Fanfic: A Rosa do Inverno(adaptada) | Tema: Vondy

Achava que estava escondendo seu segredo muito bem, dadas as circunstâncias. Ao contrário das heroínas dos romances que lera, Dulce não emagrecera nem ficara pálida. Na verdade, continuava muito bem disposta, tanto que Lady Herbert exclamava, toda vez que se encontravam, que Dulce estava mais bela do que da última vez que tinham estado juntas. Dulce sabia que a outra mulher não estava tentando lisonjeá-la. Ela falava a verdade absoluta. A nova vida no Solar Uckermann combinava muito bem com Dulce. Era uma delícia poder passar o dia recebendo socialmente as crianças do orfanato ou escrevendo cartas para membros da Câmara dos Comuns, em vez de mourejar sobre um fogão quente ou consertar buracos nas calças. Se não fosse pela sua paixão secreta pelo dono do Solar, Dulce estaria passando os dias mais felizes da sua vida. Mas, diante da situação, forçou-se a ficar satisfeita com o trabalho criativo e em ver Jeremy ser criado adequadamente.   

O Natal chegou e passou sem que o dono da casa voltasse. Mas, de qualquer forma, Christopher não era o dono do Solar Uckermann. Uma grande quantidade de presentes do tipo chegou na véspera de Natal, mas Jeremy não ficou feliz com eles, dizendo-se em voz alta que o que queria era Christopher e não mais um batalhão de soldados de chumbo. Dulce não ficou nem um pouco contente com o presente que Christopher lhe enviou, um broche de esmeralda, diamantes e rubis com o formado de uma rosa. Deu uma única olhadela à jóia, sem tirá-la da caixa de veludo, e a guardou em uma gaveta, tentando não pensar mais nisso.   

E então, quando Dulce tinha se convencido de que poderia viver muito bem sem ele e que, se cometera o erro de se apaixonar, poderia sem dúvida consertar as coisas, desapaixonando-se novamente, Christopher voltou ao solar Uckermann. Sozinho e sem dar nenhuma explicação. Simplesmente apareceu à mesa do jantar uma noite, como se nunca tivesse estado fora.   

Àquela altura, diversas mudanças tinham acontecido na casa, todas por iniciativa de Dulce. Jeremy já não tomava as refeições isolado nos seus aposentos. Comia à mesa de jantar, como um ser humano normal. A sra. Praehurst, apesar da sua resistência inicial, muitas vezes se juntava a eles na hora das refeições, já que Dulce gostava de um pouco de conversa fiada junto com a sopa de tartaruga. E a qualquer momento algumas das moças Herbert poderiam estar presentes, pois Dulce gostava da companhia delas e Anne Herbert, em particular, tinha se tornado uma parceira constante.   

Quando Christopher apareceu na sala de jantar, portanto, o choque de Dulce diante do seu retorno inesperado foi de alguma forma menos evidente do que a surpresa dele de ver uma dúzia de órfãos malvestidos sentados ao redor da mesa, piscando atônitos diante da presença dele, e o seu próprio lugar usurpado por Jeremy. Afinal de contas, Dulce tinha que disfarçar diante da sra. Praehurst e das moças Herbert. Não poderia permitir que os seus verdadeiros sentimentos fossem conhecidos por ninguém. Cumprimentou-o com calma e disse aos órfãos que ignorassem aquele homem mal-humorado e continuassem a tomar a sua sopa. Christopher, desnorteado e encaixado à esquerda de Jeremy, foi deixado às suas próprias conclusões sobre a falta de entusiasmo com que a sua volta foi recebida.   

Quando Dulce falava com ele, era com um familiaridade um pouco rude e as respostas dela às perguntas delicadas de Christopher sobre a sua saúde beiravam a impertinência. Dulce estava convencida de que não era o tipo de moça que ficava suspirando e gaguejando diante do seu amor, não quando estava tão claro que ele não tinha nenhum sentimento em relação a ela. Por isso, deu-se ao trabalho de impedir que ele pensasse que ela o amava e isso exigia ser o mais rude possível, ainda que sem chegar a ponto de insultá-lo.   

A volta de Christopher aconteceu logo depois do Ano-Novo - data que Dulce e Jeremy haviam comemorado com a família Herbert, já que Christopher estava "detido em Londres pelo clima inclemente que tornava impossível a sua viagem de volta a Yorkshire" - e foi na manhã seguinte ao súbito reaparecimento dele na sua vida que Dulce, ao arrumar um vaso de flores da estufa no Grande Saguão, viu Christopher, Jeremy a reboque, descendo a escadaria.  

 Jeremy, que se ajustara à vida no Solar Uckermann tão rapidamente que até Dulce se surpreendera um pouco, tinha sido muito mais amistoso com Christopher do que Dulce. Ele não se conformara com a longa ausência do tio. O seu lamento - "Mas, por quê? Por que tio Christopher tem que ficar tanto tempo em Londres?" - fora ouvido pela casa toda, e mais de uma vez Dulce lhe dissera para escrever, perguntando ele mesmo a Christopher, já que estava tão curioso. As respostas de Christopher sobre esse assunto - ele escrevia regularmente para o menino - eram sem dúvida insatisfatórias, pois Jeremy continuava reclamando sobre o mesmo assunto.   

Mas, naquele dia, parecia que Jeremy finalmente tinha tido o seu desejo satisfeito. Tio Christopher se dignava a passar algumas das suas preciosas horas na companhia do sobrinho que o adorava. Os dois usavam roupas próprias para sair ao ar livre - um empreendimento que exigia coragem, já que Dulce ouvia o vento uivar do outro lado da porta dupla. Apesar de já passar das dez horas da manhã, o sol ainda não tinha aparecido no céu, que estava muito nublado. Não obstante, os dois homens Uckermann passaram por Dulce sem nem sequer fazerem um gesto de cabeça na sua direção.   

De repente, ela perdeu a calma.   

"E posso saber onde vão os dois?", interpelou ela, a voz dissimulando doçura, mas os olhos verdes soltando fogo.