Fanfic: A Rosa do Inverno(adaptada) | Tema: Vondy

 "Sei que fiquei fora mais tempo do que gostaria de ter ficado…"   

"Ora", disse Dulce, distraída. Voltou a atenção para a paisagem de inverno que passava pela janela. "Tenho certeza de que o senhor encontrou muita coisa para diverti-lo em Londres. Sem dúvida há mais distrações estimulantes lá do que nos ermos de Yorkshire." Deu uma olhadela clandestina para ele, para ver como reagia às suas palavras.   

Christopher parecia pouco à vontade. Uma das suas mãos enluvadas descansava sobre o joelho e a outra no banco, entre eles. Os dedos das duas mãos estavam cerrados com força. Dulce afastou o olhar de novo, satisfeita porque ele estava tão nervoso quanto ela.   

"Passei uma grande parte do meu tempo em Londres cuidando de negócios", disse ele, tenso.   

"Sim, sim, foi o que o senhor disse. Isso deve ter sido uma grande decepção para Lady Portilla." Dulce olhou-o com um sorriso doce no rosto, atrás do qual, porém, estudava a reação dele. Um dos músculos do queixo de Christopher, aquele que sempre começava a se contrair quando ele estava aborrecido ou irritado, aquele de que Dulce sentira falta com uma intensidade febril no período em que ele estivera em Londres, começou a pulsar. Dulce, de sobrancelhas erguidas, observou o músculo.   

"Não saberia dizer se foi ou não", afirmou Christopher, e então era ele quem desviava o olhar. "Não a vi muito na cidade."   

"Não viu muito a viscondessa?" Dulce se sentiu ridiculamente feliz e, para esconder a sua alegria, bateu no teto da carruagem com os nós dos dedos e gritou: "Jeremy? Você não está com frio aí em cima?"   

A voz de Jeremy, descontente, flutuou na direção deles. "Não!"   

"Bem, se você ficar com frio, peça para Bates parar para você entrar."   

Jeremy não respondeu. Detestava que a tia o tratasse como bebê. Dentro da carruagem, Dulce se acomodou melhor no assento, as mãos enterradas no regalo macio da pele, o nariz e as faces rosados de frio e o coração batendo de felicidade.   

"Ah, Dulce", disse Christopher. Ela o olhou e viu que ele estava virado para a janela.   

Qualquer coisa poderia ter sido dita em um momento e Dulce, intensamente consciente da proximidade dele, sentou-se na beira do banco, o coração batendo, cheio de expectativa. Será que tinha acontecido um milagre? Christopher teria abandonado a viscondessa porque percebera o seu amor por Dulce? Teria, por fim, percebido que, apesar de todas as mulheres sofisticadas e exóticas das suas relações, a que estava mais próxima do seu coração era a mais próxima, em casa? Que, apesar das diferenças de idade e experiência entre eles, os dois eram feitos um para o outro?   

Christopher tossiu novamente. "Quero lhe perguntar se você… ou melhor, se você ou… se…"    Dulce, observando o quanto ele estava pouco à vontade, percebeu, horrorizada, que Christopher estava na dúvida se ela estava ou não grávida. Com as faces quentes, respondeu-lhe, antes de conseguir se conter: "Você não acha que eu teria lhe contado algo se estivesse?"   

Christopher parecia aliviado, mas não muito. "Bem, eu não tinha certeza. Você foi tão inexorável em relação a… tudo."

Sentindo o seu rosto pegar fogo de constrangimento, Dulce virou a maçaneta, abrindo a janela de correr mais próxima dela. O frio vento do inverno fez os seus olhos doerem, mas pelo menos estava resfriando o seu rosto carmesim.   

"A minha proposta daquela noite ainda está valendo", disse Christopher com voz grave. "Caso você tenha alguma dúvida."   

Dulce fechou os olhos, sentindo o gelo e a neve contra a testa. O maior desejo dela era não ter sido tão tola de insistir em ir junto naquela excursão ridícula. O único resultado seria que ela ia se sentir mais infeliz do que nunca.   

"E a minha resposta continua a mesma", disse Dulce com a voz dura. "Caso você tenha alguma dúvida."   

Christopher ficou calado por vários minutos depois disso, e os únicos sons eram o rangido dos bancos de couro, o tinido dos arreios dos cavalos e as rodas da carruagem triturando a neve. Dulce rezava para que Christopher não dissesse mais nada. Sentia que, apesar de sua força resolução, poderia recuar e aceitar a proposta, mandando para o inferno as consequências. E daí que ele não a amava? Ela o amava o suficiente para os dois.   

De repente, Christopher disse: "Bem, acho que você vai rir ao ouvir isto, mas Alistair - naturalmente você se lembra de Alistair Cartwright, não se lembra, Dulce?". Diante do frio gesto dela indicando que se lembrava, ele continuou, falando rapidamente: "Bem, é danado de estranho, você sabe, mas Alistair está me perseguindo nessas últimas semanas. Um dos motivos por que voltei para casa foi para fugir das lamúrias incessantes dele, na verdade. Mas temo que Alistair tenha posto na cabeça que está apaixonado por você e não vai ficar satisfeito enquanto não receber permissão para fazer-lhe a corte."   

Se Dulce não tivesse passado as últimas semanas escondendo os seus sentimentos verdadeiros, não teria sido capaz de dissimular tão depressa quanto fez. Sem um segundo de vacilação, ela sorriu e disse: "Oh? Alistair Cartwright? Que engraçado!".   

"Engraçado?" Os punhos de Christopher, que estavam cerrados, relaxaram. Recostou-se no banco de couro e sorriu. "Não sei se Alistair vai ficar muito lisonjeado com a sua reação."