Fanfic: Subordinada Ao Prazer | Tema: Once Upon A Time
Quando estava na quinta série, recebi meu primeiro e último papel importante em uma peça da escola. Treinei minhas falas em casa e com outros alunos até conhecê-la de trás para frente. Os ensaios gerais no grande ginásio da escola ocorreram sem incidentes, até porque a plateia estava vazia, sem os críticos. Eu estava orgulhosa de representar meu papel, que era pequeno, mas crucial. Pelo menos até a noite de estreia... Diante de um ginásio lotado de desconhecidos, eu congelei, minhas falas desapareceram de minha mente, fiquei incapaz de me movimentar e de falar com aquilo que me pareceu uma onda condenatória desabando sobre mim.
De repente, sozinha ali naquela enorme sala de exposição, em uma terra estrangeira e sem ao menos conhecer uma alma sequer, aquele mesmo terror congelante me transformou em pedra.
O lindo salão, com seus convidados bem-vestidos e sua atmosfera de alta classe, assumiu uma qualidade quase sinistra assim que eu ficara sozinha, às voltas com meus próprios recursos. O folheto com a programação do dia estava amassado em minha mão enquanto eu olhava em volta, tentando decidir para onde ir. Ficar ali naquele lugar, como Robin tinha dito, realmente não era uma opção para mim; eu precisava cair fora daquela súbita massa de corpos se apertando da mesma forma que eu tivera que cair fora daquele palco, todos esses anos antes.
— Regina Mills?
Ouvir meu nome desse jeito assustou-me, arrancando-me dos meus pensamentos turbulentos. Olhando em volta para ver quem tinha falado, eu vi uma mulher de cabelos claros vestida em um longo amarelo e se aproximando de mim. Ela me parecia familiar, e então um sorriso surpreso se estampou em meu rosto quando a reconheci.
— Tinker?
— Oh, meu Deus, é mesmo você! – A mulher mais baixa bateu palmas de alegria, sorrindo para mim. – Achei que tinha reconhecido você quando passou pela porta de entrada, mas só tive certeza quando cheguei mais perto!
Ainda espantada por encontrar alguém que de fato eu conhecia, joguei o decoro para o alto e puxei a garota para perto, num abraço apertado. Tinker tinha compartilhado o dormitório comigo durante os nossos primeiros dois anos na faculdade em Cornell e, embora não nos encontrássemos muito em nossas aulas, já que ela queria se formar em Medicina e eu pretendia fazer Direito, saíamos nos fins de semana com os outros alunos. Eu não questionei se fora a providência divina que a levara até ali, apenas agradeci a quem quer que estivesse cuidando de mim a ponto de me arranjar um rosto familiar.
— O que você está fazendo aqui? – exclamei, assim que nos afastamos do abraço.
— Na verdade, estou aqui com Peter. – Seu amplo sorriso se abriu com orgulho ainda mais. – Nós ajudamos em uma clínica em Bornéu e ele está aqui tentando levantar doações.
— Quer dizer que vocês dois finalmente se casaram? – Quando ela assentiu com a cabeça, apenas sorri. Tinker e Peter já eram namorados no colégio quando eu os conheci na faculdade. Ambos tinham sonhos grandiosos de salvar o mundo e aparentemente estavam a caminho de fazer isso. — E os dois são médicos?
— Não, quando Peter entrou em Medicina eu mudei de curso e fiz Administração. Mas até que deu certo, porque agora eu o ajudo a tocar a clínica cuidando da parte administrativa. Eu o acompanho em campo de todas as maneiras, por isso, funciona muito bem para mim!
Tinker trouxe com ela a alegria e o otimismo contagiantes que seus amigos sempre apreciavam nela. Seu óbvio prazer em me ver levantou aquele meu humor sombrio de alguns momentos antes, e eu finalmente relaxei. A loira borbulhante tinha um olhar travesso nos olhos.
— Então, é sua vez, conte aí: aquele era mesmo Robin Maguire entrando a seu lado pela porta?
Fiquei corada com a pergunta. Não há nenhuma razão para as coisas parecerem estranhas, menina, eu mesma me censurei.
— Sim, ele é meu chefe – respondi, encolhendo os ombros como se isso não fosse nada.
— Então, vocês dois...
— Não – repliquei, balançando a cabeça enfaticamente. – Eu sou sua nova assistente pessoal e descobri apenas há pouco que isso significa acompanhá-lo nessas funções. Mas isso tudo é muito novo para mim... – Eu não menti, mas ainda me sentia mal em deixar de fora todo o resto, especialmente quando vi a decepção no rosto de Tinker com a notícia.
— Mas você não ia estudar para ser advogada? – perguntou ela, parecendo confusa.
Aquela pergunta cutucava uma ferida, mas isso não era algo que ela teria como saber. Quando meus pais morreram, ambas éramos calouras e raramente nos víamos. Eu inadvertidamente cortei os laços com a maioria de meus colegas de faculdade enquanto tentava acertar minha vida, algo que ainda era um processo em andamento.
— Não deu certo – respondi, e então, num esforço para mudar de assunto, olhei por cima do ombro dela. – E o Peter, onde está?
— Oh, ele está por aí, no meio da multidão, misturando-se com as pessoas ricas e tentando obter mais doações. Nossa apresentação não atraiu tantas quanto precisávamos, então ele está correndo atrás de mais alguns patrocinadores. – Ela revirou os olhos. – Ele é muito melhor fazendo isso do que eu. Acho muito esquisito me aproximar de um desconhecido e, de repente, sem mais nem menos, pedir dinheiro.
— Engraçado – disse uma voz próxima com um forte sotaque –, já que é exatamente isso que vejo diante de mim.
Eu me virei e vi uma mulher morena, alta e magra, parada ao meu lado, olhando para Tinker com uma superioridade presunçosa. Eu não tinha ideia de quanto tempo ela estivera ali, mas quando vi o rosto de Tinker mostrar sua intimidação, minhas mãos se fecharam nos punhos.
— Com licença – disse eu sem rodeios, indignada com o tratamento dado à minha amiga. – Mas quem é você?
Ela virou seu olhar gelado para mim, os olhos negros me fazendo uma rápida avaliação uma vez mais.
— Meu nome é Marian Laing. Soube que você é a nova assistente pessoal do Sr. Maguire. – Ela estudou suas unhas. – Essa é uma posição com a qual estou bem familiarizada.
A mulher não ofereceu a mão dela, e eu não a teria aceitado, de qualquer maneira. Não gostei da ênfase que ela deu à palavra “posição”, nem gostei de seu sorriso de quem sabia de tudo. Aborrecida por ter meu “relacionamento profissional” com meu chefe ridicularizado por essa mulher, usei minha raiva como escudo:
— Se você me dá licença, Sra. Laing, eu já estava conversando com...
— Você vai descobrir que, quando se trabalha para os homens ricos, as pessoas vão se aproximar de você de modo egoísta apenas por causa de seu contato. – Marian lançou a Tinker um olhar condescendente. – Você deve proteger-se contra essas investidas desajeitadas...
Ao meu lado, Tinker endireitou o corpo com esse insulto velado.
— Esta é uma festa de caridade, caso não tenha notado – retruquei, vindo em defesa de Tinker. – Se ela quiser que eu a ajude a levantar dinheiro para seu projeto, a escolha de fazer isso ou não é minha.
Marian deu de ombros.
— Este local apenas legitima as tentativas mesquinhas de mendicância...
Todo meu corpo ficou tenso de indignação, eu estava pronta para ir à forra com aquela morena altiva e arrogante quando Tinker se afastou de nós.
— Vocês duas me dão licença... – disse ela com firmeza. — Preciso encontrar meu marido.
Quando ela se virou para sair, peguei o braço dela:
— Tinker...
— Está tudo bem, Regina, fiquei muito feliz em ver você de novo, mas... – A pequena garota deu uma olhada incomum para a linda mulher arrogante. – Quando acabar de conversar com essa... com essa mulher, venha nos procurar – concluiu, antes de sair de cabeça erguida.
— Por que você fez isso? – confrontei a bela mulher. – Ela era uma amiga.
Marian deu de ombros, mas seus olhos frios pareciam estar se divertindo com minha raiva explícita.
— Essa mulher não significa nada para mim. Só fui enviada até aqui para buscar você.
Minhas mãos se apertaram de novo. Cercada por pessoas desconhecidas, em um ambiente estranho, eu não queria chamar atenção indevida sobre mim. Mas isso me parecia difícil. O fato de que minha luta para passar despercebida obviamente estava divertindo a morena tornou minha decisão de manter a calma, ao menos externamente, ainda mais difícil.
— Por quem? – eu quis saber.
O sorriso dela se ampliou.
— Por meu empregador.
Mordi a minha bochecha para não dizer as primeiras palavras que vieram à minha mente.
— Por favor – respondi –, diga ao seu empregador que estou indisposta pelo resto da noite.
— Bem, eu realmente devo insistir – dizendo isso, Marian enlaçou seu braço no meu e me conduziu adiante. – O Sr. Maguire detesta atrasos.
— O quê? – As palavras dela me surpreenderam, o choque que elas me causaram me fizeram dar alguns passos antes de estacar em meus calcanhares. – Foi Robin quem a enviou?
Ela respondeu com um movimento do queixo atrás de mim, apontando para a frente, e eu girei a cabeça, conseguindo então ver o perfil de Robin em meio aos convidados. Quer dizer que ele enviou essa ave de rapina para me buscar? Meus lábios franziram em aborrecimento quando, com relutância, me permiti ser conduzida em meio à multidão, evitando fazer uma cena, mas querendo realmente ficar livre do aperto daquela morena hipócrita.
Várias figuras militares rodeavam nosso alvo, os uniformes de uma cor verde-escura muito parecida entre eles, mas decorados de formas diversas para denotar as patentes diferentes. À medida que eu me aproximava do aglomerado de pessoas, percebi que tinha cometido um grave erro: aquele homem não era Robin, mas agora não havia nenhuma maneira de fugir da situação. Uma cabeça escura e familiar, porém estranha, virou em nossa direção e um par de brilhantes olhos azuis se iluminaram quando viram que nós nos aproximávamos. Longos cabelos penteados para trás emolduravam um rosto meio familiar. Vestido inteiramente de preto e segurando, de forma casual, um copo de vinho entre os dedos, àquele rosto familiar faltava à gélida rigidez com que eu estava acostumada.
No que eu havia me metido?
— Senhores, por favor, me desculpem. Podemos discutir nossos negócios um pouco mais amanhã.
Mesmo sua voz parecia conhecida, mas ela trazia um cinismo intrínseco, muito diferente daquela fala rígida e controlada de Robin. A expressão despreocupada daquele desconhecido quando me analisou de cima a baixo rapidamente me desconcertou, já que eu havia me acostumado ao estoicismo daquele rosto familiar.
— E quem é que temos aqui? – pegando minha mão e levando-a aos lábios.
A forma como ele beijou meus dedos era diferente dos modos de Jefferson. As maneiras dele tinham sido mais galantes, e este era mais pessoal do que eu gostaria. Seus olhos se prenderam nos meus, seus lábios se demoraram talvez por um pouco mais de tempo do que deveriam e, apesar de minhas melhores intenções, senti uma vibração em meu estômago. Irritada comigo mesma e com a resposta, puxei a mão e pude notar um vislumbre de divertimento nos olhos daquele homem.
— Esta é Regina Mills, a nova assistente de Robin. – A voz com sotaque de Marian tinha o mesmo tom sarcástico de antes, mas sua atitude me pareceu mais respeitosa. Ela se esgueirou para o lado do homem e enredou seu braço no dele, quase possessivamente. — Apresento-lhe Daniel Maguire, o verdadeiro herdeiro das empresas Maguire. – Não pude deixar de notar o ar de uma declaração de direitos nessas palavras, e Daniel não as negou.
Então esse era o tal de Daniel sobre o qual Jefferson advertira Robin mais cedo? Franzi a testa entre aquelas duas pessoas magníficas. A natureza predatória de seu olhar fazia com que uma parte de mim desejasse fugir dali, mas eu fiquei, cruzando meus braços em vez de correr. Uma pequena chama ardia em minhas entranhas por ter sido lançada nessa situação em total desconhecimento, sem nenhum respaldo.
Daniel ignorou a linda mulher dependurando-se em seu braço, inclinando a cabeça para o lado e me estudando.
— Você parece tensa, meu amor – disse ele, se dirigindo a mim em uma voz suave. — Eu não quero que uma mulher bonita como você fique desapontada com a minha companhia.
Ao lado dele, Marian se retesou, e o olhar raivoso que ela me lançou dizia muito sobre seu ciúme. Embora fosse bom ver aquela morena fabulosa descer do salto, eu não tinha vontade nenhuma de continuar com a conversa. Algo me dizia que eu estava muito fora de lugar ficando por ali. No entanto, a coisa prosseguiu, muito para meu desalento.
— Desculpe, pensei que fosse outra pessoa – eu disse com frieza, sem me incomodar em mencionar que fora arrastada até ali. – Com licença.
Quando me virei para ir embora, a orquestra atrás de mim começou a tocar uma nova música, um número animado que atraiu inúmeros casais para a pista de dança. Daniel deu um passo adiante, afastando a mão de Marian de seu braço.
— Você gostaria de dançar? – perguntou ele, estendendo a mão para mim.
Marian avançou, obviamente com alguma coisa a dizer sobre aquele convite. No entanto, um olhar penetrante lançado em sua direção pelo homem diante de mim fez com que ela parasse no meio do caminho, fervendo em seu lugar enquanto olhava para mim. Por que eu, de repente, virei a vilã da história?, perguntei a mim mesma, irritada com todo esse jogo.
— Não, obrigada – respondi secamente, tentando manter a postura. — Mas eu preciso procurar meu...
— Eu insisto, de verdade.
E antes que eu pudesse fazer alguma coisa, ele já havia colocado uma mão em minha cintura e estava me conduzindo para o meio do salão. Eu me opus imediatamente, cravando meus pés no chão. Por que todo mundo está insistindo em me obrigar a fazer o que eles desejam esta noite?, pensei, com meu aborrecimento borbulhando para a superfície.
— Estamos muito visíveis aqui – murmurou ele, se aproximando de meus ouvidos. – Você não vai querer causar um mal-estar nesta festa de gala, não é?
Eu hesitei, subitamente tomando consciência da quantidade de pessoas desconhecidas ao redor de nós, e essa hesitação momentânea deu-lhe todo o tempo de que precisava. Daniel me pegou em seus braços e me arrastou para a pista de dança antes que eu pudesse pensar em dizer não novamente, fazendo-nos deslizar sobre o chão tão suavemente como seda. Eu tentei me afastar dele, mas seu aperto tão forte quanto um torno não me permitia uma fuga.
Autor(a): thaystirling
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
— Me solta! – disse entre dentes, a raiva crescente escorrendo em minha voz. — E arruinar uma oportunidade perfeita de poder dançar com uma mulher bonita? Eu acho que não... Ele parecia se divertir com a minha resistência. Dancei rígida em seus braços, mas minha falta de graça não o deteve nem um pouco. Ele ...
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