Fanfic: A Cama da Paixão - AyA - Adaptada | Tema: Rebelde, AyA, Ponny, RBD, Romance
O som de espadas chocando-se e as imprecações dos homens enchiam o Angleo's, clube de esgrima frequentado por todos os cavalheiros da alta sociedade londrina.
Dylan Moore já estava lá quando Alfonso chegou. Costumavam treinar juntos todos os dias, mas ultimamente Alfonso se mantivera muito ocupado tentando reconquistar sua esposa.
Uma semana inteira se passou desde que haviam encontrado com Lady Darwin, na Bell's. Tentou falar com Anahí diversas vezes, mas ela se recusou a vê-lo. Naquele dia expiravam as três semanas que Anahí pedira, mas, quando Alfonso foi buscá-la, os baús não tinham sido arrumados. Na verdade, ela nem sequer o recebera.
A menos que quisesse usar os meios legais, ele e Anahí se encontravam num impasse. Alfonso não sabia o que fazer. Sentia-se como uma caldeira pronta para explodir. Por isso, pediu a Dylan que o encontrasse no Angleo's para que pudesse extravasar um pouco da tensão no treinamento.
— Pede-me para encontrá-lo aqui e chega atrasado!
Alfonso não disse ao amigo que se atrasara porque estava preocupado, frustrado e, pior de tudo, sem esperanças. Ficou ali, parado, observando Dylan tirar o casaco e a gravata, que entregou ao funcionário, perto da porta. O empregado saiu, e Alfonso escolheu sua espada favorita.
— É melhor tomar cuidado comigo, hoje, Dylan. Estou de péssimo humor e pretendo descontar em você. — Brandiu a espada no ar. — Mulheres parecem ter parte com o demônio.
— Problemas conjugais? — Moore indagou, com simpatia.
— Você não sabe nem da metade.
Os dois ficaram de frente um para o outro, deram um passo na posição en guarde, cruzaram as lâminas e deram início ao treino.
— A cidade toda comenta que Lorde e Lady Herrera estão se reconciliando. Ou será que não estão?
— Reconciliando? — Alfonso deu um salto para a frente e golpeou duas vezes com tamanha força que seu oponente teve de recuar vários passos para suportar os golpes.
— Vocês foram vistos juntos no Covent Garden. Piqueniques e passeios de carruagem... — Dylan começou a rir. — Beijou sua esposa no Hyde Park, levou-a ao museu, compraram cortinas novas juntos. Isso soa como reconciliação, para mim.
— Digamos que foi mais uma trégua no meio de uma guerra sem-fim. Belo concerto, brilhante sinfonia — disse, tentando desviar do assunto.
— Obrigado. — Moore atacava, Alfonso defendia, e as espadas se chocavam no ar com o som característico. — Ouvi dizer que Lady Darwin também foi às compras na semana passada. Essa foi a razão de a trégua ter acabado?
Ele deveria saber que Dylan não ia parar.
— Será que meu casamento é seu tema favorito agora? — Alfonso andava em círculos, esperando pelo próximo movimento do adversário.
— Não. — Moore tornou a sorrir. — Não conseguiu amansá-la, nem trazê-la de volta com um beijo ou dois, não é?
Alfonso não aceitou a provocação.
— Pelo visto, não.
— Ela o mandou para o inferno, não foi? — Moore sabia o suficiente sobre as mulheres para não esperar pela resposta. — Quando você descobriu que precisava de um herdeiro e se aproximou, o que achou que Anahí faria? Que entenderia sua posição e cumpriria seu dever? Ou então que voltaria correndo para sua cama, só porque você tem fama de ser um excelente amante?
— Não me aborreça, Dylan!
Moore desatou a rir, mas Alfonso continuava sério.
— Não tenho uma esposa. E faz mais de oito anos.
— Bem, nesse caso, quem é aquela linda dama que anda por aí se apresentando como Lady Herrera? — Moore empurrou com o punho, forçando as lâminas em arco em direção ao teto, e trocou de posição com Alfonso, para atacar.
Prevendo o movimento, Alfonso se afastou e evitou o golpe. Retornou para a frente de seu oponente e, quando ele se virou, colocou a ponta da espada em seu peito.
— Ponto! — E retornou à posição inicial.
— Sabe do que estou falando. — Moore acompanhou Alfonso ao centro do salão. — Olhos lindos, boca pequena... Lembro-me de ver você se casando com uma mocinha assim há alguns anos.
— Duas pessoas vivendo em casas diferentes e dormindo em camas separadas não é um casamento. É uma piada.
Aço contra aço, a luta prosseguia. Um atacava, o outro defendia, pois os dois tinham a mesma destreza.
— Uma piada, Alfonso? Mas não o vejo rindo. Por que será? — Alfonso não respondeu. Ameaçou com a esquerda e atacou com a direita, mas seu adversário não se deixou enganar. Moore desviou, e a lâmina atingiu a parede. Antes que pudesse se recuperar, Moore o atingiu no quadril.
— Ponto! — gritou Moore. — Não está se concentrando, camarada.
— Acha mesmo? Ainda assim consegui marcar um ponto agora há pouco.
Os dois voltaram à posição en guarde, tocaram as espadas e reiniciaram. Continuaram em silêncio por vários minutos, durante os quais só se ouvia o ruído de lâminas se chocando. Não demorou muito para Moore tornar a falar:
— Tenho uma sugestão que poderá ajudá-lo a alcançar a paz com sua esposa.
— Dylan, está casado há apenas sete meses. Espere mais alguns anos e depois venha me dar conselhos.
— Falo sério, meu amigo. Pelo menos me ouça. Sei que não vai gostar do que tenho a lhe dizer, mas pode ser útil.
Alfonso sentiu sinceridade na voz do amigo, e concordou em escutá-lo:
— Qual a sugestão?
— Diga a Anahí que gostaria que fossem amigos.
— Que absurdo! Achei que estivesse falando sério, mas isso é uma bobagem sem precedentes.
— Alfonso, torne-se amigo de sua esposa.
— Meu caro, onde você tem vivido todos estes anos? Anahí me odeia!
— Mais um motivo para tentar, já que não tem nada a perder. Grace e eu éramos amigos antes de nos casar.
— Ela era sua amante.
— Só depois que se tornou minha amiga.
— Eu o conheço, Dylan. Isso só pode ter sido ideia de Grace.
— E foi mesmo. Admito que detestei a sugestão, no início, mas foi a melhor coisa que poderia ter nos acontecido.
— Vocês estavam namorando, e nós já somos casados. Duas situações bem diferentes, como vêem.
— Somos casados agora, e não vejo diferença. Grace e eu ainda somos amigos.
— Só que não vivem brigando como cão e gato. E ela não o despreza. — Irritado, Alfonso abaixou a espada. — Vamos lutar ou conversar?
— Anahí pode voltar a se apaixonar por você. É isso o que teme? — Olhou-o bem dentro dos olhos. — Ou tem medo de se apaixonar por sua esposa?
Aquelas palavras tiveram o dom de despertar algo dentro dele.
— Amor, amor, amor! Estou ficando doente de tanto ouvir falar disso!
Será isso o que estou sentindo?
Alfonso atacou com vigor, usando toda a habilidade para levar Dylan até a parede.
Pensou em quantas vezes Anahí atirara o amor que sentia em seu rosto, quantas vezes se referira à sua ligação com Peggy Darwin como sendo amor. De súbito, sentiu-se selvagem e ressentido com Dylan. Assim, continuou atacando até que encontrou um ponto vulnerável e atingiu-lhe o abdome.
— Ponto.
Dylan o encarou, estranhando a violência.
— Acho que atingi um nervo exposto.
Respirando forte, Alfonso deu um passo para trás e baixou a arma, virando-se de costas.
— Amor. As pessoas sempre usam essa palavra, sobretudo as mulheres, e o que significa? Quando as pessoas usam o termo, podem estar sendo enfáticas, idealistas ou fingidas. Ou tudo isso junto. Isso é amor?
— Se não descobriu a resposta até agora, não serei eu a ensinar-lhe. — Moore seguiu-o até o centro do salão — Eu sei que o encontrei.
— Mesmo? Como sabe que é amor? E quando o encontrou, como soube que era verdadeiro? Cupido disparou a flecha e os anjos cantaram? Foi isso?
— Com que desdém você fala de amor! Não tinha notado como é cínico a esse respeito, Herrera. É mais descrente no amor do que eu fui, se é que isso é possível.
— Não se trata de cinismo, nem de descrença. Eu apenas... não sei o que é o amor!
Aquela revelação o assustou. Olhava para seu amigo, mas era como se Dylan não estivesse lá. A única imagem que via em sua mente era a de sua mulher segurando um bebê, jogando-o para o ar e rindo.
— Herrera? O que houve?
— O quê? — Alfonso piscou, retornando ao presente.
— Está aí parado, fitando o vazio. Não se sente bem?
— Talvez não; não sei... Creio que seja melhor pararmos por hoje.
Então isso é amor?
Essa questão ainda o atordoava quando os dois amigos depositaram as espadas, retiraram os casacos e saíram do clube.
A linda tarde de maio dera lugar a uma fria noite de primavera. Enquanto esperavam na calçada por suas carruagens, Dylan tornou a falar, mas agora sem nenhum traço de ironia:
— Herrera, pense no que eu lhe disse. Sugira a Anahí que vocês se tornem amigos.
— Tenho certeza de que ela jamais concordará. É provável até que ria de mim.
— Pelo menos, tente.
Alfonso olhou para seu amigo, começando a compreender o que ele queria dizer.
— Se um homem e uma mulher se dão bem fora da cama, isso poderá levá-los a se dar bem na cama. É no que acredita?
— Vai depender do quanto você se esforçará para ser um bom amigo.
Apesar de seu péssimo estado de espírito, Alfonso conseguiu dar uma bela risada e agradeceu ao amigo, quando a carruagem dele se aproximou.
Moore ainda teve tempo de dizer:
— Posso estar casado, mas ainda tenho uma reputação a zelar.
O veículo de Dylan partiu, e Alfonso ali, parado, vendo-o se afastar.
Recostado nas almofadas de sua carruagem, Dylan sorria, satisfeito consigo mesmo. Sabia muito bem o que Herrera sentia. Estava tão desesperado que era bem capaz de tentar se tornar amigo de Anahí. Pobre camarada! Ser amigo de uma mulher que se deseja é o próprio inferno na face da Terra. Mas muitas vezes é necessário que passemos pelo inferno para chegarmos ao Paraíso. No fim, Herrera poderia ganhar o filho que desejava e – mais importante – ter de volta a esposa amorosa que um dia tivera. Dylan adorava os dois e queria muito que conseguissem um casamento feliz.
— Dylan Moore bancando o Cupido. Quem diria? — E mal podia esperar para chegar em casa e contar a Grace.
No caminho de volta para casa, Alfonso dispensou a carruagem e preferiu caminhar.
Não pensava em amizade, mas em amor. O que era aquilo, afinal de contas? Poetas escreviam sobre ele, Moore escrevia sinfonias em seu tributo, as pessoas estavam sempre se apaixonando, falando ou sofrendo por amor, mas o que era isso de fato?
De todos os homens do mundo, Dylan seria o último que Alfonso acharia que um dia iria se casar. Entretanto, ele se casara com sua amante. Alfonso não podia entender o que fizera com que um dos melhores partidos da Inglaterra se apaixonasse por Grace. Sem dúvida era uma bela mulher, mas Moore era louco por ela e a amava com uma intensidade assustadora.
Perdido em devaneios, mal notou que tomava o caminho errado. Deveria ter virado à direita na Brook Street, mas virou à esquerda, e foi parar bem em frente aos imponentes portões de ferro que cercavam o parque de Grosvenor Square.
Será que já não bastava daquele lugar? Se tivesse juízo, sairia logo dali e iria procurar uma mulher que o recebesse em seu leito. Porém, em vez de afastar-se, aventurou-se para dentro do parque e parou aos portões. Segurou com força as barras de ferro e olhou para dentro, vendo o banco de ferro em que sua esposa estivera brincando com o sobrinho, uma semana atrás.
Seus próprios pais nunca amaram um ao outro. Por ironia, seu casamento estava se tornando a mesma relação sem afeição que recordava de sua infância.
Começou a cair uma chuva leve, mas que molhava seu casaco e sua camisa. O ar estava muito frio, e Alfonso decidiu que era inútil continuar ali. Deveria voltar antes que o tempo piorasse.
Porém, não se afastou. Olhou para cima, para uma luz acesa na sala de estar de Portilla. Um brilho de cabelos dourados passou por ela. Anahí...
Alfonso recordou a mocinha que conhecera nove anos antes, apaixonada, vulnerável, que o adorava e dizia que o amava. Não conseguia entender como alguém podia se apaixonar em uma noite, depois de algumas danças e de um pouco de conversa. Isso não poderia ser amor. Não de verdade.
Soube, desde o começo, que tinha poder sobre ela, mas até aquele dia não compreendia por quê. Contra a vontade do irmão, compreendendo que Alfonso era irresponsável, inconstante e que estava falido, mesmo assim, Anahí se decidira a casar-se com ele, porque o amava.
Alfonso passou os dedos pelos cabelos e tirou a água do rosto. Qual o poder do amor, que fazia as pessoas perderem o juízo?
Permaneceu lá por longo tempo, no meio da chuva e do frio, procurando, nas janelas de Portilla, uma resposta para suas dúvidas.
Anahí se recolheu cedo. Anthony e Daphne tinham saído pouco antes para o jantar na casa dos Monforth, mas ela preferiu ficar. Tomou um banho quente, uma xícara de chá, vestiu a camisola e foi para a cama às nove horas.
Apesar do chá, foi muito difícil adormecer. Acostumada a longas recepções noturnas, não conseguia pegar no sono. Depois de uma hora rolando na cama, desistiu e desceu à procura de Quimby. Avisou ao mordomo que estaria na biblioteca e pediu outra xícara de chá.
Foi para a biblioteca, acompanhada de um empregado, que acendeu a lareira e saiu em seguida. Anahí apanhou um livro qualquer, pensando em ler até que o sono viesse. Porém, não teve chance. O vapor do chá nem sequer esfriara, e ela estava apenas na página dois do romance escolhido, quando uma voz a interrompeu: — Olá, Anahí.
Assustada, ergueu os olhos para encontrar os de Alfonso, à soleira. Fechou o livro e ficou de pé.
— O que faz aqui?
— Procuro uma maneira de me aquecer e me secar. — Ficou encostado no batente, e Anahí pôde perceber que ele estava todo desarrumado.
As roupas ainda eram as mesmas que ele usara pela manhã, e dessa vez molhadas da chuva. Os cabelos escorriam água no colarinho, e a camisa ficara encharcada. Nem a barba estava feita.
Anahí passara a semana toda evitando o marido, e agora ele a pegava desprevenida. Devia mandá-lo embora, sem dúvida, mas, em vez disso, lembrou-se do toque da barba por fazer em seu ombro, quando ele a acordava de manhã.
Alfonso podia ter vindo para se aquecer, mas era ela quem estava sentindo calor, e isso não tinha nada a ver com a lareira. Mexeu os pés dentro dos chinelos e teve consciência de que usava muito pouca roupa.
— Quimby devia tê-lo anunciado.
— Não fique brava com seu mordomo. Quimby é um excelente serviçal, e tentou me dizer que você não estava em casa. Mas eu sabia que era mentira. E, como Anthony saiu, ignorei o mordomo e aqui estou. Muito rude de minha parte, não é?
— Como sabia de tudo isso?
— Estou lá fora há mais de duas horas. Vi você na sala quando começou a escurecer e as empregadas vieram fechar as cortinas.
— Duas horas! — Anahí o encarou, surpresa. — Com esse frio e essa chuva. Para quê?
— Não consegue adivinhar? — Afastou-se da porta e entrou na biblioteca, mas manteve distância. — Estava criando coragem para entrar e pedir a você para recomeçarmos.
Alfonso queria recomeçar. Anahí compreendia o que aquilo significava. Ele parecia sincero, mas e daí? Antes que pudesse falar, Alfonso continuou:
— Quando discutimos, você disse que não confia mais em mim, e tem motivos para isso. Mas eu só precisava vê-la.
— Foi para me dizer tal coisa que veio aqui?
— Sim. — Sorriu. — Muito pouco para quem passou duas horas na chuva, não?
O calor começou a se espalhar pelo corpo, e Anahí tentou se lembrar de que eram apenas palavras. Se pudesse ao menos acreditar que eram verdadeiras!
Os segundos passavam, o relógio bateu dez e meia. Ele teve um calafrio.
— Vou embora. Vejo que pretende ir dormir cedo.
— Não precisa ir, Alfonso.
O que dizia?! Será que perdera o juízo? Mas as palavras foram proferidas, e não havia como retirá-las. Assim, procurou, então qualificá-las.
— Quero dizer... Você está congelado e deve se aquecer primeiro. Poderá se resfriar se não o fizer, e isso não é nada bom.
— Quer que eu fique, Anahí? — Você nem imagina o quanto!
— Sim, Alfonso. — E logo emendou. — Só um pouco.
O sorriso do visconde foi indescritível. Anahí se sentou no sofá.
— Acho que devemos discutir algumas coisas. — Ele ficou sério.
— Meu Deus! Duas horas de penúria, e agora quer discutir comigo! Que o Senhor tenha piedade de mim! — Alfonso fitou o teto. — E não creio que sejam temas fáceis, tais como a política irlandesa, ou como se poderia diminuir a pobreza no Império Britânico, não é verdade?
Como ele conseguia? Sempre dava um jeito de fazê-la sorrir.
Alfonso colocou o casaco sobre uma cadeira perto do fogo e se acomodou no sofá, ao lado dela.
— Sobre o que quer falar?
— Não sei... Pensei que se nos sentássemos para conversar, eu teria muita coisa a dizer, mas agora...
— Nunca faltava assunto para nós.
— Nem brigas e discussões.
— Verdade. E isso não mudou, caso não tenha notado.
— Evidente que notei. — Fez uma pausa. — Estamos casados há nove anos, e não o conheço, Alfonso. Durante nosso namoro e nos primeiros meses de casados, sempre fui aberta com você. Contei-lhe tudo sobre mim mesma, sobre minha família, meus sonhos, do que gostava. Mas, quando perguntava a seu respeito, sua infância, sua família, você fazia algumas piadas para fugir do assunto.
— E?
— Você é meu marido, mas continua um estranho para mim. Sinto que precisamos consertar isso. Se eu lhe fizer algumas questões, irá responder?
— Sobre minha infância basta saber que foi um inferno e que não suportaria comentar sobre isso. Mas não é sobre nós que quer falar?
— Sim. Promete que responderá minhas perguntas com toda a sinceridade?
— Prometo. Mas aviso que poderá não gostar do que vai ouvir.
— Você amou alguma de suas amantes? Qualquer uma?
— Não.
— Você me amava, Alfonso? — Já sabia a resposta, mas queria que ele admitisse. — Quando me pediu em casamento e disse que me amava... era verdade?
— Eu... — Passou a mão pelo rosto, suspirou e olhou-a bem nos olhos. — Não.
Ali estava. A verdade brutal. Alfonso não tentou justificar, nem explicar nada. Aquela era a resposta que Anahí esperava, mas, mesmo assim, doía. Todavia, sempre era melhor a honestidade à mentira.
— Você teve um filho com alguma dessas mulheres?
— Não.
— Tem certeza?
— Sim. Há muitos meios de se prevenir, métodos que um homem pode usar. Anahí, não me peça para discutir esses pormenores com você. Não consigo.
— Muita gente diz que o caçula de Peggy Darwin é seu, embora o marido o tenha assumido.
— Não, Anahí, não. — Alfonso se aproximou mais. — Sei que há rumores por aí, mas lhe asseguro de que o garoto não é meu filho. Também posso lhe assegurar que não tenho nenhum filho neste mundo.
Anahí sabia que poderia ser mentira, mas preferiu acreditar nele. E essa escolha trouxe-lhe uma enorme sensação de bem-estar.
— Posso lhe perguntar algo? — Ele fez uma pausa. — Por que se apaixonou por mim?
Pega de surpresa não só pela questão, mas pela intensidade da voz de Alfonso, Anahí tentou ganhar tempo:
— Por que me apaixonei por você?
— Sim, por quê? Quero dizer, você nem me conhecia. Até hoje diz que não me conhece. E no entanto, me amava. Como foi se apaixonar por uma pessoa como eu?
— Deus do Céu, não sei! Creio que porque você tornou as coisas muito fáceis. Quando estávamos juntos, tudo estava bem, e eu ficava feliz. O céu era mais azul, a grama mais verde. Sei que parece tolice, Alfonso, mas eu te amava mais do que a minha vida.
Ele levou a mão até o rosto delicado, as pontas dos dedos tirando os cabelos de sua testa.
— Nunca quis magoá-la, Anahí. Se não acreditar em mais nada do que eu falei, pelo menos acredite nisso. Quando nos casamos, eu queria ser feliz. Era tudo o que esperava da vida. Mas não era suficiente para você, não é?
— Se já tivesse se apaixonado, não precisaria me fazer essa pergunta. Já se apaixonou por alguém?
Ele desviou o olhar.
— Não, nunca.
Talvez Alfonso fosse incapaz de amar. Anahí não verbalizou isso, mas a conclusão ficou no ar.
— Nunca me amou, nem nenhuma outra mulher. Decerto não é apaixonado por mim agora. Então, dê-me uma boa razão para eu voltar para você. Além de ser sua esposa e de ter a obrigação de fazê-lo.
— Muito bem. — Alfonso chegou mais perto. — Porque eu a faço rir. Porque quando a beijo, você estremece, e confesso que adoro isso. — Envolveu-lhe o ombro. — E quando a toco, todo o mundo desaparece, ficando só nós dois. Quando estamos brigando, metade de mim fica a imaginar um jeito de tirar suas roupas. Essa é a resposta mais honesta que posso lhe dar.
— Vai me dizer também que nunca sentiu isso tudo por outras mulheres.
— Não é igual.
— Qual a diferença?
— Nenhuma outra mulher no mundo me deixou tão louco a ponto de eu querer quebrar os vidros da janela com minha própria cabeça.
— Não é o suficiente.
— Você é minha esposa e eu sou seu marido. Quero ter filhos, e sei que os quer também, Anahí.
— O que quer dizer é que quer um herdeiro.
— Não. Claro que preciso de um herdeiro, mas quero ter filhos. Não é para isso que as pessoas se casam?
— O casamento é uma decisão que exige muita sensibilidade.
— Isso para você. Para a maioria dos seres humanos que conhecemos, casamento não tem nada a ver com amor. É um tipo de aliança para garantir um herdeiro, e depois o casal segue vidas separadas.
— É isso o que pretende para nós? Um herdeiro, e depois voltará para suas amantes? Para uma união sem amor, esse é o único final possível. Creio que isso me dá o direito de ter amantes também, não?
— Não, Anahí. As regras devem ficar bem claras. Um herdeiro e nenhum outro homem.
— Se eu voltar para você, pode prometer que nunca mais terá outra amante?
Ele cruzou os braços.
— Nenhum homem responde a uma pergunta como essa.
— Por quê?
— Porque se eu disser que sim, você não acreditará em mim. Se disser que não, acabarei com qualquer chance que ainda tenha de reconquistá-la. Se disser que não sei, serei condenado por não dar uma resposta conclusiva. Não importa o que eu diga, será a coisa errada, e eu vou perder.
— Isso não é um jogo. Não tem nada a ver com ganhar ou perder. Mereço uma resposta sincera. Se eu voltar para você, for uma esposa fiel e lhe der um filho, será um marido fiel?
— Não sei. — Anahí meneou a cabeça.
— Não sabe? Que tipo de resposta é essa?
— Uma honesta! Eu lhe disse que essa é uma daquelas questões para as quais não há como responder. Dependerá de você.
— Ou seja, toda a responsabilidade pelo sucesso de nosso matrimônio está em meus ombros, e não tenho nem o direito de exigir fidelidade?
— Você terá fidelidade se fizer com que isso valha a pena, se não se transformar na cruel rainha de gelo que não consegue perdoar.
Aquilo doeu. Anahí mordeu o lábio, vendo o ressentimento no semblante do visconde. Ressentimento dirigido a ela; algo que não merecia.
— É cruel demais de sua parte dizer isso.
— Você queria a verdade.
— Pelo amor de Deus! — Anahí ficou de pé, zangada. — Você fala como se eu não estivesse sendo razoável. Como se fosse um absurdo uma esposa esperar que seu marido seja fiel.
Ele também se ergueu.
— Faz sentido um marido esperar que a fidelidade valha a pena.
O som de soluços do outro lado da porta interrompeu qualquer resposta que ela pudesse ter dado. Ambos se voltaram quando a porta foi aberta e Beckham entrou com Nicholas, que chorava como se o mundo fosse acabar.
— Desculpe, senhor — a babá disse a Alfonso, com uma rápida reverência.
Anahí agradeceu aos Céus pela interrupção. Começava a concordar com o que ele dissera sobre não gostar de respostas honestas.
— O que houve, Beckham?
— Sinto muito, miLady, mas tenho de encontrar Mr. Poppins.
— Oh, querido! — Anahí fitava o bebê. — Mr. Poppins está brincando de esconde-esconde com você, de novo?
— Acho que sim — respondeu a babá. — Sei que Nicholas esteve neste cômodo com a duquesa, e pensei que talvez o tivesse deixado aqui.
Anahí deu uma olhada pela biblioteca.
— Não o vejo.
— Mas quem é Mr. Poppins, afinal? — Alfonso quis saber.
— É o brinquedo favorito de Nicholas — explicou Beckham. — Duvido que tome a dormir se eu não o encontrar.
— Deixe-me segurá-lo para que você procure. — Alfonso foi até a babá.
Anahí se pôs a estudá-lo. Não havia mais raiva em seu rosto. Alfonso estava sério e parecia sentir-se desconfortável. Quase embaraçado. Ela não se lembrava de tê-lo visto embaraçado antes, e não resistiu:
— Quer mesmo segurá-lo?
— Bem, achei por um momento que poderia fazê-lo, mas agora não me parece mais uma boa ideia.
— Claro que é. — Anahí tirou a criança do colo da babá e a passou para o marido.
Alfonso, porém não se moveu.
— É que não sei como fazer isso.
— Veja, é assim. — Em seguida, entregou-lhe o bebê. Alfonso acomodou Nicholas em seus braços e, por um motivo só conhecido pelos anjos, o menininho parou de chorar no mesmo instante. Com o repentino silêncio, Anahí olhou para seu marido. Ele fitava Nicholas como se estivesse segurando um milagre nas mãos.
— Deus nos abençoe — murmurou a babá. — O senhor tem jeito com as crianças.
Rindo, o bebê olhava para Alfonso, como se não soubesse o que fazer no colo de um estranho. Parecia estar enfeitiçado. Nem os bebês estão imunes, pensou Anahí.
Alfonso encostou a testa na do menino.
— Se os rapazes souberem disto no clube, estarei perdido. É melhor mantermos isto entre nós dois, companheiro.
O bebê ria em resposta e levantou a mãozinha para acariciar o rosto de Alfonso.
— Como você fica bonito quando não está chorando! Tem os olhos iguais aos de sua mãe. Nenhum coração feminino estará a salvo daqui a alguns anos.
Nicholas resmungou e empurrou o peito de Alfonso.
— Não está interessado em conquistar as mulheres, não é? Não posso culpá-lo. Elas foram criadas para transformar a vida dos homens em um caos. Fique longe delas o quanto puder.
— Que coisa horrível de se dizer, Alfonso — protestou Anahí. Nicholas balbuciou:
— Pop... Pop...
— Obrigado por me lembrar de algo tão importante. — E Alfonso começou a andar ao redor da sala, com o menino no colo, procurando por Mr. Poppins.
Em sua busca atrás do piano, embaixo das mesas e entre as cadeiras, não parava de conversar com seu sobrinho:
— O problema, Nicholas, é que as mulheres são mais importantes do que tudo para nós, e elas sabem disso. Não que alguma vá usar isso contra nós. Jamais fariam tal coisa.
Ajoelhou-se para verificar sob uma mesa redonda.
— Tenha muito cuidado com aquelas perguntas que não têm resposta — avisou ao bebê, que o olhava muito interessado. — As damas irão atormentá-lo com isso, de vez em quando. Escreva o que eu digo.
Anahí respirou fundo, mas ele não ligou.
— Evidente que, em tais circunstâncias, nós sempre agimos da pior maneira possível, retaliando e dizemos algo para magoa-las. — Alfonso fitou a esposa. — Depois, nos arrependemos e nos sentimos muito mal.
Pela primeira vez em oito anos, ele lhe pedia desculpa. Surpresa, Anahí se virou, para vê-lo dar a volta até o outro lado do sofá, e então emitir uma expressão de triunfo:
— Aqui está ele! — disse, sacudindo o ursinho marrom.
Com um grito de prazer, Nicholas abraçou o brinquedo e afundou o rostinho no tórax de Alfonso, como se estivesse agradecendo.
Com o coração apertado, Anahí desviou o rosto, para não testemunhar a cena.
Quando tornaram a ficar a sós, o silêncio foi constrangedor. Alfonso caminhou na direção de Anahí.
— Minha querida...
— É muito tarde. — Dando um passo para trás, ela encostou-se na escrivaninha.
— Nem tanto. — Ele continuava a andar, devagar, dando-lhe tempo para fugir.
Por alguma razão inexplicável, ela não procurou escapar. Ficaram frente a frente. Alfonso segurou a trança de Anahí e a beijou, sentindo o aroma de violetas.
— Anahí!
Ela começou a tremer por dentro e apertou a beira da escrivaninha, lembrando-se dos sonhos impossíveis de sua juventude, tão distantes agora.
Alfonso jogou a trança para trás e, com ambas as mãos, levantou o rosto de Anahí. Seus dedos percorriam os lados do nariz, a curva da sobrancelha, o queixo, os lábios. Fazia tudo isso sem encará-la, fitando apenas os caminhos traçados. Enquanto afagava o rosto com a mão esquerda, a direita descia até a cintura.
— Eu vim aqui por uma razão. — Só então a olhou nos olhos. — Beijar você e para fazer as pazes.
— Não tinha me falado nada sobre a parte do beijo.
— Eu a enganei de novo. — Baixou a cabeça e beijou-lhe a boca.
O beijo de Alfonso, tão poderoso como no museu, tão poderoso como sempre, tornava muito fácil esquecer de tudo. Os dedos dele, tão seguros, descendo até os quadris, puxavam-na para mais perto, fixando-se em suas nádegas.
Anahí se soltou da escrivaninha para enlaçá-lo. Seus lábios se abriram, e ela aprofundou o beijo.
As línguas se tocaram, e Alfonso apertou ainda mais seus quadris.
Imagens eróticas com Alfonso, que a consumiam havia anos, emergiram com força total.
Alfonso soltou um gemido e interrompeu o beijo. Inclinou-se para um lado e, com um movimento do braço, limpou a escrivaninha, derrubando uma pilha de livros no chão. Então, segurou Anahí pelas nádegas e a colocou sobre o tampo.
Alcançou a fita ao redor da cintura e puxou com força, desfazendo o laço. Com as pontas dos dedos tocou os seios redondos através da camisola, sentindo os mamilos endurecidos.
Anahí quase desfaleceu de um prazer que havia muito não sentia, que a fazia gemer de excitação. Estreitou mais o abraço ao redor do pescoço dele, guiando a cabeça de Alfonso em direção aos seios.
Ele tocou a ponta de um mamilo com os lábios, umedecendo a seda da camisola, enquanto apertava o outro. Sensações inebriantes a consumiam a cada movimento dos dedos e de sua boca.
Anahí segurava a cabeça de Alfonso entre as mãos, fazendo-o afundar o rosto em sua pele alva. Estava perdida na calorosa urgência daquelas carícias. Fazia anos que não sentia as mãos do marido tocarem seu corpo daquele jeito. Podia ouvir os sons que vinham de sua própria garganta, fruto de um desejo desesperado. Gemia o nome dele.
Alfonso se endireitou, levando a mão até à nuca de Anahí, procurando desabotoar-lhe a camisola. Começou a abrir os botões de pérola e a erguer-lhe a camisola para cima de seus joelhos, ao mesmo tempo.
— Deus, como senti falta disso!
— Do quê? De ser uma mulher?
A pergunta teve o efeito de um balde de água fria sobre Anahí. O que estava fazendo, afinal?
Num movimento rápido, ela fechou bem as pernas, dando um fim a toda a loucura de alguns minutos antes.
Alfonso ficou estático, as mãos entre as coxas dela, tentando mover-se um pouco mais para cima.
— Anahí...
Ela tentava se desvencilhar.
— Deixe-me ir! Solte-me! — Desesperada, bateu com a palma da mão no ombro dele, afastando-o. Virou-se de lado, descendo da escrivaninha, pisando na ponta do robe, na tentativa de se afastar. — Perdi a cabeça. Não compreendo como cedo tão fácil a você.
Anahí esfregou a testa uma, duas vezes, perguntando-se o que teria acontecido com seu cérebro.
— Como posso ser tão estúpida?!
Alfonso a encarava, ainda com a respiração acelerada, uma expressão de descrença no semblante. Deu um passo buscando alcançá-la e tocá-la, mas ela fugiu.
— Não posso sequer culpá-lo por isso. Essa é a pior parte. Você nem se deu ao trabalho de mentir para mim. Acabou de dizer que nunca me amou, que não pode prometer ser fiel e menos de trinta minutos depois, eu estava pronta para me entregar. Onde estava com a cabeça?! Onde foi parar meu amor-próprio?!
— Amor próprio? Não diga tolices. Você é minha esposa. Não há nada de errado em querer fazer amor com seu marido. Senti o quanto queria, Anahí. Por que parou? Às vezes tenho vontade de desistir de entendê-la.
— Vá embora, Herrera.
Alfonso ajeitou as roupas. Anahí também se recompunha. Um pesado silêncio abateu-se sobre eles.
Instantes depois, Alfonso foi até a cadeira onde deixara seu casaco e o vestiu.
— Seu prazo expirou. Virei buscá-la amanhã ao meio-dia. É melhor decidir hoje onde quer morar, ou Portilla poderá esperar uma demanda judicial logo para o dia seguinte.
Anahí pensou em retrucar, mas, quando seu marido se virou para encará-la, desistiu. Conhecia muito bem aquele olhar determinado. Era inútil discutir.
— Eu dei minha palavra. Quero uma esposa apaixonada, por isso não precisa se preocupar, pois não vou tomá-la à força. — E Alfonso se foi.
Muito fácil dizer para ela não se preocupar.
De todo modo, a preocupação de Anahí era bem outra. O que a deixava fora de si era saber que, apesar de tudo, Alfonso ainda era capaz de fazê-la derreter-se toda quando a tocava e de incendiá-la quando a beijava. Ela não era mais a garota ingênua de anos atrás, mas ainda queria aquele homem. Como seria fácil apaixonar-se pelo marido de novo, dizer "sim" e dar-lhe o que ele queria, sem receber nada em troca! Nem mesmo uma promessa de fidelidade.
Não, não estava preocupada. Estava apavorada!
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Autor(a): DuaneStories
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Amanhecia quando, enfim, Alfonso conseguiu controlar seu desejo e voltar a raciocinar. E precisava pensar bastante para decidir a próxima estratégia. Fitava sem apetite o prato de ovos com bacon. Se tivesse sido menos afoito na véspera, se houvesse aproveitado a abençoada oportunidade que tivera, poderia ter levado Anah&ia ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 7
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Postado em 11/05/2016 - 13:57:46
Estou adorando essa fanfic! Pena q está quase na reta final
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carla_marielt Postado em 09/05/2016 - 16:33:22
Continua... ..
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fersantos08 Postado em 27/04/2016 - 16:02:58
Uhuuuul mais uma fanfics diva, batendo palminhas aqui de felicidade :) postaaaa maaaaaiiiiis
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ponnyforever10 Postado em 27/04/2016 - 11:53:43
Leitora nova,adorando ver poncho tentando conquistar a Anahi kkkk.Continuaa
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Nayara_Lima Postado em 22/04/2016 - 17:44:34
Ameeei continua....
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hadassa04 Postado em 21/04/2016 - 20:04:37
Primeiro comentário é meu.... Então mereço uns 5 capítulos
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hadassa04 Postado em 21/04/2016 - 20:03:50
Opa adorei a sinopse pode postar