Fanfic: Almas Opostas - Vondy | Tema: Vondy

Dulce Maria 

Sofia: Está tudo bem, querida?

Pisquei rapidamente.

Dulce: S..im. - gaguejei.

Respirei fundo.

Sofia: Você ficou pálida!

Dulce: Eu...eu...eu vou lhe esperar lá em baixo - avisei enquanto saia da sala, não esperei resposta dela e fechei a porta.

Me afastei um pouco e peguei meu celular, procurei um nome nos meus contatos e cliquei nele levando o celular até minha orelha. Ele atendeu no primeiro toque.

Meu coração só faltava sair do peito.

Xxx: Olá cunhada!

Dulce: Oii Eddy, é...eu tenho uma pergunta pra fazer, é um pouco estranho, mas preciso que me prometa que não irá falar para Zoraida.

Eddy: Hum...ok. 

Dulce: Por acaso ela tem algum sinal?

Ele riu.

Eddy: Sim. É bem fofo. E ela odeia ele.

Respirei fundo.

Dulce: Me fale mais..- pedi.

[...]

Coloquei meu jaleco e fiz um rabo de cavalo no meu cabelo. Saí da pequena sala dos estagiários indo direto para a sala de triagem. O hospital estava calmo hoje, sem muitos acidentes graves ou pessoas esperando para serem atendidas.

Olhei as horas no meu celular.

14:22 da tarde.

Daqui ia direto para faculdade junto com Fuzz e Derrick que nesse momento estavam do outro lado do hospital, eles acompanhavam uma cirurgia de retirada de pedras na vesícula, uma cirurgia considerada bem simples pelos médicos.

Assim que cheguei na triagem, uma enfermeira me informou que Elizabeth estava me esperando na sala de preparação para um parto.

Fiquei animada.

Dulce: Cheguei. - falei entrando na sala tirando meu jaleco.

Elizabeth: Olá querida! - sorriu enquanto lavava as mãos. - Você foi a única que encontrei, Fuzz e Derrick já estão ocupados, Arthur está na pediatria e Lorena não apareceu hoje. 

Ela já estava devidamente vestida com roupas de cirurgia e touca.

Dulce: Deve ter acontecido alguma coisa com ela.

Elizabeth: Já é a terceira vez que ela falta esse mês. Terei que chamar atenção dela e se continuar, infelizmente vou dispensa-lá. Preciso que queiram está aqui. - negou e me encarou - Sua roupa está no armário, em dez minutos começamos a cesárea.

Dulce: Já estou indo.

Assim que Elizabeth entrou na sala de cirurgia, troquei de roupa, coloquei a touca e lavei as mãos. Quando entrei na sala, a futura mamãe já estava deitada e um pano azul impedia que ela pudesse ver alguma coisa.

Elizabeth já estava em sua posição ao lado de outros três enfermeiros, um anestesista e um pediatra. Me aproximei ansiosa para ver pela quarta vez uma cesariana. Como eu estava no primeiro ano, obviamente não podia realizar qualquer cirurgia, então, estávamos(os outros quatro) ali para aprender vivenciando de perto tudo.

Vinte minutos depois, um choro alto e forte preencheu a sala. Era um menino lindo e perfeito. Primeiro levaram ele até a mãe que chorava junto com ele, depois ele foi levado para fazer exames. Elizabeth terminou de dar os pontos meia hora depois, ela fazia tudo com calma e sorrindo.

Elizabeth: Pronto! Será levada para o seu quarto daqui à pouco. E Parabéns mamãe, seu filho é lindo. 

A mulher apenas sorria.

Dulce: Eu amo isso. - falei entrando junto com Elizabeth na sala de preparação tirando as luvas.

Elizabeth: Cirurgia? Você já falou querida. - tirou as luvas jogando no lixo e lavando as mãos. 

Fiquei ao lado dela lavando as minhas.

Dulce: Também. Mas me refiro ao bebê

Elizabeth: Já pensa em ter filhos?

Dulce: Sim. Mas depois da formatura. Quero me dedicar cem por cento ao meu bebê. - sorri.

Elizabeth: Entendo. A pior coisa que existe é não poder está perto do seu bebê quando ele mais precisa. - falou baixo e com os olhos perdidos.

Dulce: Desculpe, não entendi. Não ficou perto do Alfonso?

Elizabeth: Não me refiro ao Alfonso e sim..- foi interrompida por um enfermeira.

Xxx: Doutora, emergência cirúrgica. Uma grávida de oito meses sofreu um acidente de carro e o doutor Anderson mandou lhe chamar. Ela chega aqui em três minutos. - avisou.

Elizabeth: Estarei esperando já na sala. - se apressou com as mãos - Estava demorando esses acidentes. - murmurou.

[...]

Já estava quase na hora de ir para faculdade e terminava de organizar algumas fichas na triagem, logo a enfermeira passaria e recolheria todas as fichas para visitação, quando um nome de uma das fichas chamou minha atenção.

Dulce: Pablo..- li o prontuário médico.

Arregalei os olhos.

Meu Deus!

Na ficha dele dizia que ele foi internado hoje de manhã e que tinha sofrido agressão por todo o corpo. Quando percebi já estava entrando no quarto dele e levei minha mão até a boca assustada, Pablo estava com o rosto totalmente inchado e repleto de hematomas, o olho esquerdo estava tão inchado que ele não conseguia enxergar nada.

Uma perna estava engessado e levantada e um braço também engessado. Ele me encarou em silêncio.

Dulce: Quem fez isso com você? - fechei a porta me aproximando dele.

Pablo: Alguns porcos..- murmurou.

Dulce: O quê aconteceu?

Pablo: Fui vítima de homofobia. Eu e o Gael. - ele continuava falando baixo.

Dulce: Meu Deus! Pablo! Você tem que denunciar, você...você..você - não consegui falar de tão assustada.

Pablo: Já denunciei. A polícia saiu daqui à algumas horas. - respirou fundo - Não estávamos fazendo nada, só de mãos dadas, quando uns caras apareceram e..e...e...- começou a chorar.

Dulce: Ohh querido! Não continue! - toquei na mão dele.

Pablo: Por quê o meu amor por outro homem incomoda as pessoas? Por quê as pessoas são assim?

Dulce: Eu não sei querido. Mas isso não pode ficar assim. Você poderia ter morrido, você e o Gael. Esses monstros tem que pagar pelo que fizeram.

Pablo: Ele teve que passar por uma cirurgia. A última coisa que soube dele é que estava no quarto sedado, você pode...

Dulce: Eu vou sim. - não deixei ele terminar - Li a ficha dele antes de vir aqui e ele está bem. Vai ficar bem.

A porta do quarto foi aberta e dona Clarice entrou igual um furacão assustando nós dois. Ela levou as duas mãos até a boca assustada.

Clarice: Meu filho...- começou a chorar - O que fizeram com você. - se aproximou aos prantos.

Pablo: Mãe..- a voz falhou.

Clarice: Me perd..oa filho, por favor me perdoa. Eu devia ter estado com você, defendido você e acima de tudo...ter aceitado você. Me perdoa! - o abraçou chorando - Eu te amo meu filho.

Pablo: Também te amo mãe.

Ambos choravam muito.

Respirei fundo para não chorar também.

Esse momento era deles, por isso, devagar fui saindo do quarto sem eles perceberem.

O que eles sofreram foi uma monstruosidade sem tamanho, foi um crime de tamanha crueldade que assusta qualquer um.

Por quê esse mundo é desse jeito?

Por que as pessoas são cruéis?

Por que elas se incomodam com o amor e a felicidade dos outros? Nem eles e nem qualquer pessoa que tem uma orientação sexual diferente merecem passar por isso.

Ainda bem que existe leis.

E os responsáveis terão que pagar por isso. 

Respirei fundo.

Pelo menos essa monstruosidade serviu para unir mãe e filho de novo.