Fanfic: Devoradores | Tema: Romance, Terror

Amanda observou a rua pela janela de seu quarto. Lá fora o sol brilhava forte e, apesar de ainda nem terem se completado sete horas da manhã, já estava calor. Desde o início do verão, no ano anterior, não havia chovido muito, para sua tristeza. Diferentemente de muitas pessoas, ela amava o frio e a chuva. Para ela, nada como deitar-se na cama e ler algum livro de um tema mais leve, enquanto a chuva caía do lado de fora, com sua melodia relaxante, fazendo barulhos em poças, latas e sobre os telhados. Felizmente, um anúncio no telejornal naquela manhã destacou que até o fim do dia, as chuvas iriam cair na região de River Kings.

Aquela pequena cidade não possuía nada de muito interessante, além do Parque Municipal, um local de muitas árvores, área para camping, e o Rio Rei, que passava com explendor no lado leste da cidade. A Lanchonete Bytes Music era a mais badalada e frequentada pelos adolescentes da cidade - ainda que eles preferissem as festas e luais, onde bebidas proibidas para menores não eram realmente proibidas. Vez ou outra, a cidade era invadida por ciganos ou circos, e o movimento aumentava; em outras ocasiões, podia-se contar apenas com as datas comemorativas. A saída era ter internet sempre em mãos, por segurança.

Amanda desceu as escadas já arrumada, vestindo uma calça jeans azul clara, com seu tênis branco preferido. A blusa de uniforme, levemente customizada por ela para ficar mais sua cara, era branca e azul. Seus cabelos loiros estavam presos, permitindo que eles ficassem domados, pelo menos por algum tempo. No rosto, passou uma maquiagem leve, não indo além do pó de rosto, um batom rosa claro e um blush quase invisível. No ombro carregava sua mochila, que ela teimava em usar apenas em um dos lados. No pulso, uma corrente simples, mas de grande importância: presente de sua mãe. Amanda não pensava muito sobre isso, pois quando fazia era tomada por aquele sentimento pesado e ruim. Ela havia partido há três anos, mas ainda doía como se tivesse ido naquela hora. Morava com seu pai e não possuía irmãos.

‒ Espere um momento, mocinha.

‒ Sim...? ‒ disse Amanda voltando, e encarando sem graça seu pai.

Fred ainda era jovem, mal havia completado trinta e cinco anos. Trabalhava na prefeitura em um cargo de confiança do prefeito. Os dois eram grandes amigos desde pequenos. Fred nunca demonstrou a dor pela perda da mulher diante da filha, sempre que a encontrava sorria, ainda que ela o pegasse vez ou outra escondido no quarto, chorando ou muito triste.

‒ O seu café da manhã. Não vai tomar? ‒ perguntou ele, dando mais uma mordida na torrada. ‒ Tem bolo, torradas, pão com manteiga, enfim, é só escolher.

‒ Acho que vou ficar apenas com um iogurte. Isso tudo aí engorda... ‒ respondeu Amanda indo até a geladeira.

‒ Caramba, mas você já está magra!

‒ Exato, e não quero passar disso, `né` pai! Agora já vou, tchau. Tenha um ótimo dia!

‒ despediu-se Amanda e saiu pela porta.

‒ Não vá desmaiar de fome na escola, heim? ‒ Fred ainda conseguiu gritar antes que Amanda colocasse os foninhos no ouvido e botasse pra tocar sua playlist "escola".

O caminho da casa de Amanda até o colégio não era tão longo, tampouco complicado de completá-lo, por isso ela não ligava de fazê-lo a pé. Quando virou a última esquina antes da escola, sobressaltou-se de susto, quando sua amiga Juddy se aproximou sem aviso.

‒ Você está muito assustada ultimamente, amiga. ‒ falou Juddy entre risos. Juddy era amiga de Amanda desde sempre. Eram praticamente irmãs.

‒ Você é que está fazendo muitas gracinhas. Além disso, estou tentando ficar equilibrada.

‒ Por quê? ‒ perguntou Juddy mexendo em alguns dos muitos cachos que ela possuía nos cabelos castanhos claros, bem curtos.

‒ Porque mesmo que eu quisesse que essas férias terminassem logo, também estou achando ruim ter que ir estudar. Logo tem provas de novo... Além disso, está demorando demais pra chover e esse calor está insuportável!

‒ Hmm, alguém está de TPM?

‒ Só se for uma bem longa ‒ respondeu Amanda, dando um sorriso.

‒ Veja pelo lado bom, estudaremos com novos colegas ‒ disse Juddy.

‒ Como se fizesse muita diferença encontrarmos na sala quem vemos todo ano e todos os dias nos intervá-los. Só espero não cair na mesma sala daquela...

Quando as duas entravam pelo portão, avistaram uma Hi-Lux preta de vidros escuros estacionando na porta da escola. De dentro do veículo desceram dois garotos e uma garota que definitivamente não estavam na escola nos anos anteriores. Era pouco provável que não fossem irmãos, devido a semelhança entre os três.

A garota era baixinha e magra, menor que Amanda, que já não era alta; tinha cabelos lisos compridos negros de cor rosa choque nas pontas. No lábio inferior, possuía um piercing, bem como um pequeno e redondo na lateral do nariz. Estava com sombras bem pesadas nas pálpebras e seus olhos eram de um azul muito claro. O batom na boca era de um tom de lilás. Estava com um short curto preto e uma bonita jaquetinha sem mangas da mesma cor. Em um dos pulsos usava pulseiras de couro pretas. Nas orelhas, pequenos alargadores. Sua pele era bem branca, assim como a dos rapazes. Um deles, parecia ser o mais velho, possuía o semblante sério. Seu rosto era de formato quadrado, de maxilares largos e seus cabelos bem raspados. Os olhos eram claros também, mas de um tom esverdeado. Diferente da irmã, ele era alto, provavelmente mais de um metro e oitenta. Possuía um físico forte, sendo possível ver seus músculos sob a camiseta branca. Estava de jeans escuros e tênis pretos, no pescoço usava uma corrente de prateada com um pingente difícil de identificar. O segundo irmão, por fim, era um pouco mais baixo, menos forte, mas de corpo atlético e levemente musculoso. Parecia ser o mais jovem dos três. Seus cabelos eram muito encaracolados, mas curtos. Possuía um rosto leve, quase angelical, praticamente sem nenhum defeito, principalmente quando sorriu, um lindo sorriso, que chamou a atenção de Amanda. Os olhos eram cinza claros, mas penetrantes. Difícil não olhar para eles. Suas roupas eram semelhantes às do irmão, com a diferença que seu jeans era mais claro e ele não levava qualquer acessório. No pulso direito, possuía uma tatuagem.

Quando eles entraram no pátio da escola, todos ali os seguiram com o olhar, talvez por suas vestimentas tão diferentes, ou quem sabe por nunca terem estado alí antes. Para Amanda, entretanto, não era nenhuma destas coisas, nem mesmo a beleza do irmão mais jovem, que chamou sua atenção. Ela estava assustada, pois sentia no fundo, por alguma razão, talvez por instinto, que deveria ficar longe deles.