Fanfic: Cours | Tema: Bangtan Boys ( BTS )
Estou em túnel preto cheio de névoa, avanço com rapidez, mas não sinto medo.
Hoseok está esperando por mim do outro lado; Hoseok está de pé, sorrindo, banhado na luz do Sol.
Ele estica os braços para mim, chamando...
Ei. Ei.
Acorde.
— Ei Acorde. Vamos, vamos.
A voz me arranca do túnel, e por um momento fico muito decepcionado quando abro os olhos e não vejo Hoseok, mas outro rosto, um distinto e nada familiar. Não consigo pensar; o mundo está todo em pedaços. Cabelo castanho, lábios carnudos, um par de óculos : peças de um quebra-cabeça que não consigo montar.
— Isso mesmo, fique acordado.
Eu luto para manter meus olhos abertos. Me sinto fraco, não tenho forças para levantar. Estou deitado no chão, não sei onde estou, e uma mão sustenta meu pescoço.
— Isso mesmo, fique acordado. Você está bem. Está tudo bem agora.
Cabelo castanho, armação de óculos dourada, estou no que parece ser um beco : Um menino. Não, um homem; um homem de lábios carnudos usando um par de óculos de grau dourados, com um semblante preocupado e voz melodiosa. Eu penso : Obrigado. Eu tento dizer, mas nenhum som sai de minha boca.
— Você está bem. Não se preocupe.
Minha cabeça dói. Não me lembro de chegar onde estou. Só lembro de ter ido na loja de conveniências em frente do prédio onde moro e mais nada.
Sou erguido, ele me coloca de pé. Quase caio e então o homem me sustenta me fazendo continuar em pé. Com cuidado começo à andar.
— Onde mora? Eu irei te levar. — ele diz, parecendo aflito.
Onde estou? O que aconteceu?
Mas então formas e contornos se ajustam. Olho em volta e reconheço onde estou. Duas quadras depois de onde moro.
— Há duas quadras antes daqui. —digo com dificuldade. Minha voz sai mais rouca do que de costume.
Então começamos a andar.
A dor em minha cabeça me impedi de ter pensamentos racionais. Mas me esforço para dizer o caminho de onde moro.
Chegamos em frente ao prédio. Já conseguindo ficar em pé sozinho. O homem insiste em me levar até meu apartamento mas afirmo que estou bem, que não preciso mais de sua ajuda.
— Muito obrigado... — Eu iria dizer seu nome, mas lembrei que não sei.
— Seokjin, Kim Seokjin. - diz ele, sorrindo.
— Muito obrigado, Kim Seokjin. —me esforço para sorrir um pouco, mas é apenas um tentativa.
— Não foi nada demais. Você parecia estar quase morto quando eu te encontrei. Não poderia deixa-lo lá daquele jeito. — ele dá uma pausa e continua. — Você tem certeza de que consegue...
- Sim, sim. Estou bem, consigo ir sozinho até meu apartamento. Pode ir sem preocupações. - Digo. Interrompendo-o.
Ele sorri fraco e diz :
— Tudo bem, então — ele parece mais despreocupado agora. Diferente de alguns minutos atrás, que parecia estar quase tendo uma ataque cardíaco. — Se você diz está bem, eu vou embora. Mas tome cuidado, não sei se você passar mal novamente, eu irei aparecer para te salvar. — ele diz. Acena e começa andar na direção aposta de onde viemos.
Eu fico parado, vendo-o desaparecer no horizonte. Agradecendo-o mais uma vez mentalmente por ter me socorrido, se não fosse por ele talvez eu tivesse, realmente, morrido.
Uma pontada forte em minha cabeça me faz sair de meus devaneios. Então entro no prédio, comprimento o porteiro e ando na direção do elevador.
Subo de elevador, não tenho forças alguma para subir até o décimo quinto andar de escadas.
Chego rápido ao meu andar e vou até a porta do apartamento. Dígito a senha, a porta se abre e eu entro.
Caminho na direção da cozinha, pego uma caixa em cima da geladeira, abro-a e retiro de dentro três frascos diferentes de remédios. Tomo os remédios sem água, já me acostumei. Volto para sala e me deito no sofá.
O apartamento está escuro, devido as cortinas estarem fechadas e serem escuras. O silêncio no cômodo me acalma.
Fico deitado de barriga para cima, olhando para o teto, tentando lembrar o por que de eu ter ido parar naquele beco no estado em que estava.
Lembro-me ter ido na loja de conveniências, ter comprado macarrão instantâneo e sair da loja. Mas o restante são apenas borrões, imagens e formas desconexadas, isso me deixa frustrado.
Estou cansado dessa situação acontecer. Sempre que estou sobre pressão, estressado, com raiva, ou me esforço a lembrar do passado, minha cabeça lateja, uma dor aguda se forma, e me faz perder o rumo, perder a razão, o controle sobre mim mesmo.
Quando me recupero, não consigo lembrar de nada, tudo não passa de borrões. Na maioria das vezes, estou em lugares que não faço a mínima ideia de como cheguei, como pessoas que nunca havia visto antes.
Eu já fui em diversos médicos, e todos dizem a mesma coisa : que é emocional, devido ao algum trauma, algum acontecimento no passado. Que se resulta em : Amnésia Dissociativa.
Já fiz diversos tratamentos, mas depois de um tempo, os resultados falham, começam a ser inúteis. Então, vivo a base de remédios e faço visitas mensais a um psicólogo.
Na últimas semanas, os remédios estão se tornando mais fracos, venho tendo que tomar mais de um comprimido de uma vez só. Talvez, por isso, que ocorreu aquilo comigo hoje, talvez os remédios não estão sendo mais úteis. E temo precisar mudar para remédios mais fortes.
Desde de quando me mudei da minha cidade natal — Daegu, onde nasci —, abandonando tudo que eu tinha lá, que eu comecei a tomar remédios para quase tudo, e também a partir daí, que eu jamais fui o mesmo. Nada da minha vida fez mais sentido, nem mesmo respirar.
O motivo por eu ter mudado de cidade não foi por algo agradável ou devido ao trabalho de meus pais. Na verdade, foi o pior motivo existente em todo os vinte e três anos em que vivo.
Eu ainda não consigo compreender com tudo aconteceu. Num dia estava perfeitamente alegre, sorrindo, fazendo juras de amor, prometendo mundos, amando e sendo amado e agora estou encalhado nesta vida fria e desagradável, com feridas em meu coração, infeliz, parecendo não ser capaz de ser feliz novamente.
Hoseok. Jung Hoseok. Ao lembrar dele, ainda machuca. Lembrar dos momentos em que passamos juntos, faz meu coração doer. Eu amei, ainda amo, e sempre vou amá-lo. Foi por sua causa que me tornei o que sou hoje. Mas não é culpa dele, e sim minha culpa; o culpado sou eu por ser tão fraco, por amá-lo demais.
Ele sumiu, desapareceu, sem sinal algum, sem uma simples despedida. Eu havia marcado de encontrá-lo em uma sorveteria após o almoço mas as horas passaram, o céu escureceu e Hoseok não pareceu. Preocupado, fui até onde ele morava, para saber se algo tinha acontecido, se ele estava lá. Mas, ao chegar em sua casa, e ouvir sua mãe dizer : " Pensei que ele estivesse com você.", fez meu mundo desmoronar-se por completo.
Passaram dias, semanas, e nada de notícias de Hoseok. Nada mais soube dele após sua ligação para mim em uma manhã de sábado.
Muitos dias mais tarde, depois que os policiais haviam revistado cada canto da casa onde ele morava e ido a todas as cidades vizinhas com fotos de Hoseok, um dos oficiais achou uma pilha de roupas e os sapatos que Hoseok usava na margem de um algo perto de onde morávamos. Foi como se ele tivesse Simplesmente desaparecido da face da Terra e largado as roupas para trás.
Os pais de Hoseok ficaram desolados, como todo o resto da família e vizinhança; Hoseok era muito querido por todos, seu largo sorriso conquistava a todos.
Foi difícil aceitar — ainda é — que nunca mais veria seu sorriso, escutaria sua risada, ouvirei sua voz, nem mesmo sentir seus lábios. Foi difícil aceitar que não iria mais ver Hoseok a partir daquele dia.
Eu passava boa parte do tempo chorando sozinho trancado em meu quarto, sentindo a falta de Hoseok abrindo feridas por dentro de mim. Eu me isolei do mundo, não conseguia me alimentar, apenas levantava para ir ao banheiro e voltava para cama, passando dias chorando, com o coração pesado.
Sentia vontade gritar e berrar que tudo aquilo era errado, injusto e um grande engano pelo qual alguém um dia iria pagar, mas invés disso, apenas me desmanchava em lágrimas. Passei dias com a esperança dele voltar, dele abrir a porta do meu quarto dizendo que era apenas uma brincadeira de mal gosto, que havia voltado para mim. Mas a esperança ia se esvaindo e eu me tornei oco por dentro.
Na época, fui diversas vezes parar no hospital. Era um morto-vivo. As recordações que eu tinha só me faziam ficar ainda mais pior, me degradava dia após dia.
Dormir era a única coisa que sentia vontade, pois poderia sonhar que estava com ele, ao seu lado, imaginar que nada do que estava vivendo era real. Eu me isolei completamente de tudo e de todos. No dia em que Hoseok desapareceu, parece que ele me levou junto.
Um dia, muito subitamente, pensei que ele estivesse no lago onde foi encontrado suas roupas, e então de imediato fui até o local, acreditando encontrá-lo sentado na margem do lago, esperando por mim sorrindo.
É claro que ele não estava lá.
Não havia nada de especial naquele lugar, nada de diferente, mas eu fiquei ali por algumas horas, gritando como louco para que Hoseok aparecesse, rogando praga aos céus.
Alguns meses mais tarde, meus pais cansaram de ver meu estado deplorável e deduziram que se eu continuasse em Daegu, eu iria acabar à sete palmos do chão. Então eles decidiram que era melhor nos mudarmos para Seul. Eu fui sem reclamar, pois não me importava com que acontecesse ou o que fizesse comigo.
Nós mudamos para Seul, eu terminei os estudos, entrei em uma faculdade de administração — depois de tanto meu pai insistir —, me formei e hoje trabalho na empresa do meu pai.
Mesmo com tempo, nada mudou, apenas amenizou um pouco; eu continuo chamando por ele, chorando pela sua ausência, sentindo sua falta.
Todos os dias eu me esforço para continuar de pé, mas eu não tenho motivação, ânimo para nada. Mesmo fingindo que não,bem no fundo, ainda tenho esperanças que ele volte, que ele me tire do buraco negro me encontro.
Hoseok está vivo. Desde então, esse tornou meu mantra, a palavra que repito para mim mesmo todos os dias.
É seu nome que eu chamo quando estou com medo.
Em minha mente, tento voltar no tempo, tento segurar sua mão e puxá-lo para perto de mim. Relembro sem parar nossos últimos momento juntos.
Diariamente, eu me tranco nesse apartamento dia e noite, aqui eu me sinto seguro, sem precisar fingir que estou bem, feliz.
Se ele estivesse aqui, comigo, tudo seria diferente, eu estaria feliz, vivendo.
Me sento no sofá, trago as pernas até o peito, apoiando o queixo no joelho. As imagens de nós dois preenche minha mente, passam diante de meus olhos. Meus pulmões doem, meu peito dói e as lágrimas fazem meus olhos arderem. Tenho vontade de gritar, mas apenas soluços saem de minha boca.
A dor também se expande pelo meu coração, e meu choro aumenta, ficando mais intenso. Meu corpo treme devido alguns soluços mais fortes. Chorar é única coisa que posso fazer. A ausência, a falta que ele faz machuca, fica me dilacerando por dentro, queimando como cinzas quentes.
Não há nada a fazer exceto me deixar levar. As horas me cercam, envolvem-me por completo.
Meu sofrimento é como afundar, ser enterrado. Cada respiração, cada dia que passa, é um engasgar sem fim. Não há nada em que me segurar, nenhuma margem, nada em que eu possa me agarrar para emergir. Não há nada a fazer a não ser se entregar.
Se entregar. Sentir o peso ao redor, sentir os pulmões sendo comprimidos, a pressão baixa e lenta. Se permitir afundar ainda mais. Não há nada além do fundo. Não há nada além da escuridão.
Esse sou eu. Min yoongi. Um cara de 23 anos anos. Comum, sem graça, sem motivações.
Um alguém que cambaleia, que se afunda a cada minuto, se perdendo da Luz e no vasto campo da vida.
Eu sei que é possível construir um futuro a partir de qualquer coisa. É possível construir uma cidade arejada a partir de ruínas. Mas para isso precisa-se de motivação, um desejo que te leva para longe. É justamente isso que eu não tenho.
O único que podia me ajudar não está aqui.
Hoseok nunca mais voltou para mim. Ele desapareceu. E me deixou em pedaços.
Autor(a): dearsunshine
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