Fanfic: Eu odeio amar você | Tema: Original

A semana passou voando, trabalhar com o João estava exigindo de mim um autocontrole que jamais pensei em ter, a festa seria nesta sexta-feira e eu ainda não tinha um vestido em minha mente, quando cheguei ao meu quarto encontrei uma saia de veludo com uma fenda na lateral da coxa, uma camisa de seda e meus sapatos dourados sob a cama:

"Tenho certeza que não teve tempo de escolher o que vestir, então eu decidi por você espero que goste."

Laura.

Tomei um banho de banheira bem demorado, fiquei pensando no que dizer, em como me comportar, eu iria sorrir? Será que conseguiria, geralmente quando algo me irrita meu sorriso se torna falso, pensei em fugir o mais rápido possível da festa, escovei meu cabelo e passei uma pomada para deixá-lo no lugar, minha maquiagem foi sutil e ao mesmo tempo chique, quando me olhei no espelho nem me reconheci – nossa como eu sou exagerada! – fui caminhando até a casa dos pais dele, estalando os dedos de nervosa.

– Felipa você esta perfeita.

– Obrigada doutor Osmar. – ele era tão sedutor quanto o João, seu modo de falar, sua postura tudo extremamente calculado.

– E o noivo? – na verdade eu não queria vê-lo, mas tentei parecer educada.

– Deve esta por ai recebendo os convidados.

– Vou procurar por ele, com licença. – acho que meu sorriso pareceu espantado, quando tei soar espontânea.

Não procurei por ninguém, andei pelo jardim tentando parecer invisível, por fim encontrei uma mesa vazia e me sentei, segurei minha taça de champanhe e cruzei as pernas revelando a fenda da saia que estava usando:

– Boa noite. – sua voz rouca em meu ouvido, me assustou.

– Oi! – Puta Merda!

– Uau! – ele encarou as minhas pernas – isso merece um brinde. – ele segurou sua taça em minha direção, quando elas se chocaram, gotas de champanhe caíram na minha coxa – perdão – ele passou sua mão para limpar, eu não sabia o que dizer muito menos como agir, fiquei apenas encarando aquela mão esquentando minha pele.

– Acredito que vou sobreviver ao desastre. – pus minha mão sobre a sua tentando evitar que o toque se prolongasse, no entanto ele se aproximou um pouco mais.

– Porque tão gostosa? Porque tão difícil de evitar? – seus lábios estavam a centímetros de tocar os meus.

– João?! – nos separamos.

Nicole estava perplexa com toda a cena que seguia entre nós e em um gesto sensato ela saiu correndo, João foi logo em seguida, e eu? Fiquei mortificada, tentando catar os pedaços do resto da minha dignidade, decidi me levantar e tentar ir embora sem que ninguém me notasse, Laura havia criado um labirinto de rosas brancas que acabou me levando para um caramanchão rodeado de velas e mais rosas brancas:

– Foi um acidente.

– Você quer que eu acredite nisso? – putz! Logo onde eu fui parar?

– Desde quando você chegou tudo o que tem feito é correr atrás dessa garota.

– Me desculpe se isso te magoa, não existe nada entre nós.

– Tem certeza? – ela cruzou os braços – você parecia prestes a beijá-la.

– Querida eu conheço a Felipa desde pequena, tenho apenas um instinto paternal – paternal? – eu sinto que preciso protegê-la, mas só porque não quero que ela se machuque.

– Você jura?

– Juro! – ele se ajoelhou – me perdoe por não ser tão bom quanto eu deveria ser, eu sei que tudo poderia ser melhor, mas devido às circunstâncias vou iniciar assim mesmo, Nicole Durval Linhares case-se comigo? Me faça feliz e me permita que eu lhe faça o mesmo. – o silêncio prosseguiu por um breve minuto.

– Sim! Sim! – eles se beijaram.

Eu estava em choque e enjoada corri na direção de algum lugar mais escuro e vomitei, não havia nada para colocar para fora, mas o meu estômago girava e girava, ao menos controlei minhas lágrimas, respirei fundo algumas vezes tentando me recompor, pois se tem algo que eu não gosto é de demonstrar a minha fraqueza para os outros, caminhei em direção à saída:

– Te encontrei, não pense em fugir ok. – Laura já estava me arrastando de volta à festa.

– Ora quem resolveu aparecer. – Nicole agora sustentava uma bela pedra colorida e brilhante na mão direita.

– Parabéns! – sorri gentilmente e se eu tinha um dom na vida, era o fato de mentir muito bem.

– Você poderia nos desejar parabéns no microfone, assim como os outros convidados estão fazendo – ela sugeriu cheia de veneno.

– Não sou muito boa com as palavras. – João procurou em meus olhos alguma brecha de sofrimento, mas não dei esse gostinho a ele.

– Então cante – ele cogitou – lembra que você queria ser cantora quando éramos jovens?

– O fato de você esta com quase quarenta anos não significa que eu possua a mesma idade, ainda sou jovem se por acaso se esqueceu. – enfatizei.

– ATENÇÃO! – Nicole gritou para todos a escutarem – Felipa resolveu nos prestar uma homenagem ela vai cantar para festejar o meu noivado. – juro que pensei em partir a cara daquela mulher, mas os convidados começaram a aplaudir e eu me senti muito tola, enfim criei coragem e fui em direção ao palco.

– O que você vai fazer? – Laura estava nervosa.

– Eu não sei, estou tão surpresa quanto você. – sussurrei de volta.

Pedi para um dos músicos que fazia parte da banda que me emprestasse o seu violão, fazia muito tempo que eu não tocava, mas iria fazer o meu melhor:

– Como eu não sou muito boa com as palavras – engoli com dificuldade – decidi cantar um trecho de uma canção que exprime todo o meu sentindo esta noite. – Nicole sorriu para João que beijou gentilmente seus lábios.

Se eu fosse um garoto, eu faria diferente...

Eu não te tratava assim, eu não te magoava assim...

Não me deixava só aqui.

Chegaria mais cedo, não de madrugada,

Não te trairia, não faria nada.

Que te magoasse assim, eu cuidaria mais de mim...

Não sairia tanto só com os meus amigos

E te levaria pra curtir comigo

Eu não te deixava assim, querendo separar de mim.

Mas você é garoto, eu tenho que entender,

Todo homem leva um tempo pra poder crescer...

Para pense um pouco, pense mais em mim!

Por que se eu fosse um garoto,

Eu não te tratava assim, eu não te magoava assim...

Eu não te deixava assim, chorando por causa de mim...

Foram os versos mais difíceis da minha vida, que falou muito mais do que devia, João e Nicole ficaram embasbacados com toda aquela situação e eu aproveitei para fugir dali, voltar para minha casa e esquecer esse desastre de noite, arranquei meus sapatos dos pés e segui caminhando para casa, como morávamos em um condomínio fechado não era perigoso andar sozinha pelo quarteirão.

Tomei um banho pelando de quente, esperei que as minhas lágrimas jorrassem, mas nada aconteceu na verdade meu corpo estava tenso, eu ainda não havia retornado ao meu estado normal, coloquei meu pijama e minhas pantufas, fui até o quarto dos meus pais, precisava de algum remédio para dormir senão jamais conseguiria pregar o olho, mas como tenho certo medo de me viciar em comprimidos acabei não tomando, por via das dúvidas tranquei a porta do meu quarto afinal era a segunda festa que eu estragava e Laura não iria me perdoar dessa vez, em fim o meu intuito era viver bastante.