Fanfic: O início de tudo (2° versão) | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner
Fátima destranca a porta da sala com cuidado. Entra e nota que a luz da sala está acesa e a TV ligada com o volume alto. A mesa de centro lotada de latas de cerveja vazias, o cinzeiro abarrotado de tocos de cigarro e pratos e copos sujos amontoados no canto da mesa. A casa estava empesteada com cheiro de fritura. Antes que ela pudesse pensar qualquer coisa, Marcelo veio da cozinha com um prato de batatas chips e uma lata de cerveja.
- Que demora, hein? – ele afirmou em um tom ligeiramente ríspido.
- É, hoje foi um pouco puxado. – ela disse, abandonando a pasta e a bolsa no aparador da sala.
- Hum... – ele resmungou, repousando a garrafa na boca e dando um longo gole na cerveja.
- Quantas pessoas estiveram aqui hoje? – ela apontou pra bagunça da mesa.
- Só o Rui e o Cristiano. Porquê?
- Você não podia ao menos ter levado os pratos pra pia? – ela bufou.
- Deixa que depois eu dou um jeito nisso. Vem aqui. – ele bate no assento do sofá ao lado dele. – Senta aqui comigo?
Fátima tira os sapatos antes de pisar no carpete. Caminha até o sofá e se joga ao lado dele, visivelmente cansada. Coloca os pés cruzados no sofá e recosta a cabeça pra trás. Marcelo se inclina e cheira o pescoço dela.
- Odeio quando você precisa trabalhar domingo. – ele sussurra.
- Meu trabalho não escolhe fim de semana e feriado.
- Sempre falei que nunca gostaria de casar com uma médica, justamente pra não ter que agüentar isso. Casei com uma que é pior, é jornalista.
Fátima sorriu de leve com a ironia.
- Sempre soube como era, né?
- Mas piorou muito de uns tempos pra cá.
Ela deita a cabeça na palma das mãos.
- Ai... Já brigamos tanto por isso, não quero falar mais disso. Por favor? – ela olha piedosamente pra ele.
- Tá, parei.
Ela levanta e caminha até o quarto. Para na porta e olha pra trás.
- Ah, tá lembrando que amanhã é nosso aniversário de casamento, né?
- Tô, claro!
- Tá lembrando também que combinamos de sair, fazer um programa juntos? Nada de sair da construtora e parar pra tomar uma cervejinha.
- Que horas você quer sair?
- Eu não, né? Nós! NÓS combinamos de sempre comemorar essas datas.
- Sim, mas que horas você estará pronta? Não, porque eu tinha marcado um futebol e tal...
- Ah não, Marcelo... – ela o interrompe e vai pro quarto.
Ele levanta e vai atrás.
- Não, amor, mas é mais cedo, vai dar tempo tranqüilo. Tá? Prometo. As 20 horas estou aqui.
- Tem certeza?
- Tenho! Tenho sim!
- Tá bom então. Vou tomar meu banho. – ela dá um selinho na boca dele, entra no banheiro e fecha a porta.
Debaixo do chuveiro, deixa a água cair bem quente em seu rosto. Sonhava tanto com essa vida que ela conquistara... Um emprego dos sonhos, um apartamento pequeno, mas muito bonitinho e bem localizado, estava casada... Era tudo que ela sempre desejava ver quando olhava pra seu futuro. Sabia que quando esse momento chegasse, ela estaria completamente plena. Já enrolada na tolha, ela fitou sua imagem no espelho. Aos 27 anos, ela se sentia com gás total pra viver e desfrutar de tudo o que já havia conseguido e tudo que ainda gostaria de conseguir. Com o semblante sério, ela passou a mão pelos cabelos molhados. Aconchegou as mechas atrás da orelha. Era estranho. Porque aquela insistente sensação de que sempre faltava algo? O que faltava? Ou não faltava nada e ela que não estava conseguindo reconhecer a felicidade plena? “Isso é ser plena?”, ela se perguntava. Passou a mão no rosto, dissipando aquele sentimento estranho e contraditório. “Estou exausta, deve ser isso.”, concluiu. Olhou pela última vez seu reflexo, virou as costas, saiu do banheiro e apagou a luz.
***
Com o dedo, ela limpava os excessos de batom no canto da boca, sem borrar. Ouviu a porta do banheiro se abrir e Marcelo saiu de lá embrulhado na toalha.
- Opa! Pra que tudo isso, meu amor?
Ele vislumbrou Fátima dos pés a cabeça. Ela usava um tubinho preto justo e curto, todo fechado na frente, mas com um decote em “V” nas costas. Calçava sapatos vermelhos, bem altos. No cabelo, um coque minuciosamente preso, com algumas mechas cacheadas soltas nas laterais. Ela estava realmente estonteante. Mas não parecia muito paciente.
- Amor, a gente não vai achar mesa! Se veste, vai, rápido!
Ele rapidamente se enfiou em um jeans claro e uma camisa branca. Penteou os cabelos castanhos rapidamente e trespassou os dedos por eles. No alto de seus saltos, Fátima ficava quase mais alta que ele. Aquilo o incomodava um pouco, sentiu vontade de pedi-la pra tirar os sapatos e colocar um outro mais baixo. Mas tinha certeza que terminariam brigando e ele não queria isso. Não naquele dia. Tratou de se apressar, pegou a carteira e a chave do carro.
- Estou pronto.
- Então vamos!
O barzinho foi escolha de Fátima. Teria um show ao vivo naquela noite, estava muito cheio, principalmente para uma segunda-feira. Fátima e Marcelo entraram sem fila, a mesa já estava reservada.
- Queria uma mesa mais no canto... – ele disse a hostess do bar.
- Puxa, senhor, nós não tínhamos mais nenhuma disponível quando vocês fizeram a reserva. Desculpe.
- Tudo bem, então. – ele disse torcendo o nariz.
Sentaram-se em meio a uma multidão de pessoas que, de pé, dançavam ao redor das mesas.
Fátima parecia muito a vontade. Se remexia, dançando mesmo sentada. O show estava muito animado e o bar cada vez mais cheio.
- Vamos dançar? – ela pediu.
- Ah não, Fátima, eu não gosto de dançar. Aqui tá tão bom!
- Não, por favor? – ela quase implorou. – Por mim, vai? Um pouco!
- Não, não quero dançar.
Ela bufou.
- Tá, então. Vou dançar sozinha mesmo. – ela se levantou e ficou de frente a própria cadeira. Marcelo estremeceu de raiva. Tinha um ciúme doentio dela. Tinha pavor das pessoas olharem pra Fátima, como era óbvio que iria acontecer, com ela dançando sozinha. Ele abandonou a tulipa de cerveja na mesa e se levantou. Puxou Fátima pela cintura e a envolveu com os braços.
- Não vou te deixar dançando sozinha, né? – ele disse, passando a mão pelas costas dela. Abraçados, dançaram juntos por um longo tempo.
Com muita graciosidade, Fátima se sacudia e cantarolava as letras das músicas. Notava a tensão no rosto e nos gestos de Marcelo, mas nem se importava tanto porque já estava acostumada. Ele passava o tempo todo olhando para os lados, tentando cercá-la de olhares de cobiça. Sempre na defensiva, ele fiscalizava cada homem que passava por perto. Fátima se desvencilhou dele e foi até seu lugar na mesa e deu uma grande golada na taça de água. Se abanou com a mão e, enquanto tomava um pouco mais, sofreu um esbarrão de um rapaz que passou atrás dela e derramou parte da água no vestido. Tomou um susto, mas abandonou a taça e limpou o queixo com a mão mesmo, sem se importar com o acontecido. Mas Marcelo não teve a mesma reação. Ele se jogou na direção do rapaz havia passado, decidido a travar uma briga. Mas, por sorte, ele já tinha sumido no meio da multidão. Fátima colocou as mãos no peito dele, em um milésimo de segundo.
- O que foi? Onde você vai?
- Aquele cara? Você viu ele? Consegue reconhecer?
- Que rapaz? Do que você está falando?
- Que esbarrou em você! Que cara maluco, olha o que ele fez, te molhou toda!
- Que isso, Marcelo, não foi nada! Até gostei, estou morrendo de calor. – ela sorriu.
- O que? Ele pôs a mão em você? Nas suas costas, na sua bunda?
- Você enlouqueceu? Claro que não! Eu nem vi quem foi, aqui tá cheio, isso acontece!
- Como você pode falar que gostou que outro cara te encostou? Me respeita, porra! – tom de voz dele aumentou.
- Marcelo, PÁRA! Sério, pára! Não aconteceu nada, nem sei se foi um cara! Pode ter sido uma mulher! Você viu?
- Não!
- Então! Relaxa, vamos aproveitar! – ela beijou a boca dele e o abraçou, dançando.
Visivelmente instável, ele corria os olhos pra todos os lados.
- Vamos embora? Vamos fazer uma comemoração diferente, no motel por exemplo! Só nós dois, hum? Eu prefiro.
- Não! A gente nem jantou!
- A gente passa num drive no caminho.
- Não, amor, não faz isso, poxa! Nós chegamos não tem nem uma hora! A gente quase nunca sai pra lugares assim.
- Fátima, é difícil pra mim, você sabe! Os caras não respeitam!
- Quem desrespeitou quem aqui, Marcelo?
- Os caras, pô. Toda hora algum passa comendo minha mulher com os olhos, eu não tenho psicológico não!
- Deixa pra lá, eu to com você! Com VOCÊ!
- Não, mas vamos namorar, vamos? Só nós dois, bem mais gostoso!
- Não! Eu não vou agora, só depois que acabar o show! E pára com isso, aprende a se controlar!
- Eu sei me controlar! Eu tô me controlando!
- Não ta não! Pára de brigar!
- Tem um garçom que não para de olhar pra sua bunda, TODA hora que ele passa!
- Ai, Marcelo...
- Você não devia ter vindo com esse vestido, sabia? Esse vestido você tem que usar só pra mim. Entendeu?
- Não! Nunca vou entender! Tem 6 meses que quase nos separamos por ciúme descontrolado seu e você me prometeu que nunca mais faria isso!
- Mas eu não briguei com ninguém.
- E nem vai, né? Pelo amor de Deus!
Marcelo ficou em silêncio e ela também.
- Vamos sentar? – ele questionou, impaciente.
- Não. Pode sentar, eu vou dançar até a hora que eu quiser. – ela foi firme.
Virou-se de costas pra ele.
Marcelo tomou um longo gole da cerveja. Cruzou os braços e, sentado, torceu pra que aquela noite acabasse logo.
***
Na saída da choperia, Fátima esperava Marcelo buscar o carro, que estava parado muito longe da porta de entrada. Viu quando o carro dele apontou dobrando a esquina. Esperou que ele parasse e entrou, em silêncio. Marcelo olhou pra ela.
- Qual motel podemos ir?
Fátima respondeu.
- Estou cansada, não quero ir pra motel nenhum, vamos pra casa.
- Que?
- Qual parte você não entendeu?
- Isso aqui pra mim nem foi uma comemoração. Eu só passei raiva.
- Não importa, pra mim foi um passeio ótimo e já basta. Você nem queria vir. Tinha marcado até futebol pra hoje. Aliás, deveria ter ficado no seu futebol, eu vinha com alguma amiga.
Ele olhou pra ela estarrecido.
- Você teria coragem de fazer isso, Fátima?
- Com certeza!
- Porque você está agindo assim? Viemos pra onde você quis, dançamos como você quis e ficamos até a hora que você quis. O que mais você queria?
- Eu queria que tivesse sido bom. Leve. Sem brigas, sem confusões, sem você de cara amarrada parecendo um radar, a procura de um motivo pra me atazanar!
- Fátima, mas os caras abusam... – ela o interrompeu.
- NINGUÉM ABUSA, Marcelo. Nada de mais aconteceu ali. Ninguém quer nos boicotar o tempo todo, as pessoas nem notam a gente. Se alguém me olha, não necessariamente é porque me deseja e sim porque me reconhece! Eu trabalho na televisão, as pessoas temcuriosidade. Isso não deveria me impedir de sair de casa.
- Mas não impede!
- IMPEDE, porque meu marido quer socar a cara de metade da boate só porque bateu o olho em mim.
- Você nunca vai entender, não é?
- Nunca! Cena de ciúme sem motivo, nunca. É ridículo o seu machismo e seu sentimento de posse sobre mim. Você me culpa por tudo, até meu vestido causa discórdia entre nós, você insinua que eu provoco as pessoas com a forma como estou vestida. Isso é de uma ignorância imensa, não acredito que me casei com uma pessoa que pensa assim.
- Eu não penso assim, mas eu fico cego. Eu saio falando tudo que me vem a mente porque eu tenho ódio de um homem te querer como eu te quero.
Ela soltou um sorriso melancólico.
- Você não pode controlar ninguém, Marcelo.
- Eu te amo, Fátima. Eu sou louco por você, faço tudo por você, você sabe disso.
- Eu não quero alguém que faz tudo POR mim, e sim COMIGO. Você não é meu parceiro! A gente não pode mais nem sair pra comemorar uma data especial, olha pra nós! Estamos brigando no nosso primeiro aniversario de casamento. Não vou nem mencionar que nos separamos há 6 meses e prometemos tentar denovo de uma forma melhor, sem brigas bobas. Você não está cumprindo!
- Você me ama? – ele questiona.
- É claro que amo! Você é meu marido!
- Ninguém ama alguém só porque é marido.
- Eu estou aqui, não estou? Com você. Se estoudiscutindo isso com você PELA MILÉSIMA VEZ, é porque eu amo você e quero fazer com que nosso casamento dê certo. Foi por isso que nos casamos, não foi? A gente se amava e queríamos ficar juntos pra sempre.
- Você ainda quer?
- Quero.
- Eu também quero. Não suportaria perder você.
- Então não perca. Não me perca, Marcelo. Só depende de você.
- Eu vou me policiar mais, eu prometo. Vamos conseguir juntos. – ele passou a mão pela coxa dela. Fátima concordou com a cabeça, olhando pra ele.
- Vamos pra casa. – ela disse, com o rosto virado, sem olhar pra ele. Engoliu seco e não deixou que Marcelo percebesse seus olhos marejados. Suprimiu a lágrima, não deixou que ela caísse. “Nós vamos ser felizes. Vamos sim.”, disse a ela mesma, juntando todas as suas forças pra acreditar nisso.
Autor(a): bonemerlove
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 11
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Sanchez Postado em 27/06/2016 - 12:32:49
Posta logo, pfv.....
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bella2203 Postado em 26/05/2016 - 03:23:53
Pf por td q é mais sagrado posta mais, n consigo sobreviver só relendo está fanfic!!!
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babi15 Postado em 14/05/2016 - 19:14:42
Agora só falta começar o romance deles. Parabéns pela fic
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babi15 Postado em 09/05/2016 - 22:18:18
Continua pfv anciosa pelos próximos capítulos *_*
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Sanchez Postado em 30/04/2016 - 21:07:12
Continua logo, está muito boa <3
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rafinhamartinsfranco Postado em 26/04/2016 - 11:50:59
continua , está muito bom os capitulos
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babi15 Postado em 29/03/2016 - 22:39:33
Nao vai postar ?continua
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bia_jaco Postado em 22/03/2016 - 22:22:25
Louca para o romance começar <3
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babi15 Postado em 17/03/2016 - 21:55:50
Ai já to em cólica com essa fic .Parabéns, VC escreve mto bem as melhores fics do casal. Não vai terminar a outra fic amor e ódio?
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kelliqueen_ Postado em 17/03/2016 - 21:29:02
Realmente.... Muito bom! Parabéns.