Fanfic: Almas Opostas - Vondy | Tema: Vondy
Dulce Maria
Além de dormir bem, minha manhã começou ótima. Meu corpo que o diga, já que estava cheio de marcas de mordidas que começavam a ficar roxos. E não me importava com isso. Não ia sair do apartamento mesmo. Lembrei das costas de Christopher. Eu deveria cortar de novo as unhas, estavam um pouco grandes e poderia machucar minha filha. As costas dele estavam bastante arranhadas.
Sorri.
Enquanto caminhava em direção a porta me perguntava por quê Elizabeth estava aqui? Não que sua visita fosse ruim, longe disso. Mais a mulher tinha me ignorado nas última semanas.
Parecia até com raiva de mim. Não entendia o que poderia ter feito para causar isso. Não respondia minhas mensagens, ignorava minhas ligações e até fez a secretaria me indicar outra ginecologista no lugar dela. Não ia negar, estava bastante chateada com ela. Era mulher que mais admirava na vida, era um lenda para mim e além disso, fez o meu parto. E esse tempo todo ela só tem me ignorado.
A campainha tocou e segundos depois abri a porta. Elizabeth estava ainda mais linda que nunca. O cabelo preso num rabo de cavalo, os olhos verdes mais lindos do mundo, uma maquiagem bem leve por ser de manhã, usava um vestido azul elegante e saltos. Uma bolsa de marca acompanhava o seu braço. Ela era tão linda. Principalmente aqueles olhos que tanto me hipnotizam.
Os verdes tão intensos e misteriosos.
Hoje estavam especialmente brilhantes.
Alfonso, o filho dela de dezoito anos estava ao lado dela. Ele também tinha os lindos olhos verdes. Era bonito igual a mãe, muito parecido com ela. Ele tinha as mãos no bolso da calça e sorria.
Dulce: Oii. - murmurei - É uma surpresa vê-los aqui. - confessei. - Entrem! - dei a passagem e fechei a porta quando entraram no apartamento.
Elizabeth: Eu deveria ter ligado antes. Desculpe. - falou nervosa apertando a própria bolsa agora nas mãos.
Dulce: Não. - me apressei em dizer - Podem vir sem ligar e na hora que quiserem. Só estou surpresa porque você tem me ignorado nas últimas semanas, não é? - fui direta.
Ela suspirou agora amassando a bolsa por completo.
Franzi o cenho.
Ela estava tão nervosa. Não era típico dela ser desse jeito.
Alfonso: Espero que a gente não esteja te atrapalhando. - falou tímido. - A ideia de vir sem ligar foi minha. Desculpe vir tão cedo desse jeito.
Dulce: Não estão. - garanti - Vamos para a sala. - indiquei o caminho já andando na frente deles - Quando se tem uma bebê, a gente mal dorme. - sorri.
Na sala eles sentaram um ao lado do outro, e eu sentei no outro sofá que ficava ao lado deles. Assim que Elizabeth sentou ficou me olhando da cabeça aos pés, parecia procurar alguma coisa em mim. Além disso, sua expressão era como se quisesse gritar, mas que fazia de tudo para se controlar a todo custo. Era evidente que algo estava errado. Pelo menos com ela.
Alfonso: Sua filha está bem? - ele era outro que me olhava com bastante atenção, mas diferente da mãe era mais "normal", sem tanta agitação como ela.
Dulce: Sim. Ótima. Perfeita. - sorri - O pai dela deve está trocando ela agora.
Alfonso: Ela deve está tão linda quanto a mãe. - sorriu.
Dulce: Está a cara do pai. Passei quinze horas em trabalho de parto para ela nascer a cópia dele.
Alfonso: Presumo que o pai seja também um vampiro. - riu olhando as marcas de mordidas nos meus braço.
Ri sem graça.
Elizabeth: Alfonso! - o repreendeu sem tirar os olhos de mim.
Alfonso: Desculpa Dul. Não resisti. - as mãos não paravam quietas e ele não sabia onde deixa-las, de modo que ele apertava uma na outra.
O que raios estava acontecendo com aqueles dois hoje?
Dulce: Então, já tomaram café? Eu ainda vou fazer e podemos tomar juntos.
Elizabeth: Já sim. Mas obrigada. - continuava me olhando estranho.
Dulce: Elizabeth, por quê você tem me ignorado? - fui direto novamente - E por quê está desse jeito? Como se fosse explodir a qualquer momento?
Elizabeth: Eu..- começou a falar mas a voz falhou e ela pigarreou.
Dulce: Tem ideia do quanto me magoo com sua atitude? - seus olhos brilhantes se apagaram - Se não gosta mais de mim era só ter falado que eu ia me afastar de você. Não precisava me ignorar por completo. - falei chateada.
Seus olhos encheram de lágrimas e ela balançou a cabeça antes mesmo que eu terminasse a frase. Parecia assustada.
Elizabeth: Eu não...queria...não fiz...não - se enrolou na fala e Alfonso segurou na mão dela olhando para a mãe como se tivesse dando forças. Ela respirou fundo.
Elizabeth estava tão nervosa, que eu começava a temer que passasse mal.
Dulce: O quê está acontecendo? Por quê estão tão estranhos?- falei preocupada.
Alfonso abriu a boca, mas antes que ele falasse qualquer coisa, Christopher entrou na sala com nossa filha nos braços dando "bom dia". Elizabeth e ele olharam direto para minha filha. O sorriso de ambos foi gigantesco.
Christopher: Olha quem está com saudades da mamãe. - falou entregando nossa filha para mim.
Dulce: Oh, meu Deus. - sorri admirada com o laço na cabeça - Está tão linda meu amor. Tão fofa. - distribuí beijos por seu rostinho. Ela se agitou ainda mais choramingando.
Christopher: Já está na hora de usar os laços. - sentou ao meu lado - Que surpresa vê-los aqui. - sorriu - Já tomaram café?
Mais ele foi completamente ignorado.
Elizabeth e Alfonso só tinham olhos para mim e Maria Paula. Pareciam hipnotizados. Quase como eu fico quando admirava os olhos verdes deles, Elizabeth deixou as lágrimas caírem livremente. Christopher me olhou preocupado e eu balancei a cabeça.
Dulce: Você estão começando à me assustar. - avisei.
Ajeitei melhor minha filha nos braços junto com a fralda de pano branco e os olhos de Elizabeth acompanharam esse detalhe, de repente ela arfou levando as mãos ao coração e começou a chorar olhando para a fralda, minha filha e para mim ao mesmo tempo.
Christopher: Elizabeth, o quê aconteceu? Por quê está desse jeito? - perguntou com preocupação evidente.
Não era para menos. Até eu estava preocupada com ela. Ela chorava impiedosamente.
Dulce: O quê houve? - encarei ao Alfonso - O quê sua mãe têm?
Alfonso: El..
Elizabeth ergueu a mão impedindo que ele continuasse a falar e tentou parar de chorar. Respirou fundo várias vezes e limpou o rosto antes de me encarar.
Elizabeth: Você já deve saber que tenho uma filha. - falou com a voz trêmula pelo choro - Tiraram ela de mim antes mesmo de completar uma semana de vida. - seus olhos voltaram a encher de lágrimas, o que me causou tristeza e um desconforto no peito - Mas antes de arrancarem ela de mim, no segundo dia de vida dela, para comemorar a felicidade que estava sentindo e para presente-lá eu bordei na fralda de pano as iniciais do nome dela. A.S.J. - uma lágrima desceu por seu rosto e depois por outra e outra - Alyssa Saviñón Jones.
Encarei a fralda branca que era a única coisa que estava comigo quando me enviaram para o orfanato. E que agora estava enrolada na minha filha. Prendi a respiração e meu coração deu um salto ao me dar conta do que ela dizia.
"Você é minha filha Dulce. Você é minha Alyssa que procuro à mais de vinte anos." A voz embargada e chorosa de Elizabeth soou de modo muito longe.
"Amor?" Acho que Christopher tinha me tocado. Não sei. A voz era preocupada.
Eu mantinha os olhos na fralda com as iniciais que eu tinha passado a vida tentando decifrar. De repente, várias imagens surgiram.
Uma eu tinha cinco anos e chorava baixinho e impiedosamente na minha cama simples e dura de solteiro do maldito orfanato das freiras. Era o meu aniversário, não tive bolo ou presentes, nem mesmo me desejaram parabéns. Só sabia que era meu aniversário porque tinha recebido outro fardamento do orfanato, com medidas maiores conforme ia crescendo. Todos recebiam quando fazia aniversário.
Já era muito tarde, meu aniversário já deveria ter acabado. E mais uma vez minha mãe não tinha ido me buscar. Ela não tinha aparecido para me levar embora dali. Não tinha feito um bolo de chocolate para cantarmos parabéns juntinhas. Não tinha ido me buscar para ficarmos juntas. Esperei o dia inteiro na escada, com a cabeça levantada todas as vezes que a porta gigante se abria esperando por ela, mas ela não veio. De novo, ela não tinha ido me buscar.
De novo.
Solucei baixinho.
"Afasta" - pediu uma voz baixa me empurrando.
Dulce: Me deixa em paz Maite. - falei me afastando e virando o rosto. O quarto estava escuro e em silêncio.
Maite: Sabe que não gosto quando chora. - falou baixo deitando na beirada da cama e se enrolando com o meu lençol fino.
Me encolhi quando ela me abraçou.
Maite: Sua mamãe deve ter se perdido. Não chora. Ela vai vir te buscar. Nós buscar para a gente morar numa casa bem grande, com uma mesa cheia de comidas gostosas e com um quarto só para nós duas brincar.
Dulce: Ela me abandonou com essas bruxas. - falei quando ela virou meu rosto e limpou meu choro.
Maite: A minha mamãe também me abandonou. - falou triste - Uma das duas vai vir nos buscar Dul. Tenho certeza. - sorriu. - Agora para de chorar, tá bom? Precisamos dormir antes que a bruxa Helena vêm aqui.
Assenti limpando meu nariz com catarro
Dulce: Mai?
Maite: Hã?
Dulce: Promete que você nunca vai me abandonar? - pedi baixinho.
Maite: Só se prometer que nunca vai me abandonar também. - ergueu a mão e indicou o dedo mindinho - Promete?
Erguei meu dedo midinho e apertei com o dedo bem apertadinho.
Dulce: Eu prometo. - beijei minha mão e ela beijou a mão dela.
Maite: Eu prometo. - repetiu.
Outra imagem surgiu. Dessa vez, eu tinha quase sete anos. Estava limpando o chão do corredor próximo ao sótão de castigo junto com a Maite, estávamos ajoelhadas e esfregavamos o piso de madeira com a bucha e sabão, era mais uma tarefa diária. Ainda teríamos que trocar todos os lençóis de cama dos quartos, lavar os banheiros, tirar o pó da sala da biblioteca, arrumar os livros por ordem alfabética, tirar os lixos da cozinha e cuidar da horta. Passava das duas horas da tarde e desde que acordamos as cinco horas da manhã para estudar, não tínhamos comido nada, nem um cafezinho quente com pãozinho mucho.
Minha barriga roncava alto e da Maite também.
Maite: Eu não aguento mais. - parou de esfregar o chão - Estou com muita fome.
Dulce: Eu também...- murmurei parando de esfregar o chão - Ainda temos que fazer um monte de coisas.
Maite: Quase todos já comeram. - reclamou. - Só a gente que trabalha que não. - suspirou.
Dulce: Ainda tem os outros que estão trabalhando lá embaixo como a gente.
Maite: Eu odeio esse lugar. - voltou a pegar a bucha e se afastou um pouco para limpar o chão.
Dulce: Eu também. - murmurei fazendo a mesma coisa.
Continuamos esfregando o chão por todo longo corredor. Muito tempo se passou, até uma das bruxas aparecer no corredor distraída lendo a Bíblia. Maite estava mais próximo dela e o chão na qual ela limpava estava repleto de sabão ainda. Maite também não tinha visto ela, por isso, abri a boca para gritar que era para ter cuidado com a bruxa, mas não fui rápida o bastante e a bruxa escorregou com tudo no chão e caiu de bunda gritando. A cena poderia ter sido engraçada, se eu não soubesse o que ia acontecer ali. Maite arregalou os olhos de medo.
Xxx: Aí ai ai ai - reclamou de dor olhando para o chão e para Maite parada assustada ao lado dela. A bíblia tinha escorregado para longe. - Sua menina ensolente. - gritou enquanto se levantava do chão.
Maite também fez o mesmo.
Maite: Perdoe-me ir..m..ã. - gaguejou - E..u n..ã..o.. Ahhhhhh - gritou e seu rosto foi para o lado. As lágrimas começaram a descer.
A bruxa tinha dado um tapa forte no rosto da minha irmã. Levantei do chão e sai correndo até aquela bruxa.
Xxx: Sua imprestável! Sua piolhenta nojenta. - puxou os cabelos da minha irmã com força fazendo ela gritar de dor - Você vai ter o que merece. E..Ahhhh - gritou enquanto caia de novo ao chão.
Dulce: NÃO ENCOSTA NA MINHA IRMÃ - gritei furiosa quando a empurrei com tudo para o chão de novo
A bruxa me encarou com tanta raiva, que minhas pernas começaram a balançar de medo. Ela se levantou com dificuldade. Eu tinha empurrado Maite para atrás de mim e a protegia com o meu corpo daquela bruxa.
Xxx: Você vai se arrepender por ter feito isso sua órfã nojenta. - gritou ao mesmo tempo que puxava com força meu cabelo ao ponto de me arrastar para aquele maldito sótão. Aquele maldito sótão de novo.
Dulce: Ahhhhhhhhhhhhhhh - gritei de dor tentando tirar as mãos dela no meu cabelo enquanto era arrastada.
Meus pés deslizaram por causa do sabão no chão e eu cai. A bruxa continuou me arrastando pelos cabelos mesmo eu estando de joelhos, eu gritava de dor e chorava com medo.
Maite gritava atrás de mim implorando para ela parar. Percebi ela andar até a bruxa e tentar empurra-lá para me soltar, mas a bruxa a empurrou com força no chão. Ouvi um estalo e um grito muito alto de dor, mais alto do que o meu próprio grito. Tentei olhar para Maite e a vi ao chão chorando e gritando com a mão na perna.
Ela continuou me arrastando até o sótão e a abriu com uma chave, em seguida, me fez levantar ainda puxando o meu cabelo e me jogou com tudo para dentro. Cai ao chão repleto de poeira, ainda ouvia os gritos da minha irmã.
Xxx: Você não sairá daqui até eu decidir quando for a hora. - sorriu malvada e fechou a porta passando a chave. Não escutei mas o choro da Mai. Apenas o meu soluço naquela sala. O barulho dos ratos correndo, a poeira e o cheiro de morfo invadido meu nariz e o meu desespero por não ter uma mãe para me proteger e tirar daquela sala era o meu atormento por dias e dias.
Três dias. Três longos e incontáveis dias passei dentro daquele lugar. Sem comer e sem beber água. Sem tomar banho e sem escovar dentes. Fazendo xixi sem conseguir controlar. A pequena janela do teto era a única coisa que diferenciava o dia da noite. A luz do dia era fraca, mas existente. Os ratos ficavam mais soltos a noite, o barulho deles correndo era tudo o que eu podia ouvir. Quando ficava totalmente escuro, indicando a noite, eu me encolhia inteira num cantinho com medo dos fantasmas da sala, dos ratos, das aranhas e chorava com medo, muito medo e com raiva.
Três dias depois, eu estava fraca e debilitada. Mal conseguia pensar e quando pensava só conseguia pensar na minha irmã. A bruxa abriu a porta e viu que eu não tinha condições de sair sozinha, chamou outra bruxa para ajuda-lá a me carregar. Me levaram para a enfermaria e lá, encontrei minha irmã deitada numa das camas com a perna enfaixada até a coxa.
Ah, não! Ela tinha quebrado a perna.
Ela tinha quebrado a perna!
A única enfermeira de lá, me colocou numa cama ao lado da Maite. Ela me olhava analisando meu estado e começou a chorar em silêncio. Minhas lágrimas tinham acabado. Ficamos nos olhando. Assim que a enfermeira bruxa furou meu braço, colocou uma bolsa com água no apoio e deu as costas cantando uma música e saindo da sala nós deixando sozinhas, Maite esticou a mão para segurar a minha.
Com esforço, estiquei minha mão e ela segurou com força. Estávamos juntas. Era isso que ela me falava em silêncio.
Senti meus braços fraquejar quando voltei para o presente. Christopher percebendo, pegou nossa filha deixando a fralda ainda em meus braços. Ela choramingou mais alto e ele acalmou como sempre. Segurei a fralda branca com forças.
"Dulce?" Alfonso me chamava.
"Amor, por favor, responde" Christopher falou ao meu lado.
Erguei meus olhos para encarar Elizabeth e percebi que estava repletos de água, uma delas desceu por meu rosto sem que eu conseguisse controlar.
Dulce: Por quê? - sussurrei quase inaudível.
Elizabeth: Eu nunca te abandonei filha. - balançou a cabeça se desesperando - Eu nunca te abandonei. Você foi tirada de mim e...
Neguei.
Não.
Não.
Dulce: Não. - sussurrei - Por quê? Por quê você voltou? - limpei brutalmente outra lágrima que desceu sem permissão - Eu estou muito bem sem você. - falei alto o bastante. Pude perceber a raiva na minha voz - Eu não preciso de você. Eu nunca quis te procurar. - levantei do sofá querendo gritar e gritar e gritar - Eu nunca quis saber de você. Por quê está aqui? Por quê veio atrás de mim?
Comecei a andar de um lado para outro. As lembranças de toda minha infância e adolescência se misturavam, todas ruins, muito ruins. Balancei a cabeça tentando afastar, esquecer de todas elas e fechei os olhos.
Elizabeth: Filha..- a voz trêmula e triste vacilou e ela começou a chorar.
Dulce: NÃO ME CHAMA DE FILHA. EU NÃO SOU SUA FILHA. - me descontrolei ainda perdida nas lembranças mais profundas de minha memória. - VAI EMBORA. SOME DAQUI. EU NÃO PRECISO UMA MÃE. EU NÃO PRECISO DE UMA MÃE. EU NÃO PRECISO DE UMA MÃE.
Apenas quando ouvi Maria Paula chorar assustada com os meus gritos, que consegui calar a boca e parar de andar. Meu corpo inteiro tremia. Eu não conseguia respirar direito. Christopher tentava acalma-lá já em pé e me olhava surpreso e também assustado.
Não só ele como Alfonso também. Ele abraçava Elizabeth que também se tremia de tanto chorar. Não conseguia ficar ali, minha cabeça girava, eu não conseguia focar nas coisas. Por isso, sai da sala praticamente correndo e entrei no primeiro quarto que vi.
Fechei a porta abafando o barulho do choro da Maria Paula e deslizei da porta até o chão chorando. Meu peito, meu coração doíam. Não. Não. Não. Não.
Eu não tinha uma mãe.
Nunca tive.
Não precisava.
Não.
Solucei me encolhendo.
Christopher Uckermann
Elizabeth: Ela m..e od..e..ia - falou em meio ao choro - Mi..n..ha f..il..ha me o..de..ia - soluçava nos braços de Alfonso que acariciava o cabelo dela.
Alfonso: Não mãe. - falou com tristeza - Acho que ela só precisa de um tempo. É difícil para você. E para ela deve ter sido ainda mais. Se acalma, tá bom? O quê conversamos durante todo esse tempo? Que precisávamos está preparado para uma rejeição também. Por favor, se acalma. Por favor. - implorou.
Minha filha parava de chorar aos poucos nos meus braços e eu continuava em choque com a revelação de minutos atrás. Dulce era Alyssa? A filha perdida de Elizabeth? Na qual ela tinha me confindenciado uma vez? Dulce? A minha Dulce?
Isso era...
Era...
Meu Deus!
Era locura.
Dulce era filha da mulher que ela tanto admirava nessa vida. Lembro da primeira vez que as duas se encontraram e da forma como Dulce falou sobre ela, as duas tinham uma ligação, tinham se conectado de uma forma que nenhuma delas entendiam.
Mas que seus laços sanguíneos e seus corações sabiam o porquê. Mesmo que ambas não entendessem. Era surreal demais. Era..quase impossível. Assim como aconteceu comigo e..Zoraida.
Deus!
Estou Estático.
A mãe de Dulce estava tão perto por tanto tempo. Assim como aconteceu com Zoraida. Agora acontecia com ela.
A reação dela, mesmo que seja natural, confesso que me deixou surpreso. Ela não é assim. Minha mulher quase nunca gritava, ela sempre ouvia as pessoas e perdoava. Era o que eu mais admirava nela. Tinha um coração tão bom e tão puro. Tão doce.
Como o próprio nome.
Christopher: Como.. como..- não consegui formular uma frase. Mas Alfonso entendeu. Eu balançava minha filha nos braços como ela gostava.
Alfonso: Desconfiamos por causa do sangue dela e do histórico. Fizemos o exame de DNA quando ela deu a luz e descobrimos que era ela. - respondeu.
Elizabeth se afastou do filho e levantou andando até a sacada onde ficava a piscina. Ela continuava chorando, até sentar numa das espreguiçadeiras e esconder o rosto nas mãos. O vento bagunçava o cabelo dela.
Alfonso suspirou.
Alfonso: Tentamos nós preparar para uma rejeição, mas no fundo achávamos que isso não ia acontecer. - passou a mão no cabelo - Minha mãe já sofreu tanto Christopher, não quero vê-la sofrer ainda mais. - falou triste. - Ela nunca esqueceu Alyssa, jamais, e agora que a encontrou...
Christopher: Não acho que Dulce tenha rejeitado sua mãe. - defendi minha mulher - É como falou, ela precisa de um tempo. A mulher que ela cresceu admirando, é a mãe dela. Não é tão simples e fácil quando parece.
Alfonso: Eu sei cara. - murmurou.
Olhei para minha filha que tinha parado de chorar. Beijei seu rostinho.
Christopher: Fica um pouco com ela pra mim? - me aproximei dele - Vou atrás dela. - falei já entregando minha filha para ele que a pegou sem jeito.
Alfonso: Tá. Oii, golfinhazinha. - sorriu para minha filha nos braços.
Golfinhazinha?
Fiz careta dando as costas e saindo da sala.
"Eu sou o tio dela. Posso chamar minha sobrinha do que quiser." Gritou.
Balancei a cabeça.
Não fui muito longe. O quarto onde Julie ficou durante um bom tempo estava fechado e um choro abafado saia de dentro. Abri a porta e Dulce estava ao chão, encostada na cama, com a cabeça entre os joelhos.
A cena fez meu coração doer.
Christopher: Meu amor...- tudo que fiz foi me jogar ao chão ao lado dela e abraça-la - Por favor, não chora. Não fique assim. Por favor meu amor.
Ela continuou chorando e levantou a cabeça segundos depois. Seus olhos e nariz vermelhos.
Dulce: Eu..
Christopher: Shhh - a impedi que falasse - Se acalme primeiro. - voltei abraça-la mais apertado - Eu te amo meu amor, não importa o que ouviu ou que irá fazer. Eu te amo. E jamais vou sair do seu lado. - garanti beijando sua testa - Jamais vou me afastar de você.
Ela soluçou contra o meu peito.
Ficamos abraçados no chão por muito tempo. Dulce chorava com o rosto no meu peito e apesar de me destruir vê-la daquele jeito, sabia que era necessário. Ela precisava colocar tudo o que estava sentindo para fora. Passou vinte e um anos sem saber quem eram os pais ou do motivo que levaram eles a abandona-la. Quando ofereci várias vezes a chance de ir atrás da própria história, recusava sem pensar duas vezes, com a resposta de que tinha já tinha formado a própria família. O quê era verdade de fato. E agora, ela descobre que a mulher que ela cresceu admirando e sendo fã, é a mãe dela.
Tinha mãe e um irmão. Talvez tios e primos. Uma família de sangue. E que todo esse tempo, eles estavam ao lado dela sem jamais imaginar uma coisa tão inacreditável como aquela.
Era muita coisa para se assimilar.
O choro foi parando aos poucos e em minutos ela se afastava para limpar o próprio rosto vermelho. Ajeitei o cabelo dela e não resisti em dar mais um beijo na testa dela e segurar sua mão.
Christopher: Está mais calma?
Continuavamos no chão. Encostados na cama. Aproveitei nossas mãos juntas para fazer uma carícia na mão dela. Seus olhos foram para meus dedos em sua pele e ela assentiu devagar.
Dulce: E..u n..- a voz falhou e ela respirou fundo - Como é possível?
Christopher: Eu não sei direito. É melhor perguntar para eles. A única coisa que Alfonso disse foi que fizeram o exame de DNA no dia que nossa filha nasceu e que todos eles deram positivo. - respondi baixinho.
Dulce: Maria Paula..?
Christopher: Está com ele.
Ela ficou em silêncio por alguns minutos apenas olhando nossas mãos. Meus dedos acariciar levemente sua pele.
Dulce: Sofrimento. - falou baixinho.
Christopher: Eu sei. - balancei a cabeça - Não sabe como queria poder..
Dulce: Não. - me interrompeu - Sofrimento. - levantou a cabeça para me encarar - Falar da minha infância me faz lembrar de como sofri em não ter uma mãe para cuidar de mim. De não ter ninguém por mim. Além de outra criança. - balançou a cabeça. - Eu nunca falei mas...- hesitou - No orfanato onde me deixaram, o maldito orfanato das freiras, acontecia diariamente sessões de tortura. Maite e eu só tínhamos uma à outra. E éramos apenas duas crianças. - fechou os olhos - Apenas duas crianças tentando sobreviver naquele inferno.
Perdi a fala.
Minha mão parou de acariciar à dela.
Dulce foi torturada?
Dulce: Estava mais para escravidão confesso. - voltou abrir os olhos e encarou o chão - Não eram todas as vezes que elas nos batia. Até porque recebíamos visitas de pais querendo adotar e elas não queriam explicar o motivo dos machucados. - falava baixo e com o olhar perdido - Eram quase todas as crianças que sofriam, mas elas tinha alguns preferidos que nada aconteciam à eles. Até hoje não consigo entender. Tinha que acordar às cinco da manhã em ponto, ir para as aulas da escola e apenas quando chegavamos que podíamos almoçar. Quando era os dias de limpeza do orfanato, elas proibiam comida até que acabassemos tudo, o que já era por volta das cinco ou seis horas da tarde. Elas tinham dinheiro para dar uma comida decente, mas elas davam na maioria das vezes os restos da comida dos preferidos delas. Quando não era restos, era pão bastante duro e sem água, as vezes elas faziam uma comida descente para não termos que transparecer no corpo a falta dela.
Christopher: Du..
Dulce: Maite e eu éramos algumas das crianças que elas mais odiavam. - continuou no tom baixo - Lá tinha um sótão. Era sujo, com bastante poeira, sem janela, apenas uma pequena no teto, fedia, tinha ratos, aranhas, os móveis eram podres causado pelo tempo. Essa sótão era a "sala" do castigo. Elas nós trancavamos lá dentro todas as vezes que fazíamos algo de "ruim", ou pelo simples fato de acordarem de mal humor. Ou se tínhamos rezado errado, com preguiça ou não foi do jeito correto. Qualquer motivo, era suficiente para nós trancar. Eu vivia indo para lá. - bancou a cabeça - Morria de medo. A sala era escura e sempre ouviamos barulhos nela, mesmo quando não tinha ninguém trancado lá dentro. Diziamos que era os fantasmas. - riu sem humor - O meu tempo limite sempre foi um dia e meio. Mas teve uma vez que fiquei três dias lá dentro...- me encarou com olhos cheios de lágrimas.
Christopher: Chega! - falei entre dentes.
Dulce: Não. - gritou - Eu fiquei três dias lá dentro. Sem comer. Sem beber. No escuro. Suja. - várias lágrimas voltaram a descer - Acompanhada pelos ratos e pelas aranhas. E sabe o que eu pensava entre desmaios de fraqueza? Desmaio de exaustão e limite? Com sete anos. Sete anos Christopher. Sabe o que eu pensava? Enquanto os ratos subiam em cima de mim? Sabe o que eu pensava? DO QUANTO EU ODIAVA E QUERIA MORTA A MULHER CUJO SUA ÚNICA FUNÇÃO ERA ME PROTEGER - gritou ainda mais explodindo em outro choro compulsivo. - EU ODIAVA ELA, ODIAVA, ODIAVA, ODIAVA, ODIAVA, ODIAVA.
Minha reação foi abraça-lá com força. Ela começou a se debater querendo se soltar de mim, mas apertava com firmeza nós braços.
Christopher: Eu não vou te soltar, não vou te soltar. Não vou te soltar. Eu prometo. Eu prometo. - falei desespero por vê-la daquele jeito. Pela revelação.
Dulce: Eu nã..o pre..cis..o de um..a mãe. - falou em meio ao choro e parou de se debater. Mais seu corpo começou a tremer compulsivamente.
Christopher: Shhh...- apertei mais em meus braços - Shhhhhh - ela estava tendo um colapso - Já passou. Já passou. Ninguém nunca mais irá machuca-lá meu amor. Ninguém. - minha voz começou falhar e eu respirei fundo para me conter.
Por todos os infernos!
Como ela nunca tinha me contado isso antes? Com tudo que disse, tão pequena, tão... sozinha, tão indefesa e aquelas descrições..Aqueles Malditos! Como puderam fazer isso com ela? Com todas aquelas crianças inocentes?
Dulce: Pr..ome..te? - murmurou se encolhendo em meio ao choro.
Christopher: Prometo. Prometo. - abraçava ela tão forte à ponto de machuca-lá - Ninguém Dulce. Ninguém mais irá machuca-lá nessa vida. Ninguém meu amor. - garanti.
Não pude controlar uma lágrima, vê-la daquela forma...me destruía. Queria poder tirar toda aquela dor dela e transferir para mim, enquanto à abraçava contendo seu corpo frágil e trêmulo, notei Elizabeth na porta com as mãos na boca. Seus olhos mostravam horror, dor e...culpa.
Tadinha da Dul...
COMENTEM!!!!!!
Autor(a): tatayvondy
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Dulce Maria Não sei quanto tempo se passou até que parei definitivamente de chorar nós braços de Christopher. Meus olhos doíam, meu nariz estava entupido, minha garganta ardia e minha cabeça estava para explodir. Mas nada se comprava ao o quê sentia no meu coração. Tinha acabado de revelar algo que Maite ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 1714
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jessica_dos_santos__conde_ Postado em 15/11/2024 - 13:29:56
Está tudo bem , não vai mais continuar com a história?
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jessica_dos_santos__conde_ Postado em 11/09/2024 - 10:46:34
Quando terá novas atualizações ?... Saudades
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Vondy Forever Postado em 23/06/2024 - 15:01:30
Eu estou achando que vamos sofrer muito nesta temporada espero que sejam poucos capítulos
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Vondy Forever Postado em 23/06/2024 - 07:10:06
Continua
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taianetcn1992 Postado em 08/06/2024 - 03:10:57
Dulce vc sossega hein
tatayvondy Postado em 23/06/2024 - 02:39:42
Aiaiaia
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vondy_eternamenty Postado em 09/05/2024 - 19:18:43
Continua por favor esta ótima
tatayvondy Postado em 23/06/2024 - 02:39:29
Continuando*-*
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Vondy Forever Postado em 06/05/2024 - 10:35:05
Continua por favor
tatayvondy Postado em 23/06/2024 - 02:39:14
Continuando *-*
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Srta Vondy ♥ Postado em 21/04/2024 - 22:44:45
Entendo de verdade o quão importante é a carreira da Dul, que emergências acontecem (principalmente num hospital), que p carreira que ela escolheu tem que abrir mão de muita coisa, principalmente de momento em família, de verdade entendo tudo isso, mas n me entra na cabeça o quão ''relapsa'' ou melhor relaxada ela se tornou em relação ao sentimento das meninas de saber que as filhas criam esperanças baseada na confirmação dela, ficam ansiosas esperando, se decepcionam, choram, são acalmadas, perdoam ela e depois tudo se repete novamente, sei que existe o contra-peso de uma vida que ''depende'' dela, mas mesmo assim sabe ? E ainda acha o Uckermann errado por cobrar isso dela, sendo que sobra p ele toda essa bomba nos momentos especiais das meninas Fora que acho que será um problema o novo médico e a possível entrada da Belinda na empresa do Christopher, e o segredo que a Dul guarda que até agora n deu as caras.. Ansiossima p os próximos capítulos, some mais não, por favor Continuaaaa <3
tatayvondy Postado em 04/05/2024 - 21:55:18
Os anos passaram e ela mudou muito, nem parece aquela menina de antes. Só acho que ela deveria parar de fazer essas promessas, já que é difícil de cumprir. Ela não gosta de ser cobrada, porque ela sabe que está errada. Esse novo médico ainda vai causar problemas não só no casamento dela, mas na relação das meninas tbm, assim como Belinda, Dulce que se cuide...e esse segredo? Chuta o que seja? Estava com saudades dos seus comentários*-* vou tentar postar com frequência, continuando!!!!!
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vondy_eternamenty Postado em 20/04/2024 - 22:05:48
nossa que saudades eu estava de vc continua
tatayvondy Postado em 04/05/2024 - 21:47:22
Tbm estava com saudades *-*
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taianetcn1992 Postado em 18/09/2023 - 07:49:08
mais mais mais