Fanfic: A Rosa do Inverno(adaptada) | Tema: Vondy

Capítulo Um

Inglaterra, 1860

Lord Christopher Uckermann, segundo e único filho vivo do falecido duque de Rawling, não estava nada satisfeito. Não apenas porque Yorkshire não era o lugar mais agradável para passar o inverno, onde havia semanas inteiras em que o sol nunca brilhava. Tampouco porque Lady Anahí Portilla, cujo marido possuía a propriedade vizinha ao Solar Uckermann, estava naquele momento excessivamente absorvida consigo mesma para distingui-lo com sua prodigiosa atenção.

Não, Christopher estava insatisfeito por razões que não conseguiria expressar em palavras, mesmo que quisesse fazê-lo, e não queria, já que a única pessoa por perto era a viscondessa de Ashbury. A viscondessa era conhecida em toda a Inglaterra por muitos dos seus excelentes atributos, inclusive a pele clara e os tornozelos delgados e elegantes, mas um ouvido compreensivo e solidário não estava entre suas qualidades.   

“Diga a Sra. Praehurst encomendar foie gras suficiente para cinquenta pessoas”, disse lady Portilla, fazendo anotações numa lista dos diversos itens de última hora sobre os quais ela queria que Christopher falasse com a governanta antes de seus amigos chegarem de Londres para uma caçada de fim de semana em Yorkshire. “Descobri que no campo nem todos gostam de foie gras. As Herbert não sabem a diferença entre foie gras e manteiga.”   

Christopher, estirado em uma chaise longue em frente ao fogo no Salão de Recepções Dourado, soltou um bocejo. Tentou segurar, mas escapou; não teve jeito. Felizmente, Lady Portilla pouco acostumada com homens bocejando em sua presença, não estava prestando atenção.   

“Não entendo por que você tem de convidar as Herbert”, continuou Lady Portilla. O tom dela não era petulante, mas também não era de quem estava brincando. ”O pai delas pode ser o seu administrador, mas, na minha opinião, não posso dizer que ele lhe tenha trazido algum benefício, Christopher.”   

Christopher inclinou-se para frente na chaise longue, servindo-se de mais um pouco de conhaque da garrafa colocada ao alcance da mão na mesa lateral. Ele já estava bêbado e pretendia ficar ainda mais antes de a tarde se tornar noite. Um dos melhores atributos da viscondessa era não se incomodar com esse tipo de comportamento. Ou, pelo menos, nunca tocar no assunto.   

“Afinal de contas, Christopher”, continuou Lady Portilla, “se não fosse pelos `incansáveis esforços` de Sir Arthur Herbert no interesse da propriedade Uckermann, o duque agora seria você, e não aquele moleque, filho do seu irmão.”   

Christopher se recostou, deu um gole no conhaque e ficou olhando fixamente para o alto. O teto do Salão de Recepções Dourado era pintado de amarelo-claro, combinando com as pesadas cortinas de veludo das janelas. Ele limpou a garganta ruidosamente e disse com a sua voz mais grave, aquela que deixava os meninos dos estábulos do Solar Uckermann morrendo de medo: “Todos parecem esquecer que o filho de Christian é o herdeiro legal do título e da propriedade”.   

Lady Portilla fingiu não notar o tom de advertência da voz dele. “Mas ninguém nem mesmo sabia o paradeiro do menino até Sir Arthur começar essa busca intrometida…”   

“A meu pedido, lembra-se, Anahí?”

“Oh, Edward, não me trate como se eu fosse boba.” Lady Portilla jogou a pena que tinha nas mãos e se levantou da mesa de trabalho de tampo de marfim, o roçar da saia de seu vestido de pálido cetim azul-claro fazendo frufru. Dirigiu-se a passos largos para a chaise longue; a pele pálida e as madeixas loiras, quase brancas, formavam ima imagem bem bonita contra as cortinas amarelas fortes do fundo. Era esse, o motivo por que a viscondessa sempre fazia questão de que eles se sentassem ali e não no Salão Matinal Azul, que era mais confortável, porém menos favorável à sua figura.

“Teria sido a coisa mais fácil do mundo se você simplesmente dissesse ao duque que o filho de Christian também estava morto, como a mãe e o pai, e assumisse você mesmo o título”, declarou Anahí.   

Christopher levantou uma sobrancelha na direção dela, zombeteiro. “A coisa mais fácil do mundo, Anahí? Mentir para o meu pai no seu leito de morte? Ele passou os últimos dez anos amaldiçoando Christian por se casar com a filha de um vigário escocês, impedindo que o filho órfão viesse para Rawling, apesar de ser, de fato, o verdadeiro herdeiro do título. E daí, quando o duque cede e se arrepende, no último momento… Ora, Anahí! Teria sido abominavelmente desonroso da minha parte pelo menos não tentar atender o desejo do velho no leito de morte.”

“Oh, dane-se a honra!”, exclamou Lady Portilla. “Você nem viu o menino ainda!”

“Não”, concordou Christopher. Ele tinha terminado o quarto conhaque e serviu do quinto. “Mas vou vê-lo quando Herbert voltar com ele, amanhã.” Sorrindo para si mesmo, Christopher refletia. “O que parece que você não consegue enfiar nessa sua adorável cabecinha, Anahí, é que eu não quero ser duque. Ao contrário de você e, tenho certeza, da sua mamãe, cuja maior ambição na vida foi agarrar para você um marido com título de nobreza, eu ficaria perfeitamente satisfeito em não ser um aristocrata, em ser meramente um cidadão comum.”

Lady Portilla soltou um som exasperado. “E como, faça-me o favor de dizer, você teria condições de manter os cavalos de raça dos seus estábulos com o salário de um mero homem sem título ou propriedade, Lord Christopher? Ou a casa em Park Lane, em Londres? Para não falar dessa monstruosidade cheia de correntes de ar que você chama de solar. O único homem sem título de nobreza que conheço que pode manter tudo o que você tem é o Sr. Alistar Cartwright, e como você bem sabe, a riqueza dele é herdada, tanto quanto a sua. Não, Christopher, você é um filho de duque e, portanto, tem os gostos de um filho de duque. A sua única infelicidade é não ter nascido antes do seu desgraçado irmão Christian.”

anni.vondys: Chegou gatenha, postado!!