Dulce Maria

Algumas semanas depois...

Desligava o notebook quando terminei de falar com tia Sofia. Eu queria a muito tempo visita-lá, visitar as crianças no orfanato e ser útil como antigamente eu era quando ia para lá, mas com todos os acontecimentos, a gravidez, acabei adiando essa visita. Mas conversávamos semanalmente por chamada de video.

Faz alguns dias que tinha completado meu último mês de gestação. Eu me sentia uma enorme bola, um pouco irritada por sempre está deitada ou largada no sofá. A barriga pesava mais do que nunca e minha filha se mexia sem parar à cada hora, minhas costas doíam muito mais do que antes e eu nem conseguia enxergar meus próprios pés, comecei a ficar mau humorada por coisas insignificantes, mas ao mesmo tempo ficava feliz por saber que estava passando por isso pela minha filha que viria ao mundo completamente saudável.

Eu poderia aguentar o quê fosse por ela.

Christopher não saia de perto de mim, tão ansioso quanto eu, a qualquer momento minha bolsa poderia estourar, agora só dependia dela. Eram quase duas da tarde, já tínhamos almoçado e eu tinha falado com dona Clarice, Lucy, Julie e tia Sofia. E mesmo assim continuava com tédio.

Eu sabia que deveria está aproveitando os últimos momentos em que o apartamento estaria tão silencioso quanto agora, que deveria aproveitar o meu tédio, porque quando ela nascer tudo o que eu sentiria seria bem longe de tédio, como por exemplo: cançaso e sono. Sabia muito bem como era cuidar de um bebê, passei dezoito anos ajudando a cuidar dos recém-nascidos que chegavam no orfanato, e os últimos dois anos trabalhei como babá.

Christopher: Isso não é bom..- murmurou ao meu lado mexendo no próprio notebook.

Dulce: O quê não é bom? - peguei o controle da TV e comecei a mudar os canais repetidamente.

Christopher: Só alguns problemas que estão aparecendo. - respondeu sem tirar os olhos da tela - Mas que vou resolver em breve.

Dulce: Mary ligou hoje mais cedo, não é? Acordei com você saindo da cama para falar com ela e voltei a dormir de novo. Está tudo bem com o Liam?

Christopher: Sim. Ela ligou para avisar da consulta que está marcada para amanhã. Ontem Cheryl entrou no sexto mês. Mary está preocupada com a filha, ela continua tomando os remédios e as vitaminas, mas não melhora.

Dulce: Diabetes ela vai ter para sempre. Infelizmente. - murmurei deixando no canal de esportes - Talvez Liam nasça com essa doença. Ou não. O bom é que tem tratamento.

Christopher: Sinceramente não sei porquê ela desenvolveu isso. Nunca vi ela comendo doce. Acho que nem gosta. - digitava concentrado - Mas o mais importante é Liam. Ele que importa para mim. Cheryl, bom, tanto faz.

Dulce: Que bom! - cruzei os braços.

Ele riu, ainda sem tirar os olhos da tela do notebook. Olhei as horas no relógio da TV: 15:22 da tarde. Respirei fundo e balancei um pé repetidamente.

Tédio!

Christopher: Por quê está tão...inquieta, amor? - perguntou ainda com os olhos na tela.

Dulce: Me dar um beijo? - pedi.

Agora ele me encarou.

Christopher: Todos que quiser. - fechou o notebook deixando o mesmo na mesinha e me puxou contra o seu tórax, acariciou meu rosto e me beijou.

Nosso beijo era lento, explorando a boca um do outro com carinho e amor.

Muito amor!

Beija-lo acabava com qualquer tédio que eu pudesse ter. Sua boca, sua língua, seu gosto, seu cheiro, me deixavam ainda mais viciada do que nunca. Nós beijamos por muito tempo, até ser necessário nos afastar buscando o ar.

Dulce: Te amo..- sorri.

Christopher: Amo muito mais. - beijou minha testa e me abraçou - É melhor aproveitarmos os últimos momentos sozinhos, quando ela nascer toda nossa atenção vai ser para ela. - tocou na minha barriga. - Que tal tomar um banho de banheira? - sugeriu.

Dulce: Eu a..- fui foi interrompida pelo telefone do apartamento tocando estridente.

Christopher se esticou e atendeu.

Christopher: Alô? - esperou - Se eu não atendi foi porque não quis. - revirou os olhos - Faz dias que você me atormenta.

Bufei.

Alexandra estava no país à alguns dias. Tinha se estalado no hotel e segundo ela, só sairia depois que conhecesse a minha filha. Desde que chegou Christopher tem a ignorado, ela tinha vindo aqui, tinha ligado diversas vezes e nós a ignoravámos. Era a mãe dele, de fato, mas todo o passado que tenho com ela e as conscidência ruins que aconteceram comigo quando ela estava por perto, me deixava tensa. Ela podia tentar fingir, mas não gostava de mim.

E eu também não gostava dela.

E só de imagina-lá com a minha filha, me causava um certo..pânico. Não quero Alexandra perto dela ou de mim.

Christopher: Está aqui de novo..? - esperou e me encarou - Quer subir para entregar um presente..?

Fiz careta, mas assenti.

Christopher: Olha o seu celular! - mandou antes de desligar o telefone.

Dulce: Recebe logo ela! Assim ela vai embora mais rápido. - levantei - Vou fazer xixi...- falei saindo da sala.

A fase do xixi não tinha passado.

Sorri acariciando minha barriga enquanto andava até o quarto. Depois de lavar as mãos, voltei para o quarto vendo meu celular que está na função silencioso brilhar em cima da cama, peguei vendo que era uma chamada da Zoraida.

Dulce: Oi..- atendi sorrindo.

Zoraida: Como meus irmãos e sobrinha estão? - foi a primeira pergunta como sempre - Estou saindo de uma sessão de fotos, o desfile está próximo também, Vivian tem acabado comigo. Foi um dia difícil - se apressou à falar - Mai e eu queremos jantar aí com vocês. Christian foi ontem para o Texas e ela está sozinha no apartamento. Ela ia com ele, mas por causa das provas na faculdade, acabou deixando para as férias e...

Dulce: Posso falar? - a interrompi.

Ela riu.

Zoraida: Desculpe gatinha. Estou animada. Cansada, mais animada. - ressaltou - Depois eu mando as fotos de hoje, estão incríveis. Consegui enxergar o quê todos vocês me falam. - suspirou - No próximo mês vou sair na capa da Vogue Brasil...e Vivian cogita final do ano na capa dos Estados Unidos. - eu sabia que estava sorrindo - Já entrou na minhas redes sociais hoje? Ganhei mais trezentos mil seguidores. Cada dia mais próxima de um milhão.

Dulce: Não fico surpresa. Você nasceu para brilhar. - sorri - Vou pedir algo para o jantar. Chama a Vih também. - falei saindo do quarto.

Zoraida: Ela tem um jantar de negócios hoje à noite. Ela não quis entrar em detalhes, mas parece que ela vai falar com um representante de um famoso jogador de futebol da seleção brasileira, o camisa dez. Maite pediu que assim que ela fosse falar com o próprio jogador levasse ela, acredita? - riu.

Dulce: Acredito! - também ri - A nossa irmã é obsecada por famosos. - parei de rir ao entrar na sala e ver Alexandra abrindo uma caixa pequena azul e retirar uma vestidinho branco mostrando para Christopher.

Alexandra: Lindo, não? É da Versace! Comprei em Paris. - sorriu - Gostou filho?

Christopher olhava o vestidinho com os olhos brilhando. Tinha um sorrisinho nos lábios. A mesma expressão que fazia quando entrava no quarto da nossa filha.

"Dul..?" - a voz de Zoraida tirou minha atenção dele.

Christopher: Não é muito grande? Ela já tem muitos assim.

Alexandra: Christopher! - riu - Crianças crescem. Comprei pensando nisso. Ela não irá usar agora, mas algum dia sim. E me diga, sua mãe tem ótimo gosto não?

Christopher: Vou tentar colocar isso no armário dela. - pegou o vestidinho com cuidado e me encarou - Gostou..?

Dulce: Estou esperando vocês aqui! Preciso desligar! Tchau! - desliguei e andei até ficar ao lado dele - É lindo!

De fato, o vestidinho era lindo.

Alexandra: É o meu primeiro presente. Quando ela nascer vou comprar mais. - avisou olhando apenas o filho - Para o seu outro filho, comprei um conjuntinho terninho e calça da Gucci, mas preferi trazer hoje só o da menina.

Christopher: Obrigado. Não precisava.

Alexandra: Queria te ver também filho. - tocou no rosto dele, mas Christopher se esquirvou rápido.

Ela suspirou baixando a mão.

Christopher: É melhor ir.

Alexandra: Não precisa me expulsar eu vou embora. - levantou as mãos em forma de rendição e me encarou - Espero que tenha gostado do meu presente.

Dulce: É muito bonito. Obrigada! - fui educada querendo que ela fosse embora o mais rápido possível.

Ela assentiu pegando a bolsa do sofá.

Me inclinei para deixar meu celular na mesinha de centro, quando senti um líquido escorrer pela minhas pernas, encarei o chão com meu coração batendo desesperado conforme entendi o que estava acontecendo, levantei a cabeça e Christopher ainda olhava o presente no sofá. Alexandra se virou para se despedir quando arregalou os olhos encarando o chão.

Tinha uma lagoa no meio da sala.

Alexandra: Está na hora! - me encarou.

Christopher: Hora de...? - olhou a mãe e depois pra mim e em seguida para o chão, vi seu rosto entender imediamente a cena - Nossa filha...

Dulce: Decidiu nascer! - sorri nervosa já com lágrimas nos olhos.

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