Fanfic: __A vila__ | Tema: Suspense; Romance; Hot e RBD

Paris, 23 set 2013.

Pov Dulce:

   O sol clareava a janela do meu quarto quando abri os olhos. Era segunda-feira outra vez. Não que eu tivesse que ir trabalhar, mas odiava as segundas só por ser segunda. Meu relógio de cabeceira dizia ser oito e quarenta da manhã. Peguei meu celular e havia mais de dez ligações de Maite, secretária geral de minha mãe. Bufei. A grande Blanca Espinosa e seu grande coração que não tinha tempo para criar sua única filha e deixou-a de lado para cuidar dos pobres. Que irônico. Nem me dou ao trabalho de retornar as ligações. Entrei em minhas redes sócias e o motiva das ligações estava estampado em todas elas.

“Morre aos 52 anos, a empresaria internacional Blanca Espinosa, dona da Construtora Espinosa Ltda. Blanca deixa sua empresa; uma vila mantida pelos seus cuidados e sua única filha Dulce Maria...” 

   Qualquer outra filha sairia chorando pela notícia, mas quem é Blanca na minha vida? Apenas a mulher que me deu a luz...apenas. Fui criada por Mara minha cuidadora desde que nasci e cresci em Paris. Blanca morava em Monterrey no México e vinha me visitar raras vezes por ano. Já não conhecia essa mulher nos últimos anos, sempre se afastando de mim, como se tivesse medo de me misturar com os amados pobrinhos da vila dela. Esses sim deveriam estar mortos de tão chorar.

   Na minha criação não faltou nada, Mara foi uma ótima mãezona. Sei que Blanca mandava todo o dinheiro que usávamos nas despesas, mas não sou patricinha, teria vivido com apenas o salário de Mara sem problemas. Agora quem realmente dava despesas era o povo da vila. Segundo Mara, Blanca acordou um dia querendo um lugar para colocar todo o lucro extra da construtora, entretanto a forma como realizou essa vontade era um exagero só. A vila era constituída com vinte casas, mais a casa mansão - uma casa de controle no centro onde todo o tipo de assistencialismo era oferecido aos moradores. Eu mesma numa estive lá, ela nunca me deixou ir, mas via como era belo o local, fortemente guardado por muros altos e ao lado de uma delegacia. Um paraíso para qualquer pessoa, com posses ou não. 

   Levantei e tomei um bom banho. Coloquei minha roupa rotineira de academia, peguei minha bolsa e desci para a cozinha. Mara fazia o almoço, sabia que estava chorando sem ao mesmo olhar no sua cara. Minha cuidadora era uma mulher guerreira, porém muito sentimental. Beijei seu rosto, estava quase na porta quando assustada me chamou pelo nome.

− Dulce querida. Como você esta?

− Ótima Mara, por quê?

− Oras menina, como por que...tenho certeza que já sabe o que se passou.

− Mara, se você se refere a Blanca, eu verdadeiramente sinto muito. Mas não a conheci tão bem como você para chorar. – Mara me olhava horrorizada. Eu entendi seu espanto, mas não iria fingir algo que não sentia.

− Não vai ao velório pelo menos?

− Ela nunca fez questão de me ter por perto viva, porque iria querer estando morta?

   Sai pela porta dos fundos e entrei no meu carro modelo esporte. Para mim não existia nada melhor do que correr para tirar o estresse. Frequentava a Formes Academy a alguns anos e nada me fazia tão bem quanto estar lá.

[...]

Paris, 02 out 2013.  

   Estava tensa na frente do advogado de Blanca, ainda não entendi o porquê precisava ouvi seu testamento. Tanto me importava receber ou não algo dela. Tenho vinte três anos, formada e posso muito bem me arrumar. Porém Mara achou que deveríamos conhecer as últimas vontades de minha mãe.

   O advogado era um senhor de uns sessenta anos, com uma voz baixa que dificultava ainda mais aquele momento. Ele retirou de uma pasta preta um maço de folhas e começou uma leitura que parecia não terminar nunca. Blanca deixou para Mara a casa de Paris e o carro que a mesma dirigia fora uma pensão vitalícia. Deixou a empresa no poder de um comitê de associados para controle dos negócios, assegurou com isso a continuidade da Construtora Espinosa Ltda. Na sétima página ouvi enfim meu nome.

− “...deixou para minha filha Dulce Maria A VILA, atividade que tanto amei durante minha vida. Que a mesma receba todo mês a importância para controle dela e que entenda com seu trabalho o porque tive que fazer essa escolha tão drástica...

− Como? Deveria estar demente aquela mulher. Não quero aquela vila nojenta. Não quero nada dela. Obrigada.

− Perdão senhorita, ainda não acabei a leitura. – Fuzilei-o com os olhos. Phoda-se ele e aquele testamento idiota. Levantei decidida a não ficar mais ali o ouvindo quando a continuação congelou-me no chão. – “...Porém, como conheço minha filha que provavelmente não vai querer continuar com minha atividade social, deixo claro meu desejo que todos os oitenta morados da vila sejam colocados na rua com direito a nada caso a mesma não continue o trabalho de onde parei.”

− Você esta de brincadeira né? – Voltei arrancando o papel da mão do senhor e lendo eu mesma.

   Estava tudo lá, letra por letra. Blanca colocou-me contra a parede. Se eu não fosse assumir seu lugar na vila como herdeira, oitenta pessoas estariam sem casa para morar. Deus, porque essa mulher fez isso comigo? Uma vida inteira me mantendo longe de Monterrey para no testamento deixar uma vila toda aos meus cuidados.

− Creio que não senhorita Dulce Maria. A senhorita tem até o dia 23 de outubro para assumir seu local na direção geral da vila. Os morados já estão de aviso prévio aguardando vossa decisão.

− E o senhor acha certo isso? Nunca sai da França e agora tenho que ir para Monterrey no México cuidar de uma vila que nunca estive? – Perguntei revoltadíssima tentando achar uma saída.

− Eu não tenho que achar nada senhorita Dulce, só estou cumprindo ordens. Deveria fazer o mesmo...se quer mesmo a minha opinião.

− Não, ela estava louca, uma demente que abandonou a única filha há quase vinte anos. Posso entrar com um processo alegando demência e continuar minha vida como se Blanca nunca tivesse existido.

− Acredito que pode tentar, se for o que desejas. Entretanto cara Dulce, o processo poderia demorar anos até finalmente acharem uma forma de alterar o documento, e precisamos de sua resposta ainda esse mês.

− Então não tenho escolha? – Desabei no sofá novamente, lágrimas rolando solta. Não acreditava no meu azar.

− Tem. Ou assumi a vila enquanto seu pedido de processo não é aceitou...ou deixa oitenta pessoas desabrigadas e seja feliz com isso.

   Mara que estava congelada até esse momento ao meu lado no sofá, abraçou-me maternalmente. Queria gritar e maldizer Blanca pelo resto da vida, mas não sei se teria coração para deixar oitenta pessoas sem casa. Que tipo de monstro seria eu se o fizesse?

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*Sempre prestando atenção nas datas. 

**4 favoritações sem ter postado o primeiro cap. *__*