Fanfic: Subordinada Ao Prazer | Tema: Once Upon A Time
Descobri rapidamente que não gosto dessa história de passagens secretas.
Havia pouca luz naquele túnel estreito. Passamos por lâmpadas espaçadas a vários metros de distância umas das outras, mas apenas duas delas não estavam queimadas naquele longo corredor. A principal fonte de luz que iluminava nosso caminho veio de um aplicativo para celular que o transformava numa lanterna, refletindo de forma esmaecida o piso de madeira polida. Mantive minha mão agarrada firmemente na parte posterior da camisa de Robin para não escorregar nas tábuas apodrecidas.
A proximidade desse corredor com o oceano deixava tudo coberto de umidade e eu não me atrevi a tocar nas paredes que brilhavam sob a luz fraca. O túnel era bem mais quente do que o solo logo acima, mas era úmido, com uma escuridão nauseante da qual eu estava desesperada para escapar. Parecia que a travessia ia durar para sempre, as paredes nos pressionando e parecendo ficar cada vez mais estreitas. Justamente quando eu estava me preparando para empurrar Robin para o lado e sair correndo pelo resto do caminho, paramos, e uma luminosidade brilhou em um alçapão logo acima. Robin torceu um anel de metal e empurrou, mas a porta não se mexeu. Ele puxou a argola mais duas vezes e o alçapão finalmente se soltou, liberando um som como de madeira se quebrando. Também não havia muita luz penetrando naquela nova sala em que tínhamos chegado, mas definitivamente era mais iluminada que o túnel escuro que tínhamos acabado de percorrer, realmente um alívio bem-vindo.
— Suba! – mandou, e percebi que havia uma escada de metal presa na parede oposta.
O frio do metal subiu pelas minhas mãos quando escalei os degraus pela curta distância que me separava do novo aposento. Havia uma diferença marcante na temperatura e na umidade do ambiente, e me dei conta de que estávamos novamente em casa. Só tive um momento para reconhecer a despensa da cozinha, com as prateleiras forradas de latas e produtos embalados, antes que a porta fosse quase arrancada das dobradiças ao ser aberta de repente. Cegada por aquela luz repentina, dei um salto de surpresa e levantei as mãos em sinal de rendição quando três armas apontavam para meu rosto.
— Relaxem. – A ordem veio de baixo, de Robin.
Após um momento de hesitação, as armas foram baixadas e eu me sentei no chão da despensa, meus pés ainda dentro do buraco do alçapão. Os guardas recuaram quando Robin saiu da abertura úmida. Afastei-me um pouco para o lado, para lhe dar espaço, não confiando na estabilidade de minhas pernas gelatinosas depois daquele susto, mas Robin me ergueu do chão sem esforço e me colocou de pé, me acompanhando para fora daquele pequeno aposento.
A sala de estar e a cozinha estavam cheias de pessoas, principalmente seguranças, e Daniel estava no meio desse grupo. Estava ladeado por dois homens, e, quando apareci, ele rapidamente me olhou de cima a baixo. Pensei ter visto certo alívio passar brevemente em seu rosto antes que sua máscara sorridente se acomodasse novamente no lugar.
Robin fixou seu olhar gelado no irmão, caminhando em direção ao homem mais baixo.
— Se você não me disser o que...
— Greg.
Robin fez uma pausa.
— O que é Greg?
— Greg Mendell não é uma coisa, mas sim uma pessoa. – Daniel se mexeu desconfortavelmente no mesmo lugar, um olhar petulante preso no rosto. – Não podemos tirar essas algemas? – perguntou ele, sacudindo a fina corrente. – Meus pobres ombros não irão suport...
— Daniel – rosnou Robin, cortando o irmão e ignorando seu pedido. – Quem é Greg?
— Um assassino, e muito bom naquilo que faz. E caro também. – Ele revirou os olhos. – Ao contrário do que você pode pensar, não fui eu quem o contratou. E até tentei avisá-lo assim que soube dessa contratação.
— Quando? – perguntou Robin abruptamente.
— Naquela noite, durante a festa de gala na França. Tentei ligar para você no celular, mas você não atendeu. – Daniel lançou um olhar sorrateiro para mim, com uma pontada de arrependimento nos olhos. — Eu deveria ter deixado um recado em sua caixa postal, mas em vez disso decidi entrar em contato diretamente. Mas no momento em que cheguei a seu quarto já era tarde demais.
Robin falou primeiro, com voz cheia de suspeitas:
— A chamada vinha de um número bloqueado.
— Ossos do ofício. – Os lábios de Daniel subiram em um sorriso que não chegou a alcançar os olhos. Tive a impressão de que aquilo não era um sorriso, mas um esgar, uma resposta automática em forma de uma máscara profissional usada frequentemente, porque alguma coisa cintilou em seus olhos e o sorriso logo desapareceu. – Eu decidi entrar em contato com você diretamente, mas cheguei apenas um minuto depois da equipe médica enviada para seu quarto. Vi você furioso com alguma coisa e soube imediatamente que algo tinha acontecido.
Essa pequena informação chamou a atenção de Robin.
— Quer dizer que você estava lá?
Daniel assentiu com a cabeça sombriamente.
— Eu sabia que não acreditaria em mim se eu me aproximasse naquela hora e não quis criar uma cena... No estado em que estava, você iria me estrangular... Então fui embora. – Daniel lançou um olhar sorrateiro para mim. – Peço desculpas por não ter sido mais rápido.
— Eu sobrevivi.
Assim que as desculpas foram ditas, minhas palavras pareciam uma expressão irrisória de gratidão, mas vi outro lampejo de alívio no rosto de Daniel. Minha mente estava tendo problemas para equacionar esse homem e a carreira que escolhera, o fato é que eu não conseguia enxergar Daniel como um negociante de armas. Não sei, acho que até mesmo os bandidos podem ter coração...
— E quanto a esse Greg?
A pergunta de Robin recapturou a atenção de Daniel.
— Ele é novo no circuito de assassinos profissionais, mas está rapidamente ganhando fama como um dos melhores. Sei de pelo menos vinte contratos bem realizados e confirmados, mas tenho certeza de que há dezenas de outros. Esse homem é um mestre dos disfarces e usa todas as ferramentas necessárias para realizar seu trabalho. Ele é bom o suficiente para não deixar evidências, chegando mesmo ao ponto de invadir as câmeras de segurança. – Daniel ergueu seu queixo, apontando para mim. – Ela é a única pessoa que viu o rosto dele e continuou viva para contar a história.
Fiquei gelada.
— Quer dizer que ele realmente está atrás de mim? – sussurrei.
A sala de repente girou e me agarrei a uma bancada ali perto para conseguir apoio.
Uma ruga surgiu na testa de Daniel, que deu um passo em minha direção, mas Robin já estava lá, lançando um braço em volta de meus ombros e me puxando para perto. Apreciei o gesto, tão necessário naquela hora, e ofereci um sorriso, enquanto Daniel era contido novamente: os seguranças, cada um a seu lado, seguraram seus braços.
— E quem contratou esse homem? – perguntou Robin, os olhos em mim e depois no irmão.
— Isso não importa, o que vale é que o assassino está vindo atrás de você.
A resposta evasiva de Daniel chamou a atenção de Robin.
— Você não sabe ou não está querendo me dizer?
A nota mortal na voz do bilionário atravessou meu corpo e me estremeceu, mas Daniel simplesmente deu de ombros, como se ouvisse ameaças semelhantes todos os dias. Talvez isso acontecesse de fato em sua profissão, pensei, ao ouvir a resposta de Daniel.
— Podemos nos preocupar com isso mais tarde.
— Podemos nos preocupar com isso agora. O que você está escondendo, Daniel?
A consternação cintilou no rosto de Daniel.
A indecisão varreu seu rosto, como se ele quisesse dizer alguma coisa, como se quisesse explicar, mas Will escolheu justamente esse momento para entrar na sala. Se o segurança calvo notou ou deu alguma importância à crescente tensão que dominava o aposento, não deu nenhuma indicação.
— Temos visita – avisou.
Os lábios de Robin se apertaram por causa da interrupção.
— Quem é? – perguntou.
Will olhou de relance para Daniel.
— Marian Laing.
Eu estava observando Daniel quando Will fez o anúncio, e assim pude assistir ao espasmo de raiva atravessar seu rosto. Ele me viu olhando e tentou disfarçar, mas seus olhos ainda ardiam por causa daquela emoção. Igual a seu irmão, pensei. Está tudo nos olhos.
— Não há motivo para envolver Marian nisso – disse Daniel, com uma voz suave e desdenhosa. Se eu não tivesse me acostumado tanto a ler a expressão estoica de Robin, poderia ter realmente acreditado em suas palavras. – Ela provavelmente está aqui para defender minha posição junto a você, o que é inteiramente desnecessário.
Olhei rapidamente para Robin e percebi que ele estava estudando o que o irmão tinha dito, observando-o através de olhos apertados.
— Será que ela sabe alguma coisa sobre isso?
Daniel bufou:
— Não, definitivamente não. Ela não sabe nada além do fato de eu ter vindo até aqui para alertá-lo.
Ele parecia leviano e indiferente, mas Robin não estava convencido. Virou-se para Will e disse:
— Deixe o carro dela do lado de fora dos portões. Reviste cuidadosamente tanto o carro quanto ela e depois a traga para cá.
Will assentiu com a cabeça e depois sussurrou instruções a um de seus homens que estava por perto, que desapareceu da sala em seguida. Durante não mais do que um segundo, Daniel franziu os lábios e seus olhos faiscaram, mas então a máscara jovial assumiu seu lugar.
— Eu realmente amo esses dramas – disse ele, seus lábios se curvando em um sorriso apertado.
— Qual é o significado disso?
A voz de uma mulher veio da porta de entrada, seus tons estridentes ecoando pelas pedras e pelos móveis de madeira. O sorriso de Daniel congelou no rosto, os olhos arregalados quando sua cabeça se virou para a direção de onde vinha a voz.
Robin olhou para Will, sua mandíbula se apertando em aborrecimento.
— Por que ela ainda está aqui? – exigiu saber.
— Ela ainda não tinha atravessado o portão quando ordenou o bloqueio geral – respondeu Will no mesmo instante em que Ingrid Maguire invadia a sala.
A mulher fixou os olhos em Robin e marchou diretamente na direção dele, furiosa.
— Eu já perguntei o que significa isso! – disparou ela, olhando para o filho. — Você me expulsa de minha própria casa, manda seu exército me escoltar para fora da propriedade e então me obriga a voltar quando eu obviamente não sou desejada? – Ela puxou a respiração com dificuldade, cobrindo a boca com os nós dos dedos. – Você não tem nenhuma consideração pelos meus sentimentos?
A interpretação exagerada tinha sido sublime, mas, dada minha experiência com a mulher, não fui capaz de sentir nenhuma simpatia por sua imaginária situação problemática. Nem Robin, aparentemente, pois ele respondeu friamente:
— Fique tranquila, mãe, você irá embora desta casa o mais rápido possível.
O aborrecimento torceu o nariz dela por pouco tempo, e então a ladainha recomeçou:
— Como você pode sonhar em me manter longe de...
— Bem... Olá, mamãe, sentiu minha falta?
As palavras maldosas de Daniel interromperam a mulher no meio da frase. Claramente chocada, ela se virou para olhar para o filho mais velho, que estava parado no meio da sala, olhando para ela.
— O que ele está fazendo aqui? – ela exigiu saber, todos os vestígios de sua dor anterior desaparecendo em um instante.
— Adorei ver você também.
Lá se fora a indiferença profissional que Daniel tinha mantido durante toda a conversa com Robin. O sarcasmo envolvia tudo, o desprezo amargo estampado em seu rosto inclinado em direção à mulher magra que tinha acabado de entrar naquela sala.
Ingrid parecia ter mordido um limão, quando se virou para Robin:
— Trate de não dar atenção a nada que ele disser – cuspiu ela. — Ele não é nada mais que um mentiroso e um trapaceiro.
Daniel jogou a cabeça para trás e deixou escapar uma risada, então se inclinou em direção à sua mãe, estampando um sorriso zombeteiro no rosto.
— Aprendi com os melhores professores. Uma herança dos dois lados da família, na verdade – disse ele.
Intrigada com aquela troca de farpas, olhei para Robin como que pedindo alguns esclarecimentos, mas ele também parecia estar confuso.
— O que está acontecendo aqui? – exigiu saber.
— Nada – disparou Ingrid, e então ergueu o queixo e endireitou os ombros. – Gostaria de ir embora agora, uma vez que me parece que família é uma palavra que não significa nada nesta casa.
— Oh, não, mamãe, por favor, fique mais um pouco. – O sarcasmo transbordava de cada palavra emitida por Daniel, mas a mulher simplesmente cruzou os braços sem olhar para o filho mais velho. Um sorriso cruel deformava o rosto dele, mas o olhar ferido que o trazia não combinava muito com sua expressão. —Você não gostaria de saber o que aconteceu aos trinta milhões de dólares que fui acusado de roubar? – perguntou ele. — Certamente, a curiosidade sobre como gastei essa fortuna toda deve estar lhe corroendo.
Ingrid se encolheu, ainda que levemente, perceptível em um mínimo franzir de lábios.
— Não preciso ficar aqui ouvindo isso, não me interessa – disse ela, farejando o ar com desdém e girando no salto em direção à porta da casa. — Quando vocês acabarem sua pequena discussão, me procurem em meu carro.
— Detenham-na.
O comando de Robin foi prontamente seguido quando dois dos guardas da porta se enfileiraram, bloqueando a saída da mulher. Ingrid guinchou de indignação, mas Robin não ligou, voltando a atenção para seu irmão.
— Eu não gosto de segredos – disse ele em voz baixa.
— E, ainda assim, você ajudou a perpetuar este por quase oito anos. – Daniel nunca parou de dirigir seu olhar para a mãe, nem mesmo quando ela se recusou a devolver o favor. Os olhos dele eram um caldeirão de emoções, piscando e mudando o foco tão rapidamente que era difícil tentar decifrar algo em particular. – Vamos lá, mamãe, eu devo contar a ele ou você gostaria de fazer as honras?
Dando um gemido irritado que soava infantil vindo de uma mulher mais velha, Ingrid deu as costas para o filho mais velho. De repente, percebendo que havia toda uma plateia examinando cada um de seus movimentos, ela suavizou suas feições e acenou com a mão alegremente.
— Não tenho a mínima ideia do que você está falando – disse ela, revirando os olhos. – Agora, se vocês me dão licença...
Os olhos de Daniel se estreitaram, e então ele se virou para o irmão:
— Alguma vez você já se perguntou onde a mamãe arruma todo o dinheiro dela?
A pergunta pareceu assustar Robin. Ele deu a seu irmão um olhar demorado e frio, e depois se virou para encarar a mãe. Segui seu olhar e me perguntei se ele estava pensando a mesma coisa que eu. Ingrid Maguire não era assim uma atriz tão boa; estava evitando todos os olhares dirigidos a ela, sua cabeça girando de uma saída para outra, como se estivesse pensando qual delas a tiraria dali mais rápido. Finalmente, seu olhar se cruzou com o de Robin e ela revirou os olhos.
— Ora, vamos, meu filho, você não acredita mesmo numa palavra sequer dele, acredita? – disparou ela.
— Acreditar em quê? – redarguiu Robin, olhando para os membros de sua família, a confusão se misturando com aborrecimento.
Nem seu irmão nem sua mãe pareciam inclinados a fazer mais do que trocar olhares furiosos, então sua voz se ergueu e ele perguntou mais uma vez:
— Não devo acreditar em quê?
Um celular tocou, o som agudo penetrando a atmosfera sombria do lugar. Will desapareceu da sala enquanto a resposta à pergunta de Robin me atingiu como uma tonelada de tijolos. Oh, meu Deus...
Autor(a): thaystirling
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
— Foi sua mãe quem roubou todo esse dinheiro! Eu não tinha intenção de verbalizar meus pensamentos, era apenas um palpite, mas as palavras que escaparam de minha boca eletrificaram as pessoas ao redor. — Isso é um absurdo! – disparou ela. Ingrid se aproximou de mim, o rosto contorcido de ódio. Aquela era uma vis& ...
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