Fanfic: A Rosa do Inverno(adaptada) | Tema: Vondy

Surpreso, Christopher abaixou os olhos e viu que a mesa estava posta para dois. O que o seu sobrinho estava devorando em grandes bocados - fosse o que fosse - cheirava divinamente. Lembrando-se com culpa dos seus lacaios tiritando de frio do lado de fora, Christopher disse: “Bem, eu…”

“Não tenho comida para todos”, disse Dulce, sem rodeios. “O senhor deve mandá-los para o pub da aldeia. Eles têm um ótimo sanduíche de queijo e salada. Na verdade, talvez o senhor queira juntar-se a eles.”

“Bruxa”, acusou-a Christopher.   

Ela sorriu, encantada. “Nem um pouco. Se fosse, faria o senhor desaparecer.”

Quando Christopher voltou, depois de despachar os cocheiros e lacaios para o pub, havia um terceiro lugar à mesa e uma jarra de cerveja estava perto da tigela fumegante posta no lugar dele. Essa pequena extravagância o surpreendeu e comoveu.

Dulce Saviñon não possuía muita coisa, mas estava disposta a dividir o que tinha. A mulher era um monte de contradições que o deixava confuso e Christopher descobriu que estava cada vez mais atraído por ela.   

Isso, juntamente com a descoberta de que o guisado que ela fazia era delicioso, fez Christopher acreditar que corria um perigo realmente muito grande. Já tinha sido tolo o suficiente para beijá-la. E não iria permitir-se ser estúpido a ponto de se apaixonar por ela. Melhor tê-la na defensiva, declamando as suas convicções políticas liberais, do que sentada de frente a ele na mesa, delicadamente bebericando cerveja e parecendo um anjo.   

Christopher limpou a garganta e disse, sem preâmbulos: “E então, Jeremy. Você gostaria de ter a sua própria carruagem como aquela lá fora?”   

Jeremy baixou a colher, os olhos cinza arregalados. “Se gostaria?”, gritou. “Ora, eu iria direto até a casa de Brandon McHugh e cuspiria no olho dele…”

“Você não vai fazer nada disso”. Disse Dulce, baixando o seu copo com força.” Lord Christopher, eu agradeceria se não pudesse ideias na cabeça do menino.”   

“Mas Jeremy é o duque de Rawling”, disse Christopher, dando de ombros com falsa inocência. “Se ele quiser comprar uma carruagem como a minha e ir até a casa de Brandon McHugh e cuspir no olho dele, isso é uma prerrogativa de Sua Graça.”

Os olhos verdes de Dulce crepitavam como o fogo. “Lord Christopher…”

“Um duque precisa ter o seu próprio cavalo”, prosseguiu Christopher, como se não a tivesse ouvido. “Portanto, é claro que você e eu teremos que fazer uma viagem a Londres para conseguir um muito bom, Jeremy.”

“Um cavalo?” Pela primeira vez desde a sua chegada, Jeremy olhou para o tio com verdadeiro respeito. “Um cavalo meu? Um cavalo de verdade? Não a droga de um pônei?”

“Jeremy”, a tia disse calmamente. “Não fale assim.”

“Um cavalo de verdade”, disse Christopher rapidamente. “Um cavalo de caça, com seis palmos de altura para você e uma… égua cinzenta pintada para a Srta. Saviñon.”

“Ao contrário de um menino de dez anos, Lord Christopher, a Srta. Saviñon não se deixa comprar por um cavalo”, disse Dulce com um sorriso levemente amargo. Ainda assim era um sorriso e Christopher foi adiante, aproveitando a sua vantagem.   

“E isso não é tudo, Jeremy. Você vai ter o seu próprio quarto, assim como uma sala de estudos com os melhores tutores que o dinheiro pode comprar e um aposento cheio de brinquedos.”

O rosto angelical levantou-se, olhando para o tio, e Jeremy disse: “Eu nunca tive brinquedos antes. Vovô disse que eles são para bebês.”

“Ora, você terá muitos brinquedos, Vossa Graça”, declarou Christopher. Ele se inclinou e levantou o menino, acomodando-o no colo. Para sua surpresa, Jeremy não protestou. “O único problema, Jeremy, é que a sua tia Dulce não quer que você vá comigo.”

Dulce lhe deu uma olhada que poderia ter congelado lava vulcânica. “Isso não é bem o único problema, Lord Christopher”, disse ela.   

“Não há nada”, perguntou Christopher, “que eu pudesse dar à sua tia para que ela queira vir conosco para a mansão Uckermann?”   

Jeremy observou Dulce, do outro lado da mesa. “Não sei”, disse o menino, incerto. “Ela parece brava. O que o senhor fez para ela, afinal de contas?”

“O que você acha de um novo vestido?”, arriscou Christopher, ignorando a indagação do menino. “Você não gostaria de ver a sua tia Dulce usando um vestido novo, Jeremy? Um vestido assinado pelo Sr. Worth? Ela não ficaria parecida com um anjo?”

O menino fez que sim com a cabeça, sem muita convicção, obviamente sem saber do que Christopher estava falando, e daí se agitou para se aconchegar melhor. “Eu sempre acho que Dulce parece um anjo, não importa o que ela esteja vestindo.”

“Isso é, sem dúvida, verdade. Oh, meu Deus, a sua tia vai ter todos os vestidos novos que quiser, e as joias também. E as suas próprias criadas, e…” Ele tentava desesperadamente pensar em alguma coisa agradar aquela moça. Ao contrário de suas amantes, ela parecia totalmente indiferente à menção a vestidos Worth e joias. Foi então que se lembrou dos jornais. “E toda uma biblioteca a sua disposição, uma das melhores do país, e seus próprios jornais, não os que já foram lidos por alguém…”   

Isso pareceu despertar a atenção de Dulce. Ela fitou-o com um olhar ainda mais frio.   

“Oh” disse Jeremy. “Dulce gosta de jornais. E de livros também. Você ouviu o que o meu tio disse, Dulce? Você vai ter livros e jornais, tantos quanto quiser.”   

“Eu ouvi”, disse Dulce impassível.   

Christopher apressou-se a acrescentar: “E ela vai ter uma renda para gastar como quiser, de não menos de mil por ano e…”.   

“E uma cavalo de verdade?”, perguntou Jeremy novamente. “Todo meu?”

“Sim. E uma estufa em que as rosas crescem o ano todo, até no inverno.”   

Dulce mordeu o lábio inferior e, ao afastar os dentes pequenos e regulares, deixou-os suculento e vermelho como sangue. “Agora o senhor está simplesmente sendo ridículo. Quem já viu falar de rosas o ano todo, especialmente e Yorkshire?”

Christopher tentou tirar os olhos da boca da moça, que tinha a forma de arco e era muitíssimo desejável. Ele se perguntou se vigário a tinha beijado e sentiu um profundo arrependimento por não ter surrado o homem.   

“Pois no Solar Uckermann temos as rosas”, disse ele. Não estou lhe contando mentiras. Venha comigo e veja por si mesma. Como parte do acordo, continuarei, com satisfação, a pôr para correr todos os seus pretendentes não desejados, sem cobrar nada por isso.”