Fanfic: A Rosa do Inverno(adaptada) | Tema: Vondy

“Bem, porque ela me disse hoje que acha você muito bonito”, mentir Dulce, sem nenhuma dificuldade. “E acha que você é divertido.”   

Alistair ficou todo envaidecido. “Ela acha, é? E também bonito?”   

“Sim e muito.”   

Quando a valsa deles terminou, Alistair fez uma mesura para Dulce e então tomou o caminho mais curto até Anne Herbert, que pareceu bastante surpresa ao ser convidada a dançar por um cavalheiro tão ilustre. Nada assim lhe tinha acontecido antes.    Sem parceiro pela primeira vez em toda a noite, Dulce, passou o olhar pela pista de dança, em busca de um certo casaco preto no meio de um mar de muito casacos pretos. Encontrou Christopher instantaneamente, dançando com uma mulher grande que ela não reconheceu e parecendo muito descontente com a situação. Dulce abafou um risinho. Sabia que o baile era um desperdício extravagante de dinheiro, mas, ora!, ela estava se divertindo muito!    Sentindo que os pentes da sua tiara estavam escorregando, Dulce aproveitou os poucos minutos que tinha livres entre um pedido e outro para dançar e correu para o seu quarto, a fim de que Lucy consertasse o estrago feito por todo aquele valsar. Depois de ter se refrescado e trocado observações amistosas com a criada, Dulce deixou o Quarto Rosa, ansiosa em voltar para o baile. Mas, no corredor, ouviu vozes que não reconheceu. Um dos quartos próximos ao de Dulce estava sendo usado naquela noite como uma sala para as senhoras, e diversas mulheres estavam saindo de lá, conversando baixo. Tomada por um acesso súbito de timidez, Dulce se escondeu no vão de uma porta para não ter de falar com essas grandes damas. Não se sentia nem um pouco inclinada a tanto, depois de todo o champanhe que tinha consumido.   

“Não pode ser verdade!”, exclamou uma das senhoras. “Simplesmente me recuso a acreditar nisso.”   

“Anahí insiste que sim”, disse uma outra mulher com firmeza.    “Mas onde poderia ter ouvido uma coisa dessas?”   

“Ela afirma que Portilla estava lá quando aconteceu. Em Veneza.”   

“Mas, se é verdade, porque Christopher não sabe disso?”   

“Talvez ele saiba.”

“Mas então por que permite que a irmã da sirigaita viva aqui?”    Dulce sentiu o coração começar a bater com força. Estavam falando sobre ela!   

“O que ele pode fazer? Seja isso verdade ou não, o menino continua a ser o novo duque de Rawlings. E dizem que o menino se recusava a vir sem a tia.”   

“E você sabe que a última coisa que Christopher quer é ter a responsabilidade do título…”   

“mas que Lord Christian tenha sido assassinado pelo amante da sua esposa… realmente, é demais para se acreditar! É como alguma coisa de um romance.”   

“Tem de ser verdade. Por que Anahí inventaria isso?”   

“Ela está com ciúmes. Qualquer tolo vê que a irmã atraiu o olho de Lord Christopher”, respondeu a primeira mulher.   

“Ela não está inventando”, declarou uma voz de mulher mais velha. “Eu me lembro de ouvir alguma coisa semelhante na época da morte de Lord Christian…”   

“Minhas caras! Vocês sabem o que isso significa, não sabem? Ora, aquele menino pode nem ser um Uckermann!”   

As vozes das mulheres foram ficando mais baixas à medida que se afastavam dos ouvidos de Dulce. De pé no vão sombrio, Dulce tremia, os ombros caídos.   

Não podia ser verdade. Não podia ser verdade. Como a viscondessa conseguir ser tão cruel? Dizer para todos… para todo o mundo! Sem dúvida alguém iria dizer alguma coisa para Christopher e então, o que aconteceria? Oh, Deus!   

Atravessando cegamente a galeria, de cabeça baixa, Dulce passou pela escadaria dupla e pegou o corredor, na direção da escada de serviço. Precisava ficar um pouco sozinha, em algum lugar onde pudesse evitar boatos e olhares especulativos. Instintivamente, dirigiu-se para a estufa, tomando um caminho indireto que passava pelas cozinhas, onde todos estariam ocupados demais na preparação da comida para notá-la.   

Na relativa escuridão da estufa - a única luz era a da lua, que chegava através do teto de vidro -, Dulce começou a se sentir um pouco melhor. Caminhou de um lado ao outro pelas aléias, entre os canteiros de flores, inalando o cheiro pingente de rosas misturado com o de turfa. Continuava a achar estranho ver flores tão bonitas como aquelas quando do lado de fora havia neve por toda a parte. Só ouvia a orquestra tocando no Grande Saguão. De vez em quando, ouvia um tinir de copos ou uma gargalhada que vinha de um dos corredores próximos.   

Como a sua vida havia mudado desde a vida calma em Applesby! Antes tinha dois vestidos e agora tinha mais de vinte; antes não sabia de onde sairia sua próxima refeição e agora tinha medo de ter comido demais. Aquele era o seu primeiro baile, sua primeira noite em sociedade, e veja o que estava fazendo com ela: escondendo-se com os lírios e as samambaias! Mas não podia voltar para lá, não com a viscondessa espalhando aqueles boatos. E se alguém os mencionasse a Lord Christopher? O que diria ele? O que faria?   

Um som próximo fez Dulce parar seu ziguezague e levantar a cabeça. Havia uma grande forma indistinta ao lado dos rododendros. Dulce ouviu uma respiração pesada e difícil. Santo Deus, pensou ela, sentindo arrepios nos braços. É um dos ogres dos livros de história de Jeremy…   

“Srta. Saviñon!” Era um ogre que sabia o nome dela, mas Dulce não reconheceu a voz. “É muito apropriado que eu me encontre por acaso com a senhorita aqui, junto com todas as flores exóticas.”   

Dulce apertou os olhos na escuridão. A sua reação inicial foi correr, mas não desejava mostrar covardia se pudesse evitar.

“Quem é?”, interpelou ela. “Mostre-se.”   

Atendendo à ordem, o ogre deu um passo para um espaço iluminado pela lua e Dulce deu por si olhando, com alguma surpresa, para o conde de Derby.   

“Oh”, disse ela. “É o senhor.”   

O conde deu mais um passo à frente e disse: “Sim, sou eu. Desculpe se a perturbei. A senhorita esperava alguma outra pessoa?”   

Dulce piscou. “Não.”   

“Só perguntei por que me surpreende a senhorita estar aqui enquanto toda a dança acontece no salão ao lado.” Alguma coisa nas maneiras do conde pareceu estranha para Dulce. Ela não conseguia descobrir o que era. “Tem certeza de que não ia se encontrar com ninguém? Um amante, talvez?”   

Dulce sentiu o rosto arder. “É claro que não!”, exclamou ela.   

“Que casualidade, então”, disse o conde, “que nos encontremos assim.”