Um passo para a desistência, meio passo para a felicidade

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– Bom dia, vizinha... – Já estava ficando mal acostumada. Aquela voz rouca sussurrando no meu ouvido se tornou obrigatória para as minhas manhãs, virou parte da rotina do mesmo modo como fazer xixi ou escovar os dentes.



Mas a melhor parte mesmo foi nunca mais ouvir o meu despertador chato de novo.
Sorri de leve. Mesmo sendo segunda-feira, início também da nossa segunda semana como
namorados (ai, meu pai amado!), não ousaria ficar chateada por ter que ir trabalhar.


Principalmentedepois de um domingo perfeito ao lado dele, com direito a churrasco, caipirinha e tudo de bom e do melhor que só aquele homem me proporcionava.
O episódio com a Karen-quenga passou longe da minha mente (tinha coisas mais legais para
ocupá-la, por exemplo, o meu querido namorado desfilando sua sunga vermelha deliciosa). Calvin só me confirmou que nada havia sido roubado, e não fiz mais questionamentos. Queria esquecer que aquela louca existia.



– Bom dia, vizinho... – Virei-me para lhe dar um selinho. Estávamos na minha cama,
absolutamente nus e cobertos por um edredom bem quentinho. Não dava vontade de sair dali nunca. Se eu pudesse, ficaria em seus braços até o fim dos tempos.
Espreguicei-me. Senti mãos macias tocarem o meu corpo com sintomas de posse. Christopher me tocava daquele jeito urgente desde as ameaças da vadia, na sexta-feira. Alguma coisa em seus olhos me pedia socorro, só que eu tentei ignorar seu grito silencioso durante todo aquele tempo. Não queria dar cabimento ao medo; precisávamos seguir em frente sem se preocupar com as sombras.



Sentei-me na cama e me espreguicei ainda mais. As mesmas mãos macias massagearam as
minhas costas, e me arrepiei do dedinho do pé até o último fio de cabelo.



– Vai achar estranho se eu te fizer um pedido? – falou baixo.



Olhei-o, meio desconfiada.



– Depende do pedido. – Sorri só para tentar deixar o clima tranquilo, mas a verdade é que fiquei nervosa instantaneamente. – Não posso ficar na cama hoje, tenho muito serviço.



Ele sorriu, mas foi um sorrisinho besta muito sem graça.



– Por mais que eu te queira o tempo todo, jamais te prejudicaria no trabalho. – Sentou-se na
cama também, ao meu lado. – É outra coisa... Sei que vai achar esquisito, mas eu... Queria que não usasse o seu carro hoje.



Fiz uma careta. A minha cara estava inchada de sono e preguiça, portando a minha feiúra deve
ter se elevado ao máximo. Até o Calvin acabou fazendo uma careta também, acho que assustado com a minha.



– Por quê?



Ele ficou me encarando. Uma ruga de preocupação se instalou de vez em sua testa. Christopher pensou tanto no que diria que achei que não fosse dizer nada. Apenas esperei, já prevendo alguma coisa ruim. Ele estava com medo. Com medo que eu realmente me acidentasse, como sugeriu a quenga-mor.



– Não temos garagem... Seu carro não tem alarme... Qualquer um pode sabotar o...



– Ei, ei... Espera aí, Christopher. Acha mesmo que a vadia quer me matar? – Balancei a cabeça em descrença. – Porque se sim, é mais válido irmos à polícia. Não vou viver com medo, preciso trabalhar e ter liberdade para ir e vir.



– Não sei de mais nada, Dulce. A minha razão diz que tudo isso é bobagem, Karen não seria tão burra e maníaca assim, mas não consigo me afastar do medo. Deixa que eu te levo hoje. Por favor.



– E como vou voltar? Você estará no trabalho quando acabar meu expediente.



– Venha de ônibus.



Minha careta se intensificou. Precisaria pegar dois ônibus para voltar para casa, e todos eles me deixariam tão confortável quanto sardinhas em uma pequena lata. Qualquer meio de transporte público daquela cidade virava uma zona em horário de pico.



– Não – fui taxativa. Levantei-me só para fazer a discussão acabar. Abri a porta do meu armário e fui separando as roupas que usaria.



– Eu te dou o dinheiro do táxi – Christopher propôs, ainda sentado na cama. Virei-me só para encará-lo de um jeito feio. – Dulce, me ajuda...



O moleque estava entrando em surto. Sério, eu conhecia aquela expressão de desespero. Era
angustiante. Dava pena, tristeza... Sei lá, era uma coisa ruim. Não aguentava vê-lo daquele jeito.



– Vou ficar bem. Prometo que mando uma mensagem quando chegar. Também mando quando
sair de lá e quando estiver em casa.



– Não é o suficiente. Não é uma medida preventiva.



Suspirei alto. Larguei as roupas e fui até ele, ajoelhando-me na cama. Segurei suas mãos com
força, olhando no fundo de seus olhos temerosos.
Pensei no que falar. Tantas coisas se passaram pela minha cabeça... Uma chuva de informações, frases de efeito e tudo o que há de mais louco que meu cérebro conseguiu processar. Por fim, achei que devesse lhe dizer o que estava sentindo.



– Não gosto de ter a minha liberdade ameaçada. – Ele colocou mais força em nossas mãos.
Cerrou os dentes, deu para perceber o seu maxilar ficando bem rígido. – Mas entendo que não é apenas a minha... Deixei de ser eu para sermos nós. – Sorri. – Então, nossa liberdade está sendo ameaçada pelo seu medo.



Calvin começou a balançar a cabeça. Desviou seus olhos de mim e tentou largar nossas mãos, eu que não deixei. Ouvi seu suspiro ruidoso e uma nova tentativa de nos separar. Conseguiu.



– É por isso que evitei o tempo todo... – resmungou, levantando-se. Procurou suas roupas, que
estavam espalhadas pelo quarto, e começou a se vestir. – É por isso que me mantive longe de toda essa merda.



Suas palavras me deixaram atônita. Soube bem do que estava falando; Christopher tinha evitado se apaixonar justamente por causa do medo que sentia de perder. Era mais confortável não ter que se preocupar com alguém além de si mesmo.



E eu acabei me sentindo culpada. Se eu não tivesse insistido tanto, ele não precisaria estar
preocupado comigo. Nem com ninguém. Continuaria vivendo aquela vidinha que para ele estava boa até demais, não é?



Não. Sua vida não estava boa coisa alguma. É preciso correr riscos para ser feliz. Viver é assim, nenhuma felicidade é segura. Não se pode renegá-la ou evitá-la por medo. Isso não existe. Fiquei calada, saboreando as minhas ideias e ganhando novos conhecimentos sobre o quanto a vida é um risco. Apenas o fato de respirar já é um ato audacioso; tudo o que fazemos, os lugares para onde vamos, os alimentos que comemos... Pensando bem, todas as coisas nos levam à morte. Para morrer só basta estar vivo. Mas ninguém fica feito louco esperando pela hora do juízo final.


Deve ser horrível ficar pensando na partida a cada suspiro, e tive certeza de que o Calvin era desses. Só que antes ele sequer se preocupava consigo mesmo. Agora, tudo mudou. Somos dois seres que precisam continuar vivos por causa do amor.



Ajoelhada na cama, percebi sua movimentação pelo quarto até que saiu. O barulho da porta da
frente veio logo em seguida, deixando-me um pouco espantada. Será que ele desistiria? Talvez minhas tentativas estivessem fadadas ao fracasso. Não havia somente a safadeza para ser curada...


Aliás, a safadeza era apenas uma consequência de algo muito maior. Calvin não era apenas um safado, era alguém que tinha tanto medo de tudo que não conseguia viver como as pessoas comuns. Precisávamos ter uma conversa séria, mas o trabalho me chamava. Talvez lhe dar um tempo fosse a melhor opção. Ele teria como pensar um pouco nas próprias atitudes e nas escolhas que realizou. Claro que o meu medo de que desistisse, jogasse tudo para o alto, era um tormento, porém eu jamais podia tirar dele o direito de escolha.



Senti-me péssima quando descobri que estava retirando aquele direito o tempo todo, agindo de
forma tal que praticamente forcei que se apaixonasse por mim. Pior, não raciocinei sobre as
consequências. Nunca pensei no que aconteceria depois de sua redenção, só me importei em chegar até ela. Usei estratégias limpas, fui apenas eu mesma, mas mesmo assim foi um jogo em que o manipulei.



Se eu não tivesse me esforçado e agido naturalmente, certeza de que nada daquilo estaria acontecendo. Só me restou tentar ficar calma. Fiz a minha higiene matinal e fui me organizando para ir ao trabalho. Praticamente engoli um copo de iorgute (o desjejum mais fraco que tive desde o começo do “namoro”) e saí de casa fazendo o maior esforço para não procurá-lo.



Atravessei o jardim morrendo de vontade de chorar. Minha consciência me chamava de
manipuladora barata, mas meu coração dizia que eu tinha feito a coisa certa e que ninguém, de fato, obriga ninguém a sentir amor. Uma grande parte de mim dizia que eu devia confiar no que sentíamos, que não era por acaso, que tudo ficaria bem quando o Christopher amadurecesse um pouco mais.


O problema era uma parte irritante de mim que não parava de se sentir uma merda.



Levei um susto quando cheguei, totalmente distraída, até o meu carro. O capô estava aberto e
havia a metade de um ser humano incluída no que tinha dentro do motor. Conheci as pernas e a bermuda branca: era o Calvin.



– O que está fazendo? – perguntei, aproximando-me. Ele não se moveu. Quero dizer, não se
levantou, pois continuou mexendo em uns troços esquisitos dentro do meu carro.



– Verificando os freios... – resmungou.



– Christopher...



Não soube mais o que falar. Aquele homem me deixava louca, e em vários sentidos diferentes
(bons ou ruins). Depois de um minuto, quando pareceu satisfeito, ergueu-se e fechou o capô,
provocando um barulhão. Pulei de susto.



Calvin finalmente me olhou. Tinha as mãos e braços um pouco sujos de graxa.



– Farei isso todas as manhãs até comprarmos um alarme.



– Christopher...



– Dulce, é sério. Não me impeça de te proteger. Não quero tirar a sua liberdade, só quero que
fique segura... Por favor, me entenda! – Ai, meu Deus, ele parecia bem chateado mesmo comigo. Meu sentimento de culpa só fez se intensificar.



Deixar que me protegesse era o mínimo que eu podia fazer para não me sentir tão péssima por
tê-lo manipulado.



– Certo. Tudo bem, tudo bem. – Dei-me por vencida.



– Amanhã você pode usar o meu carro, e deixar o seu comigo que eu resolvo tudo.



– Está bem, mas eu compro o alarme. Essas coisas são caras.



Ele fez uma careta linda de insatisfação. No entanto, apenas resmungou mais uma vez:



– Como quiser.



Calvin passou por mim sem falar mais nada. Podia ver uma nuvem de fumaça preta saindo de
sua cabeça. Ele tinha mesmo ficado com raiva, e eu não sabia se os motivos eram fortes o suficiente para tanto. Só sei que acabei ficando realmente triste com o seu distanciamento, e com o fato de não receber o meu beijo de despedida.



Dei de ombros, conferindo se ele não ia mesmo olhar para trás. Assim que chegou à portinha de madeira, Christopher finalmente parou. Vibrei internamente quando ele se virou e me encarou com aqueles mesmos olhos de menino perdido. Fez o mesmo percurso de volta para mim, só que com muito mais pressa.



Parou na minha frente e se curvou, fazendo nossos lábios se encostarem um pouquinho. Evitou me tocar por causa da mão suja. Aspirei seu cheiro divino com muita vontade.



– Tenha um bom-dia... – sussurrou. Deu-me um selinho demorado, e desceu seus lábios pelo
meu pescoço. – Fique bem... Por favor, mantenha-se bem. Não se esqueça de me enviar aquelas mensagens.



Circulei meus braços ao redor de seu pescoço. Ele não podia me tocar, para não sujar a minha
roupa, mas não significava que eu devia ficar parada. Beijei-o com ternura, sentindo as dúvidas e confusões mentais se dissiparem dentro do campo das minhas ideias. Tudo fazia mais sentido quando seus lábios estavam grudados ao meu.
Afastei-me devagar.



– Fique bem também... Tchau, vizinho! – Dei um beijinho estalado em sua bochecha e andei na
direção da porta do motorista. Abri-a.



– Ei, Dulce... – Parei para olhá-lo. – Eu... Eu... – Meu pai eterno! Quase desabo de ansiedade ali mesmo. Calvin parou por uma eternidade. Ficou me olhando, até que falou: – Nunca fiz isso antes. Nunca me preocupei tanto... Não sei se vai dar certo. Não se anime tanto comigo.



– O seu medo não pode tirar a nossa liberdade, nem a nossa positividade, Christopher. – Pisquei um olho e sorri, fingindo estar positiva até a ultima consequência. Só fingimento mesmo: eu estava morrendo de medo. Ele tinha oficialmente me contaminado.



Mais uma vez, trabalhei o dia todo de um jeito aéreo. As coisas só ficaram legais quando a noite chegou novamente, e com ela a esperança. Sério, sempre me sentia esperançosa quando a minha porta batia. Daquela vez, Calvin apareceu com um vaso de flores para eu colocar em cima da mesa da sala.



Depois de um tempo, percebi que ele estava muito esquisito. A seriedade, as poucas palavras, o senso de humor abalado... Tentei deixar o clima leve, mas Calvin não relaxou nem por um segundo. Mesmo assim


, não conversamos nada sério (fugi mesmo de uma suposta D.R., não vou mentir).
Jantamos na casa dele, e pensei que ficaríamos por lá durante toda a noite. Estava preparada para um sexo reparador antes de dormir, até que ele soltou as duras palavras:



– Vou te deixar em casa, hoje.



Chrisopher não quis ouvir resposta. Abriu a porta de sua casa e esperou sem olhar para mim. Eu podia questionar, berrar e reclamar, mas não o fiz. Simplesmente saí, não lhe dando a chance de se despedir.
Fui depressa para casa e alcancei a minha porta antes que pudesse me parar. Tranquei-a e me afastei só para não ouvir suas batidinhas insistentes.



Sei que estava sendo infantil, mas não tenho sangue de barata. Ele tinha me deixado chateada
com todo aquele distanciamento. O pior de tudo foi não conversar comigo a respeito; apenas tomou uma decisão sozinho e me descartou como se eu fosse de plástico.



Não era assim que eu queria que as coisas funcionassem. Queria um relacionamento de
cumplicidade, de diálogo, de problemas resolvidos no mesmo dia, e se possível, na mesma hora. Fui ao meu quarto e me ajoelhei na cama, encarando a parede da Clarice. Como o ser humano é chato e ingrato! Nunca está satisfeito com nada! Deus me livre... Eu tinha desejado tanto que aquele homem me assumisse... Naquele instante, só desejava o que fosse melhor para nós dois, pois eu realmente não sabia o que era.



–Dulce... – ouvi sua voz do outro lado da parede. Fechei os olhos. – Dulce... Eu... Eu...



– Você o quê? – falei com impaciência. O cansaço não me fazia nada bem. O que eu achava fofo começava a me incomodar.



– Estou tentando. Juro. Mas é tão difícil!



– Por que não conversa comigo? Pensei que fôssemos amigos também. – Uma lágrima inventou de escorrer. Enxuguei-a.



– É difícil conversar contigo. Sou tão idiota, e você é tão linda e inteligente... Era fácil quando
eu só queria te comer. – Nossa! Precisava ser tão sincero assim, Sr. Klein? – Sabia o que fazer e o que falar, agora só tenho dúvidas e mais dúvidas.



– O que tanto te incomoda? – perguntei aos murmúrios. Mais lágrimas surgiram, e enxuguei
cada uma delas.



– Não ter controle sobre você... E também querer esse controle. Sei que está errado, mas eu
queria te colocar dentro de uma bolha... De um lugar seguro que me garanta que nunca irei te perder. Por outro lado, sinto que é esse meu desejo louco que vai te distanciar de mim. E eu tenho medo. Tenho medo até de sentir medo. A vida nunca foi justa comigo, Dulce, eu sei que vou te perder cedo ou tarde. Sabe, é melhor tentar entender isso e me conformar logo. Mas eu não quero te machucar... Não quero me machucar. – Ofegou. – Não nasci para ser feliz... Estou a um passo da desistência. – Dei o último passo e desisti de enxugar as minhas lágrimas. – Me desculpa... Talvez seja melhor para nós dois.



– Eu que te peço desculpas. – Assustei-me com o timbre firme que encontrei não sei onde. –
Talvez seja melhor mesmo.



Eu estava desistindo? Minha nossa... Por quê? Por que tão rápido? Precisava haver alguma
solução... Qual? Quantas consequências! Sequer havia pensado nelas... Que erro irreparável cometi!



– É covardia demais desistir antes de tentar? – perguntou.



Refleti um pouco.



– É. Mas eu compreendo.



– Você sempre me compreende.



– É porque eu te amo. – Certo, não pensei muito antes de soltar aquela. Não queria ser tão
dramática e tornar tudo mais difícil do que já era, porém precisei desabafar. Estava prestes a explodir.



– Incondicionalmente?



Passei as mãos pelos meus cabelos. Aquiesci em meio a muitas lágrimas.



– Incondicionalmente. Juro que só queria te fazer feliz. Não pensei em outra coisa... Minha
intenção sempre foi essa. Queria ser feliz contigo. Na minha cabeça, tudo seria perfeito.



– Eu sou muito imperfeito para sua cabeça.



– A minha cabeça não é perfeita. Se fosse, eu não teria caído no erro de imaginar uma perfeição que não existe.



– Dulce Lispector.



Ficamos calados. Sério, passaram-se eternos segundos até que, do nada, começamos a rir. Rimos muito mesmo. No meu caso, ri e chorei, sem saber se sentia graça ou tristeza.
Mais do que de repente, Calvin parou de rir. Eu continuei porque sou uma completa retardada.
Só parei quando sua voz falou com seriedade:



– “Queria que você, sem uma palavra, apenas viesse”... A verdadeira Lispector.
Calei-me. Meu corpo vibrou de esperança.



– Ela sabe mesmo das coisas.



– Shhh... Sem uma palavra.



O que me restava fazer? Pouca coisa faz sentido quando o desejo entra em jogo. E o que invadiu o meu coração, depois daquele pedido, foi além do desejo. Não dava para ignorar aquele chamado. Foi por isso que simplesmente corri. Saí de casa quase me esquecendo de fechar a porta, atravessando a dele (que estava aberta) até alcançar seu quarto. Christopher estava de pé, com a cabeça apoiada nas costas da parede da Clarice. Sorriu amplamente quando me viu.



Seu humor foi modificado sabe-se lá por que. Tudo estava igual. Os problemas permaneceram
no mesmo lugar. Mas, por um segundo, o peso deles não conseguiu nos atingir. Éramos mais fortes? Maiores? Tomamos coragem? Assim, do nada?



De onde vinha aquela força?



Eu tinha consciência de que o meu rosto estava tomado por lágrimas, porém consegui sorrir
mesmo assim. Calvin me puxou pelos braços, jogando-me na cama. Dei um gritinho feminino, que foi logo abafado pela sua boca. Enroscamo-nos do jeito exato como nossos corpos conhecidos gostavam de fazer.



– Eu te quero tanto, mas tanto... – disse baixo enquanto guiava a boca para algum ponto abaixo do meu queixo. – Tanto, tanto... Que a minha única opção é fazer por onde te merecer. Você precisa de um homem corajoso. É isso o que eu quero ser, Dulce. Por você. – Parou tudo só para olhar nos meus olhos. Acho que enlouqueci de tanto amor. – O meu desejo me obriga a amadurecer.



– Só o desejo? – falei com a voz fraca.



Ele balançou a cabeça em negativa. Não falou mais nada.



Abracei-o com força, beijando-o intensamente.



Naquela noite, continuamos invictos. O sexo que fizemos foi reparador, como tinha sido o meu
desejo desde o início. O meu erro foi só querer pular a parte do diálogo. Nenhuma transa substitui uma conversa; ela só serve para reafirmar o que foi dito (da melhor forma que existe), nada mais.



Nossa semana manteve o padrão de qualidade da primeira. A novidade foi ter ido trabalhar
(morrendo de medo de fazer alguma merda) com o carro dele na terça. O alarme foi devidamente instalado (o maldito acabou pagando mesmo), e o Calvin finalmente ficou tranquilo com relação a uma tentativa de homicídio.



No sábado, acordei cedo para visitar os meus pais. Estranhei porque o vizinho não estava na
minha cama, como o tinha deixado durante toda a madrugada. Encontrei-o na cozinha, estalando ovos, tomado banho e vestido como se fosse sair. Sabia que ele só pegava no serviço mais tarde, por isso fiquei logo desconfiada.



– Para onde vai?



Christopher se assustou um pouco com a minha presença repentina, pois estava bem distraído. Sempre ficava quando cozinhava qualquer coisa que fosse.



– Visitar os sogrinhos.



Rimos juntos.



– Sério?



– Não gostou da ideia? Troquei a minha folga de novo.



Qual cara desse planeta trocaria o único dia de folga para visitar a família da namorada?



– Amei a ideia! Eles vão adorar te ver de novo!



Dito e feito. O escândalo lá em casa foi generalizado. Mamãe foi a mais empolgada,
provavelmente porque receberia ajuda na cozinha. Papai desconfiou porque chegamos de mãos dadas, e a Sara quase não conteve a emoção (e os gritos) quando percebeu que estávamos oficialmente juntos.



Mesmo que já tivéssemos feito o desjejum, o povo nos obrigou a tomar chá de erva cidreira com o bolo de fubá que a mamãe tinha feito. Lembrei-me logo da vovó. O gosto estava bem parecido, provavelmente porque se tratava da mesma receita.



Um nó na garganta me impediu de comer tudo. Christopher percebeu a mudança no meu humor, e ficou apertando a minha mão com força enquanto conversava com a mamãe sobre a melhor forma de se preparar um lombo suíno, provável prato que rolaria no almoço.



– O que você tem, filha? – Meu pai perguntou, do nada. Olhou-me de um jeito estranho, e todos ao redor da mesa fizeram o mesmo.



– Nada. Por quê?



– Está muito calada.



– É verdade, ela ainda não falou nenhuma merda hoje – completou Guilherme, que estava
estressado porque meus pais não o deixaram ir a um churrasco na casa de um amigo que morava na rua de baixo.



Dei língua para ele.


– Vê se eu sou tu – impliquei.



– Ela sente saudade da avó – Calvin falou por mim, e todos o olharam com surpresa, inclusive
eu. Como sabia daquilo? – Todos sentimos, até eu que nem a conheci.



Minha família pareceu ter vestido roupas de velório. Foi uma coisa unânime e instantânea. Falar da vovó ainda entristecia todo mundo. Ninguém soube direito o que dizer. Foi mamãe quem suspirou alto e murmurou:



– Queria que a tivesse conhecido, Calvin. – Detalhe que todos ainda o chamavam assim.
Congelei na hora, pois não soube como explicar que o nome dele não era aquele. Iam achar bem esquisito, a desconfiança seria geral.



Christopher não a corrigiu. Acho que teríamos que conversar sobre como daríamos a notícia. Ninguém podia chamá-lo assim para sempre, certo?



– Perder alguém é muito difícil. Sei bem disso.



– Já perdeu alguém? – Sara foi a que teve a maior cara de pau para perguntar o que todos
queriam saber. Ela tentava fazer a Clara comer algumas frutas, mas a menina ficava teimando.



– Sim. Meus avós... Meus pais... E por aí vai.



– Verdade? – Papai ficou surpreso.



– Cristo! – Minha mãe se espantou.



Christopher olhou para mim com certo receio. Foi a minha vez de apertar suas mãos. Acho que acabei lhe dando forças, visto que começou a contar sobre as suas dores. Começou pela mãe. Depois, partiu para os avós (descobri que sua avó, que tinha ajudado seu pai a lhe criar, morreu quando ele tinha sete anos. O avô morreu de desgosto menos de um ano depois). Uma barra.



Ele concluiu falando de seu pai e da angústia que foi lutar contra o câncer por pelo menos dois
anos. Omitiu a morte da suposta ex-namorada. Acho que não julgou por bem soltar aquela informação. Todos ficaram bem abalados. Até o Guilherme olhava para o Calvin com pena durante a narrativa triste e desastrosa. Quando concluiu, no entanto, senti que o Christopher estava mais leve.


desabafo havia sido muito bem-vindo. E eu sabia que aquilo faria com que a minha família ficasse ainda mais próxima a ele.



Tive certeza disso quando a mamãe falou, tocando-lhe o braço com carinho:



– Nós somos simples, mas estamos de braços abertos, Calvin. Estamos felizes em tê-lo em nossa família. Ninguém substitui quem já foi embora, mas temos muito carinho por você.



– É... – completou papai, que ficou com tanta pena que parou de nos olhar com ar desconfiado
(enciumado mesmo). – Espero que faça a Dul feliz. Você é um rapaz do bem.



Christopher e eu nos entreolhamos e sorrimos.



– Rapaz do bem? Ai, papai, que caretice! – reclamou Sara. – Não ligue, Calvin. Sem pressão!



– É, daqui a pouco vão te obrigar a casar com essa chata – claro que foi o Gui quem disse isso. – Mas eu não ligo, cara, você é o namorado mais legal que a Rai já teve. Ela não é muito seletiva, sabe?



Dei-lhe uma cotovelada no braço, corando de vergonha. Guilherme gemeu alto, e todo mundo
riu. O dia seguiu conforme indicava a previsão do tempo na casa da família Savinõn: pessoas
falando alto, comentários absurdos, intrigas entre os irmãos e muitas gargalhadas. Jogamos na sala de estar até a hora do almoço. Assistimos a filmes na parte da tarde e, no finzinho dela, fomos à missa (mamãe resolveu ir aos sábados apenas para que eu a acompanhasse, já que a vovó não poderia mais fazer aquilo). Pensei em deixar o Calvin em casa, mas ele quis ir com a gente.



Fiquei surpresa com a sua atenção apontada para tudo o que o padre falava. Entrou em um estado de reflexão tão profunda que eu não fui capaz de desvirtuar sua concentração. Ele só me deu bola quando a missa finalmente teve fim.



– Você é católico? – perguntei quando saíamos da igreja.



– Não.



– Ateu? – Fiz careta.



– Sei lá, Dulce. Estive sozinho demais para acreditar que alguém olhava por mim.



Balancei a cabeça afirmativamente.



– Entendo. Mas, e agora?



– Agora o quê?



– No que acredita?



– Acredito em você. Minha fé está em suas palavras.



Senti-me tão lisonjeada quanto confusa. Eu não tinha a perfeição que via em Deus. Estava longe de ser equiparada, mas ao mesmo tempo me sentia bem porque, através de mim, aquele homem começava a acreditar em alguma coisa. Era um passo grande para qualquer descrente.
Voltamos para casa dos meus pais. Estávamos cansados, mas só podíamos ir embora depois da janta, caso contrário cabeças iriam rolar. Calvin ajudou mamãe na cozinha e, juntos, prepararam a melhor canja que eu já tomei em toda a minha existência.



Foi durante o jantar que a campainha tocou. Não esperávamos visitas, obviamente, e me
surpreendi quando percebi a Lilian invadindo a nossa sala depois que o Gui abriu a porta.
O pior de tudo foi assistir ao impacto que aconteceu quando ela viu que o Calvin estava presente.



Havíamos paralisado o jantar e nos levantado para recebê-la, mas a louca só quis saber de pular no pescoço do cara e lhe fazer perguntas nada a ver até deixá-lo bem desconfortável. Sua inconveniência foi tanta que até a mamãe e o papai, seres naturalmente desligados para esse tipo de coisa, estranharam bastante. Principalmente quando ela foi convidada a se sentar conosco: a louca escolheu a cadeira ao lado do Calvin, obrigando-me a sentar do outro lado, já que ninguém quis ser indelicado com ela.


Detestei tanto o seu comportamento que tudo passou a me irritar, incluindo o fato do Christopher dar atenção a ela, mesmo sendo por educação. Fiquei esperando que lhe desse um fora, mas isso não aconteceu. E eu só evitei fazê-lo porque não queria deixar meus pais preocupados.



Após o longo e irritante jantar, inventei uma desculpa qualquer para ir embora. Todos notaram a minha falta de paciência (menos a Lilian, talvez), e permitiram fácil a minha saída. A idiota da minha prima ainda teve a audácia de sugerir que o Calvin ficasse um pouco mais, porém cortei logo o mal pela raiz.



O caminho de volta para casa foi feito em silêncio. Christopher estava tranquilo e relaxado, totalmente diferente de mim. O que mais me chateou foi ele ter ignorado o meu humor péssimo. Quero dizer, era óbvio que eu não estava bem.



Assim que estacionou o carro, resolveu conversar. Mas já era tarde, meu termômetro interno
tinha se desregulado.



– O que você tem, Dulce?



– P/orra nenhuma.



Saí do veículo e cruzei a portinha de madeira. Escutei-o saindo do carro e vindo atrás de mim.



– Ei... Ei, o que foi que eu fiz desta vez? – Fui caminhando até a minha varanda. Christopher se colocou na minha frente. – Hein, Dulce?



Suspirei fundo. Ele não tinha nada a ver com a personalidade cadela da minha prima. Com
certeza eu tinha intensificado a dramaticidade da situação porque sabia quais eram as intenções dela.



Talvez alguém que estivesse de fora não perceberia.



Não podia deixar o ciúme rondar o nosso relacionamento.



– Só estou cansada. Muito.



– Eu também... Mas valeu a pena. Nunca me senti tão acolhido...


Sorri um pouco.



– É só o começo.



Calvin assentiu. Abraçou-me apertado e fez a pergunta que não queria calar:



– Na sua casa ou na minha?



– Na minha.



– Hum... Quero chupar sua bo/ceta – disse com a voz rouca, e corei um pouco. Ele era tão
específico, às vezes. Nosso abraço não tinha sido desfeito. – O que acha de g/ozar gostoso na minha língua?



– Sinceridade?



– Por favor.



– Acho perfeito.



Gargalhou maliciosamente no meu ouvido. Foi naquele instante que percebi que ele sempre
seria um safado. A diferença era que agora ele era o meu safado. Só meu.
Na moral, depois daquilo tudo, eu merecia uma chupada f/odástica que só ele sabia fazer.
Arrancaria todas as sensações ruins de mim com aquele homem entre as minhas pernas.
Ai, ai... Perfeição é pouco.


 



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Autor(a): luvondul

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"– Que saudade dessa b/oceta molhada... – rosnou com a boca ainda trabalhando nos meus seios. – P/uta m/erda, eu amo essa bo/ceta, Dulce...Poxa, Calvin, só a boceta? Aí você me quebra! Não conseguia entender a sua facilidade em dizerque ama tal parte do meu corpo, e nem a tamanha dificuldade em dizer que me ama."   "&n ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 41



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  • aucker Postado em 17/12/2020 - 23:29:30

    Como essa fic pode ter poucos comentários gente? Sério msm amei a história

  • dudinhah Postado em 16/11/2018 - 01:59:46

    Essa é a única web ,que eu li que não tem os outros rbds

  • manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:27:20

    https://m.fanfics.com.br/fanfic/55689/never-gonna-be-alone-vondy estou começando a escrever essa fanfic passem-lá

  • manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:25:24

    Simplesmente perfeita essa fanfic, amei d+ a história

  • stellabarcelos Postado em 06/04/2016 - 14:13:33

    Amei amei amei amei! Uma das histórias Hot mais incríveis que eu já li! Nunca ia esperar por isso

  • luvondul Postado em 24/03/2016 - 21:42:19

    Christopher Uckermann é um renomado advogado criminalista apaixonado pelo que faz. Além do sucesso inquestionável na carreira jurídica, também usufrui do impacto devastador que provoca nas mulheres a sua volta. E com a sua nova estagiária Dulce Maria não seria diferente. Recém-chegada de uma temporada fora do país, quando acompanhou o então namorado e cantor pop Dereck Mayer em turnê pelo mundo, a estudante de Direito está determinada a cumprir as horas de estágio para finalmente ganhar o diploma, nem que para isso tenha de resistir aos hipnotizantes olhos azuis do dr. Uckermann. Assim como o seu chefe, a jovem leva uma vida descompromissada, curtindo o sexo oposto sem romantismo ou grandes demonstrações de afeto. Passem lá na minha nova fic meninas ;) http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=53091&capitulo=1

  • hanna_ Postado em 22/03/2016 - 15:46:44

    Foi tudo muito lindo ao modo safado dele mas foi hahahah...fiquei muito feluz de acompanhar essa fic. Cada frase da Clarice q tbm falou com nós leitoras. Ansiosa para sua próxima adaptação. Obrigada vc, bjôooo ;)

  • danihponnyvondyrbd Postado em 20/03/2016 - 21:13:55

    O comentário abaixo e meu

  • Postado em 20/03/2016 - 21:11:41

    N acredito q é o ultimo (to chorando um balde de água) n pode acaber é muito boa por favor não faça isso comigo o meu coração não aguenta. Postao próximo capítulo :-):-):-)

  • hanna_ Postado em 20/03/2016 - 01:06:00

    Q lindos! Ah eu amei a Clarice e o Ck tbm <3 ...Tá acabando :(


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