Dulce Maria

Depois de muita babação e diversas fotos, todos saíram do quarto. Eles queriam me deixar descansar. Eu só ficaria essa noite aqui, amanhã minha filha e eu estamos voltando para nossa casa. Na porta do quarto tinha dois seguranças e depois que meus amigos saíram, eles só deixariam entrar enfermeiros e médicos, além de Christopher, óbvio.

Fitei minha bebê que dormia igual um anjinho.

Sorri.

Fechei os olhos tentando descansar, mas a porta foi aberta e Christopher entrou acompanhado pela mãe. A mulher alta, loira, de olhos azuis tão intensos e muito bem vestida, encarou minha filha na mesma hora. Confesso que queria pegar minha bebê e sair correndo para o mais longe dela possível.

Eu não sabia explicar, mas não queria ela perto demais da minha filha.

Alexandra: Você disse que ela tem o sinal, quero ver. - falou para o filho enquanto se aproximava dela.

Christopher: Ela está dormindo. É melhor não acorda-lá. - negou.

Alexandra não respondeu. Apenas ficou olhando Maria Paula dormir. Minha filha estava ao meu lado. Juro que se ela tantasse fazer qualquer coisa, eu mataria aquela mulher. Observei seu rosto sério ficar relaxado e pela primeira vez dar um sorrisinho de canto sincero.

Alexandra: Ela tem o seu nariz. - comentou para Christopher.

Christopher: Claro. É minha filha. - rebateu.

Alexandra: Pelos menos um deles é seu. A ruiva vadiazinha é igual à mãe.- balançou a cabeça.

Christopher: Não fale da Mary. - avisou sério ao lado dela.

Alexandra: Não estou aqui para brigar. - suspirou - Só queria conhecer a menina e..

Christopher: Maria Paula. O nome dela é Maria Paula. - a repreendeu.

Alexandra: Só queria conhecer a Maria Paula. - se corrigiu voltando à olhar minha filha. - Ela é muito..bonita.

Christopher: A beleza é da mãe.

Alexandra não respondeu.

Maria Paula que dormia, acordou agitada e não chorou. Apenas ficou olhando para a loira na frente dela. As duas ficaram se encarando.

Christopher: Minha princesa acordou - falou a pegando delicadamente quebrando o contato delas - Mas esse cochilo foi muito rápido. - beijou a cabecinha dela.

Alexandra: Abre o roupão dela um pouco, quero ver o sinal. - insistiu já levando as mãos até minha filha.

Christopher ajudou abrir o macacãozinho um pouco revelando apenas o ombro direito dela. O sinal pequeno era muito fofo.

Christopher: Satisfeita? - bufou.

Alexandra: Seu pai vai amar isso. - falou com os olhos no sinal.

Ouvimos batida na porta e Fuzz entrou segurando uma bandeja pequena de aço. Sorriu olhando Maria Paula nos braços do pai e se aproximou de mim.

Fuzz: Preciso coletar o seu sangue para exame. - colocou a bandeja prata na cômoda ao lado da cama e começou a preparar a agulha. - Apenas exame de rotina, para descartar qualquer coisa. - sorriu pegando meu braço que estava sem o soro e o preparou.

Dulce: Esse soro não acaba? - murmurei olhando o soro que estava na metade.

Fuzz olhou rapidamente.

Fuzz: Só mais um pouco. Soro sempre demora. Prefiro via oral. - comentou enquanto me furava e tirava dois tubos de sangue rapidamente - Pronto! - tirou a agulha do meu braço e colocou o pequeno curativo.

Dulce: Elizabeth vai pedir mais exames?

Fuzz: Não. Apenas esse! - colocou etiquetas com meu nome nos tubos e encarou a bandeja com meu café na qual comi tudinho. - Vou mandar Derrick vir pegar sua bandeja. Quer mais alguma coisa, Dul? - sorriu.

Dulce: Não. Estou bem! Obrigada!

Fuzz: Certo! Já volto - foi em direção ao banheiro e segundo depois voltou - Qualquer coisa é só me chamar. - falou pegando a bandeja com minhas amostras de sangue e saiu do quarto quase correndo.

Alexandra: Christopher! - o repreendeu - Me deixa segurar a menin...Maria Paula. - se corrigiu.

Christopher: Já disse que não! - se afastou dela.

Alexandra: Só um pouco. - levou as mãos até a cintura ficando irritada.

Christopher me encarou e eu dei de ombros. Ela não estava sozinha com a minha filha. Suspirei e balancei a cabeça concordando.

Christopher: Só vou deixar você carregar minha filha se você parar de ignorar a mãe dela. - falou sério.

Alexandra me encarou cruzando os braços. Era a primeira vez desde que entrou no quarto que me olhava.

Alexandra: Você está bem? - forçou um sorriso.

Dulce: Sim. - respondi de má vontade.

Alexandra: Que bom! - falou baixo e voltou a encarar o filho - Agora me dar sua filha um pouco. - deixou a bolsa no armário do quarto.

Christopher se aproximou dela e colocou nossa filha nós braços dela. Maria Paula olhava tudo quietinha. Avó e neta se olhavam com atenção. O celular de Christopher tocou assustando Maria Paula que começou a chorar.

Christopher: Me dar ela! - mandou tentando pega-lá de volta. Mas Alexandra se afastou três passos para trás e começou a ninar Maria Paula.

Cruzei os braços olhando Alexandra andar em direção a janela com minha filha e ficar parada lá, com os olhos para a rua e a ninando nos braços. Maria Paula parou de chorar ao ouvir alguns murmuro da avó. Arregalei os olhos percebendo que ela cantava baixinho.

Christopher também estava surpreso.

Alexandra estava cantando para a neta?

O celular dele continuou tocando. Ele pegou de dentro do bolso sem tirar os olhos da cena à nossa frente e sem olhar quem era, simplesmente encerrou a chamada. O silêncio voltou por alguns segundos antes do celular voltar a tocar.

Dessa vez ele encarou o celular.

Dulce: Quem é?

Christopher: Hum...Jason, mas não dar para atender agora. - encerrou mais uma vez a chamada e se aproximou da mãe - Já chega, sim? Me dar ela! - não esperou reposta e arrancou nossa filha dela.

Maria Paula com o movimento começou a berrar de verdade. Em alto e bom som.

Alexandra: Ela estava ficando quietinha comigo. - bufou irritada.

Christopher: Já ficou muito com ela. - ninava nossa filha - É melhor ir embora Alexandra. - pediu tentando acalmar nossa bebê.

Alexandra: Não precisa pedir. - pegou a bolsa do armário - Estou voltando hoje mesmo para Suécia. Não sei quando vou voltar para esse país que é o fim do mundo. - jogou o cabelo loiro para trás e me encarou - Adeus Dulce Maria! - falou antes de ir em direção a porta e parou olhando o filho e a neta mais uma vez antes de sair definitivamente do quarto.

Dulce: O quê foi isso?

Christopher: Não sei. - se aproximou de mim entregando nossa filha - Deve ser a idade afetando o cérebro dela.

Ri.

Dulce: O quê foi meu amor? Está com fome de novo? Ou será que precisa ser trocada? - falei a ninando nós braços.

Ela berrava completamente.

Christopher: Vamos troca-lá então! - começou a preparar o berçário.

[...]

O celular de Christopher tinha acabado a bateria e ele colocou na tomada ao lado da minha cama. Maria Paula já estava trocada e alimentada. Agora estava dormido no berçário ao meu lado.

Não pude deixar de sorrir ao lembrar a reação de Christopher trocando pela primeira vez a filha dele. Ele mesmo quis troca-lá e limpa-lá e se saiu muito bem, só precisei apertar um pouco mais a fralda, ele não queria apertar demais e machuca-lá. Estava sozinha com Maria Paula no quarto.

Christopher tinha ido até a lanchonete. Ele estava de jejum desde de ontem me acompanhando. Passava das dez da manhã, até já tinha tomado café e ele ainda não. Agora que todos já viram minha filha, enfim, poderia tirar um cochilo igual à ela.

Bocejei olhando o restinho de soro na bolsa.

Estava exausta!

Meus olhos piscavam de sono.

Olhei mais uma vez minha filha dormir igual um anjinho e fechei os olhos.

............................

Acordei com o barulho da porta abrindo, mas estava com tanto sono, tão exausta que apenas ouvi os passos no quarto. De primeiro, pensei que fosse Christopher, mas os passos leves demais para ser dele chamou minha atenção.

Abri os olhos de imediato vendo minha filha dormir, como alguns minutos antes. Desviei os olhos para a enfermeira. Ela usva toca, máscara e luvas. A farda azul típica de enfermeiros da maternidade, calça e blusa. Seu rosto estava bem escondido. Nas mãos segurava uma bandeja prata com um vidro de remédio e uma seringa.

Ela caminhou até o meu soro e deixou a bandeja na cômoda ao lado. Pegou o vidrinho e começou a colocar o líquido na seringa.

Bocejei.

Dulce: O quê é isso?

Ela ficou em silêncio.

Preparava a seringa de cabeça baixa e concentrada. Quando terminou, deixou o vidrinho de volta na bandeja de prata e aproximou a seringa da bolsa de soro.

Segurei em seu pulso a impedindo.

Dulce: O quê é isso? - falei séria.

A mulher olhou minha mão em seu pulso e em seguida olhou nos meus olhos, vi seus olhos azuis brilharem de uma forma absurda de ódio.

Engoli em seco.

Anahí!

Aiiiiii 

Anahi! 

Juro que não sou má...

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