Fanfic: Efeito Colateral | Tema: ADAPTAÇÃO /Vondy

— Papai! Por que não podemos voltar para nossa casa? Eu não gosto desse apartamento! – o pequeno garoto brincava no chão da sala, porém estava emburrado. Fernando apenas suspirou.

Nenhum dos cinco presentes naquele apartamento estavam acostumados com àquela simplicidade tão grande.

— Ah Victor, calma, campeão. Sim? Nós logo, logo voltaremos para nossa casa! – o homem falava, enquanto lia o jornal. E o menino assentiu.
— Nós podemos pelo menos ter água quente? Por Deus! Essa água está um gelo. É inverno, pai, socorro! – Melanie reclamara assim que saíra do banho – Já não basta a abstinência de um mês sem celular? Hum?
— Mel, já conversamos sobre o celular. – a menina apenas revirou os olhos – E eu vou providenciar uma nova resistência para o chuveiro, ok?
— Ok, ok! – ela saiu pisando firme em direção ao quarto – Victor! – ela gritou – Você pode tirar os seus brinquedos da minha cama? Que saco, garoto!
— Já falamos sobre os brinquedos, não falamos, Victor? – o menino levantou-se do chão.
— Sim. Já estou indo.

As panelas batiam na cozinha, enquanto Blanca preparava o almoço. No quarto, Melanie e Victor discutiam, o jornal era folheado por Fernando em alto som e o chiado da velha televisão era constante devido ao fato dos canais estarem sendo trocados a cada cinco segundos por Dulce que não encontrava nada de interessante.

— Victor é um idiota! Quero um quarto só para mim! – Melanie reclamou chorosa, enquanto jogava-se no velho e surrado sofá – Isso é um teste de sobrevivência. Quero minha vida de volta! – ela cruzou os braços em baixo dos seios.
— Melanie, pare de reclamar. Pelo amor de Deus! – a voz de Dulce soou pela primeira vez.
— E você pare de ser chata, Maria.
— Insuportável!
— É você! – ela revirou os olhos – E pare de mudar de canal, não cansa?
— Não! Me cansa ficar te ouvindo!
— Papai... – Melanie reclamou com sua voz de choro.
— Parem, por favor. – ele as encarou e ambas bufaram.
— Fernando! – Blanca chegou à minúscula sala enxugando suas mãos em um pano de prato – O sal acabou. Quem vai comprar? – ela olhou para as filhas.
— A Dulce! – Melanie gritou – Eu já fui comprar o pão hoje cedo. Papai... Por favor, por favor, não me faça ir até àquela mercearia de novo. Por favor! – a garota implorava.
— Eu vou. Pelo menos lá fora é uma paz.

Dulce pegou o dinheiro que o pai lhe estendera, calçou as sapatilhas, colocou seu casaco e saiu porta à fora.O barulho dos carros chegava a ser um alivio para os tímpanos da moça. Fazia pouco mais de um mês que viviam naquele inferno no subúrbio de Nova York. Tempo suficiente para que sua paz tivesse lhe dado adeus. Ela sentia vontade de chorar todas as noites. Não aguentava mais ver Victor pedindo para sair e não poder, nem ouvir Melanie pedir seu celular de volta, nem sua mãe com aquela feição de tristeza e era insuportável ver a expressão de impotência do pai.
Dulce suspirou quando chegou à mercearia, logo pegou o pacote de sal. Quando estava no caixa para pagar, distraiu-se vendo uma revista de fofocas e ficou a folhar o objeto durante alguns longos minutos. Quando notou a expressão aborrecida do rapaz do caixa, ela pagou pela revista e saiu do estabelecimento.
Caminhou um pouco mais devagar, para tardar a chegada em casa. Ficou aspirando o ar frio e observando os detalhes do lugar que virara sua moradia no último mês.
Quando se deu conta, ela já estava novamente em frente ao prédio. Respirou fundo e seguiu para dentro.

Assim que chegou em frente a porta do apartamento, Dulce estranhou o silêncio absoluto que encontrava-se ali. Ela franziu o cenho e abriu a porta.
O único barulho que existia ali, era o que a panela de pressão na cozinha fazia.
— Pai? – ela falou num tom de voz alto. A sala estava vazia. O silencia tomava conta de tudo – Mãe?