Fanfics Brasil - Capítulo 7 A Cama da Paixão - AyA - Adaptada

Fanfic: A Cama da Paixão - AyA - Adaptada | Tema: Rebelde, AyA, Ponny, RBD, Romance


Capítulo: Capítulo 7

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Amanhecia quando, enfim, Alfonso conseguiu controlar seu desejo e voltar a raciocinar. E precisava pensar bastante para decidir a próxima estratégia.


Fitava sem apetite o prato de ovos com bacon. Se tivesse sido menos afoito na véspera, se houvesse aproveitado a abençoada oportunidade que tivera, poderia ter levado Anahí para o quarto lá em cima. Mas não. Em vez disso foi autoritário e acabou por lembrá-la de que as três semanas haviam acabado.


Se Anahí não viesse com ele, mais tarde, teria de cumprir a ameaça e recorrer à Justiça, algo que de fato nunca lhe ocorrera fazer.


Largou o garfo, com um suspiro exasperado. Nenhum homem deveria passar por aquilo para ter sua própria esposa.


Rememorou a sugestão de Dylan. Era um tanto maluca, mas isso era bem próprio do amigo.


Tornar-me amigo de Anahí...


— A correspondência, sir — anunciou Pershing, o mordomo.


Surpreso, Alfonso olhou para Pershing, que colocava o pacote de cartas perto da bandeja. Aquela era uma tarefa costumeira de Stone, seu secretário particular.


— Onde está o sr. Stone, Pershing?


— Contraiu sarampo, miLorde. O médico o aconselhou a passar uns dias na casa da irmã, em Clapham, até que a doença deixe de ser contagiosa. Manda dizer que lamenta muito não poder servi-lo pelos próximos dez dias.


— Envie-lhe uma nota e diga que prefiro um secretário ausente a toda uma equipe enferma. Diga-lhe que fique em Clapham até que esteja totalmente recuperado.


— Sim, sir. — E retirou-se.


Alfonso mirou os envelopes e encontrou um convite para Lorde e Lady Herrera jantarem na mansão de Lady Snowden. Parecia que a condessa estava bem mais otimista do que ele em relação a seu casamento.


Uma nota da Tattersal's confirmava que a égua que adquirira duas semanas atrás fora entregue na propriedade de Northumberland. Ele a comprara para Anahí, mas agora, do jeito como as coisas iam, duvidada de que voltassem a cavalgar juntos. Como o recado não exigia resposta, atirou-o na lareira e continuou a observar as correspondências.


Encontrou um relatório de seu capataz sobre a situação em Herrera Park, uma conta do alfaiate e outra do fabricante de botas, ambas de cobrança da fantasia que pretendia usar no baile de caridade de Anahí. Uma festa para a qual nem sabia se seria convidado. E outra carta de Emma Rawlins.


 


Fitou o envelope, suavemente perfumado, durante minutos. Era de admirar a persistência daquela dama. Já perdera a conta das missivas que recebera – doze, talvez mais. Leu as primeiras linhas – desculpas por ter sido tão possessiva, depois censura pela frieza dele, então desespero pela falta de atenção –, até que decidiu nem sequer abrir mais os outros envelopes. Soube que Emma vendera o sítio que lhe dera e fora viver na França.


Desejando que ela continuasse por lá, Alfonso atirou a carta ao fogo, sem abri-la.


Guardou apenas as contas, o relatório do capataz e o convite, sobre o qual conversaria com Anahí mais tarde, e saiu.


No caminho até Grosvenor Square, procurava antecipar o que Anahí faria. Ela poderia ser tão imprevisível como o tempo, mas a única coisa que esperava era que não fosse necessário recorrer ao Parlamento.


Quando chegou à mansão de Portilla, descobriu que Anahí não concordava, nem se recusava a vê-lo: ela deixara a cidade.


 


— Onde Anahí está? — perguntou à duquesa de Portilla, que veio lhe dar a notícia.


A duquesa não respondeu de imediato. Mexeu seu chá e inclinou a cabeça, estudando-o.


— Antes que eu diga, gostaria de lhe perguntar algo. Se Anahí se recusar a voltar para você, tem mesmo intenção de recorrer ao Parlamento?


Alfonso sorriu.


— Cara duquesa, às vezes penso que nem mesmo o Parlamento seria capaz de forçar minha mulher a fazer algo que não deseja.


Daphne não se mostrou satisfeita. Continuou a olhar para ele, esperando uma resposta, que Alfonso não sabia qual era.


— Recuso-me a aceitar a possibilidade de que ela não volte.


— Até quando vai esperar?


— Até que eu consiga convencê-la.


— Isso pode demorar, miLorde.


Sem argumento, Alfonso baixou a cabeça e murmurou:


— Sim.


— O amor não é a base de sua determinação em reconquistá-la, não é?


 


O que era aquilo? Uma acusação, uma condenação? Antes que ele decidisse, Daphne tomou um gole e tornou a falar:


— Minha cunhada está em Enderby.


A repentina capitulação da duquesa o espantou, mas tentou não demonstrar.


— Não esperava por isso, não é, sir?


— Para ser franco, miLady, não. Há alguma razão especial para ter me contado? Deve haver, para arriscar-se assim a contrariar seu marido.


— É verdade. Se magoar Anahí de novo, sir, Portilla irá desafiá-lo para um duelo e o matará sem piedade; creia-me.


— E a senhora? Compartilha desse sentimento?


— Não. — Olhou-o com compaixão. — Sei o que é o desespero, Herrera. Ao contrário de meu marido e de minha cunhada, já sofri muito neste mundo por não ter dinheiro nem meios para sobreviver. Passei momentos terríveis em que seria capaz de fazer qualquer coisa para me livrar do terror, Se o destino não tivesse posto o duque de Portilla em meu caminho, eu teria sido forçada a me casar por dinheiro. — Fez uma pausa. — Ou coisa pior.


— Fico feliz que não tenha sido necessário — disse ele com todo o coração.


— E o senhor tem um outro aliado nesta casa. Fiquei sabendo que meu filho o adorou.


Alfonso tornou a sorrir, lembrando de Nicholas e de Mr. Poppins.


— A senhora tem um filho maravilhoso, duquesa. — E experimentou uma pontinha de inveja, a mesma que sentira ao observar a família Portilla no banco do jardim.


— Obrigada. — Daphne ficou de pé. — Espero que esteja sendo sincero quando afirma querer um casamento de verdade e uma família, Herrera. Porque, se não estiver. Deus tenha piedade de você.


Alfonso também se ergueu.


— Porque seu marido vai me desafiar para um duelo?


— Não. Porque pouparei Anthony do trabalho, e eu mesma lhe darei um tiro.


— Acredito nisso, duquesa. — Alfonso estendeu a mão para ela. — Mas pode ficar descansada: estou sendo sincero. Tanto quanto obstinado, garanto. Posso ser cínico, um mau marido, mas lhe falei com franqueza. — E beijou a mão da dama.


 


Alfonso partiu sem entender por que caíra nas graças da duquesa, mas estava muito grato por isso. Decidiu que não iria para Enderby de imediato. Sua esposa desistira da batalha legal, mas ainda não se rendera. A noite na biblioteca de Portilla demonstrara que Anahí ainda não estava pronta e que ele deveria dar-lhe espaço para respirar.


Alfonso deixou passar uma semana. Então, acompanhado de seu mordomo e de mais dois empregados, foi para Enderby, chegando lá uma hora antes do jantar.


Sua chegada causou alvoroço, pois o senhor de Enderby não vinha ao local fazia anos, nem mandara anúncio algum de que viria.


Alfonso perguntou a Hawthorne, o atual mordomo, onde Lady Herrera poderia estar.


— Creio que miLady repousa, sir. Quer aguardar na sala, enquanto o anuncio?


— Espera mesmo que me sente e congele os pés esperando em minha própria sala, Hawthorne? — perguntou, sorrindo.


O mordomo corou, envergonhado.


— Não, senhor, perdão.


— Muito bem. — Não viu necessidade de embaraçar ainda mais o pobre-coitado. — Mande levar minha bagagem lá para cima e mostre tudo a Stephens. Sabe o que quero dizer, apresente-o aos demais, mostre as instalações, informe os horários das refeições, enfim, tudo o que for necessário.


— Fique tranquilo, sir. — Hawthorne se sentiu muito aliviado por não ser repreendido logo no primeiro dia por um patrão que mal conhecia.


 


Alfonso começou a subir as escadas, alisando o corrimão de ferro. Embora aquela fosse uma de suas propriedades, tornara-se a residência de Anahí quando se separaram. Não vinha à propriedade fazia quatro anos, mas lembrava-se bem de onde eram os quartos, Anahí fizera muito pela propriedade. Era uma casa bem feminina, agora, todas as cores eram suaves e vivia repleta de vasos de flores.


Parou à soleira dos aposentos dela, girou a maçaneta e entrou sem fazer nenhum ruído.


Anahí dormia, e o som a fez se mexer, mas não acordou. Virou-se de lado e ficou de frente para ele, os cabelos cobrindo-lhe a face. Estava toda dourada, como uma leoa adormecida.


Alfonso tossiu, e ela tornou a se mexer. Devagar, abriu os olhos.


— Confortável?


— Você? — Ela pulou da cama, totalmente desperta. Alfonso fora rápido demais na semana anterior. Teria de ser algo mais leve dessa vez.


Eu ia me deitar ao seu lado e acordá-la com um beijo, mas você despertou antes. — Meneou a cabeça, desapontado.


— Que belo plano desperdiçado.


Seus olhos se estreitaram. Se Anahí fosse mesmo uma leoa, decerto Alfonso teria na carne as marcas de suas garras, àquela altura.


— O que faz aqui? Saia de meu quarto!


Ele fez exatamente o contrário. Afastando-se da porta, começou a olhar ao redor, fingindo enorme interesse pela mobília.


— Então este é seu dormitório. Ora, mas o que estou dizendo? Foi pintado de rosa, portanto, claro que é seu. — Dirigiu-se para a porta de comunicação com os aposentos que ele ocupava. — Não pintou o meu de rosa também, não é?


— Deveria ter pensado nisso. — Alfonso exalou um suspiro.


— Aproveite o repouso, querida. Vejo-a ao jantar. Vamos seguir os horários da cidade ou do campo? Ah, não se preocupe. Perguntarei a Hawthorne. Gostaria de jogar xadrez após a sobremesa, ou prefere fazer outra coisa?


Anahí escondeu o rosto entre as mãos.


— Deus deve me odiar. Só pode ser isso, para colocar você assim em meu caminho.


Alfonso fez um esgar de desgosto e abriu a porta que dava para seu quarto.


— Você me faz sentir como se eu fosse uma das pragas do Egito.


Ela o encarou.


— Aí está uma ótima definição do que você é. — E o empurrou para fora do aposento. — Quer fazer o favor de sair?!


Decidido a não abusar da sorte, Alfonso obedeceu.


— Estou indo, querida. A propósito, o que mandou preparar para o jantar?


— Fígado. — Ela esboçou um sorriso malévolo.


 


— Ótimo! Meu prato predileto. — A porta bateu em seu rosto, mas Alfonso ficou no mesmo lugar, para tentar ouvir do outro lado.


— Homem insuportável!


Dando risada, Alfonso puxou a campainha para chamar Stephens e começou a se preparar para o jantar.


 


Certa de que Alfonso a seguiria até Enderby, Anahí passara os primeiros dias ansiosa, esperando, a todo minuto, ver a carruagem dele. Após uma semana, começou a crer que, finalmente, ele desistira da reconciliação. Foi então que o inesperado aconteceu: deu-se conta de que sentia falta do marido. Sobretudo à noite, sentada perto da lareira, quando se lembrava dos ardentes momentos na biblioteca de Grosvenor Square.


Naquele momento, no jantar, mantinha a cabeça baixa, estudando-o com rápidos olhares para o outro lado da enorme mesa. Estranho tê-lo ali, naquela casa que ela já via como sua.


De repente, Alfonso largou o garfo.


— Isso não vai funcionar.


Anahí desviou a atenção da torta de maçã.


— A que se refere?


— A fazer as refeições calado ou falando sozinho.


— Não tenho a menor vontade de conversar.


— Eis algo que ficou bem evidente, Anahí. O que há de errado?


Ela engoliu o pedaço de torta, tomou um pouco de água e pigarreou.


— Stephens arrumou sua cama, não?


— Por quê? Tem alguma sugestão melhor de onde eu deveria dormir?


— Alfonso! — Anahí enrubesceu, fitando Hawthorne e os dois empregados em pé.


Alfonso se dirigiu ao mordomo:


— Hawthorne?


Ele deu um passo à frente.


— Pois não, sir.


— Leve os empregados e deixe-nos a sós. Chamarei se precisarmos.


O mordomo se inclinou e se retirou, seguido pelos demais empregados.


Anahí o olhava, surpresa.


 


— Mas ainda não terminamos. Por que os dispensou, Alfonso?


— Porque quero que conversemos sem que os use como desculpa.


— Você quer conversar? Você é inacreditável! — Alfonso se inclinou e tomou um gole de vinho.


— Fiquei pensando no que disse naquela noite, que não quer um casamento de conveniência, do tipo que a maioria das pessoas tem. Cheguei à conclusão de que só há uma maneira de evitarmos que isso aconteça: temos de ser amigos.


— O quê?!


— Isso mesmo. Passamos os últimos oito anos separados, sem saber um do outro. Você não confia em mim e tem todos os motivos do mundo para isso. Então, o único remédio para nossa situação é nos tornarmos amigos.


— Nunca ouvi absurdo maior em toda a minha vida. Você e eu amigos. De onde tirou tal ideia?


— Foi Dylan quem sugeriu. Ele disse que gosta de nós dois e está farto de nos ver brigando. Acredita que, se nos tornarmos amigos, tudo ficará bem entre nós.


Ela viu aquilo com ceticismo.


— Não sabia que Dylan era tão otimista.


— Ele é pai, e os pais têm de ser otimistas.


— Agora que Dylan está casado e feliz, não pode mais dar aquelas escapadas escandalosas com você.


— Não tenho mais interesse em fazer essas coisas, e não tenho feito ultimamente. Percebeu que os falatórios nos últimos meses não são mais a meu respeito?


Anahí tinha de admitir que era verdade. Mas quanto tempo iria durar?


— Aonde você e Dylan vão, se está afirmando que não frequentam mais bares e bordéis? — perguntou, curiosa.


— Ao Angleo's, por exemplo. Temos nos encontrado lá todas as noites para treinar esgrima.


— Eu os invejo. Sempre tive vontade de aprender esgrima, mas não me deixaram.


— Por que não?


— A Academia de Madame Dubreuil, em Paris, onde estudei, não permitia que meninas praticassem esportes atléticos.


— Quer aprender? — Alfonso se ergueu é foi para trás da cadeira de Anahí. — Vejo que terminou a sobremesa. Portanto, vamos lá. Vou lhe ministrar sua primeira lição de esgrima. Não disse que gostaria de aprender?


— Sim, mas isso foi há muito tempo, quando ainda era uma garotinha.


— Concordo que aos vinte e seis já está bem idosa, mas ainda será capaz de aprender uma coisa ou outra.


Ela riu.


— Querida, enxergue por este lado: você me odeia, não?


— Sim — respondeu, sem hesitar.


— Nesse caso, essa é a oportunidade perfeita para me bater com uma espada.


Anahí não precisou de mais incentivo para decidir:


— O que estamos esperando?


— Sabia que não resistiria a essa ideia. — Alfonso lhe deu um rápido beijo no pescoço, antes que ela tivesse tempo de reagir. — Meus instrumentos de esgrima ainda estão no sótão?


— Creio que sim. Nunca mexi em nada do que era seu. — Subiram as escadas lado a lado.


No sótão, Alfonso descobriu que as espadas que usava para praticar em sua juventude continuavam intactas. Apanhou uma e deu a outra para Anahí.


— Faça o que eu fizer. — Ele levantou a mão esquerda, um pouco para trás da cabeça.


Anahí o imitou.


— Bom. Agora, observe. — Alfonso colocou um pé à frente, mas Anahí encontrou dificuldade em fazê-lo.


 


— Minhas saias atrapalham. — Ele se aproximou, sorrindo.


— Se esse é o problema...


— Não — interrompeu-o, antes que o marido pudesse concluir o pensamento.


— Se você as tirar...


— Já disse que não.


— Querida, se está com vergonha de mim, teremos de achar outra solução. — Atravessou o sótão e foi até o baú de onde tirara as espadas, e apanhou uma calça e uma camisa. — Costumava usá-las quando era garoto. Devem lhe servir.


Anahí as aceitou e ficou à espera que ele se virasse de costas.


— Se quer que sejamos amigos, terá de ser bonzinho. Vire-se. — Ele suspirou e obedeceu.


— Embora não ache que seja justo. Minha própria esposa, e não posso ver sua calçola!


— Já viu muitas por aí, miLorde. Não precisa ver a minha. — Quando por fim Alfonso a viu vestida com suas roupas de garoto, não pôde evitar uma gargalhada.


— Ficam muito melhor em você do que em mim! — E retornou ao centro da sala.


Anahí arregaçou as mangas, e ficaram um de frente para o outro, armas apontadas. Dessa vez, pôde dar um passo adiante, dobrar o joelho e atacar com a lâmina, do jeito como ele tinha demonstrado.


— Esse golpe é o que se chama de arremeter. Repita-o, Anahí, só que agora mire em algum lugar de meu torso.


Ela mordeu o lábio e inclinou a cabeça para o lado, estudando-o. Depois, abaixou o olhar. Deu um passo à frente, arremetendo contra a barriga dele, mas, antes que conseguisse atingi-lo, Alfonso bloqueou o movimento.


— Isto é um bloqueio.


Anahí se endireitou com um cumprimento.


— Compreendo.


— Muito bem. — Olhou para ela, a espada apontada. — Você me odeia, não é verdade?


— Sim.


— Tudo bem. Aqui está uma oportunidade para demonstrar isso. — Alfonso fez um gesto com a arma. — Venha, ataque-me!


Alfonso a desafiava, Anahí pôde ver. Por isso, ergueu a espada, apontando para ele. Mirou o peito largo e atacou de novo, mas o golpe foi muito fraco, e o marido só teve que se virar de lado para se desviar.


— Patético... — Alfonso meneava a cabeça. — Você não está se esforçando.


— Não quero feri-lo por acidente.


Ele explodiu em mais uma gostosa gargalhada.


— Tenho certeza de que não quer, sim, senhora. Ande, tente mais uma vez. Por que não pensa em algumas razões pelas quais me detesta? Talvez isso ajude. Responda, por que me odeia?


Anahí o encarou.


— Por quê? Ainda me pergunta? Há tantos motivos que poderia fazer uma lista.


— Diga-me, então. Mostre-me. — E ela atacou com mais vigor.


— Melhor. — Alfonso deteve o golpe com um leve movimento do pulso. — Continue assim. Por que me odeia?


— Porque você mentiu para mim antes de nos casarmos. — Atacou-o.


Ele se defendeu, sem dificuldade.


— Belo golpe. Vai ganhar um ponto por isso.


— É que você é um alvo tentador.


— Sabia que ia funcionar. Não pare. Quero que ponha todos os ressentimentos para fora, agora, de uma vez por todas.


— É o que pretende? Acha que é tão simples assim? — Anahí prosseguia atacando-o e errando. — Pensa que isso resolve tudo?


— Não. — Atacou bem devagar, dando tempo suficiente para ela evadir-se. — Mas é um bom começo.


Ambos retrocederam.


 


— Então eu disse que a amava antes de nos casarmos e era mentira. É por isso que me detesta?


— Não é só por esse motivo. Houve Elsie.


— Ah! Sim, Elsie...


Alfonso parecia tão calmo que ela teve ímpetos de atirar a espada nele. Em vez disso, contudo, atacou-o, retrocedeu quando ele defendeu-se e, sem esperar, tornou a atacar. As lâminas se chocaram no ar.


— Quando descobri sobre ela, fiquei devastada. Não suportava mais dormir ao seu lado. Aí, você foi embora e eu o odiei por me deixar.


— Esperei um mês, dormindo sozinho, quase louco pelo fato de sabê-la no quarto ao lado e que não poderia entrar. Você não queria ser consolada. Tudo o que fazia era chorar.


— Assim, esperou um mês antes de me abandonar. Que bondade a sua! Um mês inteiro!


Com essas palavras, Anahí sentiu como se a represa tivesse transbordado, e passou a investir com fúria com a espada.


— Você partiu sem me dizer adeus, Alfonso. Apenas fez as malas e se foi. Sem um bilhete sequer! Eu estava tão apaixonada que poderia até perdoá-lo, mas nunca tive essa chance. Não tentou ao menos ver meu lado na situação. Partiu meu coração e nem se importou com meus sentimentos. — Retrocedeu alguns passos. — Dois meses depois, apareceu aqui. Queria reconciliar-se, cheio de arrogância e prepotência. — Avançou para ele, com renovado vigor.


— Não pretendia que fosse assim, Anahí, nem estava sendo arrogante ou prepotente. Muito menos quando você me esbofeteou e me mandou para o inferno.


— Mas você não foi para o inferno, não é? Foi para Jane Morrow. Só posso imaginar que não queria tanto a reconciliação.


— Se foi isso o que entendeu, devo dizer-lhe que estava totalmente errada. — Alfonso fez um movimento ofensivo, empurrando-a com a espada, mas devagar, dando tempo para Anahí escapar dos golpes.


— Será que estava mesmo errada? Então, você tinha um jeito muito estranho de mostrar como valorizava nosso casamento.


— Jane não significava nada para mim. Nem eu para ela.


— Então destruiu meu coração pela segunda vez por alguém que não significava nada? Que adorável de sua parte! Vai me dizer que a usava para me esquecer?


— Na verdade, sim. — Ela riu, com descrença.


— E Maria Allen? Outro consolo para um macho com o orgulho ferido?


— Se prefere colocar nesses termos, é isso mesmo. — Respirando fundo, Alfonso baixou a arma. — Pode não acreditar, mas pretendia me reconciliar com você, naquela época. Em Brighton.


Anahí o encarou de olhos arregalados.


— Do que está falando?


— Dois anos atrás, quando a segui até Brighton. Lembra? E o que você fez? Viu-me, olhou-me de um jeito capaz de congelar qualquer ser vivo e disse-me para voltar para minhas concubinas. Deixou a cidade antes que eu tivesse tempo de desfazer meus baús e foi para a casa de seu irmão.


— Mas minha partida não o impediu de encontrar Maria, não é?


— Não. E sim, envolvi-me num duelo por causa dela. Quer saber por quê? Nada muito nobre, admito, mas vou lhe contar. Fui o último de uma longa lista de amantes de Maria; no exato momento em que o marido decidiu que não queria mais ser enganado. Ele me desafiou, e demos um tiro um no ombro do outro. Estúpido, sem dúvida, mas é a verdade.


— E o que houve, então? Corri para Herrera Park, preocupada com você. E lá o encontrei, na cama, sangrando, o médico à cabeceira. Perguntei se iria ficar bem e o que me respondeu? "Sinto desapontá-la, mas não vou morrer. Talvez se tentasse um pouco de arsênico..." Eu estava com tanto medo de que morresse, seu cabeça-dura, e tive de ouvir aquilo.


— Depois do que me aconteceu por causa de Maria, o que queria que dissesse? Algo do tipo "desculpe-me, querida, fiz tudo errado outra vez. Mas, se ficar comigo, pretendo consertar tudo". Seria essa a coisa certa a dizer?


— Palavras não importam para mim, Alfonso, mas suas atitudes. Já pensou em algum momento como tem sido minha vida? Vê-lo com todas aquelas amantes e saber que preferiu cada uma delas a mim?


— Não é nada disso. Eu teria preferido ficar com minha esposa. A mulher que deveria ser a mãe de meus filhos, que deveria estar em minha cama, mas não estava. Que deixou bem claro que me odiava, que jamais me perdoaria e que nunca mais suportaria ficar perto de mim.


— E em sua opinião isso justifica tudo?


— Não estou tentando justificar nada, Anahí. Pretendo apenas explicar por que fiz o que fiz.


 


A calma com que Alfonso se expressava, o fato de que não estava apenas se defendendo, mas também atacando, só a fazia sofrer ainda mais. Anahí reergueu a espada e atacou uma, duas vezes. Ele amparava cada um dos golpes com destreza, mas também recuava, permitindo que ela se movesse e o empurrasse para os fundos da sala.


— Eu o odeio por todas aquelas mulheres e não me importo se teve motivos para fazer o que fez! — Anahí gritava. — Odeio você por todas aquelas que você beijou, tocou e fez sexo. Por todas as coisas que disse ou deu a elas e que deveriam ser só para mim!


As costas de Alfonso tocaram a parede, e ela atacou de novo, apontando a lâmina para o coração dele. Alfonso nem tentou se mover, e recebeu o golpe no peito.


— Tenho ódio de você. — Anahí se afastou, ofegante. — Por ganhar meu amor e destruí-lo e por não fazer mais do que duas tentativas inócuas para me reconquistar. E por voltar agora, apenas porque precisa de algo que nenhuma outra mulher pode lhe dar.


Sem fôlego, deixou cair a espada. A imagem de Alfonso começou a ficar embaçada.


— Acima de tudo, eu o odeio por me magoar de novo, justo agora, que já tinha conseguido esquecê-lo!


Anahí deu-lhe as costas pensando em sair, mas Alfonso não permitiu. Ela ouviu o som da espada sendo colocada no chão, e não demorou a sentir os braços fortes se fechando a seu redor. Alfonso não se mostrava nem um pouco abalado, o cínico.


— Você disse que gostaria de me entender melhor, por isso tentei me explicar. Porém, não posso mudar o passado. Não irei embora de novo, Anahí, nem deixarei que você se vá. Desta vez, nós dois teremos de encontrar um jeito de viver juntos, sem ferir um ao outro. É por isso que temos de ser amigos.


Ela balançou a cabeça.


— É impossível.


— Porquê?


Anahí se desvencilhou do abraço, e ele não tentou impedir. Não respondeu à pergunta, pois seria desperdiçar palavras, e ela já estava exausta. Caminhou em direção às escadas, seguida pelo marido, mas nada disseram até chegarem à porta do quarto de Anahí.


— Boa noite, Alfonso.


— Por que é impossível, Anahí? Você sempre quis falar sobre tudo; então, diga. Por que é impossível sermos amigos?


Ela suspirou, frustrada.


— Porque, bem... Porque...


Não conseguiu mais falar, pois ele pegara uma mecha de seus cabelos e a colocara para trás da orelha.


— Porque amigos confiam uns nos outros, e eu não confio em você.


— Sendo assim, terei de reconquistar sua confiança. — Alfonso estava sendo razoável, e isso era péssimo para Anahí. Sem poder evitar, ela umedeceu os lábios.


— Faz isso para me enganar, Alfonso, para me atrair para sua cama.


— E está funcionando?


— Não, e nunca mais funcionará.


— Então, não tem com o que se preocupar, não é?


— Não, não tenho. — Anahí tocou a maçaneta, desejando desesperadamente se afastar. — Porque ainda odeio você.


— Não. Não mais. — Fechou a mão sobre a dela para evitar que abrisse a porta. — Naquela noite, em Grosvenor Square, quando fiquei horas na chuva para vê-la, você me deixou ficar. Sei que me quer e que não me detesta mais.


Alfonso se aproximou, só o suficiente para que seus corpos se roçassem. Beijou-lhe os cabelos e o rosto, sentindo o coração de Anahí bater mais forte.


Ela experimentou um tremor de medo misturado com desejo.


— Vou fazer com que volte a confiar em minha pessoa — murmurou, acariciando a mão que segurava a maçaneta. — Você deixará de ter medo de mim.


Anahí cerrou as pálpebras.


— Não tenho medo de você. — Que mentira!


E ele sabia disso também.


— Agora, quem é que está mentindo? — Alfonso beijou a orelha delicada, soltou-lhe a mão e deu um passo atrás. — Boa noite, Anahí — despediu-se ao chegar à soleira de seus aposentos.


 


Ela entrou na suíte e se trancou lá dentro. Enquanto Celeste a ajudava a se trocar, podia ouvir que Alfonso conversava com seu camareiro.


Onde fora parar seu orgulho? O que acontecera com seu ódio? Aqueles eram seus escudos e, sem eles, sentia-se fraca e vulnerável.


O fato era que sentia que não o odiava mais. Cada vez que conversavam, seu ressentimento diminuía um pouco; cada vez que ele a fazia rir, conseguia relembrar a magia de antigamente. Mas ainda não estava pronta.


Assim que a criada se foi, deitou-se no leito, abraçada ao travesseiro.


Caso se tornassem amigos, seria só uma questão de tempo para que voltasse a confiar nele. Se isso acontecesse, voltaria correndo à cama conjugal, com o coração na mão para oferecer-lhe, mais uma vez.


Que Deus tivesse piedade, porque, se depois de tudo isso Alfonso a deixasse, não haveria mais salvação para ela.


 


 


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Autor(a): DuaneStories

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 7



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  • Postado em 11/05/2016 - 13:57:46

    Estou adorando essa fanfic! Pena q está quase na reta final

  • carla_marielt Postado em 09/05/2016 - 16:33:22

    Continua... ..

  • fersantos08 Postado em 27/04/2016 - 16:02:58

    Uhuuuul mais uma fanfics diva, batendo palminhas aqui de felicidade :) postaaaa maaaaaiiiiis

  • ponnyforever10 Postado em 27/04/2016 - 11:53:43

    Leitora nova,adorando ver poncho tentando conquistar a Anahi kkkk.Continuaa

  • Nayara_Lima Postado em 22/04/2016 - 17:44:34

    Ameeei continua....

  • hadassa04 Postado em 21/04/2016 - 20:04:37

    Primeiro comentário é meu.... Então mereço uns 5 capítulos

  • hadassa04 Postado em 21/04/2016 - 20:03:50

    Opa adorei a sinopse pode postar


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