Fanfics Brasil - Esquecer o inesquecível é uma opção covarde ou corajosa demais? O safado do 105 (ADAPTADA)

Fanfic: O safado do 105 (ADAPTADA) | Tema: Rebelde


Capítulo: Esquecer o inesquecível é uma opção covarde ou corajosa demais?

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Por Dulce 


 


O ruim de estar na fossa, além de chorar até dormir e comer até passar mal, é que tudo faz
lembrar o sujeito que você quer esquecer. Eu não podia respirar em paz sem recordar os variados momentos que passei com o meu vizinho. Todas as partes daquela casa eram habitadas pelas lembranças, e só o fato de eu estar ali era um motivo para perturbação mental.



Não conseguia superar, esquecer ou voltar atrás. Minha mente vivia uma espécie de teimosia
desenvolvida pela razão e pelo ressentimento; uma mistura cruel que te faz manter o orgulho como se ele fosse a melhor opção. Mas se fosse só orgulho, podia culpar apenas o ressentimento e pronto. A razão vinha junto no pacote. E eu sabia que estava com ela.



Na vida, muitas vezes precisamos tomar decisões difíceis: desistir de um grande amor pode
parecer absurdo aos olhos de quem se ilude pela paixão, mas não me pareceu diante das tantas merdas que aconteceram. Continuo não achando absurdo. Por mais que esteja doendo. Por mais que o meu corpo quase não suporte tanta saudade e vontade de jogar tudo para os ares.



A minha força de vontade (ou teimosia pura mesmo, vai saber!) realmente é maior do que
imaginei. Eu queria ser forte, queria passar por aquilo, queria superar, pois sabia que era o melhor para nós dois. Fiz escolhas erradas. Precisava admitir e aceitar que fui ingênua. Precisava erguer a cabeça e tentar reparar os meus erros.



Não devia ter mexido no que estava quieto. Não sou Deus para definir o que é melhor para as
pessoas... Fala sério, ter lutado tanto por acreditar que eu era o melhor para o Caio foi deprimente. O melhor para ele é um bom psicólogo. Uma mãe protetora. Sei lá... Qualquer coisa que o tire daquele mar de medo e mágoa. Eu não sou a cura de ninguém. Ninguém é a cura de ninguém. Ele não é a minha, infelizmente.



Também preciso me completar antes de encontrar alguém que me transborde. Mas como me
completar vivendo uma meia vida naquela casa que nunca me pertenceu? Como me completar estando imersa em uma solidão ridícula, criada por mim mesma? E eu pensava que era madura... Não passava de uma criança mimada, apaixonada pelo inexistente.



Dizem que o amor é cego, porém naquele caso ele me abriu os olhos. Fez-me compreender que amar não é tudo. Há muito mais além do amor para unir duas pessoas. Eu possuía muito amor, e a certeza de que o Christopher também, mas não teríamos nada além de dor de cabeça se ficássemos juntos. E, bem, nem ele e nem eu precisamos disso.



A parede da Clarice, toda riscada, não ajudava em nada. Dizer que me arrependi de ter feito
aquilo com ela é pouco... E agora, aqueles estragos irreparáveis ficavam zoando com a minha cara (sério, a parede estava praticando bullying mais do que aqueles valentões do ensino fundamental). Desde que chutei os vasos da varanda, soube que não conseguiria ficar ali por mais nem um dia.



Sem emprego, paciência ou esperança, segui com a ideia firme de vender aquela casa. Procurei pelo Carlos – o coitado me consolou durante uma noite inteira, impedindo-me de cometer loucuras na noite do “acontecido” –, sabendo que seria o único que me ajudaria de verdade naquela situação. Queria soluções.



Por isso não entendia o que ele estava falando no meio do jardim, em uma noite de domingo que quase morri de tanta amargura, comendo brigadeiro de colher, riscando ainda mais a parede, esperando o tempo passar, rezando pelo bem do Christopher e para que um meteoro caísse na face da terra e explodisse tudo só para que eu não viva um segundo a mais sabendo que descumpri uma promessa importante.



– Você vai se arrepender, Dulce... Pense com calma – Carlos dizia com tranquilidade, e eu só
conseguia engolir o choro e tentar encontrar uma forma de trocar nossos corpos para que ele pudesse entender que eu teria tanta calma quanto um peru na véspera de natal.



– Não acredito que ainda não falou com ele! Poxa, eu estava confiando em você, Carlos... Não
vou vender essa casa para outra pessoa, ele tem de comprar... Ou você comprar de volta. Já
combinamos o valor.



Ele pareceu muito perturbado.



– Não tenho interesse na casa, Dulce. Nem se me entregasse de graça eu ia querer. Quero
distância disso tudo aqui...



– Eu também, que droga! Só o Christopher consegue morar neste lugar... Essa casa pertence a ele! Pelo amor de Deus, convença-o – proferi com firmeza. – Não posso fazer isso, você sabe. Não posso olhar nos olhos dele e dizer uma coisa dessas. Já nos magoamos demais.



– Isso mesmo! Você está muito magoada, só isso. Vai passar em breve... E vai se arrepender.



– Não. – Balancei a cabeça bem depressa. – Nós conversamos. Ele me contou sua versão, foi um mal entendido, mas... – Bufei. – Ah, é complicado, você nunca iria entender. Preciso ir embora. Não posso continuar mantendo a casa, não tenho dinheiro.



– Já falei que você vai encontrar um emprego logo...



– Fui a duas entrevistas nesta semana. Nada. Não deu em nada! – Abracei a mim mesma,
desolada. – Não vou arriscar. Meus pais já sabem. Contei a minha mãe que fui demitida, estou sendo pressionada para voltar e... Voltar pra casa nunca me foi tão atraente, Carlos.



Inspirei todo o ar que pude. A ideia de perder a minha liberdade só não era pior do que a ideia de perder o Christopher. O problema é que chega um momento em que perder é tudo do que mais precisamos para continuarmos seguindo em frente.



Aceitar nosso fracasso e recomeçar do zero é uma atitude digna. Eu só estava tentando acertar. Adiando meu sonho livre só para realmente usufruir dessa tal liberdade, porque, sério, que tipo de liberdade teria morando ali?



Contei apenas a mamãe que nós havíamos terminado o namoro (pedi para que guardasse a fofoca e que não falasse nada sobretudo para Sara), mas claro que omiti os reais motivos. Ela ficou muito chateada com a situação, e ainda mais desesperada com o fato de eu estar sozinha e desempregada.



Também lamentou muito por ele; mamãe realmente guarda muito carinho pelo Christopher.



– Ele gosta de você, Dulce. Nunca o vi assim... Christopher sempre foi um canalha como o papai era. Mas há algo quando ele te olha. Se foi um mal entendido, então para quê o drama?



Calei a minha boca. Refleti um pouco mais. Ninguém me entendia. Todo mundo acha que o
amor é tudo. Culpa total dos contos de fadas. Alguém disse ao mundo que beijar a princesa é tudo o que se precisa fazer para obter um felizes para sempre.



O engano mais cometido na humanidade, desde seus primórdios.



– Estou decidida, Carlos. Faça o que for preciso, por favor!



Ele me olhou com a cara feia.



– Mas, Dulce..



– Não dá pra ficar aqui, assim. – Dei passos para trás, e depois me virei na direção da minha
varanda.



Foi então que o vi. Christopher nos observava através da janela de sua cozinha. Estava sem camisa (sim, foi a primeira coisa que percebi, atirem pedras em mim!), e tinha o rosto repleto de curativos.



Não parecia bem. Não mesmo.



Nossos olhares se cruzaram por instantes eternos, difíceis demais para o meu coração. Tive
vontade de gritar, mas desviei o rosto a tempo de evitar ter um troço. Fui direto para casa. Não
aguentava mais aquela situação.



Não dava para voltar atrás e me contentar com um relacionamento inconstante. Sei que sou
totalmente culpada por ter procurado aquilo desde o princípio, e me dói tanto tê-lo conquistado só para magoá-lo no fim... Mas, poxa, quem sabe aquilo lhe trouxesse maturidade? Talvez não tenha sido uma perda total de tempo. Talvez aquele desgaste emocional nos trouxesse aprendizados importantes para o futuro. Nenhuma dor é em vão.



Na verdade, nada havia sido em vão. Preferia sentir aquela dor insuportável a nunca ter passado por aquilo. Seria muito mais deprimente viver sem jamais ter sido dele. Era nessa ideia que eu me agarrava para não morrer de culpa.



A pior parte de todo aquele sofrimento eram as noites. Simplesmente não havia o que fazer.



Enquanto o Calvin não estivesse em casa, até conseguia ter um pouco de paciência para pesquisar empresas que estivessem precisando de vagas na área de análise de sistemas, mas quando eu sabia que ele estava no 105... Não conseguia fazer mais nada da vida.



Na sexta-feira tive um lapso nervoso. As paredes daquela casa estavam me comendo viva; era
sair dali ou morrer de amargura. Chamei Sara para ir a uma boate, coisa que não fazemos há algum tempo. Dançamos, bebemos muito e curtimos a noite como se não houvesse amanhã.



Quase me deixei levar pelo papo de um moreno com sorriso bonito, mas o maldito me lembrava
tanto o Christopher que eu me recusei a dar bola. Não me sentia pronta para pular aquela etapa, não daquela forma. Antes de me envolver com qualquer pessoa, mesmo sem compromisso, precisava ter um emprego. Além de ter a certeza de que não surtaria ficando com outro alguém. Ainda me sentia pertencente a ele. Essa era a verdade.



Voltando às minhas malditas noites, dormir era um martírio. Sonhava que ele estava com a
Lilian. Ou com a Karen. Ou com um monte de vadias. Ou comigo. E todas as situações faziam com que eu acordasse assustada. Perguntava-me o tempo todo se estava mesmo certa. Procurava um motivo bom para ficar, perdoar e tentar, porém sabia que era tudo armação da minha mente para continuar me manipulando.



Infelizmente, a verdade está acima dos meus desejos, e daquela vez eu a seguiria. Seguir pelos caminhos do desejo só te traz confusão. Eu não queria cometer o mesmo erro e correr o risco de nos machucar ainda mais.



Pelo que conheço do Christopher, ele já havia desistido de mim. Colocava a culpa inteira em si e se martirizava por ter feito tantas besteiras. Ele não entendia a situação como um todo, talvez não fizesse ideia dos motivos reais para termos acabado. Queria que entendesse que Lilian nada teve a ver com aquilo. A questão não é a sem-vergonhice dela (embora a minha vontade, hoje, seja a de matá-la com requintes de crueldade), mas a insegurança e desconfiança dele. Ou melhor, nossa, já que me vi tão insegura e desconfiada quanto.



Aquela semana deixou as coisas bem claras: Christopher nada fez para que eu voltasse. Respeitou as minhas escolhas, provavelmente por achar que eu estava certa mesmo sem ao menos ter pensado sobre isso.



Não me parece justo.



Estava tentando adiar a minha volta para casa, porém precisava deixar de ser covarde. Pretendia partir no próximo sábado. Não faço ideia do que estava esperando (talvez um milagre), já devia ter fechado a casa e partido sem olhar para trás. Acho que, no fundo, eu não tinha certeza se era mais errado ficar ou ir embora. A dúvida me incomodava muito.



Acordei cedo na segunda-feira (como em todos aqueles dias, sem sinal do Christopher no quarto ao lado; acho que ele estava dormindo na sala). Não havia entrevistas marcadas ou qualquer outra coisa que pudesse fazer para me ajudar a sair daquela. Seria mais um dia em que as paredes, sobretudo a da Clarice, ameaçariam me comer viva. Comecei a fazer o inadiável: reunir algumas caixas e iniciar de uma vez por todas o meu processo de mudança.


Não ia levar tudo logo de cara, só as coisas mais importantes.
Acabei fazendo uma faxina geral, o que me ajudou a manter a distração (músicas não românticas ajudam pra caramba, fica a dica). Resolvi tirar o lixo, por isso peguei dois sacos enormes e atravessei a minha varanda, que andava mais vazia e triste impossível. Ela só não estava pior do que a minha sala... A ausência do tapete da Sra. Klein trabalhava como um verdadeiro buraco negro bem no meio da casa. Bom, pelo menos o Christohper fez o que eu não tive coragem de fazer com a varanda: recolher os cacos da desgraça que havia sido instalada.



Deixei os dois sacos na beira da calçada e voltei, atravessando o jardim depressa. Sair da minha “toca” era uma atividade perigosa, pois queria evitar ao máximo que acontecesse exatamente o que aconteceu: encontrei o Calvin ao lado do pé de pitanga, empunhando o seu velho regador e usando uma cueca Calvin Klein branca. Foi como se o tempo não tivesse passado e nós estivéssemos no dia em que nos conhecemos.



Os mínimos segundos que demorei observando aquela figura foram suficientes para perceber
que o Caio estava me observando o tempo todo: calado, parado, quieto e sério. Suspirei
profundamente, cansada de me sentir tão atraída por ele. Aquilo nunca ia ter fim? Ele sempre me atrairia como um poderoso imã, retirando-me qualquer escolha?



Soltei outro suspiro e decidi ir para casa de uma vez.



– Ei, vizinha! – chamou-me, e parei imediatamente. Ouvir sua voz foi tão profundo que achei
que tivessem me afundado junto com o Titanic. – Bom dia!



Seu timbre especialmente alegre me chamou a atenção. Dos dois um: ou aquele cara estava
fingindo animação ou havia enlouquecido de vez. Demorei muito a me virar na direção dele de novo.



Meu coração, que já batia forte, quase parou quando percebi sua aproximação.



– Bom dia – respondi baixinho, sem forças. Christopher sorriu diante de mim. Estava longe de ser qualquer um dos sorrisos que já tinha me oferecido desde então: aquele exalava tristeza completa. O desânimo me afetou, mas depois senti algo diferente. Sua tentativa de ficar bem me comoveu.



– Você está muito gostosa nesse shortinho, vizinha – completou com malícia, desta vez me
analisando de cima a baixo, despindo-me com seu já conhecido olhar safado. – Ou é o shortinho que está gostoso em você... Não sei, é uma combinação perfeita.



Travei completamente. Não sabia se me indignava ou se rachava de rir. A dúvida me fez ficar
indiferente. O que ele queria com aquilo? Será que não percebia que estava sendo ridículo?
Dei de ombros e continuei com o meu percurso de volta para casa, ignorando-o. Quando abri a
porta e entrei, olhei para o jardim sem querer querendo. Acabei o observando. Christopher não sorria mais, havia retornado à seriedade. Segurou o colar que eu havia lhe presenteado.


Suspirei mais uma vez e fechei a porta antes que fizesse alguma besteira.



Não sabia o que tinha sido aquilo, mas não ia parar para perguntar. Vê-lo desfilando com a
Calvin Klein de novo me trouxe tanto espanto quanto nostalgia. Só Deus poderia saber o que se passava naquela cabecinha de jerico. Será que o Christopher tinha voltado a ser o Calvin, o comedor de vadia exibicionista? Muito provavelmente.



O mero pensamento me deixou depressiva durante todo aquele dia, que custou demais para
passar. Pelo menos tive um pouco de sossego, já que ele passava quase o dia todo fora. Terminei de limpar a casa e de embalar as coisas. Também imprimi alguns currículos para entregar pessoalmente no dia seguinte.



Não podia deixar a peteca cair.



À noite, fui acordada por alguns ruídos estranhos. Havia dormido cedo pela falta do que fazer,
ficar sem trabalhar era pior do que eu podia imaginar. Olhei o relógio de cabeceira: eram duas horas da manhã. Pus-me em alerta. Tentei me preparar para o pior, embora soubesse que jamais estaria pronta para algo do tipo. Nunca estive pronta, desde o início, e esse foi o meu maior erro. Esperei os gemidos. As batidas na parede. Fechei os olhos com força e quase enlouqueci diante daquela espera cruel. Nada consegui escutar, até que os ruídos retornaram. Não soube identificar o que acontecia no quarto ao lado.



A curiosidade quase me fez chamar pelo vizinho. Quase. Foi por um triz. Cheguei a ajoelhar na
cama e juntar o ar nos pulmões, até que ouvi a voz dele:



– Dulce?
Fechei os olhos. Amava ouvi-lo chamando o meu nome. Foi o bastante para que acendesse uma lareira bem no centro dos meus sentimentos congelados. Arquejei involuntariamente.



– Sei que está aí... Ouça. Eu... acabei de achar uma coisa na estante. Estava dentro de um livro da Clarice, “A Bela e a Fera”.



Passei as mãos pelos cabelos. O idiota me venceria pela curiosidade? Por que eu o estava
ignorando mesmo? Não havíamos brigado. Só acabado o nosso relacionamento. Para mim, exnamorado sempre foi sinônimo de ex-amigo, mas naquele caso era diferente. Eu podia lidar com aquilo. Ou não? Talvez fosse cedo demais.



– Eu... Nunca... Nunca tinha visto algo assim – completou, parecendo muito perturbado. – Estou sem sono, queria terminar de limpar os meus livros e...



– Fale logo o que tem aí – interrompi-o com firmeza.


Ele demorou um pouco a responder:



– É uma carta.



– Uma carta?



– Sim... Datada de cinco anos atrás. É... do meu pai.



Fiz uma careta.



– Do seu pai? Para você?



– Não. Para mamãe.



Ficamos em silêncio por alguns instantes.



– Mas... Como assim?



– Eu não sei o que tem aqui dentro. Não li. Eu... não sei se consigo. – Suspirou. Estava mesmo
muito abalado. Acho que não era desculpa para falar comigo. Christopher jamais brincaria com algo relacionado aos seus pais.



– Olha, Christopher...



– Leia para mim, Dulce, por favor.



– Christopher...



– Por favor...



– Christopher! Escuta... Você precisa fazer isso sozinho. São seus pais, não os meus.



Ouvi barulho de papéis se remexendo nervosamente. Ele ficou muito tempo em silêncio, e
esperei cada segundo, observando a parede pichada com o coração na mão. Achei que estivesse lendo, por isso levei um susto quando começou:



– “Querida Beatrice...” – Parou de vez. – Não posso.



– Continue. Leia para mim. – A curiosidade matou a Dulce. Agora, era questão de honra: eu
precisava saber o que tinha naquela carta. Babado forte! – Que nome lindo o da sua mãe...



– Sim... Eu... não escuto esse nome há anos. Beatrice Uckermann – sussurrou, e minha pele se arrepiou por inteira. Finalmente eu sabia o verdadeiro nome da Sra. Klein, mas não era só isso. Aquela casa tinha uma energia diferente, sentida toda vez que a mãe dele era lembrada. Eu gostava. Gostava tanto que me imaginar sem aquela força me deixou imediatamente triste.



– Você tem uma foto dela? – perguntei aos murmúrios.



– Várias... Estão guardadas. Não consigo vê-las. Ela era linda.



Meus olhos se encheram de lágrimas. Engoli em seco. Não podia esperar nada diferente da
beleza completa de uma mulher que tinha dado a luz a um homem tão belo.



– Continue... Estou curiosa. – Ri um pouco só para descontrair.



– “Querida Beatrice, sei que irei me juntar a ti em breve.” – Christopher parou no mesmo momento em que meu coração parou de bater. Acho que nossas reações foram iguais. – Dulce...



– Tente.



– “Desde que o médico me informou que essas dores insuportáveis são consequência de um
câncer, soube com plena certeza. Nada me faz mais feliz do que saber que estarei contigo em breve, minha amada...”



Macacos me mordam. O pai dele queria morrer? Minha nossa senhora! Aproximei-me um pouco mais da parede para não perder nada. Sabia que o Christopher estava vivenciando um momento obscuro, e me sentia pronta para qualquer uma de suas reações. Temi a sua demora em continuar a leitura.



– Christopher?



– “Não temo a morte, Beatrice. Sentia raiva dela, pois foi essa maldita afortunada que te levou
de mim. Não houve um dia em que não alimentei este ódio crescente que sentia de quem te fez ir embora, porém desta vez a amargura se transformou em felicidade. Passei a amar a morte, a buscar sua amizade para que me leve mais depressa para os teus braços, la mia vita. Sei que é seu dever ressarcir os anos de infelicidade: se me tirou a luz dos meus olhos, precisa me devolvê-la.” – Coloquei uma mão na boca, totalmente passada. Christopher suspirou fundo e continuou: – “Sei que tenho errado e te magoado com meu comportamento obsceno. Foram anos tentando te esquecer, mia bella, perdoe-me por tentar arrancar do meu peito o que jamais sairá dele...”



Ok, eu já estava chorando há muito tempo. Pelo visto, não era a única. Ouvi um pequeno soluço, seguido de uma fungada.



– “Se eu nunca tivesse tentado te esquecer, teria sido mais feliz. Teria aceitado viver sem teu
amor, pois o meu me alimentaria todos os dias. Fui um tolo, um covarde que não soube te esperar ou respeitar o louco amor que sempre senti por ti...” Dulce...



– Continue, Christopher, por favor... – pedi, aos prantos.



– “Teria educado melhor o nosso amado filho. Teria lhe ensinado sobre o amor...” Não dá,
Dulce. Chega.



– Christopher... Você precisa disso.



– Dói demais!



– Eu sei... Eu sei que dói, mas é uma dor necessária. Também está doendo em mim. Imagino o
quanto deve ser difícil para você...



– Nada nunca foi fácil para mim, Dulce, mas eu parei de reclamar. Não vou mais procurar dores
para sentir. – Senti um ar de raiva em suas palavras. – Se ele queria ir embora, muito bem, fico feliz que tenha conseguido. Foi um covarde que não soube conviver com os próprios sentimentos.



– Não fale assim dele, poxa...



– Eu te perdi, Dulce, e nem por isso diria ao meu filho para que nunca amasse alguém. Muito
pelo contrário, diria para que amasse o máximo que pudesse, que se entregasse e jamais fosse um idiota medroso.



Permaneci muda, estarrecida. Ele estava falando sério? Seu pai lhe disse para que nunca amasse uma pessoa? Meu Deus... Era muita informação para processar. E a frase “eu te perdi” soou tão definitiva que tive vontade de sumir do mundo.



Tentei ficar calma.



– Vamos ler o resto.



Christopher bufou.



– Só vou ler porque nunca mais vou ser um covarde como ele.



Não sei por que eu sorri. A situação era tensa, mas vê-lo tomando aquela atitude me deixou
animada. Será que Christopher estava mudando? Tornando-se um homem decidido livre dos medos? Meu Deus... Ninguém muda de um dia para o outro. Eu precisava parar de me manipular, isso sim.



– É isso aí... Continua.



– “Beatrice, nosso Christopher está crescendo muito depressa. Sei que ficará bem; aprendeu a não se deixar levar pelos sentimentos.” – Arfou. – Só pode estar de brincadeira comigo... “Cuida das tuas plantas, cozinha tuas belas receitas e lê os teus livros com a mesma empolgação que via em ti. Quando olho nos olhos dele, é a ti que vejo: um ser humano sensível e inteligente. Às vezes acho que tu partisses só para poder renascer dentro dele. É impossível não amá-lo da mesma forma que te amo. Tu me deste um tesouro, bella. Se hoje vivo, é por causa do presente que tu me deixaste antes de partir.” –



Sorri amplamente, e novas lágrimas molharam meu rosto. Achei que Christopher fosse pausar de novo, mas ele continuou, embora que com a voz embargada: – “Só escrevi para te avisar que estarei contigo em breve. Peço-te para que continues seguindo os passos do nosso filho. Ele vai precisar da tua força, da tua luz. Sei que tu estás conosco, sinto tua presença nesta casa. Quando estivermos juntos, olharemos por ele, para que seja feliz como não consegui ser sem ti. Espero que nosso Christopher entenda que é fruto de um amor verdadeiro... E, como tal, repleto de beleza... e tristeza... na mesma medida... – Christopher começou a chorar bastante. – Mas que nem a morte foi... capaz de fazê-lo diminuir. Nada diminui um
amor... de verdade, nem mesmo a... distância. Do seu Carlos, para sempre. Te voglio bene.”



Acompanhei-o nos soluços. Tentei bastante, porém não consegui me segurar. Aquela carta
continha uma energia emocional enorme, e o mais estranho foi o fato de o Christopher tê-la encontrado naquele momento. Parecia coisa do destino, sei lá. Cada palavra soou como um verdadeiro tapa na minha cara. Incrivelmente, ele se recuperou mais depressa do que eu. Isso jamais aconteceria em condições normais, o que me deixou muito confusa. Até que ponto o meu vizinho tinha mudado?



– Vá dormir, Dulce. Está tarde.



– Vai ficar bem? – choraminguei.



– Claro que sim. Meus pais se amavam, e me amam. Não há o que temer.



Sorri de novo. Como ele estava transformado!



– Tem razão.



Ficamos calados por algum tempo. Ouvi sua respiração forte como se estivesse ao meu ouvido. Fui capaz de me excitar só com aquilo. Meu corpo ardia de saudade, de vontade, de desejo. Tentei me manipular mais uma vez. Pensei nas possibilidades de bater em sua porta e de lhe empurrar até a cama, mas travei. O medo do futuro congelou as minhas ideias.



– Posso dormir aqui, hoje? – perguntou.



– É o seu quarto, não? Você sempre pôde.



– Obrigado – sussurrou. Ouvi o ruído do seu corpo sendo atirado na cama. A parede sofreu uma pancada oca por causa disso.



Prendi meus lábios.



– Uma frase – pedi.



Christopher pensou bastante.



– “Mesmo num amor de linhas tortas como o nosso, o fim parece um erro, como um ponto final
no meio de uma frase.” Não vou esquecer o que não se esquece, Dulce. Eu preciso de. Eu te. Viu só? Não pode haver ponto final no meio da frase.



Chorei ainda mais, só que desta vez em silêncio. É sério, produção? Ele quase falou a frase
mágica? Pu/ta merda...



– Clarice sabe das coisas – murmurei.



– Ela sabe. Eu também sei.



– O que você sabe?



– Sei o que fazer.



– Que ótimo. Parece o único aqui.



– Você vai saber também.



– Espero que sim.



Silêncio.



– Boa noite, vizinha.



Fechei os olhos, afundando meu rosto no travesseiro.



– Boa noite, vizinho.


 


_________________________________


Morri de pena do Christopher gente {#emotions_dlg.cry}



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Autor(a): luvondul

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 41



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  • aucker Postado em 17/12/2020 - 23:29:30

    Como essa fic pode ter poucos comentários gente? Sério msm amei a história

  • dudinhah Postado em 16/11/2018 - 01:59:46

    Essa é a única web ,que eu li que não tem os outros rbds

  • manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:27:20

    https://m.fanfics.com.br/fanfic/55689/never-gonna-be-alone-vondy estou começando a escrever essa fanfic passem-lá

  • manu_morais Postado em 28/12/2016 - 20:25:24

    Simplesmente perfeita essa fanfic, amei d+ a história

  • stellabarcelos Postado em 06/04/2016 - 14:13:33

    Amei amei amei amei! Uma das histórias Hot mais incríveis que eu já li! Nunca ia esperar por isso

  • luvondul Postado em 24/03/2016 - 21:42:19

    Christopher Uckermann é um renomado advogado criminalista apaixonado pelo que faz. Além do sucesso inquestionável na carreira jurídica, também usufrui do impacto devastador que provoca nas mulheres a sua volta. E com a sua nova estagiária Dulce Maria não seria diferente. Recém-chegada de uma temporada fora do país, quando acompanhou o então namorado e cantor pop Dereck Mayer em turnê pelo mundo, a estudante de Direito está determinada a cumprir as horas de estágio para finalmente ganhar o diploma, nem que para isso tenha de resistir aos hipnotizantes olhos azuis do dr. Uckermann. Assim como o seu chefe, a jovem leva uma vida descompromissada, curtindo o sexo oposto sem romantismo ou grandes demonstrações de afeto. Passem lá na minha nova fic meninas ;) http://fanfics.com.br/?q=capitulo&fanfic=53091&capitulo=1

  • hanna_ Postado em 22/03/2016 - 15:46:44

    Foi tudo muito lindo ao modo safado dele mas foi hahahah...fiquei muito feluz de acompanhar essa fic. Cada frase da Clarice q tbm falou com nós leitoras. Ansiosa para sua próxima adaptação. Obrigada vc, bjôooo ;)

  • danihponnyvondyrbd Postado em 20/03/2016 - 21:13:55

    O comentário abaixo e meu

  • Postado em 20/03/2016 - 21:11:41

    N acredito q é o ultimo (to chorando um balde de água) n pode acaber é muito boa por favor não faça isso comigo o meu coração não aguenta. Postao próximo capítulo :-):-):-)

  • hanna_ Postado em 20/03/2016 - 01:06:00

    Q lindos! Ah eu amei a Clarice e o Ck tbm <3 ...Tá acabando :(


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