Fanfic: Beleza Perdida ❥ Ponny | Tema: Ponny,Drama,Guerra
PRIMEIRO DIA DE AULA — SETEMBRO DE 2001
O ginásio do colégio estava tão barulhento que Anahí precisou se inclinar até perto da orelha de Eddy e gritar para ser ouvida. Eddy era mais que capaz de manobrar a cadeira de rodas através do grupo agitado de alunos, mas Annie o empurrou para que pudessem ficar juntos com mais facilidade.
— Está vendo a Dulce? — gritou Anahí, os olhos percorrendo o lugar. Dul sabia que tinham de se sentar na parte de baixo da arquibancada, para que Eddy pudesse ficar perto delas. Eddy apontou com o dedo, e Annie seguiu com o olhar na direção até onde Dulce acenava freneticamente, fazendo seus seios pularem e o volumoso cabelo vermelho se agitar loucamente. Seguiram o caminho até ela, e Anahí deixou Eddy assumir o controle da cadeira enquanto ela subia até a segunda fileira, sentando-se logo atrás de Dulce, para que ele pudesse posicionar a cadeira no final do banco.
Anahí odiava as reuniões de alunos na quadra antes de eventos esportivos. Ela era pequena e costumava ser empurrada e espremida, não importava onde se sentasse, além de ter pouco interesse em torcer e bater os pés. Suspirou, acomodando-se para a meia hora de gritaria, música alta e jogadores de futebol americano levantando a galera num frenesi.
— Por favor, levantem-se para o hino — anunciou uma voz, e o microfone protestou com um ruído agudo, fazendo as pessoas se encolherem e cobrirem as orelhas, mas tendo sucesso em deixar o ginásio silencioso. — Meninos e meninas, hoje temos uma surpresa especial.
Christopher Von Uckermann, também conhecido como Ucker, estava segurando o microfone com um sorriso malicioso no rosto. Ele estava aprontando alguma e imediatamente teve a atenção de todos.
Ele era bom de papo; era óbvio que adorava seu tempo no microfone.
— Meu amigo e também amigo de vocês, Alfonso Herrera, perdeu uma aposta. Ele disse que, se ganhássemos nosso primeiro jogo, cantaria o hino nessa reunião aqui no ginásio.
Suspiros de surpresa foram ouvidos, e o volume nas arquibancadas subiu no mesmo instante.
— Mas não apenas ganhamos nosso primeiro jogo, como ganhamos o segundo também! — O público rugiu e bateu os pés. — Então, sendo um homem de palavra, aqui está Alfonso Herrera,cantando o hino — disse Ucker e acenou com o microfone na direção do amigo.
Ambos eram altos.
Mas Alfonso era o Alfonso,seu bíceps eram enormes,ele parecia um daqueles caras de capa de romance. Até seu nome parecia pertencer a algum personagem de literatura picante. E Anahí saberia.
Havia lido milhares desses livros. Machos alfa, abdomes tanquinho, olhares poderosos, finais felizes. Mas ninguém nunca se compararia a Alfonso. Nem na ficção, nem na vida real.
Para Annie, Alfonso Herrera era absolutamente lindo, um deus grego entre os mortais, um ser de contos de fadas e de telas de cinema. Diferente dos outros garotos, ele usava o cabelo escuro em ondas que chegavam até a nuca, de vez em quando o jogando para trás, para que não caísse nos olhos castanhos de cílios espessos.
Rumores diziam que a mãe de Alfonso,Ruth Rodríguez, durante sua busca pela fama, havia se envolvido com um modelo italiano de cuecas em Nova York. O envolvimento rapidamente acabou quando ele descobriu que Ruth estava grávida. Abandonada e esperando um filho, ela voltou mancando para casa e foi recebida pelos braços confortáveis do velho amigo, Alejandro Herrera, que se casou com ela de bom grado e acolheu o bebê seis meses depois.
A cidade prestou atenção especial no lindo bebê enquanto ele crescia, especialmente quando o pequeno e loiro Alejandro acabou tendo um filho musculoso, com cabelos e olhos verdes e um físico digno de, bem, de um modelo de cuecas.
Na época, Alfonso já era figurinha carimbada na cidade pequena, e as pessoas especulavam sobre a razão de ele ter ficado. O rapaz lançava dardos como um guerreiro mítico e derrubava adversários no campo de futebol como se eles fossem feitos de papel. Quando tinha quinze anos,Alfonso levou seu time mirim de basquete para o campeonato regional e conseguia arremessos incríveis com a bola.
A multidão ficou silenciosa no instante em que Alfonso pegou o microfone, esperando pelo que seria um massacre altamente divertido do hino. Poncho era conhecido por sua força, pela aparência bonita e destreza atlética, mas ninguém nunca o tinha ouvido cantar. O silêncio estava saturado de expectativa boba. Alfonso colocou o cabelo para trás e enfiou a mão no bolso, como se estivesse pouco à vontade. Depois fixou os olhos na bandeira e começou a cantar.
— Ó, dizei, podeis ver, na primeira luz do amanhecer... — Mais uma vez era possível ouvir o espanto da plateia. Não porque fosse ruim, mas porque era maravilhoso. Alfonso Herrera tinha uma voz que fazia jus ao corpo do qual ela saía. Era macia e grave, impossivelmente poderosa. Se chocolate amargo pudesse cantar, cantaria como Poncho.
Anahí estremeceu quando a voz dele a envolveu como uma âncora, alojando-se fundo em sua barriga, puxando-a para baixo. Quando deu por si, seus olhos estavam se fechando por trás dos óculos grossos, e ela deixou o som inundá-la. Era incrível.
— Sobre a terra dos livres... — a voz de Alfonso chegou ao ápice e Anahí sentiu como se tivesse escalado o Everest, sem fôlego, agitada e triunfante. — E o lar dos valentes! — A multidão rugiu em volta dela, mas Annie ainda estava presa àquela nota final.
— Anahí! — a voz de Dulce ecoou. Ela empurrou a perna da amiga, que a ignorou. Annie estava no meio de um momento. Um momento, na opinião dela, com a voz mais linda do planeta.
— A Annie está tendo o primeiro orgasmo. — Uma das amigas de Dulce deu uma risadinha. Os olhos de Anahí se abriram de repente para ver Dul, Eddy e Maite olhando para ela com um grande sorriso estampado no rosto. Felizmente, os aplausos e a resposta animada dos presentes impediram que outros ouvissem o comentário humilhante de Maite.
Pequena e pálida, com cabelo castanho e feições esquecíveis, Anahí sabia que era o tipo de garota que passava despercebida, era facilmente ignorada e com quem ninguém sonhava. Havia flutuado pela infância sem dramas e com pouco alarde, ancorada na perfeita consciência da própria mediocridade.
Como Zacarias e Isabel, pais do bíblico João Batista, os pais de Anahí já estavam bem além da idade de ter filhos quando, de repente, se viram com uma adição à família a caminho. Enrique Puente, de cinquenta anos, pastor popular na cidadezinha de Hannah Lake, ficou sem ação quando a esposa, com quem estava casado havia quinze anos, disse, chorosa, que ia ter um bebê. O queixo dele caiu, as mãos tremeram. Não fosse pela alegria serena estampada no rosto da esposa de quarenta e cinco anos, Marichelo, ele teria pensado que ela estava pregando uma peça pela primeira vez na vida. Anahí nasceu sete meses depois, um milagre inesperado, e a cidade toda celebrou com o amado casal. Annie achava irônico que um dia tivesse sido considerada um milagre, quando sua vida não havia sido nada milagrosa.
Anahí tirou os óculos e começou a limpá-los na barra da camiseta, conseguindo, com eficiência, deixar-se cega para os rostos divertidos ao redor. Que rissem. Porque a verdade era que ela se sentia ao mesmo tempo zonza e eufórica, como costumava se sentir depois de uma cena de amor especialmente gratificante em um de seus romances favoritos. Anahí Giovanna amava Alfonso Herrera,amava-o desde que tinha dez anos e ouvira a voz dele se erguer em um tipo muito diferente de música; porém agora ele alcançava um nível inteiramente novo de beleza, e Anahí estava admirada e inebriada que um garoto pudesse ter recebido tanto da natureza.
Autor(a): anahigherrera
Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Loading...
Autor(a) ainda não publicou o próximo capítulo