Dulce Maria 

Alguns dias se passaram depois daquela confusão. Christopher continuava furioso e isso não ia passar tão cedo, não tinha revelado para ele todas as sujeiras que Richard tinha falado para mim, não queria piorar mais as coisas e também queria esquecer tudo aquilo.

Já tinha sofrido assédio antes.

Na verdade, qual mulher nunca sofreu?

Mas dessa vez foi pior.

Me senti tão humilhada, tão constrangida, me senti um pedaço de  carne, cheguei a pensar até que a culpa era minha, mas o que fiz? Nada! Não fiz absolutamente nada. 

Richard é conhecido por dar em cima de quase todas as mulheres, na verdade, ele cometia assédio se for igual como me tratou. Julie contou que ele chegou a dar em cima de algumas amigas dela, menores de idade.

Senti vontade de vomitar novamente.

Christopher não queria olhar para a cara dele tão cedo. E ficou ainda mais carinhoso comigo, mais do que já é na verdade. Hoje era o dia de mais um evento que ele teria que ir e eu mais uma vez o acompanharia. Era um leilão num clube muito conhecido na cidade, a mãe dele e provavelmente Anahí também estariam presentes.

Christopher tem ignorado Alexandra à dias, desde que ela ligou para reclamar do soco que ele deu no pai. Christopher não discutiu muito com ela, apenas explicou o que aconteceu e em seguida desligou na cara dela quando ela começou a surtar no celular.

Confesso que não podia me sentir um pouco culpada por está de certa forma separando ele dos pais, os afastando, mas Chris deixava bem claro pra mim, que não era eu que o fazia se afastar deles, e sim eles mesmos.

Christopher mais uma vez estava no escritório e eu tomava uma longa ducha para me arrumar, assim que sai do banheiro amarrando um roupão em mim, avistei na cama uma outra caixa enorme como no primeiro evento.

Sorri vendo que em cima da caixa tinha uma única rosa e um pequeno cartão.

Primeiro peguei a rosa e levei ao nariz.

Em seguida, li o cartão.

Comprei pensando em você. Mas qual a novidade? Vivo pensando em você! Espero que use hoje. 

Ass: Seu namorado!

Sorri.

Christopher, por que tão perfeito?

Abri a caixa pegando um longo vestido preto, ele era lindo e comportado, ficaria bem justo no meu corpo, não tinha decotes, mas da metade da coxa até o pé esquerdo tinha uma abertura  fina e elegante. Ao lado um par de sapatos altíssimos também preto.

Em minutos, me encarava no espelho.

Como esperado, vestido ficou perfeito e me deixava muito elegante. Meu cabelo hoje estava com um penteado preso com tranças em volta. Minha maquiagem escura, o batom vermelho dava a impressão da minha boca ser bem maior do que realmente é.

Ouvi um suspiro.

Christopher: Poderia ficar aqui admirando a bela namorada que tenho o resto da minha vida. - sorriu.

Nas mãos como de costume segurava uma caixa de joias, mas dessa vez era pequena, bem discreta.

Christopher: Espero que goste. - se aproximou e abriu a caixinha.

Um lindo par de brincos de diamantes quase me cegaram.

Dulce: São lindas Chris.

Christopher: Não mais que você. - me entregou a caixinha - Agora preciso me arrumar para ficar à sua altura.

Com um beijo no rosto, para não borrar meu batom, ele entrou no banheiro.

Coloquei meus brincos.

[...]

O clube era muito bonito, os jardins enormes e muito florido. Depois de dar nossos nomes para a recepcionista, de mãos dadas, entramos dentro do enorme e antigo casarão.

Muitas pessoas circulavam, garçons com bandejas de champanhe, água, suco e pequenos aperitivos andavam por todos os cantos, a música que tocava era clássica. Muitos fotógrafos muito bem arrumados circulavam.

Um deles veio em nossa direção.

Christopher segurou na minha cintura e sorrimos para as fotos. Tínhamos que subir um andar, nele aconteceria o leilão, de mãos dadas subimos as escadas e uma outra recepcionista nos levou até os nossos lugares.

Tinha em torno de cinquenta ou mais  cadeiras com plaquinhas. Algumas pessoas já estavam em seus devidos lugares e conversavam baixo. Mas todas elas nos fitaram quando ocupamos os nossos lugares.

Tínhamos ficado na primeira fileira da esquerda, diretamente de frente para o palco emprovisado. Apenas dois fotógrafos estavam nessa área e começou a tirar mais fotos de nós dois, com a mão na minha Christopher e eu sorrimos para as câmeras.

Christopher: Minha mãe deve ter ficado no outro lado. - comentou enquanto olhava para o nome da plaquinha ao lado - Melhor assim. - sorriu apertando nossa mão entrelaçadas.

Olhei ao redor achando tudo muito lindo, requintado, o clube era de uma beleza antiga, clássica, elegante.

Christopher: Esse clube pertence a uma das famílias mais importantes do país, só não consigo me lembrar do sobrenome. - comentou me vendo olhar admirada envolta.

Dulce: Depois daqui podemos comer algo gorduroso? - sussurrei.

Christopher: Está igual a Julie.

Dulce: Não preciso está grávida para sentir vontade de comer algumas porcarias..- pisquei.

Christopher: Te levo onde quiser. - beijou minha mão.

Sorri.

Cerca de meia hora depois, quase todas as cadeiras estavam ocupadas, Anahí e Alexandra tinham chegado juntas e sentaram juntas na segunda fileira do lado direito, ao olhar nos dois juntos, a cara de ambas não foi nada animador. Ambas estavam como sempre elegantes.

Mas o que me deixou surpresa foi quando Igor Rickli, meu professor, entrou no salão sozinho, muito bem vestido(smoking) e ocupou o único lugar vazio na ponta da primeira fileira do lado direito.

E claro, olhou diretamente para mim.

Uma moça entregou para todos uma plaquinha com um número.

O meu era 91.

Christopher 92.

Xxx: Boa noite senhoras e senhores - falou o leiloeiro no palco - Sejam todos bem vindos a mais um leilão da família Bennet, hoje muitos itens serão leiloados, muitas obras de arte, espero que se divirtam. - sorriu - Vamos começar por essa relíquia de vazo dos anos 1912 - apontou para o enorme vazo que um funcionário trazia para dentro do salão num carrinho. - Vamos aos lances, quem dar por ele setenta mil reais..- olhou as fileiras.

Quatros pessoas levantaram a plaquinha.

Leiloeiro: Ouvi...cem mil?

Xxx: Cento e vinte mil. - falou um homem com a placa levantada.

Zzz: Cento e cinquenta mil. - falou uma mulher com a placa.

Xxx: Cento e oita mil reais. - contrapôs o homem sorrindo.

Zzz: Duzentos mil reais. - ela rebateu.

Leiloeiro: Dou-lhe uma, dou -lhe duas..vendindo para essa bela dama. - bateu o martelo. - O próximo é uma linda co..

O leilão continuou por muito tempo, já foram vendidos quatro vazos, seis obras de artes, um carro de luxo muito antigo(coisa de colecionador), um iate, uma casa de campo, um carro esportivo moderno e agora tinha entrado nas partes das joias.

Verdadeiros brilhantes.

Christopher: Todas pertencem a mim. - sussurrou no meu ouvido. 

Bom, hoje ele ia lucrar, o que de fato aconteceu. Todas as onze joias foram vendidas por valores altíssimos. Metade delas foram compradas apenas por mulheres. 

Xxx: Para finalizar, o tão esperado quadro do famoso pintor espanhol Germano Ramanov. - anunciou quando o funcionário entrou com um quadro no carrinho - Começamos com um lance baixo...doze milhões de reais.

Esse era o lance baixo?

Me segurei para não rir.

Xxx: Quinze milhões. - falou um senhor com a placa.

Yyy: Dezoito. - levantou outro senhor.

Anahí: Vince e três. - levantou a placa.

Leiloeiro: Ouvi vinte e seis milhões..? 

Zzz: Vinte e oito milhões - falou outra mulher.

Christopher: Trinta e cinco milhões. - levantou a placa.

O encarei surpresa.

Ele ia dar toda essa fortuna no quadro feio daquele?

Todos ficaram em silêncio.

Christopher sorriu.

Ele gostava disso..

Leiloeiro: Dou-lhe uma, dou-lhe duas...ven..

Igor: Quarenta milhões. - levantou a placa.

Christopher assim como todos o encarou. 

Christopher: Quarenta e cinco milhões. - rebateu.

Igor: Cinqüenta milhões. - sorriu.

Abri minha boca surpresa.

Meu Deus!

Christopher: Sessenta milhões. - agora o encarava com raiva.

Igor: Sessenta e sete. - o encarava desafiando.

Christopher: Oitenta. - rebateu.

O murmúrio na sala começou.

Leiloeiro: Dou-lhe uma, dou-lhe.. 

Igor: Oitenta e três milhões. - levantou uma sobrancelha desafiadora.

Christopher: Noventa e dois milhões de reais. - levantou da cadeira.

O murmúrio de todos foi alto.

Leiloeiro: Dou-lhe uma, dou-lhe duas..- esperou - Vendido para o senhor Christopher Uckermann. - bateu o martelo.

Todos começaram a bater palmas para ele, até Igor que ainda o encarava.

NOVENTA E DOIS MILHÕES DE REAIS.

NOVENTA E DOIS MILHÕES.

No quadro feio daquele.

[...]

Já no andar de baixo, era servido uma espécie de jantar para os convidados, Christopher e eu tínhamos sentado na mesa junto com Alexandra, Anahí e mais duas mulheres, Júlia e Letícia.

A entrada foi uma sopa de frutos do mar e o prato principal era cavaquinha grelhada com molho de escargot, o que sinceramente era horrível. Agora mais do que nunca queria um hambúrguer com milk-shake e batata frita.

E Christopher pelo visto concordava comigo, já que mal tocou no prato.

Júlia: Mas me diga..irá ficar no Brasil por muito tempo? - perguntou curiosa para o Christopher.

Christopher: Sim.

Alexandra: Ele fala isso agora, mas daqui a pouco viaja. Ele enjoa das coisas fácil. - me encarou.

Christopher: Não é verdade. Aqui tenho um motivo especial para ficar por muito tempo. - sorriu pra mim.

Anahí: Tempo é uma coisa que passa rápido. - comentou tomando vinho.

Christopher a encarou.

Leiloeiro: Perdão! - se aproximou da mesa - Desculpe interromper o jantar, mas preciso que o senhor me acompanhe agora para fazer a transferência de sua compra. - avisou olhando Christopher.

Christopher: Claro. - me olhou - Já volto. - avisou antes de levantar e acompanhar o homem mais velho para fora da sala.

Letícia: Me diga Dulce, qual país da Europa você mais adora? - falou curiosa - Ale ama a França, na verdade até nos conhecemos lá.

Alexandra: Difícil ela dizer já que nunca conheceu a Europa. - falou com ironia.

Anahí riu.

Júlia: Perdão, como assim nunca conheceu a Europa querida? - perguntou assustada.

Anahí: Simples, Dulce..- falou meu nome com nojo - Não faz parte da nossa sociedade, ela parece elegante e culta com essa roupa e esses brincos de diamantes, mas não passa de uma morta de fome. - sorriu.

Alexandra riu e as duas mulheres arregalaram os olhos.

Dulce: Não tenho dinheiro é verdade, mas não sou uma morta de fome como tenta me humilhar. - falei séria encarando Anahí - Me admira você que aparece na mídia fazendo várias doações para pessoas carentes e falar dessa forma tão humilhante.

Anahí: Fala isso porque eu posso doar, sou tão rica quanto o Christopher, já você não pode dizer o mesmo.

Alexandra: Tão linda quanto ele também. - ressaltou - Um casal perfeito. Inclusive, já até tiveram um romance. - sorriu.

Letícia: Uau! - abriu a boca surpresa.

Romance? Uma noite é romance?

Respirei fundo.

Precisava sair dali ou voaria em cima delas duas.

Dulce: Licença! - pedi levantando - E só para lembrar...uma noite de sexo, é apenas uma noite de sexo. Christopher nunca quis nada mais sério com você e nunca vai querer. Afinal, se ele gostasse nem que seja um pouco de você  - a encarava - Quem é era a namorada dele era você e não eu. - sorri vendo a raiva nos olhos dela.

Não esperei resposta e me afastei.

Sai da sala de jantar procurando um lugar mais reservado. Raiva, todos os eventos Alexandra e Anahí tentavam de alguma forma me humilhar, não que conseguisse, mas já estava irritada com essas cenas.

Desviando de alguns garçons passei por um longo corredor até encontrar uma sala de está com a porta aberta, entrei na sala vazia e respirei fundo para me acalmar. A sala era tão luxuosa quanto o resto, com uma decoração clássica e com muitos espelhos ao redor.

Andei até a janela que estava aberta e encarei o lindo jardim.

Alexandra: Agora estamos sozinhas - entrou na sala fechando a porta.

 A encarei.

Dulce: O que você quer?

Alexandra: Você está se achando muito superior, não é? - cruzou os braços - Christopher tem me ignorado, fez ele bater no próprio pai, ele te assumiu na mídia...devo confessar, você fez ele comer na sua mão direitinho.

Dulce: Não estou fazendo nada. 

Alexandra: Quanto você quer para deixar meu filho em paz?

Ri sem humor.

Dulce: Não adianta eu me defender pra você e dizer que não quero o dinheiro do seu filho que não irá acreditar.

Alexandra: Não vou mesmo. Conheço muito bem o seu tipo. - torceu a boca - Se faz de boa moça, educada, mas não passa de uma interesseira. É só me falar o valor que eu dou. 

Dulce: Entenda Alexandra, só vou me afastar do seu filho, se ele quiser isso. 

Alexandra: Mas ele não vai querer. Está obcecado por você. - negou. - Conseguiu prender muito bem o meu bebê - falou com raiva.

Dulce: Aceita que você e nem Anahí irão me separar dele. Pode tentar, mas não irá conseguir. - deixei claro.

Alexandra: Última chance, quanto você quer? - quase rosnou.

Dulce: Não pode me comprar Alexandra. Não estou a venda.

Alexandra: Todos estão. Me diga seu preço e eu pago.

Dulce: Todos, menos eu.

Alexandra: Você está o afastando dos próprios pais, Christopher bateu no pai por sua causa, tem noção disso? - se aproximou de mim - Você fez um filho bater no próprio pai.

Dulce: Não queria que tivesse acontecido isso, mas seu filho apenas me defendeu.- soltei um suspiro.

Alexandra riu.

Alexandra: Pobre donzela indefesa. Não sabe se defender sozinha.

Dulce: Richard me assediou e..

Alexandra: Assediou? - riu ainda mais - Por favor, ele deu em cima de você por um motivo, com certeza ficou se jogando pra cima dele.

Neguei.

Dulce: Você não estava lá, não sabe de nada. - a encarei com raiva.

Estávamos cara a cara.

Alexandra: Nem preciso. Você se jogou pra cima dele e como ele é galinha, aproveitou a deixa, mas meu filho descobriu e você se fez de vítima e ele brigou com o próprio pai, o bateu por sua causa - falou com ódio nos olhos - Você não passa de uma vagabunda, interesseira, uma vadia que abre as pernas para qualquer que tenh...

Um estalo alto e forte soou pela sala.

Minha mão levantada ardeu, enquanto Alexandra estava virada de lado com a mão e o cabelo loiro no rosto. Tinha dado um forte tapa em seu rosto.

Dulce: Você me respeita! - apontei o dedo na cara dela. - Lave a sua boca arrogante para falar de mim. Posso não ser rica, posso não ter um sobrenome, posso não vir de uma família tradicional, mas sou uma mulher honesta, de princípios, de valores que nem você e nem aquela sonsa da Anahí são, por isso, senhora duquesa, trate de me respeitar e de aceitar que sou a namorada de seu filho, a mulher por quem ele está loucamente apaixonado, a mulher que o faz feliz e nem tente me separar dele, ou quem acabará longe nessa história será você e não eu. - falei séria e no alto e bom tom.

Alexandra me encarava com brilho nos olhos, um brilho de raiva.

Muito raiva.

Não esperei uma resposta e caminhei até a porta abrindo-a.

Dulce: Boa noite! - falei antes de deixar a sala com a porta aberta.

Meu Deus!

Eu não deveria ter feito isso.

Não deveria ter dado aquele tapa.

Foi errado. Muito errado.

Mas não consegui me conter com suas ofensas. E ela tinha que saber que não a deixaria me insultar. Alexandra nem ao menos se deu a oportunidade de me conhecer melhor, de conversar comigo, já foi me atacando, me ofendendo.

Se ela ao menos me desse uma oportunidade, uma única oportunidade eu poderia mostrar para ela que eu seria a melhor namorada do mundo para o seu filho. E não precisaria ela mesma afastar Christopher dela.

Com o pensamento a mil, acabei(não sei como) parando na cozinha. Os chefes, cozinheiros e garçons andavam iguais loucos de um lado para o outro. Um chefe, já senhor, tirou os olhos da panela que mexia e me encarou na porta.

Limpando as mãos no guardanapo, se aproximou de mim. 

Xxx: Boa noite. Algum problema com o cardápio? Deseja alguma coisa?

Dulce: Ah..não. - fiquei sem jeito. - Eu só queria fugir um pouco e acabei parando aqui.

Xxx: A senhorita se quiser pode tomar champanhe enquanto experimenta os nossos aperitivos na bancada - apontou para uma grande bancada com cadeiras no canto da cozinha.

Dulce: Não. Eu não bebo. Obrigada!

Xxx: Pode ser um suco, faço um de maracujá geladinho agora para a senhorita - ofereceu gentil.

Tomar um suco de maracujá depois da discussão com Alexandra seria uma boa, estava precisando.

Dulce: Vou aceitar. - sorri.

Xxx: Por favor..- deu a passagem para que eu fosse na frente.

Dulce: Obrigada. Qual é o seu nome? - perguntei caminhando até a bancada.

Xxx: Jorge. Sou o chefe da noite. 

Dulce: É um prazer Jorge. Sou a Dul.

Jorge: É um prazer conhece-la senhorita Dul. - sorriu.

Sentei em um dos bancos altos ajeitando meu vestido.

Jorge: Já trago seu suco e alguns aperitivos, só um momento. - se afastou.

Fiquei olhando a cozinha. Era grande, iluminada, moderna e bem gelada. Em poucos minutos, Jorge trouxe um enorme copo de suco de maracujá pra mim e alguns aperitivos. Ele teve que voltar para o fogão, mas deixou claro que podia chama-lo quando eu quisesse. O agradesci.

Ele era muito gentil.

Já estava na metade do copo, quando Igor entrou na cozinha indo direto até Jorge, ele não tinha me visto, Jorge parou o que estava fazendo para abraça-lo e ambos conversam animados, pareciam muito íntimos.

Sentindo que estava sendo observado, ele passou os olhos por toda cozinha até parar em mim. Desviei o olhar enchendo minha boca de salgadinhos.

Pelo canto do olho vi ele se aproximar.

Igor: O quê faz aqui escondida? - perguntou ao meu lado.

Dulce: Eu..- engoli o último salgadinho na boca - Não estou me escondendo, só estou comendo.

Igor: Cadê seu namorado?

A essa hora deveria está me procurando.

Dulce: Pegando o quadro que comprou.

Igor: Sei. 

Dulce: O que faz aqui?

Igor: Bom, o clube pertence a minha família, tive que representar hoje.

Dulce: Eu quis dizer na cozinha professor. - tomei de uma vez o resto do suco no copo.

Igor: Me chame de Igor, não estamos na faculdade. Aqui não é minha aluna.

Dulce: Mas é meu professor.

Igor: Na faculdade Dulce. Não aqui. E eu sempre venho na cozinha. Jorge, o chefe da noite, é um grande amigo.

Dulce: Ele é muito gentil.

Igor: Ele é sim.

Encarei o copo vazio e levantei.

Dulce: É melhor eu ir.

Igor: Te acompanho. - sorriu.

Dulce: Vou atrás do meu namorado -  avisei já andando.

Igor: Não tem problema. 

Saímos da cozinha e caminhamos por um longo e vazio corredor com enormes janelas abertas, o vento da noite e o lindo jardim chamavam atenção naquele ambiente morto.

Igor: Você está linda. - falou ao meu lado.

Dulce: Obrigada! - murmurei.

Igor: A mais linda do evento.

Respirei fundo.

Agora era a hora.

Dulce: Igor, eu tenho namorado. 

Igor: Eu sei.

Dulce: Mas não parece.. - parei de andar o encarando e ele fez o mesmo - Não sou cega, desde do nosso primeiro dia de aula que vêm flertando comigo, me elogiando, me dando mais atenção do que realmente deveria. - neguei - Tenho namorado e o amo. - deixei claro. - Fora que você é meu professor, isso é proibido. Deveria se envergonhar.

Igor: Não nego. - balançou a cabeça - Você tem mexido comigo desde quando esbarrei em você, não tem um dia que não consigo deixar de pensar em você, o quanto é linda, doce, inteligente, gentil. E o fato de eu ser seu professor não impede nada, desde que não misture as coisas.

Seus claros olhos azuis brilhavam com cada palavra que saia de sua boca.

Dulce: Eu não sou solteira. Sou muito bem comprometida Igor, eu amo Christopher, ele é o amor da minha vida e peço para que pare de ficar flertando comigo, não gosto disso. Nada, entendeu? Nada vai existir entre nós dois, nunca. - deixei claro.

Igor: Fiel. Mais um adjetivo que tenho para você. É fiel Dulce. - sorriu.

Dulce: Sim. Fiel ao homem que amo.

Ficamos nos encarando.

Christopher: Dulce? - falou no final do corredor se aproximando da gente.

Baixei a cabeça me afastando mais de Igor, Christopher olhava Igor com uma cara nada boa. 

Dulce: Oii..- sorri.

Christopher: Estava atrás de você por todo clube. Onde estava? Por que não atendeu o celular?  

Peguei meu celular de dentro da pequena bolsa. Vi várias ligações dele.

Dulce: Está no silencioso, nem notei.

Christopher: Onde estava?

Dulce: Depois conversamos sobre isso.  - teria que falar que discuti com a mãe dele e que ela ganhou um tapa, mas falaria no apartamento.

Christopher: Quem é você, afinal? - encarou Igor sério.

Igor: Igor Rickli, um dos donos do clube e professor de Dulce. - respondeu.

 Christopher agora me olhava.

Dulce: É. Ele é um dos meus professores. - confirmei.

Christopher: Lembro do nome. - estendeu a mão pra ele - Christopher Uckermann, namorado de Dulce.

Igor: E o novo dono do quadro. - apertou a mão dele - Parabéns! Conseguiu me vencer, adoro uma boa disputada. Tinha adorado o quadro.

Christopher: Então, por que não lutou por ele? Dinheiro não falta pra você.

Igor: Quis deixar você ganhar. - rebateu.

Christopher: Me deixar ganhar? - riu sem humor - Não preciso que me deixe ganhar nada, eu sempre consigo o que quero. - respondeu.

Igor: Não tenho dúvidas disso Uckermann. - me olhou - Foi bom encontra-la, te vejo na faculdade Dulce. Boa noite! - sorriu e se afastou.

Ficamos vendo-o se afastar e quando sumiu Christopher me encarou.

Christopher: Esse arrogante é seu professorzinho? 

Dulce: Ele é um bom professor. Já não sei se é como pessoa. - fui sincera.

Christopher: Quando entrei no corredor vi que conversavam e parecia ser sério..- comentou - O quê falavam? Por que estavam aqui sozinhos?

Fiquei calada.

Não poderia mentir pra ele.

Dulce: Podemos falar em casa, Chris?E eu conto tudo. - mordi os lábios.

Sim.

Falaria pra ele que Igor estava tentando flertar comigo desde que me conheceu, mas que hoje dei um basta.

Christopher: Contar tudo..? O quê está acontecendo Dulce?

Dulce: Em casa Chris.

Christopher: Ok. - balançou a cabeça - Posso te pedir uma coisa?

Dulce: Claro. - sorri grudando meu braço no dele.

Christopher: Não fica sozinha de novo com ele. - pediu - Além de arrogante e debochado, vi como olhava pra você, ele te quer. - falou sério.

Dulce: Chris, só ficamos sozinhos nesse corredor, como estamos agora,  porque é único cômodo para voltar para o hall, mas não quero ficar sozinho com ele de novo, o único homem com quem quero ficar sozinha é com você e o único que me têm é você. - sorri.

Aos poucos ele foi abrindo um sorriso.

Não aguentei e o beijei.

[...]

Já estávamos indo embora quando me deu vontade de ir ao banheiro, Christopher ficou segurando minha bolsa, enquanto me esperava conversando com um grupo de empresários próximo da saída.

Usei o sanitário dando a descarga e quando sai da cabine, dei de cara com Anahí passando um batom nos lábios, ela me encarou surpresa. Me aproximei da pia para lavar as mãos.

Estávamos sozinhas no banheiro.

Anahí: Aproveite enquanto pode. - guardou o batom na bolsa - Porque Christopher vai ser meu.

Dulce: Acho difícil isso. - ri.

A mulher me encarou.

Anahí: Dulce, você não me conhece, não tem idéia do que sou capaz. - avisou - Christopher é meu, sempre foi e ele gosta de mim, ele só não sabe disso. - sorriu convencida.

A encarei também.

Dulce: Tem razão. Ele não sabe mesmo disso, já que quando faz amor comigo, geme meu nome não o seu. 

A raiva voltou em seus olhos.

Anahí: É uma vagabunda mesmo. Por isso ele só te quer na cama dele. - rosnou.

Me segurei para não dar o mesmo tapa nela, como dei em Alexandra.

Já basta de violência por hoje.

Dulce: Na cama dele, na vida dele, na família dele, ele me quer em tudo.

Anahí: Você não está à altura dele. Christopher nasceu como príncipe e hoje é um rei, merece ao lado dele uma rainha, ou seja, eu. Por isso Dulce, aproveite bem enquanto pôde. Porque eu vou tirar ele de você. - prometeu.

Enxuguei minhas mãos calmamente.

Dulce: Vou adorar te ver tentar. - sorri.

Joguei o papel no lixo e saí do banheiro sentido a raiva dela.

Escrevi a cena do Richard com a Dul com um nojo muito forte, mas foi necessário.

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