Fanfic: A Rosa do Inverno(adaptada) | Tema: Vondy

Jeremy deu meia-volta, assustado. Quando viu Dulce, o rosto sardento se abriu em um sorriso largo, todo orgulhoso. "Olá, Dulce", disse ele, alegremente. "Tio Christopher e eu vamos dar uma olhada em algumas das minhas propriedades. Preciso começar a aprender sobre os meus deveres de duque, você sabe."    Dulce jogou uma rosa amarela de talo espinhoso dentro de um vaso que estava diante dela com mais força do que talvez fosse necessário. "Sei", disse ela, lançando um olhar carregado a Christopher. "Que ótimo! E a sua aula de alemão?"   

Jeremy fez a devida cara de aversão. "O alemão pode esperar", disse: "Tenho o dia inteiro para o alemão."   

Christopher estava de pé em silêncio ao lado do sobrinho, com o chapéu na mão, e deu um passo para a frente, como se viesse em socorro do menino. "Só vai levar uma ou duas horas, srta. Saviñon", disse ele, com grave delicadeza.   

"Há um arrendatário a quem ainda não apresentei o novo duque. Ele tem um filho da idade de Jeremy e eu pensei que…"   

Dulce levantou as sobrancelhas. "E desde quando o senhor se interessa pelos assuntos dos arrendatários de Uckermann, Lord Christopher?", perguntou ela, friamente. "Corrija-me se eu estiver errada, mas pensei que o motivo de o senhor se empenhar tanto em encontrar Jeremy era exatamente para não ter que cumprir deveres com este."   

Christopher enfrentou impassível o olhar dela. "Pensei que talvez estivesse na hora de fazer uma tentativa."   

"Santo Deus!", disse Dulce com suavidade. "Londres deve ter estado realmente monótona para inspirar no senhor um desejo ardente de conhecer melhor os seus arrendatários." Ela gostaria de morder a língua por ter dito isso, mas, depois que já tinha falado, não havia mais nada a fazer. Parecia uma esposa rabugenta. Um rubor subiu-lhe ao rosto, mas manteve os olhos focados nas flores.    "Sinto muito se assuntos importantes…", a voz de Christopher, cheia de sarcasmo ao pronunciar as duas últimas palavras, "…me mantiveram afastado de Uckermann mais do que a senhorita gostaria, srta. Saviñon", disse ele. "Porém, não havia outro jeito."    "Não poderia me importar menos, Lord Christopher, sobre as suas idas e vindas", disse Dulce com um tom de voz que, esperava ela, fosse desdenhoso e mordaz. "A não ser no que se refere a Jeremy. Espero que o senhor não tenha se esquecido do último pequeno passeio que fizeram juntos."   

Foi a vez de Christopher corar. Dulce, surpresa, observava o forte queixo dele ficar vermelho-escuro, enquanto ele se lembrava do infeliz desenlace da caçada à raposa. "Não, não me esqueci", disse Christopher e a sua voz também parecia rabugenta. "Mas fazer uma visita profissional a uma arrendatário não é como a caça à raposa, Srta. Saviñon. Ninguém vai sair ferido."   

"Diga isso ao filho do arrendatário", disse Dulce. O duque de Rawlings, apesar do seu novo título, se sentia na obrigação de esfregar na neve o rosto de qualquer menino com quem tinha contato. Dulce não tinha certeza se Christopher estava a par desse novo hábito de Jeremy.   

"Acredito ser perfeitamente capaz de refrear Sua Graça", Christopher disse- lhe, "caso surja a necessidade." Dulce não duvidava disso, mas, ao contrário de Christopher, sabia que Jeremy tinha a tendência de morder. "Se o senhor tem que ir", suspirou ela, "prefiro ir com o senhor."   

"Como quiser", disse Christopher. Não foi tanto o tom resignado de Christopher quanto o jeito com que evitava o olhar dela que fizeram Dulce tomar aquela decisão. Ela levantou o queixo, gesto inconsciente que, quando criança, era a piada da aldeia, e o encarou.   

"Então eu vou", disse Dulce e mandou uma criada pegar o seu manto e o seu chapéu, com o coração batendo forte. Santo Deus! Ela estava muito agitada e eles só iam pegar a estrada para visitar um arrendatário! Componha-se, Dulce.   

Mas, quando a criada voltou com as coisas dela, Dulce mal conseguiu amarrar as fitas do seu gorro, de tanto que os seus dedos tremiam. Felizmente, podia esconder as mãos no regalo. Acompanhou Jeremy e seu tio e, até quando Christopher a ajudou a entrar na carruagem, estava certa de que ele não percebera o seu nervosismo por estar tão próxima dele. Acomodou-se no assento de couro com ar de indiferença, mantendo o rosto olhando para o outro lado. Sentiu as molas de debaixo do banco cederem sob o peso de Christopher quando ele se sentou ao seu lado. Jeremy, como sempre, insistiu em se sentar com o cocheiro, de forma que, quando a carruagem passou pelo portão da casa, Dulce encontrou-se a sós com Christopher pela primeira vez em mais de um mês.

Em um momento como aquele, muito poderia ser dito. Dulce manteve a cabeça teimosamente voltada para a janela, o rosto escondido dentro da larga aba de pele da sua toca. Jurou não dizer nenhuma palavra, a não ser que ele falasse primeiro. Christopher estava sentado tão perto que Dulce sentia o calor da coxa dele contra o seu quadril e, ocasionalmente, quando as rodas da carruagem caíam em um sulco da estrada, o ombro dele roçava o seu. Por fim, depois de quase um minuto de silêncio, Christopher pigarreou e se aventurou, desajeitado: "Jeremy parece ter se adaptado bem desde que fui embora."   

Dulce, ainda sem tirar os olhos da janela, respondeu: "Sim, se adaptou mesmo".   

Quando ficou claro que nenhuma nova informação seria dada, Christopher pigarreou de novo e perguntou: "Desculpe, madame, mas eu a ofendi de alguma maneira?".   

Isso foi o suficiente para garantir a atenção total de Dulce. Ela girou a cabeça e olhou-o nos olhos cinza e melancólicos. Christopher parecia sinceramente confuso com a atitude reservada dela. Ótimo. "Ofendeu-me?" Dulce conseguiu parecer inocente. "Não sei do que o senhor está falando."