Fanfics Brasil - Haverá outro caminho para o amor que não seja o fim? O safado do 105 (ADAPTADA)

Fanfic: O safado do 105 (ADAPTADA) | Tema: Rebelde


Capítulo: Haverá outro caminho para o amor que não seja o fim?

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Por Christopher


 


O céu escuro diante de mim mais parecia um espelho da minha alma. A obscuridade dilacerante levou os meus pensamentos a locais que costumo sempre visitar: o vazio irreparável existente em meu peito. Entre suspiros e reflexões que só me trouxeram mais dor de cabeça, dei uma pausa de dez minutos só para ouvir o silêncio dos fundos do restaurante, enquanto tentava me entender ou explicar– certamente uma explicação seria mais fácil de obter do que o entendimento – o que havia acabado de acontecer.


Limpei os meus lábios com as mãos, para tentar apagar o beijo odioso que tinha oferecido
àquela louca. A culpa que a traição me trouxe foi tanta que, sem perceber, acompanhei a desistência gritando o meu nome. Por mais que quisesse merecer a Dulce, um ser problemático como eu só lhe traria mais dor. Talvez ela me perdoasse por aquilo, porém o que mais eu seria capaz de fazer para chocá-la?



Eu mesmo não conseguiria me livrar da culpa. Nunca consegui me livrar dela. O fim inevitável
poderia lhe trazer a morte, como aconteceu com a minha ex, ou alguma consequência cruel que estaria longe de fazer parte da minha vontade. Até que ponto posso lhe fazer mal? Não podia arriscar... Não queria arriscar sua integridade.



Como merecer alguém se não me acho merecedor? Como pedir perdão se não consigo me
perdoar? Como pedir para que a Dulce esqueça o meu passado se nem eu mesmo consigo esquecer? É egoísmo demais querer que me perdoe. É egoísmo querer que ela me ame sem ao menos ter um bom motivo para tal.



Não sou digno de amor. Nem de pena. Nem de nada que possa absolver o meu espírito; sou
culpado, sou errado, sou alguém que veio ao mundo para sentir e causar dor – começando pela minha própria mãe –; sou ausente de luz, amaldiçoado por destruir um amor verdadeiro que jamais conseguiu ser vivenciado em sua plenitude.



O meu único guia é o medo. Minha direção é o pecado. Minhas atitudes são as equivocadas, e a única certeza que tenho é a de que, quanto menos me envolver com as pessoas, menos elas sofrerão pelas consequências do que sou.



– “Passei a vida tentando corrigir os erros que cometi na minha ânsia de acertar...” – murmurei
para que apenas o céu pudesse me ouvir. – “Ao tentar corrigir um erro, eu cometia outro. Sou uma culpada inocente.” – Sorri, meio desesperado. – Ah, Clarice... Não há inocência em cometer erros. Você é como eu, um culpado culpado.
O céu nada me respondeu. Clarice, tampouco. Lutei por uns instantes contra o autoflagelamento.



Foi uma batalha difícil, mas necessária. Pensei que havia me curado da capacidade que sempre tive de me subtrair, mas a vinda da Dulce na minha vida me fez perceber o quanto nada amadureci desde que o meu pai se foi.



Antes de morrer, e já prevendo que aconteceria, ele me pediu para que eu fosse um homem, para que buscasse a maturidade e agisse com responsabilidade. O que eu tinha buscado, desde então?



B/ocetas. Foi só isso o que busquei, como se as várias mulheres com quem dormi pudessem me fazer mais homem. Elas só me fizeram mais canalha.



Foi a Dulce quem me abriu os olhos. Ela me fez repensar a minha vida, e, talvez por causa
disso, toda a dor tenha voltado com força máxima, com a mesma intensidade que voltou a esperança. Talvez a minha vontade de continuar seja a mesma que tenho de desistir, e é por isso que vivo uma eterna dualidade, em que quanto mais tenho de uma, mais tenho de outra.



Eu preciso reagir. As lembranças não me fazem bem, porém não podia voltar a me deprimir, a
ser a sombra de mim mesmo. Se sou meu próprio algoz, é errado ser a vítima também? Meu espírito precisava se anular, começar do zero, um início que nem pensamento e nem atitudes se aprofundam na malícia que há em se ferir ou na carência que há em se martirizar.



A morte dos meus pais nada tinha a ver com o meu amor pela Dulce. Meus erros do presente
não se misturam com a minha solidão. Os meus “eus” que sofrem por variados motivos não podem se encontrar numa conferência maldita com o único objetivo de me levar à inércia.



Cada dor é uma dor, cada erro é um erro, e todo sentimento é único, portanto a culpa não pode
atrapalhar o meu desejo de amar; o desespero não deve ser a fonte das minhas escolhas; e medo só é bom quando te impulsiona a acertar.



– “Entre o sim e o não só há um caminho: escolher...”



O que me restava era escolher o que ser, escolher o que fazer e escolher o que sentir. Eu escolho ser um homem, não um menino perdido depressivo; escolho corrigir os meus erros, e não penar por causa deles; escolho, sobretudo, sentir aquele amor até que nada mais caiba em mim além dele, porque é por ele que me faço um cara capaz de escolher.



Entrei no restaurante com a metade – menos até – da empolgação com a qual tinha saído, porém com o dobro de coragem e vontade de passar por aquela situação de cabeça erguida. A minha decisão de contar tudo para Dulce permaneceu firme, e, enquanto cozinhava, pensava na melhor forma de fazê-lo.



Fiquei tão reflexivo que acabei me esquecendo de ligar para ela. Foi perto das nove horas que
levei em consideração a maldade que existe no mundo: Lilian podia já ter lhe dito tudo. Não dava para confiar em sua palavra.



Não ter pensado nisso antes me fez quase enlouquecer de raiva por causa da minha imaturidade, acompanhada por uma espécie de inocência advinda de uma burrice crônica em relação a minha convivência com as pessoas. Minhas poucas amizades, sempre vinculadas ao sexo descompromissado, não me fizeram entender a profundidade do comportamento de ninguém.



Peguei emprestado o celular de um dos cozinheiros. Já tinha decorado o telefone da Raissa de
cor, desde que o obtive. Liguei três vezes: na primeira vez, chamou e ninguém atendeu. Já nas outras duas, escutei a voz irritante de uma mulher me dizendo que o número estava fora da área de cobertura ou desligado. Tentei não entrar em desespero. Não havia razão para tanto medo o tempo todo.



Precisava me livrar dele o quanto antes. Agir com normalidade podia ser uma solução, e foi por
isso que devolvi o celular do cozinheiro e continuei a trabalhar. Claro que uma parte do meu cérebro continuou processando o pavor que era não saber onde a Dulce estava, sequer se a Lilian a tinha procurado, e nem mesmo se permanecia em segurança, mas toda vez que o desespero tirava o meu fôlego, eu bebia um pouco de água e, respirando devagar, pensava em coisas boas. Ou em acontecimentos bons, por exemplo, na noite em que a Dulce disse que me amava incondicionalmente.



É mais fácil me fazer duvidar de que o céu é azul do que das palavras dela, portanto eu não
precisava me preocupar. Tudo ficaria bem. Ela me entenderia. Provavelmente ficaria com raiva e me falaria poucas e boas, e eu mereço ouvir tudo, mas no fim Dulce me perdoaria, porque ela me ama.



Incondicionalmente. Por mais louco que isso possa ser. Por mais que eu não entenda como possa existir tamanho nível de amor.



Quanto à sua segurança, não passava de paranoia da minha parte. Dulce dirigia bem, era
prudente e centrada. Não havia com o que me preocupar. Tentei educar o meu cérebro para me livrar do medo de perdê-la de um modo cruel, mas ele sempre aparecia, fazendo meu coração acelerar tanto que precisei fazer três pausas para ir ao banheiro – lavar o meu rosto e tentar me acalmar – em menos de uma hora.



Tomei o terceiro Dipirona do dia para tentar controlar a dor de cabeça que sempre surgia quando o desespero ameaçava fazer o meu corpo explodir em mil pedaços. Perto das onze horas, pedi de novo um celular emprestado, desta vez de outro cozinheiro. Liguei cinco vezes, mas o celular da Dulce continuava desligado. Com certeza havia descarregado e ela não tinha visto. Devia estar distraída com alguma coisa, ou até mesmo dormindo.



Era segunda-feira, e Dulce já estava cansada logo pela manhã, sem dúvidas havia escolhido
dormir bem cedo. Devia ter me mandado mensagem no número antigo. Por que eu tinha que ter destruído aquele maldito chip? Meus intervalos estavam sendo tão corridos que não conseguia sair para comprar um novo ou trocar o danificado. Acabaria atrasando o meu retorno e prejudicando o andamento da cozinha.



Sendo assim, a minha única opção foi tentar relaxar. Por ser segunda-feira e o movimento
costumar ser mais fraco, fechamos a cozinha à meia-noite. Eu era o último a sair dela, por isso quando finalmente fui para casa já era mais de uma da manhã.



O alívio que senti quando vi o veículo da Dulce estacionado foi tanto que entrei numa crise de
riso nervosa. Foi esquisito passar bons dez minutos rindo dentro do meu carro, que estacionei atrás do dela. O fim de um desespero é realmente um bom motivo para rir. Só quem já riu de alívio sabe o que senti naquele instante; o peso de uma tonelada saiu das minhas costas, e então o cansaço físico finalmente me atingiu. O dia havia sido mais do que longo.


Saí do meu carro olhando para o dela, reparando se estava mesmo intacto. Aparentemente, sim. Dei uma olhada na rua deserta àquela hora, e achei estranha a existência de um veículo estacionado na frente do da Dulce. Todos os vizinhos tinham garagem, por isso supus que a família que morava no 103 estava recebendo visitas.



Dei de ombros e atravessei o jardim. A primeira coisa que fiz foi desligar as luzes – sorrindo
como um bobo por saber que foi a Dulce quem as acendeu –, nunca curti gastar energia à toa. Mesmo ficando tudo escuro, eu já sabia de cor o caminho até a minha varanda, e o bairro era tão tranquilo que nunca temi retirar a iluminação da casa antes de amanhecer. Contudo, sempre concordei que, enquanto sozinha, a Dulce devia sim ficar com a nossa casa toda iluminada.



Larguei minha mochila na sala e corri para o quarto. Cheguei bem perto da parede que
dividíamos, espalmando as duas mãos contra ela.



– Dulce? – murmurei. Não queria assustá-la. – Dulce? – Tentei ouvir sua respiração, mas não
consegui. Coloquei um ouvido na parede. – Está dormindo... Vou te deixar em paz, meu anjo...]


Tive vontade de gritar só para acordá-la, mas me controlei. Em vez disso, fui tomar um banho.
Estava mil vezes mais calmo; embora não tivesse escutado nada, sabia que a Dulce estava lá. Seu sono era leve, mas às vezes não o bastante para me escutar quando eu chegava do trabalho.



Prometi acordar bem cedo a fim de termos tempo para uma conversa. Precisava contar logo o
que tinha acontecido. A demora podia me custar a Dulce. O simples pensamento me devolveu o desespero, mas suspirei fundo e tentei controlá-lo.



Eu sabia que perdê-la seria o meu fim. Talvez fosse sobre isso que o papai tentou me dizer: o
fim cruel que acontece dentro do peito dos que perdem um grande amor. Ele falava do amor no
sentido mais negativo e pessimista. O amor significando perda. Afinal, foi o único amor que ele
conheceu, já que me confessou que jamais chegou a amar a mãe do meu irmão. Eu também só conheci esse tipo de amor. Mas, se eu já perdi tanto amor e ainda estou vivo, então amar ou perder não pode ser o fim, pode?



Devo concordar que há um pedaço de mim que já morreu junto com as perdas que sofri. Estou
pela metade, mas ainda estou. Quantas partes do meu eu serão necessárias perder para que realmente consiga chegar ao fim? Será que, perdendo a Dulce, nada sobraria? E será que todo destino leva apenas ao fim? O amor não devia ter certo tratado de eternidade assim que sentido? Tantas pessoas são felizes... Tantos amores dão certo. Eu podia confiar em um tipo de sorte que nunca tive?



Não havia mais saída. Se eu não confiasse, só me sobraria o medo. O caminho mais irracional, e ao mesmo tempo o melhor para o meu cérebro, era o da confiança. O da esperança sem opção, já que nada me faria arrancar a única coisa boa que sobrou em mim: o amor que sinto pela Dulce. Ou acreditar nele ou temer. E eu não quero mais temer. Estou cansado de ter medo de tudo. Saturado de cometer erros por causa dele.



Deitei na minha cama e me cobri da cabeça aos pés. O silêncio do nosso quarto reinou o campo das minhas ideias. Sorri, pensando nela e nos beijos que trocaríamos pela manhã. Meu pa/u ficou duro só com os pensamentos, lembrando-me das minhas necessidades. Suspirei.


Era muito difícil esperar para saciá-las, mas ter outra mulher que não fosse a Raissa era como se fartar em um banquete e continuar com fome. Infelizmente, soube disso por experiência própria.



Por ela, eu esperaria o tempo que fosse.



– “Onde aprender a odiar para não morrer de amor?” – murmurei baixo. Dulce continuou muda,
ingressada em seu sono lindo. Visualizei seu rosto enquanto dormia e sorri. – Não, Clarice... Não tenho medo da morte. Já temi tudo, menos ela. Prefiro morrer de amor a odiar essa mulher... Vai ser uma morte boa demais para alguém como eu... Nem sei se mereço morrer assim.



Ri de mim mesmo e, vencido pelo cansaço, caí no sono. Costumo dormir muito pouco. Não sei o que acontece, mas não adianta o horário em que eu vá dormir, é difícil que durma por mais de cinco horas. Geralmente durmo umas quatro. Sempre foi assim, desde a adolescência. Acho que sou muito inquieto, não consigo ficar parado por muito tempo. Preciso sempre estar fazendo alguma coisa.



Acordei às cinco e meia. A ansiedade me tirou da cama mais cedo do que o previsto. Tentei
dormir mais um pouco, porém não consegui. Resolvi me levantar de uma vez para adiantar o serviço no jardim. Ia precisar conversar com as plantas antes de conversar com a Dulce. Já começava a me angustiar por causa disso. Não via a hora de o tempo passar só para deixar tudo resolvido.



Seria a primeira vez que faria com que a Dulce se atrasasse no trabalho, pois não conseguiria
me controlar: precisava fazer amor com ela depois que tudo estivesse bem explicado. Meu corpo exigia o dela com a mesma dose de desespero que a minha mente exigia de mim que eu fizesse as coisas certas.



Peguei o regador e o enchi de água em uma torneira que havia no muro, por trás de uma roseira, como em todas as manhãs. Algumas plantas não precisavam de água todos os dias, e, por incrível que pareça, meu cérebro esquematizava o funcionamento do jardim e eu sempre me lembrava de quais precisavam de água em determinado dia. Era por isso que as folhas sempre estavam verdes, bonitas e bem tratadas.



Ouvi a porta da casa da Dulce se abrindo e logo sorri, ansioso para cumprimentá-la. Por uns
instantes, achei que ainda estivesse sonhando. Era a única explicação que a minha cabeça processou diante do que os meus olhos visualizaram: meu irmão Carlos saiu para a varanda acompanhado por ela. Como eu estava um pouco distante, apenas me virei totalmente na direção deles, a fim de entender o que acontecia.



Os dois se abraçaram demoradamente, e fui invadido por uma sensação de dormência. Carlos se afastou um pouco e lhe apertou os ombros. Disse-lhe algumas coisas que não consegui escutar. Dulce
aquiesceu, e o meu irmão lhe tocou o queixo. Falou mais alguma besteira e sorriu antes de lhe dar um beijo na testa.



O pé de goiaba, o regador e eu acompanhamos o Carlos deixando a varanda e a Dulce entrando em casa. O filho de uma mãe finalmente me viu no jardim. O sorriso cheio de intenções se apagou no mesmo instante; acho que foi neste momento que o meu corpo se lembrou que eu ainda estava vivo.



Dei um passo para frente.



Carlos se aproximou, mas não parou. Passou por mim na maior cara dura e murmurou uma
palavra que só fez o meu vulcão interno borbulhar: otário. Por um segundo, tentei controlar a minha vontade de quebrar sua cara. Foi o tempo que levei para entender o que havia acontecido: Carlos tinha o mesmo modelo do carro que estava estacionado na frente do da Dulce na noite passada, e que ainda estava lá. Ele tirou as chaves do bolso e desligou o alarme, trazendo-me a comprovação de que o veículo realmente o pertencia.



O meu cálculo mental foi rápido, mas o resultado não conseguiu ser digerido. Olhei para a
varanda da Dulce. Ela não estava mais lá. Olhei novamente para as costas do meu irmão; ele abria a porta pequena de madeira que dava para saída. Voltei a olhar para a varanda, e só então percebi que todos os vasos que eu havia dado a Dulce estavam caídos, quebrados, esparramados como os pedaços do meu coração ficaram ao entender que o meu irmão havia passado a noite inteira em sua casa.



O vulcão explodiu. Rosnando alto, corri até o Carlos e o puxei com força pela gola da camisa.
Ele se virou para mim, mas perdeu o equilíbrio pelo tempo suficiente para que eu conseguisse lhe desferir um murro na cara. Seu corpo foi jogado para o lado, mas conseguiu defender o segundo usando as mãos. Começou a revidar.



– Filho da p/uta! – gritei, e os movimentos de nossas mãos mal puderam ser compreendidos por quem via de fora. Tentei lhe dar uma joelhada na barriga, mas ele conseguiu se desviar e me atingiu o nariz. Revidei com um segundo murro na cara, que lhe tirou sangue na mesma hora. – Infeliz!



Meu nariz começou a doer muito.



– Você é muito otário, Christopher! – ele gritou de volta, e nos empurramos até nos separarmos. Ficamos ofegantes, encarando-nos como dois animais. Ele tinha sangue no rosto, mas a dor que eu sentia me deixava certo de que tudo meu sangrava. – Eu vou te dar uma surra, moleque! Devia ter feito isso há muito tempo, já que o papai nunca foi capaz!



Carlos veio para cima com tudo, distribuindo socos difíceis de serem defendidos. Apesar de eu
ser mais novo e estar bem mais em forma, ele já praticou anos de uma luta que sempre esqueço o nome, por isso a briga foi muito complicada para nós dois. Fiz o que pude para revidar cada investida, e estava conseguindo, porém comecei a apanhar demais quando ouvi a voz da Dulce gritando.



– Parem! Carlos, pare! – Ela correu até nós, com lágrimas nos olhos, porém não me tocou.
Escolheu o Carlos para segurar. Ele acabou se desconcentrando e levando mais um soco meu. – Saia, Christopher!



Afastei-me. A dor física e a mental se misturaram de uma só vez. Senti sangue escorrer pelo
meu nariz, e limpei minha boca com as mãos. Elas terminaram totalmente manchadas. Eu estava sangrando bastante.



– O que esse cara estava fazendo na sua casa, Dulce? – perguntei, mas não a olhei.



Continuava o encarando, pronto para brigar mais. O fato de não ter recebido resposta de nenhum dos dois me deixou louco. Gritei alto e parti para cima dele, mas Carlos se esquivou e conseguiu socar a boca do meu estômago. Curvei-me, sem fôlego e sem forças.



– Parem! – Dulce voltou a gritar.



– Seu mimado de merda! – Meu irmão falou com a voz firme, exalando um nojo antigo. Eu
também tinha nojo dele desde sempre, por mais que, pelo papai, tentássemos uma convivência
pacífica. – Deixe a Dulce em paz! Seu infeliz, fica fazendo das suas putarias com mulher direita... Não tem vergonha na cara não? – Eu ainda tentava recuperar o fôlego, com as mãos na barriga e a visão turva encarando os dois. Dulce chorava, mas não me olhou nem por um instante. – O papai não está mais aqui pra te defender, otário! Você sempre foi esse mimado desprezível, o miserável filho de uma traição. Vê se cresce, maldito!



Carlos sempre jogava na minha cara que o nosso pai havia traído sua mãe para ficar com a
minha, e que tinha sido bem feito o fato de ela ter morrido, só assim ele pagaria pela dor que causou a eles. Pelo menos era o seu discurso na adolescência, e, embora ele não repita tal absurdo há dez anos, internalizei aquilo pela minha vida toda. Criei um ódio tão grande pelo sujeito que não cabia em mim.



Falar da minha mãe era pior que todos os insultos que pudesse me dizer. Enquanto eu sofria e crescia sem amor materno, ele achava aquilo tudo muito bom. Idiota!



– Saia da minha casa – consegui murmurar, cuspindo sangue. – Saia da minha frente.
Carlos olhou para Dulce e, aos prantos, ela aquiesceu. Estava abraçada a si mesma, parecendo desamparada. Eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Só podia ser um pesadelo.



– Me ligue, Dulce... – ele falou baixo e foi embora sem se dar o trabalho de levar em conta a
minha presença ali. Enxuguei mais sangue do meu rosto.



Achei que fosse morrer de desespero. Não consegui raciocinar. Nenhuma peça se encaixava na minha mente.



– Por que, Dulce? – comecei a chorar no mesmo instante em que voltei a abrir a boca. Sangue se misturou com a minha saliva. – Por quê?



– Eu que pergunto, Christopher. Por quê? – Ela não olhou para mim. Continuou abraçada a si mesma, e deu as costas lentamente para retornar a sua casa.



Pensei na Lilian. C/aralho, a vadia só podia ter lhe contado tudo antes de mim. Só podia ser. Não tinha outra explicação para aquela palhaçada.



– Dulce, eu não sei o que a Lilian te disse, mas eu posso explicar.



Ela se voltou na minha direção como um animal selvagem.



– Explicar o quê? Hein, Christopher? Qual é a sua grande explicação? – berrou, chorando muito. Seu rosto lindo ficou vermelho e distorcido.



O tamanho de sua tristeza me petrificou.



– Eu... Eu não...



– Vai negar? – gritou ainda mais alto. – Vai negar, Christopher? Estou esperando!



– Não. – Meu corpo desesperado entrou em uma série de soluços e espasmos esquisitos. O
estômago começou a pular dentro de mim. – Não... Eu nunca... Nunca quis te...



– Esqueça que eu existo! – disse com a voz firme e se virou para continuar andando.



A raiva completa se juntou a dor.



– Por que dormiu com ele? Por quê, Dulce? Por que logo com ele? – Prendi os dentes um no
outro para não enlouquecer.



Não consegui acompanhar o movimento que ela fez até me alcançar e começar a me bater nos
braços e no peitoral como uma louca.



– É isso o que acha? É isso? – berrou alto, desequilibrada. Recebi cada tapa seu, cada empurrão, com resignação. Eu merecia. – Depois de tudo o que fiz, é isso o que pensa de mim? Que sou como você? Que saio fodendo com qualquer um? – Parou de repente e segurou a cabeça com força. Seus olhos apontados para mim mostraram o tamanho da decepção que lhe causei. – Maldito dia em que comprei esta casa. Maldito dia em que te conheci, Christopher. Você me destruiu.



Não sei como consegui permanecer de pé diante de suas palavras. Além de tê-la destruído, tenho certeza de que fui junto. Destruí a nós dois.



– Dulce... – Não consegui parar de soluçar. – Dulce...



– Eu tenho nojo de você. Deixe-me em paz. Acabou o que para você sequer tinha começado.



– Não... Não, Dulce, não... Por favor.



– Você não sabe amar, Christopher – choramingou. – E eu não vou esperar que aprenda. Cansei. É loucura amar sozinha, é idiotice esperar algo bom de quem não sabe respeitar nem a si mesmo.



Ela balançou a cabeça lentamente, como se dissesse que não havia mais jeito, como se eu fosse um caso perdido. Eu acredito nela. Simplesmente me joguei no abismo, cansado de andar ao redor dele o tempo todo. Exausto de viver por um triz.



Entreguei-me de vez ao fim, o tal fim que tentei não acreditar que fosse o meu destino.
Saber que a Dulce não tinha dormido com o meu irmão não me causou alívio. Uma parte de
mim desejava que ela tivesse errado também. Por Deus, eu a perdoaria com todas as minhas forças, e sei que precisaria de muita para suportar o baque. Quem sabe eu me sentiria menos culpado? É idiotice, eu sei, mas a dor da minha culpa era tão grande que eu só queria me livrar dela, nem que fosse para dividi-la com a Dulce.



Mas não... Aquela mulher era perfeita até mesmo diante da dor. Era uma guerreira que a
enfrentava, e não um covarde que a temia. E o meu erro acabou se amplificando, por não ter confiado nela. E daí que havia vários indícios diante de mim? Eu nem sabia o que droga ele tinha feito lá, e naquela altura perguntar seria pior. Não importa. Devia ter confiado, antes de qualquer coisa. C/aralho, eu a conheço.



Tudo isso só significa que ela continuava certa: eu não sei amar. Mesmo amando, não faço
ideia do que fazer com esse sentimento. Pareço um adolescente que ganhou um carro sem ter tirado a carteira de motorista.



“Nada do que eu já fiz me agrada. E o que eu fiz com amor, estraçalhou-se. Nem amar eu sabia, nem amar eu sabia.” Devo ser a encarnação da Clarice Lispector. Só ela consegue me traduzir.



Pensei nisso enquanto assistia ao primeiro e único amor da minha vida se afastando. Fechou a
porta de sua casa com força, deixando-me em um estado de paralisia que só refletia a minha
incapacidade de fazer as coisas certas.



Eu devia ter lhe explicado. Devia ter implorado, me ajoelhado no chão, confessado que a amo
mais do que tudo no mundo e chorado para que não me deixasse. Mais uma vez, fui travado pelo desespero. Pelo medo que me aterroriza desde sempre.



Eu não estava pronto para ter alguém como a Dulce. Faltava alguma coisa dentro de mim, um
detalhe fundamental que me impedia de ser quem realmente sou. De sentir de verdade o que sinto por ela e de lutar por esse sentimento.



Precisava dar adeus ao medo. Não adianta, jamais seria feliz com ela se não conseguisse me
livrar dele. Mas como não sentir medo enquanto imerso no abismo do fim? Era tarde. Ela não me queria mais. Tinha nojo de mim. Não esperaria pelo meu amadurecimento, e com total razão. Eu não me esperaria.



Não valho a pena. Sou um nada, um...



Pare, Christopher. Pare. Chega de autoflagelamento. Chega de se fazer de vítima. Conserte os seus erros. Coragem. Não dê asas à culpa. Livre-se dela com acertos.



Abri a boca para tentar respirar, acho que passei um tempão sem fôlego, e engoli um pouco de
sangue sem querer. Cuspi tudo no chão. Tentei limpar meu nariz, mas praguejei de dor. Com certeza eu o tinha quebrado. As lágrimas se misturaram com toda aquela nojeira.



Entrei em casa só para vestir uma camisa e pegar as chaves do carro: precisava de um hospital com urgência. Cometi o erro de entrar no meu quarto, e ouvi a Dulce chorando alto.


Meu coração terminou de ser estilhaçado. Foi como pisar em cacos de vidro.



– Dulce... Me perd...



– Cale a boca, deixe-me! Deixe-me em paz! – gritou.



Não sei como a minha cabeça não explodiu. Vi tudo girando no meu quarto por alguns instantes, e achei que fosse desmaiar. Sentei-me na cama, buscando equilíbrio. Dulce começou a abafar o choro em um travesseiro, até que não consegui ouvir mais nada.



Soltei uma frase aos soluços, quase não conseguindo concluí-la:



– “Mas tantos defeitos tenho... Sou inquieta, ciumenta... áspera... – Parei um pouco só para
chorar. – Desesperançosa... Embora amor... dentro de mim eu... tenha... Só que não sei usar amor... Às vezes... Às vezes parecem farpas...”



Dulce não respondeu. Sequer soluçou. Depois de um segundo, percebi que ela não estava mais no quarto. Devia ter saído assim que me pediu para deixá-la em paz.



Olhei para o seu rosto que, ao contrário do original, sorria na minha cabeceira. Aquele sorriso
sempre me fazia sorrir, no entanto, daquela vez foi bem diferente. Soltei o maior de todos os soluços, e depois desatei em lágrimas. O sangue ainda escorria, manchando meus lençóis, por isso peguei uma toalha limpa e fui resolver a única coisa que conseguiria: a minha situação física.



As outras situações só seriam resolvidas quando eu curasse outras partes do meu corpo que não era o nariz.


 


_____________________


 


Christopher merece sofrer né ? {#emotions_dlg.cry}



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Autor(a): luvondul

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 41



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  • aucker Postado em 17/12/2020 - 23:29:30

    Como essa fic pode ter poucos comentários gente? Sério msm amei a história

  • dudinhah Postado em 16/11/2018 - 01:59:46

    Essa é a única web ,que eu li que não tem os outros rbds

  • manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:27:20

    https://m.fanfics.com.br/fanfic/55689/never-gonna-be-alone-vondy estou começando a escrever essa fanfic passem-lá

  • manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:25:24

    Simplesmente perfeita essa fanfic, amei d+ a história

  • stellabarcelos Postado em 06/04/2016 - 14:13:33

    Amei amei amei amei! Uma das histórias Hot mais incríveis que eu já li! Nunca ia esperar por isso

  • luvondul Postado em 24/03/2016 - 21:42:19

    Christopher Uckermann é um renomado advogado criminalista apaixonado pelo que faz. Além do sucesso inquestionável na carreira jurídica, também usufrui do impacto devastador que provoca nas mulheres a sua volta. E com a sua nova estagiária Dulce Maria não seria diferente. Recém-chegada de uma temporada fora do país, quando acompanhou o então namorado e cantor pop Dereck Mayer em turnê pelo mundo, a estudante de Direito está determinada a cumprir as horas de estágio para finalmente ganhar o diploma, nem que para isso tenha de resistir aos hipnotizantes olhos azuis do dr. Uckermann. Assim como o seu chefe, a jovem leva uma vida descompromissada, curtindo o sexo oposto sem romantismo ou grandes demonstrações de afeto. Passem lá na minha nova fic meninas ;) http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=53091&capitulo=1

  • hanna_ Postado em 22/03/2016 - 15:46:44

    Foi tudo muito lindo ao modo safado dele mas foi hahahah...fiquei muito feluz de acompanhar essa fic. Cada frase da Clarice q tbm falou com nós leitoras. Ansiosa para sua próxima adaptação. Obrigada vc, bjôooo ;)

  • danihponnyvondyrbd Postado em 20/03/2016 - 21:13:55

    O comentário abaixo e meu

  • Postado em 20/03/2016 - 21:11:41

    N acredito q é o ultimo (to chorando um balde de água) n pode acaber é muito boa por favor não faça isso comigo o meu coração não aguenta. Postao próximo capítulo :-):-):-)

  • hanna_ Postado em 20/03/2016 - 01:06:00

    Q lindos! Ah eu amei a Clarice e o Ck tbm <3 ...Tá acabando :(




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