Fanfic: A Rosa do Inverno(adaptada) | Tema: Vondy

Por outro, o menino adorava os animais e devia estar horrorizado em ver a raposa que tinha perseguido ser devorada pelos cães. Então apertou o abraço, sentindo-se culpada. Lembrou-se de ter se sentado ao lado da cama de Jeremy na noite anterior, perguntando-se exatamente aquilo. E não havia dito nada porque tinha suposto que o menino sabia. Mas como ele poderia saber? Jeremy, que até algumas semanas antes passava o tempo intimidando as crianças da vizinhança ou brincando de pirata com Dulce, não podia ter a menor ideia. Todo o seu desejo de rir desapareceu e Dulce baixou a cabeça, pousando a testa contra a de Jeremy. “Oh, Jeremy”, suspirou ela. “Sinto tanto!”   

Os soluços de Jeremy se tornaram palavras. “Eles a mataram”, gaguejou ele. “Os cachorros mataram a raposa e tio Christopher ficou lá, sem fazer nada!”   

Dulce não levantou os olhos. Ela murmurou para Jeremy: “Mas, meu querido, é isso que os cachorros fazem. Você agora sabe.”   

“Mas o tio Christopher não impediu! E era um amor de raposa marrom, com o rabo pintado. Parecia com o Pickles!” Dulce viu pelo rabo dos olhos que Christopher tinha se acomodado no degrau ao lado deles, e estava sentado tão perto de Dulce que ela sentia o calor do seu quadril contra o dela. Ela percebia os odores de lã úmida, cavalo e, muito sutilmente, uísque.   

“Jeremy, meu caro”, começou ele. “Desculpe por toda aquela confusão. Eu não sabia que você se sentia assim em relação às raposas…”   

Jeremy levantou a cabeça do colo de Dulce e olhou para o tio, com tanta raiva nos olhos como Dulce nunca o tinha visto. “Você pôs o sangue dela em mim”, ele acusou estridentemente. “Eu lhe disse para não fazer isso e você fez assim mesmo!” Soluçando de novo, Jeremy mais uma vez enterrou o rosto entre os seios de Dulce.    Dessa vez, ela levantou os olhos para Christopher com uma expressão severa. “Você o batizou com sangue?”, ela o interpelou, perplexa.   

“Era a primeira caçada dele”, insistiu Christopher. “Sempre batizamos os meninos com sangue na sua primeira caçada.”   

“Desculpe-me, mas pensei tê-lo ouvido dizer há um minuto que não pensou que fosse a primeira caçada dele.”   

Christopher não conseguiu pensar em uma resposta que fizesse sentido e, consciente disso, abaixou os olhos para o menino que chorava nos braços de Dulce. Ela sentiu tanta raiva que mal podia respirar, mas a fúria era contra si mesmo. Se não tivesse passado todo o tempo pensando no tio, em vez de cuidar do sobrinho, como era seu dever, nada disso teria acontecido. Desgostosa com Christopher, seus hóspedes, mas sobretudo consigo mesma, Dulce levantou os olhos, viu um lacaio que estava por perto e o chamou.    “Você pode, por favor, me ajudar?”, pediu ela, indicando com a cabeça o menino que tinha no colo. “Acho que preciso colocá-lo na cama, mas não consigo levantá-lo.”   

Christopher imediatamente estendeu os braços e tentou pegar o menino nos braços dela, mas Dulce lhe deu um olhar capaz de fazer murchar uma planta e disse com a sua voz mais arrogante: “Não. Você não. Você já fez o suficiente”.   

“Sou tio dele”, disse Christopher, de forma tão arrogante quanto ela.   

“É mesmo? Pena não ter se lembrado disso antes.” Ao sentir Jeremy ser levantado do seu colo, Dulce levantou os olhos e sorriu educadamente para o lacaio, que pôs com destreza a cabeça do menino que chorava no ombro.    Ficando de pé sem aceitar a mão estendida de Christopher para ajudá-la, Dulce procurou a governanta, que estava bem perto, apertando as mãos, toda preocupada. “Sra. Praehurst, a senhora pode providenciar que levem um pouco de água quente e um prato de jantar para os aposentos de Jeremy?”   

“Naturalmente, senhorita”, disse a sra. Praehurt, fazendo uma mesura, o rosto comprimido de preocupação. “Lamento muito, senhorita.”   

“Eu também.” Sem nem mais uma palavra, Dulce começou a subir a escada, sem olhar para ninguém, a não ser para o lacaio, que a seguia com diligência.