Igor Rickli

Silêncio.

E silêncio.

E mais silêncio.

Abri os olhos vendo cacos de vidros em mim, o avião continuava inteiro, exceto pelas janelas que estavam totalmente destruídas. Meus olhos voaram para Dulce, ela continuava na mesma posição de impacto.

Soltei os cintos e num piscar estava em cima dela.

Igor: Dulce? - tirei alguns cacos de vidros de suas costas e cabelo - Dulce? Dulce por favor responde. - pedi desesperado tocando na nuca dela.

Respirei de alívio quando aos poucos ela foi levantando a cabeça, em seguida o corpo, ela olhou pra si mesma tocando na barriga, depois pra mim e para o avião.

O piloto tinha conseguido pousar sem nos matar. Graças a Deus!

Igor: Consegue falar? Está sentindo alguma dor, além desses cortes? - os braços dela estavam iguais os meus por causa dos vidros.

Dulce: Es..tou bem. - falou baixo.

Jéssica: Aiii..- apareceu tocando na cabeça e gemendo de dor - Vocês estão, bem? - se aproximou devagar.

Fiquei na frente dela e levei minhas mãos para onde ela tocava.

Igor: Bateu aonde?

Jéssica: No armário. Aiiiii - gemeu quando toquei no inchaço.

Igor: Não está sagrando, não sei se fico feliz ou preocupado. Bater a cabeça pode causar uma contusão séria, quando bateu a cabeça você  se lembra se desmaiou? Nem que seja por segundos? - perguntei sério.

Jéssica: Não desmaiei. - garantiu.

Igor: Qual é o seu nome?

Jéssica: Jéssica!

Igor: Quantos anos têm?

Jéssica: Vinte e seis.

Igor: Sua cor preferida?

Jéssica: Azul.

Igor: Sua comida preferida?

Jéssica: Feijoada.

Igor: Ok. - puxei a parte inferior dos olhos dela olhando com atenção a parte branca - Está enxergando bem? 

Jéssica: Sim.

Igor: Parece bem. Mas se sentir tontura ou sonolência precisa me falar. - pedi.

Jéssica: Tá bom.

Steven: Estão todos bem? - saiu da cabine com alguns cortes no rosto e mãos também.

Me aproximei dele.

Igor: Bateu a cabeça?

Steven: Não. Os vidros caíram tudo em mim. Mas estou bem.

Igor: Certo. Estamos bem. - voltei a ficar do lado da Dulce. 

Dulce: O quê aconteceu? - encarou o piloto. - Onde estamos? 

Steven: A peça principal do avião quebrou, o que é estranho porque fizeram a revisão dele antes de voarmos e estava tudo normal. Sem essa peça o avião nem liga, foi um milagre ter conseguido forçar uma parada brutal sem que o avião partisse ao meio e nós matasse. 

Igor: Você sabe onde estamos exatamente?

Do lado de fora do avião só conseguia enxergar mato.

Steven: Foi outro milagre ter conseguido pousar nessa lugar, sem pista e sem nada. Depois desses matos, tem uma estrada. Estamos numa das cidadezinhas de Nicarágua.

Igor: O seu GPS funciona? - peguei meu celular mas ele estava sem sinal.

Steven: O sinal deve pegar assim que sairmos daqui desse mato. - respirou fundo - Foi um susto enorme. Mas estamos bem, é isso que importa.

Dulce continuava com a mão na barriga.

[...]

Segundo o GPS que pegou rapidamente e depois ficou sem sinal de novo, estamos numa cidade chamada Rivas, quatro horas da capital de Nicarágua e a cidade era tão pequena que na verdade era uma ilha.

Rivas era uma ilha, e só dava para chegar e sair dela de barco. O avião estava à 1 km do porto, o que era uma boa notícia, andariamos até lá, alugariamos um barco e em quatro horas chegaríamos na capital de Nicarágua, onde iríamos para o México

Igor: Você está bem mesmo? - observei ela puxar a própria a mala.

Estávamos na estrada de terra, prontos para andar 1 km até o porto. Steven e Jéssica iam mais à frente tentando achar um sinal de novo. 

Dulce: Eu achei que fôssemos morrer. - falou de cabeça baixa.

Igor: Eu também.

O avião caindo, o alarme, os gritos, o barulho do impacto. Podia escutar como se ainda estivesse acontecendo. 

Dulce: Acho que agora entendo porquê daquela sensação ruim. - murmurou.

Andávamos lado à lado puxando nossas malas.

Igor: Como assim? 

Dulce suspirou.

Dulce: Eu já estava sentindo que algo ruim ia acontecer. E o que aconteceu? Quase morremos à poucos minutos. 

Igor: Se Steven não fosse um bom piloto...- não consegui completar.

Dulce: Meu Deus! Por um momento achei que tudo tinha acabado, que era o fim, meu único pensamento foi em..- respirou fundo - Estamos bem. Estamos bem e vamos sair daqui.

Igor: Sim. O susto foi grande, mas passou. Estamos todos bem.

Não falamos mais nada. O sol estava quente, o horário local deveria ser às três da tarde, andávamos devagar e pelo ritmo chegaríamos no porto em mais ou menos uma hora.

[...]

Já estávamos no asfalto à alguns minutos, o calor era escaldante e já deveria estarmos andando um pouco mais de uma hora quando avistamos de longe a civilização.

Dulce: Graças a Deus! - apressou os passos. 

Vinte minutos depois, pegava duas garrafinhas de água na única taberna e me aproximava de Dulce que estava sentada com a mão na barriga olhando o pequeno porto com poucos barcos. Steven estava tentando alugar um barco e Jéssica tinha ido ao banheiro.

Igor: Toma! - ofereci uma das águas ficando ao lado dela.

Dulce: Obrigada! - pegou das minhas mãos - Minha bateria morreu, pode me emprestar seu celular?

Igor: Claro. - entreguei meu celular à ela que discou um número.

Dulce: Droga! - murmurou.

Igor: O que foi?

Dulce: Continua desligado. Não consigo falar com Christopher. - devolveu meu celular.

Apenas tomei minha água em silêncio olhando à pouca movimentação em volta, estávamos no centro da cidade, com alguns comércios e claro, o único porto dali. O vento que à poucos minutos tinha parado, voltou diminuindo o calor. O cabelo de Dulce ficou um pouco bagunçado e eu controlei a imensa vontade de arruma-lo, eu tinha que manter minhas mãos longe dela.

Bem longe dela.

Dulce: Não ia conseguir morar assim.. - falou ajeitando o cabelo.

Igor: Assim como?

Dulce: Cidade pequena. Sou calma e muito caseira. Mas não sei viver longe do agito da cidade grande.

Steven e Jéssica se aproximaram jogando o terno de ambos na cadeira ao meu lado.

Steven: Consegui um barco para vocês.

Igor: Vocês? Não vêm com a gente?

Jéssica: Infelizmente não. - revirou os olhos.

Steven: O avião caiu aqui, o dono do porto chamou a polícia, não podemos sair daqui agora. Precisamos resolver como vamos tira-lo daqui e descobrir o que causou o acidente.

Jéssica: Vou ter que ajuda-lo com tudo isso. Mas os senhores podem ir para a capital e de lá ir para o México.

Assenti.

Dulce: Você falou com Christopher? - perguntou para Steven.

Steven: Tentei comunica-lo, mas não consegui. Só dar desligado! - respondeu.

Dulce suspirou.

Steven: O barco sai daqui à quinze minutos e não irão sozinhos. É o último barco que vai para a capital e um casal pediu para ir também.

Igor: Certo.

Dulce: Ok.

Encarei a imensidão do mar.

[....]

Uma horas e meia depois..

Respirei fundo para não vomitar.

Desde dos meus cinco anos que tenho enjoo todas as vezes quando estou no mar e essa era uma das razões para qual eu odiava barco. A única coisa boa ali era o delicioso vento.

Estava encostado no parapeito olhando a imensidão do mar. Já tínhamos saído da civilização à bastante tempo e tudo o que víamos agora, era o esplêndido horizonte a se perder.

Dulce: Você está bem? - saiu de dentro da pequena cabine. 

Igor: Sim.

Dulce: Você é o único com o colete salva vidas. - riu. - Tem tanto medo assim de se afogar?

Eu estava sendo ridículo.

Eu sei.

Mas odiava barcos. E desde que vi Titanic não consigo deixar de usar o colete nas poucos vezes em que ando.

Igor: Eu sei nadar. Esse colete é apenas uma garantia de segurança.

Ela estava ao meu lado olhando na mesma direção que eu. 

Dulce: Não sei nadar.

A encarei.

Igor: Não sabe nadar e não usa o colete? - perguntei assustado.

Dulce: Ninguém mais além de você está usando. - riu.

Igor: Deveria usar. 

Dulce: Não ach..

Igor: Sério Dulce. Deveria usar.

Dulce: Ok. Depois eu pego. - suspirou - Talvez tenha razão. - tocou de novo na barriga. Eu ia perguntar porque à toda hora ela ficava com as mãos na barriga, talvez sentisse dor, mas ela voltou a falar - O casal é bem legal, entendi pouca coisa do que eles falaram, mas dar pra perceber que são pessoas legais, diferente do nosso capitão..- falou a última parte baixo.

O casal que tinha vindo com a gente estava dentro da cabine junto com o capitão, dividimos o mesmo barco já que iríamos para o mesmo destino, os dois tinham mais ou menos a mesma idade que eu e a Dulce.

Já o capitão, era um muito sério e fechado. 

Igor: Ainda falta algumas horas para chergamos na capital.

Dulce: E já está escurecendo. - olhou para o céu e depois novamente para o mar - Eiii..o que é aquilo? - apontou para uma parte do mar.

O mar trazia para próximo do barco, uma não tão grande jangada. Ela parecia ser bem feita, com o que parecia ser tronco de árvores e madeira

Igor: É uma jangada. - respondi - Algum pescador deve ter perdido.

Dulce não falou mais nada. 

Ficamos quietos olhando o mar.

Segundos depois a observei pensativa mordendo os lábios.

Ela era linda.

Tão linda.

E que pertencia a outro homem.

Desde da primeira vez que olhei pra ela, não precisei falar com ela para que me apaixonasse. Ela era doce, gentil, muito inteligente e muito muito linda.

Eu ficava ansioso para que chegasse o dia das nossas aulas para que eu pudesse ve-lá e falar com ela, mesmo que o assunto fosse a minha matéria.

Nenhuma uma mulher tinha conseguido mexer tanto assim comigo desde que minha Alice morreu. Já faz anos que ela se foi, mas ainda podia reviver cada momento que passamos juntos, desde que nós conhecemos no ensino médio, o nosso namoro, a faculdade juntos, nosso casamento e até o momento que ela morreu nos meus braços pedindo para que eu seguisse em frente e se apaixonasse de novo, para que construísse a família que não chegamos a ter.

Ela foi o grande amor da minha vida.

Agora não doía mais ao me lembrar dela, na verdade, ao me lembrar dela trazia conforto e carinho. Alice tinha partido desse mundo por causa do maldito câncer, especificamente leucemia. No começo quando descobrimos a doença estávamos confiantes da cura, mas com o tempo a leucemia foi se agravando e não achávamos ninguém compatível com ela, quando enfim achamos, o câncer estava tão agravado que já não podíamos fazer mas nada.

Ela morreu nos meus braços numa manhã chuvosa dizendo o quanto me amava, o quanto ela tinha sido feliz ao meu lado e pedindo para que eu encontra-se um novo amor.

E eu acho que encontrei.

Mas a linda mulher à minha frente era apaixonada por outro.

Suspirei.

Igor: Vou pegar seu colete..- avisei me afastando dela. Não queria que ela me visse igual um idiota chorão.

Entrei na cabine alheio às três pessoas em minha volta e andei até à um pequeno baú que servia como banco, levantei a tampa e tirei um colete, mas percebi que estava furado.

Deixei de lado e retirei outro.

Também estava furado.

Voltei a pegar outro e dessa vez estava intacto, mas ao olhar para o fundo do baú, agora sem colete e vazio, arregalei os olhos sentindo meu coração parar.

A grande dinamite vermelha estava com um pequeno cronômetro silencioso contando os segundos rápidos e sem parar para a explosão.

5....

4....

3....

2....

1....

E então..

Tudo explodiu!

Fim da Primeira Temporada!

Entramos na Segunda Temporada! E acho que vocês têm muito o que comentar, não é? Amanhã posto a sinopse e mudo a capa. Também queria avisar que nessa segunda temporada, alguns outros personagens irão narrar alguns capítulos.

Por favor, não me matem nos próximos capítulos!!!! E comentem minhas lindas, os comentários de vocês me dão muita inspiração.

COMENTEM!!!!