Fanfic: O início de tudo (2° versão) | Tema: Fátima Bernardes e William Bonner

Os meses se passaram, mas pareciam ter sido apenas dias, tamanha a velocidade que o tempo passava. Mas durante esse período de tempo, algumas coisas haviam mudado.

A relação de Fátima e William permanecia ainda restrita ao ambiente de trabalho. Mas tornou-se algo além de apenas cumprimentos cordiais. Começavam, aos poucos, nascer uma amizade. Ainda não sabiam muitos detalhes da vida um do outro. Mas lanchavam juntos quase todos os dias, os dois e mais alguns colegas. Nessas ocasiões, Fátima pôde conhecer um William que ela não imaginava que existia. Extremamente engraçado e brincalhão, ele era espontâneo e, por trás dos grossos óculos, ele desmistificava a imagem de um rapaz tímido e caladão. Ela sabia que ele era paulista, filho de um médico, filho do meio e único homem entre um trio de irmãos. Sabia também que era muito inteligente, mais ainda do que ela imaginava quando o conheceu. Ele tinha um certa cerimônia com ela no início, mas aos poucos isso acabava, ela podia sentir. Ele se sentia mais confortável em fazer brincadeiras ou puxar assunto com ela. Mas também havia um detalhe que era impossível não perceber: a beleza e o charme dele chamavam a atenção da porcentagem feminina que integrava o time de colegas. Vez ou outra, tocavam no nome dele no banheiro feminino. Fátima ria observando as moças em polvorosa. E ponderava:

- Qualquer hora dessas, ele passa aqui na porta e ouve tudo o que estão falando. Loucas! – ela riu de si mesma. Era verdade, ela precisava concordar. Era também muito cheiroso. 

- Aliança ele não usa. Mas será que ele é solteiro? Você sabe, Fátima? – elas questionavam, aleatoriamente.

- Eu? – Fátima se espantou. – Não tenho idéia. Porquê?

- Ah, sei lá, de repente ele já te falou alguma coisa sobre isso.

- Pra mim? Claro que não, gente! – ela riu.

Vivia uma fase maravilhosa no trabalho. Depois da entrada de William, a equipe se tornou mais unida, mais coesa e a rotina de trabalho estressante se tornou mais divertida. De alguma forma, ela associava a William ao início dessa onda de positividade em que ela se sentia mergulhada. Isso fazia com que ela tivesse um carinho muito grande por ele.

                William estava extremamente realizado com sua nova fase no trabalho. A equipe era jovem e tinha um frescor que ele considerava de extrema importância para o futuro do jornal. Tudo caminhava exatamente para o caminho que ele sonhava para sua carreira. Mas tinha uma única peça que parecia não se encaixar dentro daquele quebra-cabeça quase completamente montado.

                O suor nas mãos e o desconforto que ele sentia ao ver Fátima nos primeiros dias trabalhando com ela, deram lugar a uma palpitação, não tão intensa para desestabilizá-lo, mas o suficiente pra diferenciá-la de todas as outras mulheres com as quais ele convivia. Àquela altura, ele já tinha tido tempo o bastante pra saber que não era um sentimento passageiro. Fátima era uma mulher incrível, ele tinha evidências disso diariamente. Extremamente generosa, educada, simpática e inteligente, ela tinha uma luz própria.William e ela formavam uma dupla muito dinâmica, conseguiam se entender muito bem profissionalmente, mesmo sendo muito diferentes na personalidade. Fora dos assuntos relacionados a trabalho, ela era muito discreta. Por esse motivo, ele sabia ainda muito pouco sobre ela. Sabia que ela tinha sido bailarina por muitos anos e isso despertou uma curiosidade imensa em William sobre ela. Sabia que ela era de uma família simples e que era carioca. Sabia também que ela era casada, pelas vezes que já ouviu ela pronunciar: “...meu marido...”. Este era um fato que ele preferia não ouvir da boca dela, apesar de ter uma curiosidade secreta em saber mais detalhes. Ele não conseguia definir com exatidão o que sentia por ela. Evitava pensar muito no sentimento em si. Mas pensar em Fátima já era rotina na vida de William.

                Era início da noite de sexta-feira. Durante um curto intervalo, uma parte da equipe lanchava em uma sequência de mesas emendadas no restaurante. Ao redor de William, eles combinavam um encontro em uma choperia naquela noite, após o trabalho. William correu os olhos pela mesa e buscou Fátima com o olhar. Ela estava na ponta oposta da mesa, distante de onde os colegas marcavam de sair. Com um canudo na boca, ela sacudia o copo e sugava o resto do suco de laranja que bebia. Abandonou o copo vazio na mesa, limpou a boca com um guardanapo e levantou-se, ligeiramente apressada. A maioria do pessoal ainda comia, então permaneceram sentados. Fátima caminhou até onde estava William e os amigos.

                - Gente, já vou subir, ta? Tenho coisa demais pra fazer ainda... – ela demonstrou cansaço.

                - Fátima, estamos combinando de sair hoje, vamos? – alguém questionou-a.

                - Ih, hoje não posso, já tenho compromisso. Na próxima eu vou, prometo! – ela sorriu. Acenou, virou-se de costas e subiu.

Imediatamente, William decidiu que também não iria. Se sentiu um tolo por isso, mas a vontade de sair de casa naquela noite estava atrelada a Fátima. Se ela fosse, era óbvio que ele iria. Mas já que não era o caso, preferia ir pra casa descansar. Estava decidido. Viu Fátima desaparecer ao sair pela porta de vidro, girou a cabeça e voltou a se concentrar em seu lanche. Ainda havia muito trabalho pela frente.

***

                Fim do expediente. Fátima tirou o blazer e pendurou no camarim. O restante da roupa era dela mesmo, então era ótimo, agilizaria sua saída. Viu que o blazer de William já estava pendurado também, o que significava que ele já deveria ter ido embora. Ela pegou a bolsa, jogou o cabelo de lado e seguiu apressada em direção ao estacionamento. Naquela hora da madrugada, qualquer pessoa que estivesse por ali, muito provavelmente era da equipe de Fátima. Quase já não tinham carros no estacionamento. Uma rodinha de pessoas conversavam e riam. Fátima acenou sorrindo pra eles. Correu o olhar, procurando pelo carro de Marcelo. O avistou numa vaga de esquina e caminhou apressadamente até ele. Havia um carro ao lado do dele, que deu partida exatamente no momento em que Fátima passava. Ela entrou pelo corredor que os dois carros formavam e não pôde ver quem dirigia o veículo vizinho, já que o vidro escuro do motorista estava fechado. Ela virou-se de costas e abriu a porta do passageiro do carro de Marcelo. Ele sorriu pra ela.

                - Oi amor. – se inclinou e deu um longo beijo na boca de Fátima, que correspondeu.

                - Demorei? – ela perguntou, em seguida.

                - Não, acabei de chegar. Vamos?

                - Vamos. – ela disse, puxando o cinto de segurança.

Enquanto Marcelo dava ré, ela olhava despretensiosamente o carro ao lado, que permanecia parado, porém com o motor e faróis ligados. “Estranho...”, ela pensou. Mas no segundo seguinte, nem se lembrava mais disso. Conversando com o marido, ela só queria aproveitar aquela noite de sexta-feira.

                Dentro de seu próprio carro ligado, William tentava reaver sua serenidade. Há menos de segundos atrás, acabara de ver Fátima aos beijos com o marido no carro ao lado. Petrificado, precisou de um tempo pra digerir e controlar o soco no estômago que o abatera. “Meu Deus, isso foi pior do que pensei!”, ele maquinava em seus pensamentos. Não esperava por aquilo, estava dentro do carro checando onde tinha enfiado as chaves de casa, quando viu Fátima passar atrás do carro, pelo retrovisor. Viu que ela se aproximou e manteve os vidros fechados, pra evitar que ela o visse. Estremeceu ao olhar pro lado e ver que havia um homem aguardando-a. “É ele.”, presumiu. Sentiu seu coração espatifar-se com a cena dela beijando outro homem. Tentou não olhar, mas foi mais forte que ele. Viu Fátima sorrir e conversar com ele enquanto o carro se afastava. Retornou seu olhar ao volante, atarantado. Precisou admitir o que ele sempre tentou negar a si mesmo: estava apaixonado. Por uma mulher casada.