Fanfic: A Rosa do Inverno(adaptada) | Tema: Vondy

“Sobre o que você disse hoje à tarde.” Christopher olhava fixamente à sua frente e, quando Dulce levantou os olhos para ele, viu um pequeno músculo se contraindo no queixo magro. “Sobre como eu lhe pareço alguém que tem…”, ele pigarreou, “características femininas.”   

“Ora”, disse Dulce, tentando sem muito sucesso esconder um sorriso. “Aquilo!”   

“Sim, aquilo. Tenho pensado um pouco nisso.”   

“Meu Deus!”, disse Dulce, segurando-se para não suspirar de admiração quando transpuseram a porta da sala de jantar. Já vira a sala naquela tarde, mas então a mesa não estava posta com a prataria Uckermann e os candelabros não haviam sido acesos. O jogo de luz refletia no teto alto e em arco era de tirar o fôlego. Dulce por pouco não perdeu o rumo da conversa. “Se tivesse imaginado o abalo que um comentário impensado como aquele faria”, disse ela, como que desatenta, “teria mantido a boca fechada.”   

“Não”, disse Christopher. Ele a encaminhou para a cadeira à sua direita na longa mesa de jantar, mas perto o suficiente, ela notou, da enorme lareira e seu fogo alto, para evitar que Dulce se resfriasse novamente. “Você não teria. Acredito que inventou isso e o disse com a intenção de me irritar. E acho que sei por que.”   

Dulce levantou as suas sobrancelhas delicadamente arqueadas mais uma vez. “Sabe?”, perguntou. Um lacaio se apressou a segurar a cadeira para ela se sentar, mas Christopher o dispensou com um gesto, e afastou a cadeira de Dulce ele mesmo.   

“Sei”, disse Christopher. Ele se inclinou e falou, em voz baixa, diretamente em seu ouvido, enquanto ela ajeitava com os dedos o franzido de seu vestido. “Acredito que foi uma farpa com a intenção de me manter à distância.”   

Dulce quase bufou, mas lembrou-se de onde estava bem a tempo. “O que você está querendo dizer com isso?”   

“Não se faça de inocente comigo. Você sabe a que eu me refiro. A nossa… ahnn… conversa ontem no seu quarto…”   

Dulce olhou ao redor rapidamente, as faces ficando escarlate de imediato. “Lord Christopher!”  

“Sim, foi bem chocante, não foi?” Christopher pareia satisfeito com a reação dela, o que a deixou furiosa. “Damas não casadas e cavalheiros como eu não devem se entregar a essas atividades, não é? Mas acho que você está mais chocada com o fato de gostar muito dos meus avanços do que por eu tê-los feito…”   

Dulce quase engasgou. “Não seja ridículo!”   

“Você é quem está sendo ridícula.” Toda a satisfação consigo mesmo desapareceu da voz grave dele e em seu lugar surgiu alguma coisa que parecia raiva a Dulce. “Você pode negar que existe alguma coisa entre nós, Dulce? Pode?”   

“Posso, com toda certeza”, mentiu Dulce sem hesitar nem por um momento. “Sente-se, eles estarão aqui dentro de um momento…”   

“Ora, mas eu não posso”, disse Christopher, sem entonação na voz. De repente, Dulce ficou tensa, ao sentir os dedos frios dele na sua nuca. Ele parecia estar acariciando os fiozinhos de cabelo que tinham escapado do penteado feito por Lucy. O toque de suas mãos, junto com as palavras seguintes, provocou arrepios para cima e para baixo da coluna dela. “Eu desejo você, Dulce. E parece que você se esquece de que estou acostumado a conseguir o que quero.”   

“Então temo que vá ficar decepcionado”, disse prontamente Dulce, mas a sua boca estava tão seca que ficou surpresa até de ter conseguido falar.   

Christopher baixou os olhos e fitou a coluna esbelta do pescoço de marfim. “Não sei o que você quer dizer.”   

“Bem, veja você, também estou acostumada a conseguir o que quero.” Dulce notou a direção do olhar dele e baixou os olhos, vendo a frente do seu vestido. Tinha certeza de que o Sr. Worth não fizera aquilo de propósito, mas Dulce percebeu tardiamente que, quando alguém estava de pé e ela sentada, a pessoa podia olhar diretamente para o corpete do vestido e ter uma vista sem obstáculos dos seus seios erguidos. Apenas, felizmente, os seus mamilos rosados estavam fora da vista devido ao bojo de renda do espartilho.   

Dulce engoliu em seco e continuou, com temeridade, sacudindo a cabeça levemente para trazer a atenção de Christopher de volta às suas palavras e para longe dos seus seios. “E, se nós dois estamos acostumados a conseguir o que queremos, isso quer dizer que um vai acabar sofrendo uma decepção.”   

“Com toda certeza espero que não”, disse Christopher suavemente, ainda falando na orelha de Dulce. De repente, ela sentiu os dedos fortes dele se moverem da nuca para seus ombros nus. “Sempre existe a possibilidade de chegarmos a um acordo de seja agradável para nós dois.”   

Dulce virou-se na cadeira, de forma a olhar para ele, que estava de pé atrás dela, os olhos apertados de desconfiança. “Lord Christopher”, disse. “O senhor está me cortejando?”   

O sorriso dele foi claramente diabólico. “E se estiver?”   

Ela disse, empertigada: “Então acho que devo lembrá-lo de que estou aqui sob a sua proteção e que seria uma coisa escandalosa se o senhor tentasse me seduzir.”   

Pegando o guardanapo, Dulce desdobrou-o com um estalido, som com que pretendia pôr fim àquela conversa. Mas Christopher continuou a olhá-la fixamente, de cima para baixo, com expressão não muito diferente da de Jeremy quando lhe cortavam a sobremesa. Ele não conseguia ter a menor ideia do que essa moça estava tramando. A intenção dela seria simplesmente deixá-lo louco? Nesse caso, estava conseguindo. Nunca tinha conhecido uma mulher tão irritante. Ela sem dúvida gostava de seus beijos, no entanto, se recusava firmemente a admiti-lo! Bem, ele merecia aquele tratamento, por se ter permitido ficar tão fascinado por ela. Afinal de contas, era exatamente o tipo de comportamento que seria de se esperar de uma virgem.   

Alistair Cartwright, entrando na sala com a viscondessa pelo braço, viu Christopher inclinado sobre a cadeira de Dulce de maneira íntima e falou alto: “Ei! o que os dois estão cochichando? Você sabe o que a minha preceptora me dizia sobre cochichar à mesa: ‘quem cochicha, o rabo espicha’”.   

O olhar de Christopher deixou Dulce e se dirigiu, furioso, para o seu barulhento e inconveniente hóspede. Ao ver o lampejo assassino no olhar do seu anfitrião, Alistair soltou uma risada assustada. “Nossa, Christopher! Por que está me olhando assim? Tenho rapé no rosto mais uma vez?”   

“Vamos discutir isso depois”, resmungou Christopher, caminhando para a sua cadeira, “depois do jantar.” Alistair depositou a viscondessa na sua cadeira à esquerda de Christopher e foi saracoteando para o seu lugar. Christopher não disse nem mais uma palavra e se dedicou a acabar com a sopa. Alistair, o cabelo loiro caindo sobre um olho, como o de um menino, murmurou audivelmente: “A minha preceptora também dizia que ‘Amor fraco não merece dama’”.