Fanfic: A Rosa do Inverno(adaptada) | Tema: Vondy

“Então esta é a sua opinião sobre esse assunto?”, disse, ríspido, fingindo estar contrariado. Ela fez que sim com um movimento resoluto do pescoço e ele perguntou: “E posso lhe perguntar que direito você tem de remexer nos meus livros?”.   

“Não são de forma alguma seus livros”, respondeu Dulce, torcendo o nariz com arrogância. “São os livros de Sir Arthur. E, agora que ele foi investido como o novo duque de Rawlings, são os livros de Jeremy. E eu sou sua guardiã, portanto tenho todo o direito de examinar o que foi deixado para ele. E isso inclui todas as contas domésticas.” Tossindo, Dulce continuou: “Tenha dó, Lord Christopher, fiquei por demais surpresa de ver o quão esbanjador o senhor é. Cem libras por ano em gravatas? O senhor é tão afetado e vaidoso que não pode usá-las mais de uma vez?”   

Christopher estava ficando vermelho de constrangimento diante daquela repreensão. Vaidoso? Afetado? Ele? Talvez Alistair Cartwright, mas não…   

“É claro que o senhor tem todo o direito de gastar a sua herança como achar conveniente, my lord.” Dulce deu de ombros enquanto voltava a examinar rapidamente as páginas do livro de contabilidade doméstica. “Mas parece piada tentar fazer Claire Lundgren passar por uma nova égua…”   

Christopher engasgou de tanta surpresa. “O quê?”

“Honestamente, Lord Christopher, o senhor acha que ninguém lê os jornais? Eu sei muito bem que Claire Lundgren não é nenhuma égua, mas uma atriz e que esse estábulo que o senhor alugou para ela na rua Cardington é, na realidade, uma casa.”   

“Ora, que história é essa?”, disse Christopher, quando conseguiu se recuperar. “Isso foi… Isso foi uma despesa necessária!”  

“Oh?” Os cantos da boca de Dulce desenharam um sorriso. “Entendo. O senhor se cansou dela e precisou suborná-la, não é? Estou muito envergonhada com o senhor, my lord. Tenho certeza de que ela teria ficado satisfeita com algo em uma área menos cara.”    

Christopher estava tão surpreso com a audácia da moça que só pôde soltar uma risada sarcástica. “Ora!”, exclamou ele, cruzando os braços. “Agora você está revelando as suas características escocesas.* Não notei nada dessa parcimônia quando se tratava de comprar um novo guarda-roupa para você!”   

“Levando-se em consideração”, interrompeu-o Dulce furiosa, “que até então eu nunca tinha tido mais de dois vestidos na vida,a credito que merco as meras duas dúzias que o senhor tão generosamente mandou fazer para mim em Londres. Se o senhor se lembra, essa era uma das condições estipuladas antes de eu concordasse em vir para Rawlings, ato que começo a lamentar, já que só tive sofrimento…”   

“Oh, sem dúvida você parece estar sofrendo muito, enfiada em uma grande cama, rodeada de rosas e sem fazer nada o dia todo a não ser meter o nariz nos assuntos de outras pessoas.”   

“Quanto aos escoceses serem pães-duros”, Dulce respondeu brava, jogando para trás as cobertas e levantando-se sobre os joelhos, como se o menosprezo aos seus compatriotas apenas então tivesse sido absorvido, “prefiro fazer parte de um país que sabe como guardar dinheiro do que um que o esbanja em fontes de champanhe!”   

Christopher se dirigiu a passos largos para a cama, inclinando-se e apoiando as mãos fechadas sobre o livro de contabilidade que ela tinha deixado de lado, de forma que seu rosto ficou a apenas alguns centímetros de distância do de Dulce. “Deveria experimentar um pouco de champanha algum dia”, sugeriu ele, malicioso. “Se quer saber a minha opinião, você precisa disso.”   

“O que você quer dizer com essas palavras?”, inquiriu Dulce. Ela estendeu o braço e o cutucou no peito com o dedo indicador. “Eu o venço em uma disputa de quem bebe mais quando você quiser. É só dizer quando e onde.”       

Christopher baixou os olhos para o dedo que pressionava os botões do peitilho engomado da sua camisa branca. Era um dedo pequeno, de unha curta, porém bem esculpida. Mas não era tanto o dedo que interessava Christopher, e sim a mão. O que faria Dulce, perguntou-se, se ele agarrasse aquela mão e a colocasse onde o deixaria mais satisfeito?    

*Tradicionalmente, os escoceses têm fama de serem pães-duros, teimosos e sorumbáticos. (N. T.)