Fanfic: The New Piece | Tema: Ficção
Estava eu, cuidando das mudas da minha pequena plantação de fundo de quintal quando o novo vizinho olhou por cima da cerca e me viu no momento em que eu mais gosto. Os brotos estão crescendo, são tão pequenos e frágeis. Eu passo a mão neles com todo o cuidado, sentindo aquela pequena vida nascendo, a maciez, a perfeição daquilo que será uma pequena arvorezinha, linda, aromática, e que será de grande uso como tempero em minha alimentação. Obrigada.
Parece brega, mas o sentimento de que foi eu que fiz nascer aquela iguaria, que deixa mais saborosa a minha comida, é tão bom, sublime e me faz sentir ser capaz de fazer qualquer coisa. Me dá um tipo de conforto.
Ele me viu sim, acariciando aquela micro planta, como se fosse a coisa mais importante do mundo. Apertei um bocado de terra quando percebi que ele estava olhando e fingi que não o vi. Ele percebeu.
Estava bebendo algo em uma xícara muito bonita, não estava muito quente. Eu amo xícaras, tenho uma pequena coleção que agradavelmente eu penduro em minha cozinha, pra poder apreciar toda vez que passo por elas.
- Você não usa luvas.
A primeira frase, o ponto de iniciação foi dado. Ele não podia simplesmente apreciar a paisagem e se retirar em silêncio? Olhei para as minhas mãos, sujas de terra, até de baixo das unhas. Respirei fundo, olhei para ele e sorri.
- Eu não tenho nojo. Gosto de sentir as folhinhas, a terra, a umidade. Além do mais, é só lavar as mãos depois.
- Achei linda, sua pequena horta.
Não precisei olhar em seus olhos para responder, continuei com meu trabalho.
- Obrigada.
Não sou muito boa em fazer amizades, deve ser por isso que escolhi trabalhar em casa, que não consegui manter um relacionamento por mais de um ano, que não saio muito. Amigos? Claro que tenho, e são os melhores, porém, são como eu.
Ele apenas sorriu e saiu.
Me arrependo da vida não ter me ensinado a ser mais social, nem minha mãe. Esse moço era bonito, de um jeito diferente. O que mais me chamou atenção foi sua boca e seus olhos, perfeitos, combinam com o rosto. Olhos castanhos escuros, médios, cilios grandes, mas nem tanto e pareciam sempre estar felizes, sobrancelha forte. E a boca, nossa, a boca era linda com um sorriso, bem rosinha e parecia macia. Reparei nisso logo no dia em que o vi chegando com a mudança. Ele estava junto com os caras da mudança, ajudando a colocar as coisas para dentro. Como trabalho em casa, acabo vendo ou sabendo de tudo que acontece pelo menos a tres casas de distância da minha. Estava sentada na sacada da frente quando o caminhão e seu carro encostaram. Me encolhi pra me esconder mais na cadeira e observar tudo. Pedi pra que não seja mais uma velhinha, mais uma não. Quando o moço saiu, agradeci o fiquei observando por uns 20 minutos a confusão. Eu particularmente odeio mudança, tudo bagunçado, cheio de caixas, você não sabe aonde está as coisas, sujeira pra todo lado.
Ele dando ordens, ponha isso aqui, ou ali, muito contente de ter chegado no lar doce lar. Passado esse tempo me levantei para voltar ao trabalho, olhei pro mais um instante, ele olhou pra mim e eu entrei. O desejei boa sorte internamente, e que seja bem vindo.
Eu trabalho com um site de vendas na internet. Tem muitas coisas, não vou me detalhar muito. Pode-se dizer que é um projeto de walmart, mas sem os itens alimentícios. Eu verifico pedidos, vejo estoque, erros no site, atrasos, alguns e-mails, qualidade dos produtos e feedback dos clientes. Dá pra eu viver muito bem, sozinha, em uma casa legal até, em um local considerado bom na cidade. Eu me sinto feliz, posso fazer tudo de casa, somente quando precisam que eu sou chamada para ir na central física. Escolhi esse trabalho por me deixar mais confortável em casa, não preciso pegar metrô, ônibus, stress, me alimento melhor. Eu sou uma pessoa responsável, consigo fazer uma boa rotina de trabalho. Estou nessa a cinco anos, e depois de duas promoções, o próximo passo é ser a gerente de operações e vendas. Se tiver que ter a rotina de ir todos os dias na central, não sei se vou querer essa oportunidade.
Gosto de trabalhar ouvindo música, coloco praticamente todos os dias a mesma playlist para tocar, com as minhas preferidas, de vários estilos. Não posso dizer que trabalho o dia todo, pois dou minhas paradinhas para fazer a comida e dar uma arrumada na casa, mas é sempre a maior parte do tempo.
Foi num dia desses, de música mais alta, que ele veio tocar a minha campainha. Pensei que era a velhinha que veio reclamar da musica alta de novo. Fui atender a porta com a cara feia, como sempre faço com ela. Nesse dia eu nem tinha tirado o pijama e já eram quase duas da tarde. Aqui entre nós, não pretendia tirar o pijama naquele dia.
Quando abri a porta me deparei com ele, gelei. Ele realmente era muito bonito de perto. Era branco, mas queimadinho, cabelos pretos lisos com um corte estilo Jared Leto no começo da banda e nem vou comentar da boca e dos olhos de novo, barba por fazer, daquelas que todo mundo gosta, estava vestido com uma camiseta, uma bermuda jeans e chinelos. Já fazia uma semana desde o fiasco do jardim.
Arregalei os olhos e observei esse ser.
- Oi moço.
- Olá vizinha.
- Oi.
- Tudo bem?
- Sim, e com você?
- Estou bem. Como é o seu nome?
- Me chamo Denise, e você?
Ele estendeu as mãos. Eu amo mãos de homens, acho a coisa mais linda, e o antebraço também, quando tem veias. Olhei sua mão, era máscula, e limpa, unhas aparadas e apaentemente não roía. Seu antebraço com veias me deixou feliz em ter um homem tão bonito pra me entreter e olhar de vez em quando.
- Eu me chamo Thiago, muito prazer.
Ele estava sorrindo e com a mão estendida para eu apertar, demorei dois segundos pra fazer o esperado, me deixando com um pouco pouco de vergonha.
- Muito prazer Thiago. Bem vindo à vizinhança! Está precisando de algo?
Acho que eu estava sorrindo demais. Mas ele era muito sorridente para eu não retribuir. Os olhos dele pareciam sempre estar sorrindo, porém, observando tudo, eu percebi.
- Obrigado Denise. Então, eu estava arrumando minha casa, me deu uma fome e resolvi fazer uma comida, apesar de não saber fazer muitas coisas. Como eu me lembro de ter visto que você tem uma hortinha, gostaria de saber se você poderia me dar um temperinho. Ainda não sai para comprar nada, e gostaria de saber se você teria manjericão.
Ele fazia caras e bocas pra falar, e gesticulava, deu pra imaginar tudo o que ele estava fazendo.
- É claro, eu posso te ajudar com isso.
Corada, me afastei da porta e o convidei para entrar. Ele agradeceu, entrou me dando um sorriso muito bonito em troca. Depois de ele entrar, fui me dirigindo para os fundos da casa e perguntei se ele me acompanharia. Ele concordou
- Você tem uma casa muito bonita, gostei do sofá. - sorri.
- Obrigada, eu também adoro ele, é muito confortável.
- Parece muito bom. Você não se importa em me dar essa ajudinha?
- Magina, não tem problema algum. Manjericão é muito saboroso, principalmente in natura, e ele cresce e dá folhas rápido, não sentirei falta.
- Que maravilha, não queria te atrapalhar.
- Não, eu estava trabalhando, mas não me atrapalhou nada. Eu realmente estava querendo fazer uma pausa.
Pasamos pela sala, cozinha e chegamos nos fundos. Passei a mão pelas folhas do pé de manjericão, tinha florzinhas e o aroma no ar que ele solta é muito gostoso. Ele ficou encostado perto da porta da cozinha. Fui em direção aos meus equipamentos de jardinagem, peguei o cortador e me dirigi ao objetivo. Aquilo estava muito constrangedor. Eu, de pijama, chinelo, nem me lembro se penteei o cabelo, agachada do lado do pé de manjericão. Eu peguei um belo maço, acho que ele não ia precisar de muito.
- Você quer uma muda? - eu olhei pra e ele estava me observando com um sorrisinho de canto de boca. Foi o fim pra mim, acho que fiquei rosa igual um pimentão. Voltei meu olhar para o manjericão fingindo cortar mais um ramo.
- Eu acho que não será necessário, não sou bom com esse tipo de coisa. Ela ia acabar morrendo e eu não ia me sentir bem em relação à isso. Eu geralmente compro no mercado, só que eu nem sei aonde tem um aqui perto.
- Uma pena.
Idiota, foi a unica coisa que eu consegui pensar foi nisso?
Ele riu, ainda bem. Vamos acabar logo com isso. fui em sua direção com o maço de manjericão nas mão e o entreguei.
- É o necessário?
Ele pegou o ramo, cheirou e me olhou de um jeito muito intimidador.
- É mais que o necessário. Obrigado.
O levei até a porta, me despedi e voltei ao trabalho. Pelo menos tentei.
O que foi aquilo? Aquele olhar no final. Me intimidou e ao mesmo tempo me instigou. Eu não pude esquecer a imagem dele encostado perto da porta com aquele sorriso de canto. O que ele estava pensando? Que abuso. Fechei o notebook com raiva. Já tinha se passado algumas horas desdo o segundo fiasco com o vizinho. Resolvi encerrar meu dia de trabalho por agora, já tinha feito tudo mesmo e fui tomar um banho.
Relaxei durante o banho, até demais. Decidi ir fumar meu cigarro natural no quintal e passar uma noite bem dormida. Sentei na poltrona, estiquei as pernas, relaxei bem, ascendi e traguei, várias vezes. Eu tava vendo meu jardim, lindo, com as minhas mudas, e olhei pro manjericão. Me veio à mente aquele homem lindo e eu o desejei. Toquei meus seios, toquei meu corpo, imaginando tudo que eu e ele poderiamos fazer. Não fiz som algum. Não transpareci nada, apenas senti o que queria sentir naquele momento. Fazia menos de dois minutos que eu tinha terminado, eu tomei o maior susto.
Eu o vi saindo de dentro da casa, carregando um saco de lixo. Me ajeitei correndo na poltrona, me encolhendo e querendo sumir dali, mas não tinha condição de fazer nada agora. Nossa, será que ele viu alguma coisa? O que eu fiz? E se ele viu alguma coisa? Não, ele está muito ocupado arrumando as coisas, porque iria ficar observando a louca do jardim fumar? Que horror.
Ele reparou nos movimentos repentinos no escuro e olhou em minha direção. Pedi pra que estivesse escuro o bastante para que ele não me visse, achasse que fosse um gato. Pedi para que fosse miope. Não deu certo.
- Vizinha, tudo bem?
Sorri e acenei com a mão.
- Claro, estou ótima.
- Você já comeu? Jantou?
Eu não acredito.
- Não, mas eu estou bem, já tenho tudo pronto, só esquentar.
- Eu acho que estou em débito com você.
- Não, foi uma boa ação que eu fiz. Nada de dívidas.
- Pois eu acho que você deveria vir comer aqui comigo, acabei de fazer, ainda está quente. E você ainda fará companhia para mim, a dias que eu mal falo com alguém.
Eu sei, eu vejo. Tambem sei porque eu mal falo com ninguém ao vivo a dias, a não ser com você ou com o carteiro. Mas isso não me incomoda. Na verdade eu teria que fazer comida ou comer um lanche. Não faria mal algum ver o que esse homem preparou de comida, como um pouquinho e volto pra casa, dormir. Mas eu não estou em condições, esse cigarro me deixou bem alterada, meus olhos devem estar horríveis e vermelhos.
- Tudo bem, eu já estou indo.
Me levantei e me dirigi ao banheiro pra ver a situação da minha cara. O que eu fiz? Eu to péssima. Lavei o rosto e ajeitei os meus cachos, coloquei um grampo de cada lado prendendo os lados. Tinha trocado de pijama depois do banho. Não dá pra trocar de roupa agora, vai dar muita pinta. Subi correndo, só coloquei um sutiã e parti para a casa do vizinho.
Autor(a): flas
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