Dulce Maria

Abri os olhos devagar, tudo girou e eu os fechei. Minha cabeça doía, na verdade, todo o meu corpo doía um pouco. Mais uma vez, abri os olhos e tentei focar em algo. Pisquei até o embarçado começar a sumir. Era uma parede de cimento. Estava olhando para uma parede cimento inacabada.

Franzi o cenho e olhei ao redor me assustando em seguida. Estava numa espécie de quarto inacabado. Tinha uma pequena janela quase ao teto que estava fechada. Mas a luz do sol clareava o quarto. Olhei para meu corpo onde estava em cima de um colchão velho, meus pulsos e meus tornozelos estavam amarrados com uma corda e minha boca tinha uma fita preta.

Arregalei os olhos e as primeiras lágrimas desceram quando lembrei de como vim parar aqui. Meu Deus! Não.

Não!

Não! 

Não!

Não!

Não!

Não!

Não!

Não!

Tudo que consegui pensar foi no rosto da minha filha. Não. Não. Não. Não. Prendi a respiração quando o rosto de um ser diabólico veio na mente. Anahí! 

Anahí Portilla!

Ela tinha conseguido me sequestrar.

Maldição!

Olhei meus pulsos e tornozelos amarrados apertados. Fiz esforço para sentar, já que estava deitada. Com a respiração falha pelo esforço consegui sentar um pouco inclinada. Respirei fundo e fiz esforço para sentar corretamente. Quando minhas costas encostaram na parede, engoli em seco.

Onde estava?

Como ia sair dali?

Eu mal podia ficar em pé dessa forma amarrada.

Anahí ia me matar!

Dessa vez ela ia me matar para valer!

Meus olhos encheram de lágrimas e não consegui controlar o choro e o medo. Muito medo. Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia! Sabia! Sabia! Sabia! Sabia! Mesmo com toda a proteção do mundo, uma hora, ela ia conseguir o quê queria, ela ia conseguir me pegar. 

E esse dia chegou!

Ela não ia parar até me ver morta!

Meu Deus!

Solucei.

A minha..filha.

4 meses. 

Só por 4 meses que pude conhecê-la e ama-lá. Não ia mais carregá-la nos meus braços. Não ia mais beija-lá, sentir seu cheirinho, acalmar seu choro, observer seu crescimento, seu desenvolvimento e nem ia mais olhar em seus olhinhos que tanto transmitiam amor.

Solucei.

Anahí tentou me matar antes, mas não conseguiu. Dessa vez, ela ia obter sucesso. Eu estava em suas mãos. A qualquer momento ela ia entrar por essa porta e dar um tiro na minha cabeça. Ela estava cheia de ódio. Não ia durar por muito mais tempo.

Ali seria meu fim.

Nem mesmo ia conseguir olhar nós olhos do amor da minha vida uma última vez. Dizer o quanto amava e o quanto eu sentia por tê-lo...traido.

Meu Deus!

Solucei.

Ouvi um barulho e meu coração disparou. O medo me paralisou. Alguém estava destrancado a porta. Era agora. Era o meu fim. Meu soluço sumiu e comecei a tremer. Meu coração só faltava sair do peito. A porta foi aberta devagar e um homem com uma máscara preta entrou.

Xxx: A margarida acordou. - deixou a porta aberta e se aproximou lentamente. Atrás dele apareceu outro homem com a mesma máscara, mas segurando um... fuzil. Engoli em seco. O primeiro homem parou na minha frente e se inclinou puxando a fita da minha boca com tanto força, que foi inevitável não soltar um grito de dor. Ele riu - Sinto muito por isso. Não sou delicado.

Uma lágrima desceu por meu rosto misturado de dor e medo. Muito medo. O homem da porta segurava o fuzil e me olhava como se quisesse me devorar na mesma hora. 

Dulce: Ca.. dê ela? - murmurei.

Foi tão baixo que pensei que ele não tivesse escutado. Mas escutou. O homem que agora estava de forma reta de novo, cruzou os braços. 

Xxx: Ela? 

Dulce: Cadê ela? Cadê Anahí? - voltei a perguntar, mas dessa vez mais alto. 

Ele me fitou por longos segundos.

Xxx: Anahí... Anahí..- repetiu - Esse nome não é estranho. - por alguns segundos encarou o cara da porta e voltou a me encarar - É claro. Anahí. A modelo que está foragida. Você acha que foi ela que armou tudo isso aqui, meu tesouro? - riu bom humorado.

Dulce: Não..? - encolhi os ombros.

Xxx: Deixa eu te explicar tesouro. - se agachou ficando na mesma altura que eu - Anahí não chega nem perto do que somos capazes. - a voz simpática se transformou fria e brava - Você é nossa loteria. E foi difícil. Muito difícil conseguir você. Mas agora que conseguimos, vai depender exclusivamente de uma única pessoa. 

Dulce: Do quê está falando? Cadê ela? Quem são vocês? - perguntei ficando ainda mais desesperada.

Ele ergueu a mão e tocou no meu cabelo. Tentei afastar minha cabeça do toque daquele homem, mas era impossível. Fechei os olhos apavorada.

Xxx: Você é tão bonita. Ele falou que você era mesmo. Não com essas palavras é claro. É um ignorante mesmo. Mas ele estava certo. É ainda mais bonita pessoalmente. Vai ser uma pena ter que colocar seu corpo no saco.

Voltei a chorar.

Mas algo captou minha atenção.

"Ele falou que você era mesmo."

"Mas ele estava certo."

Dulce: Christóvão! - acusei baixinho.

Xxx: Quem? Esse eu não conheço. - parou de tocar no meu cabelo - A única coisa que deveria sair dessa sua boca maravilhosa era..."ele precisa fazer isso o mais rápido possível" - riu.

Dulce: Ele quem? - o encarei assustada.

Xxx: A pessoa que tem sua vida nas mãos. - respondeu. - Qualquer passo errado, nem corpo terá para velório. - garantiu.

Dulce: Quem ?

"Seu heroizinho de merda! A porra de Christopher Uckemann" Um outro homem falou enquanto entrava ali chamando atenção. O encarei da cabeça aos pés. Ele não estava de máscara como os dois outros. Seu rosto monstruoso era visível. Seus olhos transmitiam ódio. O sorriso na boca a pura maldade. Nem em um milhão de anos ia conseguir esquecer aquele homem. Por causa dele Christopher e eu nós encontramos. Por causa dele nós conhecemos. Por causa dele Christopher levou dois tiros, por causa dele Christopher salvou minha vida.

Xxx: RENATA VOCÊ NÃO SERVE PRA MIM - a jogou no chão - E ABAIXEM A CABEÇA TODO MUNDO AQUI - começou a andar e foi em minha direção, prendi a respiração mas ele passou direto - SABE O QUE EU VOU FAZER? NO FINAL VOU PEGAR ALGUÉM PARA SER MEU REFÉM, OU MELHOR VOU PEGAR UMA MULHER.- riu maldoso - QUEM SERÁ A SORTUDA?

Um som de músicas soou no ar, todos se entreolharam, parecia um celular, os ladrões olharam em volta e ao mesmo tempo que todos me olharam, o chefe me pegou pelo braço me deixando em pé.

Xxx: OLHA OLHA OLHA, O QUE TEMOS AQUI....- apontou a arma em minha nuca - PASSA A PORRA DO CELULAR AGORA - gritou alto no meu ouvido. 

Era ele.

O maldito ladrão do banco.

O líder da quadrilha.

Arregalei os olhos.

Christopher Uckemann

Acompanhei os primeiros raios de sol entrar pela janela do quarto. Não tinha pregado o olho nem por um minuto, tentei manter minha mente focada apenas para o que ia precisar fazer para recuperar tudo que era meu. Seria um dia longo. Ia precisar ligar para tantos e tantos advogados. Sabia que seria uma longa briga judicial. Ia gastar o dinheiro que nem tinha. Ou melhor dizendo, tenho sim. A casa de Chicago.

Christóvão passou absolutamente tudo para ele, incluindo a casa de Chicago. Mas ele não sabe, de forma alguma, que lá fica nossa outra fortuna em obras de artes, jóias e antiguidades. Ele acha mesmo que tirou tudo da minha família. Não estávamos na miséria. Mas não sabia como ia ir até Chicago, pegar tudo sem que ele soubesse. E o pior de tudo, vender o mais rápido possível pelo menos metade daquilo tudo.

Bati no sofá e levantei de supetão.

Sempre soube que investir nisso era coisa boa. Precisava tomar um banho e ligar para minha família, revelar tudo e ligar em seguida para os meus advogados. Ouvi o choro da minha filha enquanto andava em direção ao banheiro, mas logo ela parou. Dona Clarice. Ela ia cuidar dela até a mãe dela aparecer. Balancei a cabeça como se esse outro assunto fosse sumir da minha mente e entrei no banheiro.

Tomei um banho rápido e saí enrolado com a toalha na cintura. Quando sai em direção ao closet, observei Julie sentada na minha cama com a mão na boca. O cabelo estava bagunçado e ela continuava com a mesma roupa de ontem. Parecia em choque.

Christopher: Já soube? - murmurei.

Ela me encarou assentindo.

Julie: Brayan nós contou assim que acordei. - balançou a cabeça - Como é possível Christopher? Eles esconderam isso por tantos anos. Mary sabe disso também? - perguntou confusa.

Christopher: Provavelmente não. Quando ela foi ser nossa babá, eu já tinha cinco anos. Lucy está aqui também? 

Julie: Sim. Ela e Igor. Fiquei bêbada ontem, comecei a fazer showzinho de novo e Brayan junto com Lucy me levaram para casa de Igor. Dormimos lá. A casa dele era mais perto do hotel. Assim que acordei ainda de madrugada, Brayan contou e eu acordei Lucy e viemos para cá. Zoraida ainda não sabe. - suspirou - É loucura.

Christopher: Aquele maldito acha que temos culpa do que sei lá aconteceu com ele. Quer se vingar de todo mundo. Mas isso não vai ficar assim. Só vou me arrumar e ligar para Richard e Alexandra. Eles terão que explicar pessoalmente o por quê de nunca ter dito nada sobre esse cara. 

Julie: Claro. - assentiu - Lucy está com Maria Paula na sala. Cadê a Dul?

Christopher: Deve está com a mãe dela ou com as meninas. - dei as costas e entrei no closet.

"Deve?" perguntou confusa.

Christopher: Longa história Hilary. 

Foi tudo que falei antes me arrumar. Quando sai do closet ela não estava mais no quarto. Peguei meu celular e sai do quarto. Na sala estavam Lucy, Igor, dona Clarice e Julie num sofá. Brayan estava em outro e dava a mamadeira para minha filha.

Lucy: Christopher! - ela não sabia nem o quê falar. - É loucura. Loucura. Como nunca soubemos disso? É um absurdo! Absurdo! Nosso pai jamais ia renegar um filho. - suspirou - Esse Christóvão limpou tudo. Até as contas das minhas redes de restaurantes, que nem envolve nossa família. Não temos nada. Não tenho dinheiro nem para pagar meus funcionários. Nem para comprar água. - falou assustada. 

Christopher: Não é o fim Lucy. Acredite. - liguei meu celular procurando o número de Richard na agenda. - Isso não vai ficar assim. Não vai mesmo.

Igor: E eu já falei baby..- abraçou minha irmã - Não precisa se preocupar com os seus negócios. Até tudo se resolver e para sempre vou está com você. Para tudo. - deixou claro que ia dar todo o dinheiro da família dele caso Lucy pedisse. 

Clarice: Eu sei que é errado falar uma coisa dessas nessa hora, mas isso foi tão romântico. - comentou.

Lucy: Obrigada meu amor. 

Tentei ligar para Richard, mas ele não atendeu. Bufei. Inferno!

Clarice: Está mais calmo, Christopher? - pude perceber o tom maternal na voz dela.

Christopher: Um pouco. - respondi voltando a ligar para Richard.

Julie: Ela falou do que você fez na sala ontem. Acho que faria a mesma coisa. - passou a mão no cabelo. Ela não sabia o verdadeiro motivo da minha raiva e ódio para ter feito aquilo ontem.

Clarice: Onde Dulce passou a noite? Com a mãe mesmo? - encarou Julie e Lucy.

Droga!

Ele não atende a porra do celular.

Lucy: Se ela não dormiu aqui, nem com Zoraida e Maite, só pode ter ido para a casa da mãe. - explicou - As meninas não levaram ela. Foram primeiro que nós quatro da festa. - me encarou - Mas por quê ela não dormiu aqui?

Julie: É. - também me encarou - Por quê ela não dormiu na casa dela? Por que deixou você e a minha afilhada sozinhos? Ainda mais nessa hora tão complicada e difícil. - cruzou os braços.

Todos me encararam esperando uma resposta.

Christopher: Dulce e eu brigamos muito feio. - falei meia verdade - Não mandei ela dormir fora, nem ela me avisou que ia dormir. - respondi.

Julie: Brigaram? Mas vocês não são disso Chris. - me olhou feio - O quê você fez? - o tom da voz era de irritação.

A campainha tocou e dona Clarice levantou para abrir a porta. Meu celular começou a tocar, o nome "Elizabeth" me fez suspirar. Se estava ligando era para saber o por quê Dulce foi dormir lá. Ou se Dulce contou, era para vir buscar minha filha, talvez Dulce não quisesse vir hoje.

Christopher: É um assunto muito particular Julie. - encerrei o assunto.

Atendi a chamada no quarto toque.

Elizabeth: Christopher? Desculpa ligar tão cedo. Mas tentei mandar mensagem para Dulce e ligar mas não consegui. Queria que vocês três viessem tomar café aqui comigo e com o Poncho. Claro, se não for incomodar. - a voz era animada.

Franzi o cenho.

Christopher: Mas ela não está com vocês? - encarei dona Clarice entrando na sala com Sidney e dois seguranças chamando atenção de todos na sala.

Elizabeth: Não! Como assim? Ela ia vir aqui? - perguntou surpresa.

Sidney: Senhor Uckemann, acabamos de descobrir que...- hesitou - A senhora Uckemann foi sequestrada ontem a noite do hotel. Já acionamos a polícia. - falou séria.

Deixei meu celular cair da minha mão.

Aiiii

Dessa vez não foi Anahí!

Acho até que morreu! A mulher sumiu(melhor assim) kkkkkkk

Tadinha da Dul, só sofre... :(

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