Fanfic: A Rosa do Inverno(adaptada) | Tema: Vondy

“O senhor parece não compreender que o comportamento dos seus hóspedes reflete sobre o senhor, e não de forma muito lisonjeira, eu poderia acrescentar. Lucy, a Lucy que trabalhar aqui comigo, estava acabando de me contar que não dormiu a noite toda devido ao movimento de pessoas mudando de quartos e batendo as portas, tudo isso acontecendo debaixo do seu nariz…”   

“Dulce…”   

“Não vê que, com exceção dos Herbert, essas pessoas o estão usando? Elas comentam quanto custa cada prato que o senhor lhes serve, não falam de outra coisa que não seja a qualidade da porcelana Uckermann, da roupa de cama Uckermann e dos cavalos Uckermann. Nem gostam de você, Christopher. Gostam do fato de que você permite que elas abusem da hospitalidade. A sra. Praehurst me disse que alguém até arrombou a adega de champanhe ontem à noite e roubou três garrafas, e que um dos filhos do conde de Derby foi apanhado tentando abusar da lavadeira…”   

“Basta!” Christopher teve de gritar para ser ouvido. Dulce imediatamente fechou a boca e ficou em pé, com os braços caídos ao lado do corpo e os punhos cerrados, respirando com dificuldade. Ela ergueu o rosto e olhou-o desafiadoramente, os olhos verdes brilhantes de raiva.   

“E então?”, ela o inquiriu, brava, quando ele se limitou a ficar ali de pé, olhando-a com uma expressão estranha. “Não tem nada a dizer em sua defesa?”   

Christopher, em vez de gritar com ela, como a moça esperava, estava rindo, com uma expressão no bonito rosto que só poderia ser chamada de melancólica ou saudosa. Essa não era bem a reação esperada por Dulce e ela esfregou um pé descalço contra o outro nervosamente. Teria preferido um acesso de raiva àquele comportamento misterioso.   

“Você sabe”, disse Christopher com voz baixa, “que eu não sou repreendido de forma tão categórica há vinte anos? E, na ultima vez, aconteceu exatamente aqui, neste quarto?” Ele riu. “Só que, devo admitir, minha mãe nunca teve um peignoir tão atraente como o que você está usando.”   

Dulce baixou os olhos para si mesma. Santo Deus! Ela tinha se esquecido completamente que estava usando apenas um peignoir, aquele com o ridículo enfeite de plumas que Lucy havia escolhido para ela! O que, em nome de Deus, ela estava fazendo, recebendo um cavalheiro no seu boudoir vestida com roupa de dormir? Se a sra. Praehurst descobrisse, ficaria completamente chocada!   

“Peço desculpas”, disse Christopher, interrompendo a autocensura da moça, “por qualquer tratamento inadequado que você possa ter recebido aqui no Solar Uckermann, Dulce.” A expressão dos olhos dele, que estavam na sombra, era inescrutável, mas Dulce suspeitava, pela intensidade da sua voz, que ele estava sendo sincero. “Sei que você foi insultada, tanto por mim como pelo menos por alguns dos meus hóspedes, mas quero que saiba que isso não acontecerá novamente.”   

Dulce levantou uma sobrancelha com ceticismo, mas não disse nada. Estava surpresa diante da completa capitulação de Christopher e também um pouco desconfiada. Ele não tinha negado nenhuma das suas acusações - inclusive a dirigida diretamente a ele, de que, para ele, ela não era mais do que uma diversão. Seria isso de fato o que ele pensava dela?   

“E então?” Christopher saiu das sombras e Dulce viu que os traços cinzelados tinham se contorcidos, assumindo uma expressão de total contrição. “Estou perdoado?” Ele se parecia tanto com Jeremy quando pedia perdão de Dulce por algum delito, que ela riu.   

“Honestamente”, disse ela balançando a cabeça. “Vocês, homens Uckermann. Não sei o que fazer com qualquer um de vocês.”   

“Isso significa que vai jantar comigo?” Christopher deu mais um passo rápido na direção dela. Dulce não diria que a expressão dele era de ansiedade, mas havia alguma coisa que antes não estava lá. De qualquer forma, poderia ser apenas que ele estivesse impaciente pelo jantar…   

Dulce concordou de má vontade em ir ao jantar e ao baile. “Mas”, disse ela, levantando um dedo em sinal de advertência, “você mantenha aqueles seus amigos longe de mim.”   

Christopher pôs uma das mãos sobre o coração e falou com seriedade zombeteira. “Juro-lhe que não vou permitir que ninguém ofenda a sua honra esta noite, my lady.”   

“Inclusive o senhor”, disse Dulce, acompanhando-o até a porta.

“Mas é claro.” Parando na soleira da porta, Christopher pegou uma das mãos dela e lhe deu um forte beijo. Antes de soltar os dedos de Dulce, ele a olhou e disse, em voz baixa: “Obrigado”.    Dulce sentiu o calor da mão dele subir pelo seu braço. Os olhos dela se abaixaram sobre a intensidade do olhar de Christopher e, de repente, percebeu que tinha perdido o controle da situação. Murmurou alguma futilidade, mal sabendo o que tinha dito, e então ele soltou sua mão e foi embora.